Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 7
07




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"Eu só quero o que não posso ter

Eu só preciso do que não quero

E as consequências no futuro

Senti-las como agora

Eu sei que não posso sentir o futuro

Mas eu posso estar lá para você agora"

Jacob nunca reclamara do tipo de vida que levava. Gostava dela, de seu ritmo, de ficar trabalhando em carros e motos até altas horas, sair com seus amigos para ir à praia, gostava da calmaria da reserva.

Só existia uma coisa. Uma coisa que o incomodava. Enquanto todos se arrumavam em casais, o tempo passando, uma única pessoa era capaz de tomar seus pensamentos. E seu nome era Isabella Swan.

Sua amiga de infância, que quando fora embora não passava de uma pessoa especial, com o passar dos anos tornara-se a única pessoa que Jake era capaz de amar.

Conversavam sempre, e através de cartas, cartões postais, emails, telefonemas e raras visitas de verão, o moreno se via completamente apaixonado. Não era capaz de se imaginar com ninguém mais, ela era a única capaz de ocupar seus pensamentos.

E então, caía em outra linha de pensamentos, como que em um mecanismo de defesa, com desconfiança.

Não conseguia deixar de especular até que ponto realmente gostava dela e até que ponto sua imaginação o deixara enganar. Não a via há tanto tempo, como conseguia gostar tanto dela ainda? E embora não cansasse de pensar, o sentimento não sumia, sempre pesado em seu peito.

E se...?

Era a pior sensação possível.

Lembrava-se de seu sorriso quente, do seu jeito desastrado, de como ela gostava de ficar sentada, vendo-o trabalhar. Tinha poucas memórias de depois, quando estavam mais velhos, mas as guardava com carinho.

E com o passar do tempo, as visitas foram ficando mais escassas, o que só servia para aumentar o sentimento de saudade dentro de seu coração, a dor fazendo-o ter certeza de que o que sentia era amor.

E todas as vezes que via as pessoas felizes, os casais sorridentes e satisfeitos a seu lado, tinha certeza de que ela seria a pessoa certa para ele.

Ainda se lembrava, quando criança, do dia que seu mundo dera a primeira guinada.

O golpe de misericórdia veio em um email, que trocavam, pelo menos duas vezes por semana, sem falta. Ela encontrara alguém, estava apaixonada. E o pior? Só o contava agora, quando estava grávida. Bella, sua Bella, encontrara alguém e estava apaixonada.

Na época, tinha treze anos, e ainda considerava aquela uma das piores notícias de sua vida. E o pior? Aquilo em nada mudou o que sentia por ela, inclusive, pelo contrário, o sentimento se intensificou com o passar dos anos.

Com vinte e poucos anos, decidiu que era hora de esquecê-la, e passou a ver outras garotas. Nenhuma era tão boa quanto ela, e acabou desistindo. Todos achavam estanho esse lado dele, ele nunca achava ninguém, dispensando as que tentavam se aproximar, sem se preocupar muito sobre o assunto.

A única pessoa que sabia o que estava por detrás de toda aquela amargura era seu pai, Billy Black, e exclusivamente porque o deduzira.

E quando ele rangia os dentes, Billy sabia que a não podia ser outra coisa além de notícias do casal Edward e Bella. Aparentemente, a jovem menina do interior se casara, fizera faculdade e criara uma filha, e ainda assim, dominava os pensamentos e o coração do Quileute, monopolizando-o, sem que ele tivesse escolha.

Foi assim que, em um belo dia chegou à conclusão de que, indiferente de aquele amor ser uma ilusão, era uma ilusão mais forte do que toda a realidade que vivia, e, de certa forma, ficou com medo de voltar a encara-la e perceber que era tudo diferente do que imaginava. Ficou com medo de perceber que criara uma quimera em sua mente, que depois de todo aquele tempo, tudo o que tivesse dela fosse uma imagem criada por si mesmo, nada sendo o que ela realmente era. De descobrir que ela se tornara uma pessoa diferente do que imaginara.

Como voltar a realidade depois de tanto tempo preso a uma ilusão? Era esse seu temor.

Por isso, não houve uma surpresa maior do que a de Billy Black quando anunciou que alguém precisaria ir buscar as peças novas pessoalmente, Jacob se candidatar. Ninguém mais surpreso, é claro, talvez, que o próprio Jacob.

