Luz Dos Olhos escrita por Mi Freire


Capítulo 37
Dias difíceis pós-separação


Notas iniciais do capítulo

Capítulo tristezinho.



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Estava sendo mais difícil do que ela poderia imaginar. Melina tentava não exagerar, não transparecer sua fraqueza, seu cansaço e o esgotamento. Mas qualquer esforço era muito para ela. Os dias já não tinham mais sentindo, vida, alegria como antes.

Ela, por descuido, acabou faltando alguns dias na faculdade, pois não ouvira o despertador do próprio celular. Só queria dormir por longas horas desejando que esses dias passassem depressa. Daniele estava tão preocupada que achou melhor deixa-la dormindo, Ariela fez o mesmo, Marcela só queria debochar, aliada a Rebeca.

Nicolas pediu ao pai que desse um tempo a Melina no trabalho, pelo menos até ela se sentir melhor. Ele tentava de todas as formas reanima-la, mas nunca era o suficiente. Ela estava no direito de querer ficar sozinha, deitada ou coisa do gênero. Nicolas pediu a Analu um desconto, a garota só queria estar grudada a ele justamente quando Melina mais precisava tê-lo por perto. O que Nicolas não imaginava era que Analu fazia aquilo propositadamente por ciúmes.

Alberto e Alexandra ao saberem dos últimos acontecimentos fizeram visitas a Melina. Alberto conversou com a filha, sempre sendo o pai e amigo maravilhoso de sempre, por mais difícil que fosse ver a filha daquela forma por um garoto babaca e por mais difícil que fosse dizer alguma coisa que não a ferisse ainda mais. Alexandra por sua vez, dava sábios conselhos à neta, dos quais Melina levava muito á sério por mais difícil que fosse segui-los. A avó levava pãezinhos doce, bolos e outros agrados na tentativa de fazer Melina sorrir. Mas quem acabava se dando bem era Daniele, sempre faminta e amigável com Alexandra.

Verônica também não deixou por menos, e pela primeira vez foi ao apartamento da filha. Praticamente implorou que Melina se levantasse, tomasse um banho e se vestisse, pois ela acreditava que nada melhor para um coração partido do que um banho de loja. Mal conhecia a própria filha. Além de fazer brincadeiras de mau gosto, por menos intensão que tivesse de ofender sua filha. Verônica só não sabia como encarar aquela situação. Acreditava que tudo não passava de um drama adolescente, logo tudo voltaria a ser como antes e Melina voltaria para os braços de Thomaz.

— Mãe, você tá querendo me dizer, que mesmo depois de tudo, eu ainda devo voltar pra ele?

— É claro, Melina. Você é muito novinha filha, mal sabe da vida. Que homem nunca traiu uma mulher?

— E você acha que eu deva achar isso muito normal? – Melina encarava sua mãe, espantada. — Papai nunca te traiu.

— Quem garante? Eu nunca confiei cem por cento em seu pai.

— Mas eu sim, eu confio nele e sei que nunca ele a trairia.

Henrique chegou a ligar algumas vezes. Ele não sabia de nada e Melina também não se sentia a vontade para contar. Pediu a ele que ligasse outra vez, mentindo, ela dizia que estava ocupada com trabalhos da faculdade. E ele que não sabia de nada, acreditou.

— Você tá bem Melina? – Enzo, o garotinho filho de Leila, a “quase” namorada de seu pai estava em seu quarto, sentado ao seu lado com Bel, a cachorrinha, em seu colo. Ele acariciava os pelos da cadelinha.

Implorara a mãe que o levasse para ver Melina. Leila bem que tentou impedi-lo, já estava a par de tudo que aconteceu a Melina, pois Alberto havia lhe contado. Mas o garoto bateu o pé, chegou a telefonar para Melina as escondidas. Ela por sua vez, não conseguiu dizer a ele que não se sentia muito bem para receber visitas. O garotinho era irresistível com seu jeito meigo, carinho e infantil.

— Porque Enzo? Não pareço bem? – ela deixou o livro que lia para ele de lado. O garotinho olhava atentamente para ela com seus olhos negros iluminados.

— Não, não parece. Desde que cheguei aqui tenho reparado que você não parece nada bem. – ele admitiu. — Pode confiar em mim – ele falou como adulto, colocando sua mãozinha sobre a dela. — Só não diga que é coisa de adulto e que quando eu crescer vou entender.

Ela não resistiu ao riso.

— É complicado, Enzo. Eu confio em você, acredite. Tive uns problemas com uma pessoa que me magoou muito.

— Ah, entendo. – ele parecia mesmo um adulto. — Melina, eu gosto muito de você, sabia? Nunca vou te magoar.

