Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 45
O resto é nada mais




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Naquela mesma noite, Melina não resistiu em ligar para Daniele lá em Minas Gerais. Precisava conversar com outra alma feminina, que a compreendesse em todos os aspectos em tudo que lhe aconteceu hoje entre ela e Henrique no apartamento dele. Poderia ligar para Nicolas, mas sabia que ele estava com Analu e Nicolas é um garoto, não compreenderia todas as coisas.

— Sim, Dani – Melina ouvia os gritinhos histéricos de Daniele do outro lado da linha. — Estamos namorando! É. Eu e o Henrique.

— Não acredito! – ela ainda gritava. — Eu sempre soube que vocês sentiam alguma coisa um pelo outro. Mas nunca pensei que... Ah! Não importa! Meus parabéns amiga!

— Obrigada. – Melina não conseguia deixar de sorrir. — Eu estou muito feliz. Henrique me faz um bem danado! Ele é especial. Eu sei que parece cedo, há menos de um mês eu e o Thom terminamos. Mas aconteceu, eu não pude evitar. Eu sempre gostei do Henrique, só não podia admitir a mim mesma.

Ariela ouvia tudo, pela brecha da porta do quarto entreaberto.

— Mas me fala você – Melina cortou o assunto. — Como seus pais reagiram ao saber da gravidez? Ocorreu tudo bem? Como vão as férias?

— Eu pensei que eles iriam me matar. Quando resolvi contar, eles ficaram sem entender. Mas não tinha como eu estar mentindo e nem esconder, a barriguinha já está tão volumosa! Conversamos durante horas. Eles foram compreensíveis. Contei a história desde o começo e não escondi nada. Meus pais aceitaram e disseram que vão me apoiar em qualquer coisa que eu precisar. Mas foi difícil convence-los de que eu preciso voltar para São Paulo por causa dos estudos e não posso ficar aqui para eles me ajudaram com o bebê! Eu disse que tenho vocês, tenho uma vida e tem o pai do meu filho...

A conversa durou quase uma hora.

Melina deixou o telefone celular sobre a cama, calçou os chinelos no pé da cama e caminhou em direção à cozinha.

— Quer ajuda? – Ela perguntou, vendo que Ariela preparava o jantar sozinha, enquanto Marcela assistia a tevê.

— Não. Obrigada. – Ariela foi ríspida. Melina logo percebeu que tinha alguma coisa de errado com ela.

— Tá acontecendo alguma coisa? – Melina resolveu perguntar, pegando alguns tomates e cebolas na gaveta da geladeira.

Ariela suspirou profundamente. Não poderia acumular toda sua angustia, necessitava falar.

— Melina – ela largou o que fazia e se virou de frente para Melina, encarando-a. — Você sempre soube que eu não sou me apegar a nenhum garoto. Pelo contrário, saio com muito deles. Ficamos juntos e não passa disso. Mas com Henrique foi diferente. Ele é diferente. E me encantou desde o principio. Foi fácil me apaixonar. Difícil foi aceitar que ele não estava nem ai pra mim, diferente de você, ele sempre se importou com você. Só vinha até aqui para te ver! E não é fácil, pra nenhuma garota aceitar que o garoto por quem você é afim, não é afim de você da mesma maneira.

Melina já podia deduzir onde Ariela queria chegar com aquela conversa. Ela só não sabia se estava preparada para saber da verdade.

— Eu não pude deixar de ouvir sua conversa com Daniele pelo telefone – Ariela desviou os olhos, envergonhada de sua atitude. — Eu soube que você estão namorando, se gostam e estão felizes. Mas eu não fiquei feliz, mesmo sabendo que não é certo. A verdade é que eu estou com inveja de você. Não é uma inveja ruim. Apenas inveja por você sempre conseguir o que quer.

— Ariela – Melina interrompeu. — Eu não sei nem o que dizer...

— Melina, escuta. – Marcela voltou sua atenção para a pequena discussão que vinha da cozinha. Atenta a cada palavra. — Eu sempre gostei dele. Mas também sempre soube que vocês sentiam algo um pelo outro. Algo especial, que surgiu no passado. Mesmo assim eu ainda tinha esperanças que ele se interessasse por mim, mesmo que fosse só pra ter uma relação amigável. Mas não aconteceu, ele não ligou, ele não me procurou e parecia querer me evitar enquanto isso vivia atrás de você, mesmo você tendo um namorado. Henrique sempre gostou de você, eu podia ver isso nos olhos dele. E você sentia o mesmo, apesar de negar. Quando você terminou com Thomaz, foi inevitável não pensar na possibilidade de você e Henrique terem alguma coisa. Já que ambos são solteiros e têm uma historia...

Ariela deu uma pequena pausa, sentindo um forte dor de cabeça. Ela não queria que dizer tanta bobagem, para queria se ver livre daquilo.