Queria vê-la, queria saber até que ponto o sentimento que sentia era real. Sentiu que precisava disso, não podia mais continuar como estava.

Precisava disso para continuar ou para colocar um ponto final em sua confusão. A dúvida era o pior dos sentimentos corrosivos.

E foi com grande alívio que, quando a viu, seu coração tomou-se de felicidade, e, quando a abraçou, sentiu que seu mundo estava completo e fazia sentido novamente. Ele estivera certo, e só o amargava mais.

E, enquanto conversavam, notou que ela em nada mudara, o que o animou, mostrando que a imagem que tivera dela não era uma ilusão, a quimera que imaginara.

E não foi até mais tarde, naquele mesmo dia, no carro, depois de salvar a menina, que percebeu que não havia nenhuma faísca entre eles. Não como ele achou que teria. Será possível que estivera enganado?

Sua confusão consumia grande parte de seu tempo, e por isso, agradeceu o passatempo que a menina Nessie lhe oferecia. Ela era extremamente agradável e fácil de se estar por perto, com seus sorrisos reluzentes e suas brincadeiras espontâneas. Gostava de conversar com ela e de sua companhia.

Em certo ponto, até gostava de sua admiração, pois era o que ela parecia nutrir por ele. Nunca pensaria diferente.

Isso, até uma bela tarde de sol, quando tivera a bendita idéia de dar aulas de moto à menina ruiva. E quando ela caiu, de pura preocupação, resolvera levanta-la, para ver como ela estava.

Foi o momento que mudara tudo.

Ficou descrente ao perceber que podia sentir-se atraído por ela. E que de menina, ela nada tinha, era uma moça, perfeita e completa. E ainda sentia-se estranho ao lembrar-se do arrepio que o percorreu quando encostou nela daquela forma, a proximidade dos corpos.

Tanto se deixara levar, que quase fizera uma besteira.

Depois disso, não se reconhecia. A essa altura do campeonato, não sabia mais de nada. Não gostava de Bella então? Pois definitivamente, pudera perceber o que era real atração ao ter a mais nova contra si, e sabia que não era isso que sentia pela morena. Ainda assim, resistia a idéia de largar o pensamento que o acompanhara durante tanto tempo.

E foi então que veio a terrível realização que, durante o tempo que estivera com Nessie, praticamente não pensara em Bella, pelo menos não nesse sentido, e que isso não o incomodara. Nem ao menos sabia que isso era possível.

Era como se se soltasse do pensamento sem perceber, começando a ficar verdadeiramente livre.

Resolve que se manter longe dela seria o melhor que poderia fazer pelo momento. Afinal, mesmo percebendo que se sentia atraído por ela, não é como se pudessem ter alguma coisa. Ela ainda era a filha de sua melhor amiga, e ainda por cima, treze anos mais nova que ele. O quanto pior podia ficar?

E chegou a rir de si mesmo ao pensar no quanto deveria ser apaixonado pela idéia do impossível. Uma mulher casada, e depois, uma quase menina. Estava ficando louco, com certeza era isso, não tinha outra explicação.

Tudo piorou ao perceber isso, pois notou que realmente gostava de ficar ao lado dela, de suas conversas, era algo como se algo o preenchesse por dentro, algo que antes estava faltando, embora não devesse fazê-lo ou senti-lo.

E, na sua atual situação, era impossível não vê-la. Viviam sob o mesmo teto. Não acredita quando tem de estender sua visita. Não estava certo de que era isso que queria.

Como conseguira ficar com a cabeça tão bagunçada em apenas uma semana?

As coisas começam a piorar ao ver que ela parecia igualmente atraída por ele. Aquilo o excitava e o deixava mais incomodado, com o pé atrás. Agora não poderia vacilar. Não importava o que acontecesse, tudo o que teria de fazer era resistir não era? Só mais uma semana ou duas.

O quão difícil poderia ser?

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Nessie ainda permanece alguns segundos a encarar o moreno, os olhos bem abertos, tentando entender o que fizera, ou por que o fizera, sem resposta, apenas vendo os olhos escuros e intensos, zangados, sobre si.

-Merda! – E ele se levanta, balançando a cabeça com violência, as mãos passando pelo cabelo de uma maneira nervosa.

A ruiva sente o corpo gelar, totalmente, a percepção do que fizera caindo como gelo violento sobre sua consciência.