Melina sentiu uma lágrimas escorrer de seus olhos. Não chorava de tristeza, como nos últimos dias e sim de emoção. Uma emoção única que Enzo estava lhe proporcionando em um momento tão difícil como ele. Ela sempre quis um irmãozinho, exatamente como ele.

Ela o abraçou, e ele correspondeu, amoroso.

Thomaz, por mais culpado que ainda se sentisse, mesmo depois de semanas, ainda pensava muito em Melina. E todas às vezes resistia a forte vontade de ligar para ela, tentar conversar, resolver aquela situação, quem sabe até conseguir o seu perdão.

— Thom? Posso entrar? – Rebeca lhe interrompeu os pensamentos, batendo na porta de seu escritório. Quando não tinha muito o que fazer, ela sempre comparecia a sua sala a procura de algo a mais que não fosse tratar de problemas profissionais.

— Desculpe. Hoje não dá. Não estou me sentindo muito bem. – ele a afastou de seu colo de maneira mais agradável possível. Rebeca se espantou. — Me empresta o seu celular? O meu descarregou.

— Claro! – ela lhe estendeu.

Thomaz saiu de sua sala, a deixando para trás e foi até um lugar mais reservado. Precisava fazer uma ligação importante. Não poderia deixar para outra hora. Ele havia mentindo a Rebeca ao dizer que seu celular estava descarregado, só precisava do aparelho dela para que não desconfiassem que era ele do outro lado da linha.

— Alô? Quem é? – ela logo atendeu. Era ela. Melina. Thomaz só precisava ouvir o som calmo de sua voz.

Ele tinha tanto a dizer, ainda se desculpar, perdi perdão, se explicar. Mas o tom da voz serena de Melina fez com que ele congelasse e não conseguisse dizer absolutamente nada. Ficou mudo, apenas ouvindo a respiração impaciente dela do outro lado.

Até que ela desligou. E ele não disse nada do que tinha em mente. Havia feito tantos planos e lhe faltou coragem.

Thomaz, que não era tão bobo quanto aparentava ser, apagou o numero de Melina dos registros do celular de Rebeca e devolveu a ela, voltando ao trabalho, sua rotina normal.

~*~

— Que bom ver você aqui – Nicolas sorria. Lindo e natural com seus fios ruivos ainda molhados. — Você realmente faz falta... Olha só o que eu trouxe pra você.

Ele estendeu a Melina uma única tulipa rosa bebê.

— Oh, Nicolas... Obrigada. – ela levou a flor até o nariz e inalou seu perfume. — É linda!

— Tulipas representam o amor perfeito. A nossa amizade não deixa de ser considerada amor.

Eles se entreolharam por um momento.

— É um lindo gesto! Obrigada, mais uma vez.

Os dois voltaram às atenções para a professora que entrou na sala e cumprimentou a todos com um extenso “Olá!”.

— Se quiser, eu repasso pra você todo o conteúdo perdido. A qualquer dia e a qualquer momento. Tenho a noite inteira de hoje livre.

Os dois caminhavam lado a lado pelo corredor em direção a porta de entrada do prédio universitário.

— Nicolas! Enfim, te achei. Te procurei por toda a universidade. Onde você esteve? – ela soltou um risinho. Era Analu. — Eu estive pensando... Comprei uns discos. Sabe aquela cantiga vitrola do meu pai? Poderíamos testar os discos novos...

— Sinto muito, Analu. Mas eu combinei com Melina de repassar todo o conteúdo perdido enquanto ela se manteve afastada...

— Ah.

— Mas, tudo bem. Podemos deixar para outro dia. Vá com ela, Nicolas. Não tem problema, eu posso esperar.

— Não! – Nicolas respondeu rápido demais, assustando ambas. — Nada disso. Você perdeu muita matéria. Não podemos acumular!

~*~

Antes de bater a porta, Melina respirou fundo, ajeitou os cabelos, olhou pela ultima vez a si mesma pelo reflexo no visor de seu Smartphone e tentou sorrir.

— Melina! Ainda bem que você chegou. – Teresa abraçou a garota que ainda estava frágil, ainda não havia se recuperado totalmente do término com Thomaz. Melina não tinha convicção que algum dia ainda se recuperaria. Essa possibilidade parecia tão distante! — Entre.

Melina pôde ouvir as vozes agitadas que vinham da sala de visitas, outro cômodo depois da sala de estar. Ela se encaminhou até lá, tentando imaginar o porque sua mãe teria a convidado para ir até ali.