— Eu não posso evitar me sentir uma tola. Uma tola entristecida por a historia de vocês poder finalmente dar certo. Mas poxa, não entenda por mal. Eu gosto dele! Desculpa se vai ser difícil aceitar que vocês podem se felizes agora. Mas não é fácil pra mim. E nem vai ser. Vai ser ainda mais difícil vê-lo frequentar essa casa ao seu lado e ver que vocês compartilham algo muito bonito! O problema é que eu não consigo imaginar que algum dia eu possa ser feliz como você. Encontrar uma cara bacana e que sinta o mesmo por mim e queira algo mais sério.

Melina viu uma lágrima escorrer dos olhos de Ariela. Gosta dela, gostaria de poder dizer algo que pudesse reverter àquela situação. Mas o máximo que conseguiu foi abraça-la.

Elas se abraçaram carinhosamente.

— Não precisa dizer nada. Eu vou ficar bem. Ou pelo menos acredito que vou ficar. – Ariela soltou um sorriso. — Estou me sentindo um pouco tonta. Será que você poderia terminar o jantar por mim? Falta pouco, é fácil. Se precisar da minha ajuda, estarei deitada no quarto. E me desculpe por tudo que disse. Foi inevitável.

No mesmo momento, Marcela foi até a varanda se comunicar com Rebeca. Tinha que contar a mais nova amiga às novidades.

~*~

— Você parece triste. O que foi que aconteceu? – Henrique perguntou ao telefone, um pouco antes de irem dormir.

— Seria possível estar feliz e triste ao mesmo tempo? – Melina perguntou, deixando escapar um sorriso.

— Feliz, eu até entendo. Eu também nunca estive tão feliz em toda minha vida. Mas triste, porque triste?

— Você se importaria se eu não tivesse que te dizer? Só não se preocupe. Não é necessário.

— Tudo bem. Não vou forçar nada. Só me diga que não tem nada a ver com aquele seu ex-namorado babaca.

— Não. Não é nada com ele. Pelo contrário, nunca mais eu soube nada sobre ele. Assim é melhor.

— Assim é melhor – ele assentiu, concordando. — Estou ansioso para te ver amanhã. É clichê, mas eu conto os minutos.

— Eu gosto de romantismo. – Melina sorriu, a voz dele a acalmava de certa forma. — Eu gosto de tudo em você. E também não vejo a hora de poder te ver amanhã.

— É uma pena que os dias estejam frios e úmidos. Poderíamos marcar de fazer um programa legal.

— Desde que seja com você, qualquer coisa me parece ótima. Por mais simples que seja.

Conversaram por mais meia hora.

— Boa noite, namorada.

— Boa noite, namorado.

Naquela noite Melina sonhou que dormia abraçada com Henrique com seus braços entrelaçados ao seu corpo, mantendo-a aquecida do frio e protegida do quarto escuro e vazio.

~*~

O namoro dos dois não era o tipo de namoro que poderia ser comparado ao relacionamento que ela teve com Thomaz. Era tudo muito diferente, Henrique é diferente. Qualquer coisa que viesse dele, vinha sempre acompanhada de grandes surpresas. Os dois passavam a maior parte do tempo livre juntinhos, conversavam, se ouviam, namoravam, brincavam e aproveitando cada segundo como se fossem os últimos.

Melina sempre ia ao apartamento de Henrique, onde os dois aproveitavam os dias frios para fazer qualquer coisa que tivessem vontade. Ela queria evitar ir com ele ao seu apartamento, para não criar intrigas com Marcela ou Ariela, que ainda estava muito entristecida. De certa forma, Melina sentia-se culpada. Mas sempre se lembrava das sábias palavras de Nicolas: Não tem porque se arrepender das coisas que tem faz bem. Mesmo que depois alguém saia ferido dessa história.

A família de Henrique ficou muito contente ao saber da novidade e festejaram juntos. Ester, a mãe de Henrique, ficou especialmente feliz pela alegria estampada nos olhos do filho sempre que falava sobre Melina. Sabia desde o principio que ela era especial para ele e que algum dia formaria um belo casal.

— Sua mãe tinha razão quando disse que formaríamos um belo casal – Melina comentou, depois do almoço em família.

— Eu sempre concordei com ela. Mas a respeito a você e Thomaz eu não podia admitir em voz alta.

Henrique aproveitou o resto do tempo e levou Melina até a praça pôr-do-sol. Que foi o primeiro passeio que fizeram juntos.

— Está com frio? – ele perguntou, envolvendo-a em seus braços para protegê-la da corrente de ar gelado. Ali em cima, na praça, fazia muito mais frio que o normal. — Te trouxe aqui por um motivo especial.

Em um dos bolsos do moletom ele procurou por algo.