-Ai meu Deus – E os olhos arregalam-se ainda mais – Ai meu Deus! Jacob... Me desculpa – E sente lágrimas vindas aos seus olhos de desespero antes que pudesse conte-las, mas antes que ele pudesse se virar para encara-la, ou que mostrasse sua fraqueza a ele, levanta-se em um pulo, saindo correndo do quarto.

-Nessie! – Ele ainda a chama, mas ela não se volta para escuta-lo, entrando em seu próprio quarto e batendo a porta. – Merda! – Ele repete, completando outros xingamentos mentalmente.

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A menina não sai do quarto até o dia seguinte, e, perturbada como estava, nem conseguiu pegar o livro novamente. O milagre foi lembrar-se que tinha prova. E, no desespero que estava, fez o que qualquer outra pessoa faria, uma cola.

Passara quase a noite inteira em claro, pensando em sua atitude imprudente, revirando-se na cama. Era estranho, um sentimento exótico, porque todas as vezes que se lembrava do beijo, seu coração parecia acelerar, e ela ficava feliz, ao mesmo tempo em que se sentia tomada por culpa, e recriminação próprias.

Chorara algumas vezes, por não ter a mínima idéia do que fazer depois. Como iria encarar Jake de novo? E se sua mãe descobrisse? O pior não era exatamente isso, era a decepção que teria consigo, e como se não bastasse, destruiria a amizade que eles repartiram a vida inteira. O que ela tinha na cabeça quando o beijara?

Ainda sentia-se zonza e um pouco enjoada. Não fazia idéia de como poderia fazer a prova em seu estado atual. A última coisa que conseguia pensar era nela.

Arrasta-se para fora da cama, mas sente-se estremecer, uma vez parada em frente à porta. Não estava pronta para encara-lo, era bom que ele não estivesse em casa, ou que tivesse no quarto. Com um pouco de sorte, ele estava tão constrangido quanto ela.

Sai quase encolhida, sentindo-se dolorida, o corpo ardendo, os olhos parecendo como se esfregados na areia, de cansaço. Usava uma blusa simples, transparente nas costas e uma jeans clara.

Quase suspira alto, aliviada, ao ver que ele não estava na cozinha.

Chega à escola sem nem ao menos perceber o que fazia, permanecendo todo o tempo com o rosto abaixado, a cabeça parecendo gritar milhares de pensamentos, ruindo-a por dentro. Novamente, era como se vários sons se misturassem em sua cabeça, deixando-a confusa, incapaz de raciocinar. Estava ficando com enxaqueca.

Senta-se gemendo baixo. O que estava fazendo? Novamente, era quase como se não se reconhecesse. E tudo isso por culpa? Não podia simplesmente dizer dane-se e jogar tudo para cima?

Obviamente que não.

-Nessie? – A voz, que a princípio não sabia ser real, ou apenas uma das de sua mente, ganha um corpo esbelto, sentando-se a sua frente.

-Jane? – Pisca algumas vezes, antes de reconhecê-la. A menina estranha, fazendo uma cara suspeita e deixando escapar um sorriso.

-O que aconteceu com você menina? Você está acabada! – E ri, só fazendo a ruiva encolher-se no lugar, tal qual estivesse com ressaca, a risada lhe fazendo mal.

-Não quero falar a respeito – Percebendo que realmente a incomodava, a loira estranha ainda mais, prestando atenção.

-O que você fez com aquele tal de amigo da sua mãe? – A cor parece sumir do rosto da de cabelos avermelhados, que a encara com os olhos maiores do que previa possível. Jane sorriu, sádica, sabendo que acertara.

-Co-Como você sabe?

-Você é muito fácil de ler Nessie – E ri, burlesca.

-Ai, não consigo tirar isso da cabeça! Saco! – E coça os olhos com força, parecendo estar à beira de desmontar, de uma crise nervosa, de começar a chorar.

A loira genuinamente se impressiona, tentando manter a boca fechada, pelo tanto que estava surpresa. Por mais acabada, bagunçada e indecisa que Nessie estivesse, nunca a vira naquele estado.

-Quer sair? Matar aula? – Propõe, sem nem pausar para pensar nas conseqüências, como era seu costume.

-Não posso, a gente tem prova, lembra? – E a menina limpa os pequenos acúmulos de água que se formaram em seus olhos, deixando-os vermelhos. Sua aparência era péssima.