As poltronas estavam ocupadas, assim como os sofás. Todos conversavam animadamente até Melina aparecer. Quando ela entrou no cômodo, todos pararam para olha-la. Olhando para cada um daqueles rostinhos, Melina entendeu o porque ter sido convidada.

Não sabia se cairia dura para trás assustada ou se sairia correndo dali o quanto antes. Nenhuma das opções pareceu coerente.

Verônica foi a primeira a se levantar, deixando sua taça de champanhe de lado. Ela abriu um sorriso e foi abraçar sua filha, ainda paralisada onde estava.

— Você demorou. – Verônica cochichou no ouvido da filha, ainda com o sorriso impecável.

— Mãe, você não fez isso. – Melina retrucou, fechando os olhos como se estivesse envolvida nos braços da mãe, mas ela apenas tentava evitar os tantos olhares.

Monica, a mãe de Thomaz foi a próxima a cumprimentar Melina, forçando um sorriso. A mulher estava verdadeiramente extravagante em um vestido longo vermelho, como se estivesse em uma festa de gala.

Vitor, o marido, sempre mais discreto e reservado, apenas apertou a mão de Melina com um meio sorriso.

— Eu sinto muito. – Tina sorriu, sem jeito. — E você, está linda!

Melina não soube como responder, e continuou a cumprimentar os convidados. Antes que Verônica lhe fizesse passar vergonha.

O próximo foi Carlos, o namorado de Tina, que ainda não era muito aceitado pela família da garota, mas que tentava o máximo possível reverter àquela situação. Era a primeira vez que Melina o via de perto e simpatizou muito com o jovem.

Thomaz estava de costas, coberto de vergonha por sua mãe ter o obrigado a estar ali. Como se ele ainda fosse um garotinho. Ele estava de pé, o único, próximo a uma das tantas janelas do cômodo, olhando para o lado de fora. Ele viu quando Melina chegou e sentiu seu peito se oprimir ao ver que ela estava um caco, apesar de não deixar transparecer. Qualquer outro não teria percebido o quanto ela sofria por dentro, mas Thomaz a conhecia ainda mais do que pensou ser capaz de conhecê-la. E sabia que ela estava sofrendo por culpa dele. Sentiu que sua presença ali não era desejável.

— Thom? – sua mãe o chamou. — Olha só quem chegou.

Ele se virou lentamente. Foi mais difícil do que havia imaginado ao sair de casa. Ele não conseguia olhar para Melina, sentia vergonha de si mesmo por tudo que fez.

— Oi Melina.

— Oi.

Ela foi fria e ele engoliu em seco voltando a se virar de costas, como se qualquer outra coisa do lado de fora fosse mais interessante.

Melina, por sua vez, sentindo estranhamento um peixe fora da água, sentou-se ao lado da mãe entre Monica.

— Pensei que você não viria, filha.

— Se eu soubesse que era pra isso, não teria vindo.

As duas mulheres arregalaram os olhos.

— Mãe, podemos conversar um instante? – Melina levantou-se, ajeitando o vestido no corpo. — Desde que não seja aqui.

As duas, mãe e filha, se encaminharam até a outra a sala. A grande e espaçosa sala de estar.

— Mãe, qual é o propósito desse encontro? – Lágrimas se acumularam nos olhos de Melina, a raiva lhe consumia. — Você sabia que eu estava sofrendo! – ela não esperou que sua mãe respondesse.

Verônica encavara sua filha sem palavras. Ela nunca tinha a intensão de fazer por mal e por fim sempre acabava fazendo alguma coisa de errado.

— Thomaz me traiu! Foi por isso que terminamos. Eu o amava, e ele dizia que me amava também. Mas o que ele sentia não era amor! Isso não é amor... Thomaz me feriu, me magoou. Olha só pra mim, eu não estou legal. Por culpa dele! E agora você, mesmo sem querer, está fazendo o mesmo... Me decepcionando. – o corpo de Melina tremia e ela já estava chorando. — Eu não estou me sentindo bem... Eu vou embora!

— Filha, não. Fica. – Verônica segurou seu braço. Ela tinha a voz mansa e ela estava levemente magoada consigo mesma. — Eu só queria que você pudesse ter uma segunda oportunidade. Ele a ama Melina! Está estampado nos olhos dele! Thomaz cometeu um erro. Mas quem é que não erra? Ele se arrepende e...

— Chega! Eu vou embora.

E nada mudaria sua decisão, Verônica estava certa disso e nem insistiu que ela ficasse. Mas o que diria aos convidados?

Verônica entrou na sala com o olhar baixo, envergonhada. Monica foi logo perguntando onde estava Melina. Thomaz viu pela janela Melina indo em direção ao carro. A falta de resposta de Verônica disse tudo.