— Eu sei que hoje não é um dia de sol e faz muito frio aqui. O sol lá em cima, no alto do céu, mesmo coberto por todas as nuvens cinzentas parece congelado, exatamente como eu me sinto quando estou do seu lado. Como se tivéssemos parado no tempo para poder passar o máximo de tempo juntos. E não me importa, se faça chuva ou sol, eu sempre estarei ao seu lado. Mesmo que você não possa ver. Acompanharei cada passo seu. Exatamente como o sol: em dias nublados você não pode vê-lo, mas sabe que ele está lá. Mesmo que por um momento você esqueça isso. Por isso, hoje, aproveito esse lugar especial, esse momento, para te fazer um pedido oficial.

Ele pegou a aliança que comprara.

— Quer namorar comigo, Melina? Permite que eu seja o seu sol?

Melina não pôde evitar a emoção.

— Sim, eu quero ser sua namorada.

E eles se beijaram carinhosamente.

~*~

— Melina! Filha! O que faz aqui? – Verônica foi pega de surpresa ao se deparar com a filha, entrando pela porta principal sobrecarregada de malas e bolsas. Jonathan, o noivo ali presente, foi ajudar a jovem.

— Mãe, voltei. Posso ficar por um tempo? – Melina agradeceu a Jonathan com um sorriso, pedindo que ele levasse suas coisas para seu antigo quarto. — Aconteceram umas coisas.

— Sim, eu já soube. Soube que você está namorando outra vez! Ele pelo menos é rico? – Verônica quis saber. Sempre gostou muito de Thomaz. Não só pelo dinheiro, mas também pela beleza. — Seu pai me contou tudo! Como sempre, você fala com ele antes de falar comigo!

— É, eu estou namorando. E não importa se ele é rico ou não, o importante é que me faz bem. Mas então, eu posso ficar?

— Claro que pode ficar! – Verônica foi abraça-la. — Nem vou perguntar por quê. Sei que você não vai querer me contar! Mas seja sempre bem-vinda. Essa casa sempre será tão sua quanto minha.

— Obrigada, mãe.

— Está com fome? Pedirei para Teresa preparar um lanchinho para você. Vou pedir para as arrumadeiras guardarem suas coisas, enquanto isso, você me fala sobre o novo namorado.

~*~

— Essa casa é bonita! E muita grande! – Melina aproveitou à tarde em que sua mãe tinha saído com o noivo, para levar Henrique para visita-la na antiga casa. Ele ainda não estava preparado para conhecer Verônica, apesar de já ter visto ela algumas vezes. — Mas porque mesmo você resolveu voltar pra cá?

— É temporariamente. – Melina admitiu, conduzindo até o seu quarto. — Decidi que gostaria de poder ficar mais perto da minha mãe, ela se queixa muito da minha ausência.

Mas também havia outro, porém, Melina queria dar um tempo a Ariela até que ela se acostumasse com a ideia de que estava namorando Henrique. Mas isso ela não contaria a ele.

— Não tenha medo! – Melina riu. — Nada vai quebrar. Sente-se, fique a vontade. Vou pedir a Teresa que faça algo para a gente comer.

— Não, espere. – ele a puxou pelo braço, com um sorriso provocativo. Melina o beijou rapidamente. — Só queria dizer que: eu amo você demais! Quanto mais tempo passa, mais eu te amo.

— Oh – ela sorria, contente. — Pensei que eu ainda não estivesse pronta para dizer, mas estava enganada: eu também amo você.

Eles se beijaram outra vez, com mais intensidade. Melina acabou esbarrando no box da sua cama e caiu para trás, com Henrique sobre ela. Exatamente como no dia em que os dois caíram acidentalmente de skate no parque. Dessa vez, porém, ela não ficou com raiva. Pelo contrário, gostou da oportunidade. Sentia-se preparada para se entregar por inteiro. Nada lhe convenceria do contrário. Seria a oportunidade perfeita para dar um próximo passo: o amava, sua mãe não estava em casa, confiava nele, a porta estava trancada e tomariam todos os cuidados para não dar nada errado.

Henrique sussurrava palavras de carinho durante o ato e Melina fechava os olhos de satisfação. Era como beija-lo: sentir-se com os pés fora do chão, como se fosse liberta, capaz de qualquer coisa. Jamais se arrependeria daquele momento.

— Tenho que te confessar uma coisa. – Henrique quebrou o silêncio um bom tempo depois dos dois estarem esgotados.

Melina estava deitada sobre o abdômen dele, fazendo contornos com a ponta dos dedos nos desenhos de sua pele branca.

— É a minha primeira vez. – ao ouvi-lo dizer, Melina levantou a cabeça no mesmo instante, surpresa e intrigada.

— Quer me dizer que...?

— É, eu nunca antes...

— Nossa! – ela soltou um risinho, voltando a deitar sua cabeça sobre ele. — Eu me sinto tão experiente. Como se fosse muito mais velha do que você. Ou já tivesse vivido muito mais.

— Digamos que seja quase isso. – ele beijou o alto da cabeça dela, sentindo o perfume de seus cabelos . — Nunca fui tão feliz!


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Notas finais do capítulo

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