A loira apenas concorda, mas antes de voltar para o lugar, manda.

-Você e eu vamos sair hoje, assim você esquece um pouco isso.

Renesmee nem pensou em recusar, estava precisando. E não é como se quisesse ir para casa, afinal, se fosse, podia encontrar Jake, e isso era o que menos desejava no momento.

Sem saber como, passa pela prova e pelas outras aulas, alheia, como se nada daquilo fosse real, ou sequer importasse alguma coisa. A única animação depois vinha de Jane, que adorava seus passeios sem objetivo.

A acompanha sem vontade, mecânica, sem saber o que estava fazendo. Andava, respondia, os mesmos lugares, novas pessoas, as mesmas pessoas. Sua cabeça girava e girava.

Volta para a casa no começo da noite, sentindo-se exausta e suja, querendo simplesmente se jogar na cama, sabendo que, com o sono que estava, nada a impediria disso.

Entra cambaleante, fechando a porta com força atrás de si. Sua mãe imediatamente surge a sua frente, com olhar preocupado. Não tinha mais espaço no seu coração para culpa. Enfrenta sua mãe através de seus olhos vazios.

Bella morde o lábio inferior, abraçando-se.

Nessie passa, subindo as escadas, querendo alcançar sua cama, mas pausando, uma vez no corredor, voltando a si em um instante. As coisas de Jacob, as malas e algumas sacolas, estavam espalhadas pelo corredor, fazendo-a extremamente alerta.

A menina caminha, tropeçando de leve ao fazê-lo, entrando no quarto, onde agora, Jake terminava de tirar seus pertences.

-O que...? – Mas a pergunta morre em sua garganta, parecendo cortante demais para sair.

-Eu vou para o hotel – Fala, sem encara-la, pegando a jaqueta em cima da cama, só então se virando para vê-la. Ela mordia o lábio inferior com força, à mão esquerda segurando o cotovelo direito.

-Desculpa... – Saiu apenas um fio de voz, algumas lágrimas caindo, brilhantes, pelo rosto delicado – Não queria, juro que não queria causar tudo isso...

Ao vê-la tão afetada por aquilo, ele se aproxima, parando em frente a ela, sorrindo-lhe de lado, fraquinho.

-Vai ser o melhor para nós dois; E não se preocupe a respeito – E puxa de leve uma mecha de trás de sua orelha, sentindo a textura – É melhor esquecer isso – E saiu para o corredor, fazendo-a ainda mais vazia e confusa.

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Uma semana nunca demorara tanto a passar. Ela se arrastava, parecendo machuca-la. Fazia o máximo para não sair do quarto, deixando seus pais preocupados.

-Eu disse que isso tinha a ver com seu amiguinho, mas não, você tinha de se recusar a ouvir – Edward era amargo em suas preocupações.

-Edward! – A moça leva a mão às têmporas. – Nós não sabemos o que está acontecendo. Você quer parar de culpar Jake por tudo? Se alguma coisa realmente aconteceu, e não estou dizendo que aconteceu, ele não fez certo ao ir embora? Não era isso que você queria?

Dessa vez ele estava sem palavras e cruzou os braços, aborrecido.

A menina dormia mal e faltou quase todos os dias na escola. Só foi na quinta-feira, tendo tempo de conversar com Jane, para que saíssem no final de semana. Queria esquecer, espairecer, dançar até seus pensamentos se tornarem um borrão, tudo misturado, mexer-se até cair de cansada.

Na quinta, durante a tarde, já se encontrava impaciente, e perguntava-se por que não saíra com Jane. Isso pelo menos a teria distraído mais do que andar de um lado para o outro, impaciente, esperando o tempo passar.

Quando ouviu seu pai e sua mãe saírem, provavelmente para comprar alguma coisa, também sai do quarto, sem um destino certo. Mas, assim que relanceia seus olhos para cima no corredor, sabia exatamente onde queria ir.

Pega uma cadeira e puxa a corda do sótão, este se abrindo com muita poeira, que cai sobre ela, fazendo-a engasgar de depois, espirrar um pouco.

Sem se preocupar muito com isso, a menina pega uma escada e sobe para o lugar mais alto da casa, olhando em volta por um instante. Lá tudo parecia tão imóvel, mais do que o normal. Uma fina camada de poeira cobria a maior quantidade de coisas que lá haviam, cobertas por um pano branco, agora cinza.