— Melina! Espera! – Thomaz correu antes de ela partir. Ele não saberia dizer quando poderia ter aquela oportunidade outra vez. Por isso resolveu agir.

Ela não deu atenção a ele, estava em prantos. Thomaz foi mais rápido e a agarrou pelo pulso fazendo Melina parar e olhar para ele.

— Me solta. – ela não olhou dentro dos olhos dele. Estava envergonhada por estar chorando.

— Melina, me escuta – ele ainda a segurava. — Você não imagina o quanto eu sinto muito por isso. Não vim até aqui de proposito. Sua mãe insistiu e minha mãe acabou me obrigando. Era pra ser um encontro simples, mas eu já sabia que poderia resultar nisso. Afinal, você tem todo o direito de não querer me ver e estar magoada. Mas eu não suporto ver você assim por minha causa.

Ele segurou o rosto molhado dela e com o polegar enxugava as lágrimas. Melina ainda não olhava para ele.

— Me perdoe. Não espero que você volte pra mim, apenas me perdoe. Eu não consigo conviver com essa culpa. Mal consigo pregar os olhos antes de dormir, fico pensando o quanto eu fui injusto com você. E nada que eu faça é capaz de reverter essa situação, mas, eu preciso do seu perdão para que eu possa prosseguir enfrente...

— Você está com ela? – Thomaz foi pego de surpresa pela pergunta. — Tá namorando a secretária?

— Não exatamente. – ele admitiu. — Ela não é como você. Eu não espero que seja, mas não é a mesma coisa.

Ainda domada pela raiva, Melina finalmente conseguiu olhar para ele. Admitindo para si mesma que Thomaz era um dos homens mais bonitos que ela já conhecera em toda a vida. Ela sempre gostou do tom dourados de seus cabelos e de sua pele, como se ele vivesse diariamente no litoral. Os olhos de Thomaz são da cor do mar e parece a combinação perfeita. Sem falar no seu corpo esbelto, malhado e em forma. Thomaz faz academia no tempo livre, joga golfe e por incrível que pareça faz dieta também.

Ele sempre foi muito cuidadoso.

Esses pensamentos fizeram Melina sentir saudades de tê-lo por perto, mesmo que não fosse o tempo todo, somente vez em outra. Ela acreditou que estava aprendendo a viver sem ele, mas agora, reencontrá-lo ali propositalmente fizeram com que ela tivesse certeza de que nunca saberia viver sem tê-lo.

Thomaz, também sentia falta dela, como já era de se esperar. Rebeca nunca seria como Melina. Melina é única e ideal. Cada vez que ele olhava para ela, sentia como se fosse possível ser completo de todas as formas possíveis. Sem ela, era como ter um pedaço de si faltando.

Eles se entreolhavam, com os corações partidos. Melina parou de chorar, Thomaz se calou. Com isso, no silêncio, agindo por impulso, Thomaz se aproximou mais de Melina e teve muita vontade de beija-la.

Ela sabia que não era certo. Mas também tinha que admitir que sentia vontade. Nem que fosse pra sentir o sabor dos lábios dele pela ultima vez e se arrepender pelas horas seguintes.

— Não. Eu não posso fazer isso. – ela se afastou, quando a boca dele estava apenas alguns centímetros da sua.

— E me perdoar, você é capaz de me perdoar? – ele perguntou, já imaginava que beija-la não seria conveniente, nem se exaltou.

— Por enquanto não. Ainda preciso de tempo. Se você me ajudar, vai ser mais rápido até eu me sentir melhor, quem sabe recuperada.

— Como posso te ajudar? Eu farei qualquer coisa.

— Simples: fique longe. Não me ligue, não me procure, não me visite, não mande presentes, não faça perguntas. Me deixe livre. Isso é tudo que eu te peço. Você poderia me ajudar? Por favor, é importante pra mim que eu saiba viver sem pensar em você.

Como se fosse possível.

— Se algum dia ainda terei seu perdão, eu farei qualquer coisa para te ajudar. Se é isso que você quer, eu farei. Por mais difícil que seja, eu vou te ajudar. Eu te decepcionei, feri e te magoei. Se a distancia vai fazer você se sentir melhor... Não vejo escolhas.

— Obrigada.

Melina entrou no carro, sentou ao volante, ligou o veiculo com a chave e partiu. Via pelo espelho retrovisor a imagem de Thomaz se distanciado à medida que o carro pegava velocidade. Ela não se conteve e deixou às lágrimas lhe banharem o rosto outra vez.


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Notas finais do capítulo

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