Era ali o lugar que costumava se esconder quando estava com medo, ou triste, quando criança. Seus pais sempre a achavam. Isso provoca um sorriso em seus lábios ressecados.

A menina olha em volta, caixas espalhadas pelo chão, um triciclo quebrado, uma roupa antiga em um manequim, uma cômoda, sem o pano branco. Quase todo o chão estava coberto de coisas, caixas, brinquedos antigos.

A menina, com cuidado, aproxima-se da cômoda, abrindo a primeira gaveta. Uma escova de cabelo apenas, e pela aparência, não ia querer pentear seus cabelos com ela.

Abre a de baixo, vazia. E a abaixo desta, estava emperrada. Cansada, lança um olhar para a caixa branca que repousava em cima do móvel de madeira, abrindo-o, sem hesitar. A ruiva sorri ao ver a quem pertencia.

Nele, alguns diários, fotos, lembranças da juventude. Sua mãe sempre parecera igual.

Pegando a caixa, senta-se no chão, tirando as outras coisas do caminho, interessando-se pelas fotos.

Lá, podia ver como eram seus pais, e todos os outros quando tinham sua idade. Sorri de leve ao perceber que não tinham mudado em nada.

Tinha uma foto de sua mãe, ainda bebê, no colo de seu pai, Charlie, ao lado de Renée, sorrindo. A próxima era uma foto de formatura, onde ela parecia desajeitada ao lado de Edward e Alice. Passou algumas fotos, chegando a uma inesperada. Nela, Bella sorria, de mãos dadas com Jacob. O moreno devia ter menos de dez anos quando fora tirada.

A menina engole em seco, alisando a foto de leve com o polegar. Sem pensar muito no assunto, a põe no bolso do jeans, apenas para ver que a próxima também era uma foto de Jake, mas desta vez mais velho, provavelmente uma que lhe mandara há um tempo, para que ela pudesse ver como ele se parecia hoje em dia.

Pega as duas, colocando a caixa no lugar e descendo por onde viera. Sem que quisesse, arrecadara mais duas importantes lembranças a sua coleção.

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Na sexta, arruma-se sem vontade, embora no momento, não conseguia acreditar que não existisse nada que quisesse mais do que sair para espairecer. Aquilo parecia o desejo de uma outra Nessie, uma Nessie distante. Põe um vestido azul marinho, bem curto, e uma maquiagem carregada, de azul, cinza e preto. Um batom escuro, os cabelos soltos espalhando-se pelas costas, botas de salto alto, estava pronta.

Desceu rapidamente, esperando a carona, que apareceria a qualquer minuto. Seus pais simplesmente a encararam sair da cozinha, suspirando. Não queria pensar sobre eles agora.

Já saía, quando sua mãe a alcança.

-Você ao menos está de celular? – E parecia preocupada.

-Não, acabou a bateria.

Sem que pudesse negar, Bella põe o próprio celular nas mãos da menina, antes de beija-la de leve.

-Cuide-se meu anjo.

Chega à festa dentro do planejado, encontrando Jane, já com um copo na mão e parecendo excessivamente alegre para quem não tinha bebido.

Sem se importar com o assunto, também pega um copo, bebendo-o de uma vez, rindo em seguida, e partindo para a pista de dança. Era uma festa cheia, e o barulho alto a impedia de pensar. Depois de algumas horas dançando, estava suada e satisfeita. Nem ao menos se lembrava com o que tanto se preocupara. Esquecera-se do alívio que poderia ser, aquele lugar, sem precisar se preocupar com nada mais, com certo e errado, com ninguém, nem consigo mesma.

Tudo o que precisava era continuar dançando, cansando seu corpo, sua mente.

Sai da confusão jogando o cabelo para o lado. Estava um pouco fora de si, um pouco tonta e eufórica. Conseguia sentir o álcool fazendo efeito em seu sangue, e estava grata por isso.

É quando vê Alec, sentado do outro lado da sala, um sorriso galante no rosto, conversando com uma menina qualquer. Aquilo não a impressiona ou incomoda, enquanto se aproxima, determinada, na direção dos dois.

-Alec! – Exclama, praticamente empurrando a menina da cena, voltando a jogar os cabelos, olhando-o sedutora, sorrindo, felina. Ele a olha de cima a baixo, analisando-a.

-Nessie. – Diz simplesmente, mas não escondendo o leve sorriso que passa pelo seu rosto – Achei que agora não vinha mais a esse tipo de evento. – E o sorriso se estica mais, maldoso. A outra menina se afasta, revirando os olhos.

-E por que não viria? – E toca de leve na mão do menino, aproximando-se, mantendo-os mais próximos do que deveria, os corpos raspando de leve. Pela pouca iluminação, só conseguia ver seu rosto, mas não se importava, os olhos brilhando com vida.

-Achei que você tinha um namorado agora. – Ele diz, colocando as mãos na cintura da menina, aproximando-a mais, seus olhos de igual intensidade a ruiva.

-Que namorado? – Responde, fechando a distância entre eles, beijando-o com vontade, as mãos enroscando-se nos cabelos castanhos.

Um flash do último beijo que dera a assusta, fazendo-a voltar-se para trás, arrepiando-se ao lembrar o toque quente de Jake. Como pudera achar que esqueceria? O moreno a sua frente estranha, confusão passando por seus olhos cor de âmbar.

-Algo errado? – Pergunta, mas ela sinaliza que não, voltando a beija-lo, abrindo os lábios devagar, permitindo que a língua dele entrasse em sua boca.

Uma sensação estranha toma o seu corpo. Aquilo parecia errado, cada parte de seu corpo parecia grita-lo, como veneno passando por suas veias. Ela sentia o toque errado, era como se realmente a machucasse. Era estranho, esquisito, e não prazeroso ou a fazia esquecer como planejado.

Ainda tenta durante mais algum tempo, mas a sensação só parece crescer, sufocando-a. Ela podia senti-lo excitado, e, de certa forma, aquilo a enojava. O empurra de leve, sentindo algo travado em sua garganta.

-Desculpa, não posso fazer isso – Murmura diante da cara de inconformismo do rapaz, virando-se, tentando correr, mas tropeçando, sentindo o salto quebrar na queda. Seu joelho doía pelo impacto e torcera o tornozelo. Por pouco a menina que passava a seu lado não pisara em si. O som alto da música impedia que ouvisse o próprio choro, enquanto levantava-se, tirando as botas, largando-as pelo caminho, enquanto corria para a saída.

Quando se põe pra fora, percebe-se enjoada, e por pouco não se joga no chão, achando que vomitaria. A ânsia a toma e permanece alguns minutos lutando com ela, mas não vomita. Levanta-se, sentindo o tornozelo arder pelo esforço. Não sabia dizer quando exatamente havia de fato se abaixado.

Sua maquiagem devia estar toda borrada novamente. Tudo o que queria era...

O que queria? Não queria voltar para casa, não queria aquela festa, queria esquecer, era isso que desejara, e o tivera, mas agora já não parecia suficiente. Por que tinha de estar tão confusa?

Não queria ligar para seus pais, mas não sabia o que mais fazer, e, antes que pudesse acovardar-se, pega o aparelho, rolando a listagem telefônica, seus olhos arregalando-se de leve, parando onde não deviam.

Jacob Black.

Respirando fundo, engolindo o gosto amargo da bile e da bebida, aperta o ligar, sem pensar muito no que fazia. O aparelho toca uma, duas, três, quatro...

-Oi Bells. Tudo em cima? – Sente sua garganta fechar ao ouvir sua voz, seu mundo parecendo escurecer de leve. Senta-se no chão, encostando-se a parede externa da casa, encolhida.

-J-Jake? – Murmura, ouvindo o quão quebrada sua própria voz parecia, fraca.

-Nessie? Tudo bem? – Consegue distinguir a preocupação, o tom se alterando, aumentando – Onde você está? Está tudo bem? – Repete, ele provavelmente ouvira o barulho da festa atrás de si.

-Eu estou em uma festa – E hesita alguns segundos – Você pode vir me buscar?

Ele não demorou mais do que vinte minutos, a postura imponente, a altura diferenciada, uma cabeça, no mínimo, mais alta do que todos a seu redor, olhando, atento, procurando por ela.

Ela sorri, levantando-se, andando um pouco insegura para perto dele.

Ele parecia aborrecido. E com razão, embora tentasse ignorar.

-Hey... – Ela murmura, quase inaudivelmente. Ele a encara, levantando uma sobrancelha, suspirando depois.

-Hey – responde – Por que vem a esses lugares, se é assim que você volta? – Pergunta, genuíno.

-Não costumava ser assim, o costume é novo – Responde, sorrindo fraco, sentindo como seus lábios estavam secos. Ele volta a suspirar.

-Vem, eu chamei um táxi – E pega a mão da menina, o calor fazendo-lhe bem. Como ele podia ser tão quente e seguro? Ela sorri, deleitada, mas ele lhe lança um olhar desconfiado – O que aconteceu com seus sapatos?

Ela balançou a cabeça negativamente, e ele seguiu andando.

-E o que aconteceu com seu tornozelo?

-Acho que o torci quando caí – Ele não responde nada, acenando.

Os dois entram no veículo, ela se encosta a ele, que não protesta. Volta a constatar o quanto o calor que ele emanava lhe fazia bem e aconchega-se. Ele por sua vez, fora do esperado, coloca o braço em volta dos ombros delicados, mantendo-a protegida.

O carro começa a andar.

-O que você aprontou hoje? – Ele pergunta devagar, baixo, fazendo-a suspirar baixo.

-Nada demais. Só queria esquecer um pouco – E ri de si mesma, irônica, ele não gostando do que via – Acho que exagerei um pouco.

-Eu percebi – Ele responde, e disso ela sorri de verdade, mas não lhe lança nenhum olhar, seus olhos ainda perdidos em um ponto qualquer da rua por onde iam. – Nessie – Ouvir seu nome chamado por ele chama a atenção da moça, fazendo-a encara-lo. – Estou preocupado com você – Ele diz, a voz rouca e grave soando agradável – Não gosto de ver você naquele tipo de lugar, não te faz bem.

Ela concorda, cansada. Ela sabia que ele tinha razão.

-Jake? – O chama de volta, seus olhos transparecendo sua vulnerabilidade, implorativos. Ele devolve o olhar com preocupação, intensidade – Eu queria que você soubesse... – A voz dela quase não saía, era um murmúrio, e se ele não estivesse tão próximo, os rostos quase se encostando, não ouviria – Que eu realmente sinto muito, eu não queria, eu juro que não queria... – E nisso sente uma lágrima romper pelo seu rosto, afastando-se, desencostando dele, de seu calor gostoso.

Limpa o rosto, revoltada consigo mesma.

-Merda – Resmunga, limpando as, agora várias lágrimas que se juntavam com a primeira. Ele parece perturbado com a cena.

-Hei, hei – Murmura, empurrando-a de leve, com o braço, fazendo-a encara-lo – Não se preocupe, está tudo bem, não está vendo?

E ela sorri, fraquinho.

-Sério mesmo?

-Sério – Ele responde, mostrando o sorriso de dentes bonitos que tanto a encantava.

-Então... Amigos novamente? – E ele ri, soltando um leve grunhido.

-E algum dia deixamos de ser?

E ela sorri, reconfortada.

A menina desce, em frente a sua casa, sentindo frio, abraçando o corpo. Jake não trouxera uma jaqueta, senão provavelmente a emprestaria.

-Você tem certeza que está bem? – E indica o pé da menina de leve – Consegue entrar em casa numa boa?

Ela responde sorrindo de leve.

-Obrigada – Murmura, antes de virar-se e apressar-se para casa. Entra no recinto escuro sentindo-se leve, enquanto ouvia o carro arrancar, distanciando-se.

Era como se um enorme peso tivesse sido tirado de seus ombros.

E aquela noite, enquanto tomava outro banho, pensava. Se era isso que seus pais procuraram por tanto tempo... Estava curada e provavelmente nunca mais ia querer ir a uma festa daquelas novamente.


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Notas finais do capítulo

Terminada em: 06.12.2011
Publicada em: 22.08.2013

A música do começo é Craving (I Only Want What I Can't Have), do Tatu :)

Nesse capítulo vemos o lado egoísta da Nessie não? Mas temos de dar um desconto, considerando que ela está magoada, confusa e é uma adolescente. Ela realmente não sabe o que fazer. Mas não se preocupem, pois prometo que daqui por diante, ela vai melhorar gradativamente, afinal há um bom espaço para o crescimento dela por aqui ^^~
Ela está melhorando :}



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