Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 6
06




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"Você pode correr, você pode se esconder

Mas cedo ou tarde

Vai cortar como uma faca

Cedo ou tarde

Nenhum lugar para ir

Eu já estou aqui

Você sabe que ninguém irá te amar

Como eu amo você

Porque amor é um suicídio

(Amor é amor é)

Amor é um suicídio

(Suicídio suicídio)"

Só se lembra que esquecera de ligar para Jane na segunda de manhã, e sente-se péssima por isso. Levanta-se, mas sente-se como se estivesse de ressaca, voltando a se jogar na cama macia. Não queria enfrentar o dia de segunda-feira.

O clima cinzento e nebuloso ainda não passara, e com ele, viera o frio, pior inimigo de quem acorda cedo. A menina soube que não tinha mais como enrolar quando sua mãe bateu a porta, chamando-a suavemente.

Seu humor nunca estivera tão instável quanto nos últimos dias.

Em dados momentos, estava na dúvida se o que sentia por Jake podia ser amor, ou se o odiava mesmo, por fazê-la sentir tanta coisa ao mesmo tempo. Era como uma montanha-russa interna.

Geme alto, inconformada, apenas para levantar-se, em um pulo, sentindo frio.

Troca-se rapidamente, uma jeans, uma blusa e um agasalho de moletom de zíper, estava confortavelmente pronta.

Desce as escadas sem ânimo, ainda pensando sobre o assunto anterior, cansada.

-Acho que ela está melhor, estão até procurando uma agência de adoção... – Ouve sua mãe comentar, enquanto entrava na cozinha.

-Está falando da tia Rosie? – Quis saber, por curiosidade mesmo, mas já sabendo a resposta. A morena confirma com um aceno. – Eles querem adotar? – E atém-se por um momento na ausência de Jake, mas nada diz.

-Uhum – A mulher responde, antes de dar outra mordida no pão. A menina relanceia os olhos em direção ao pai, vendo-o distraído, enquanto encarava Bella. Se perguntasse, tinha certeza que ele a olharia estranho. Por isso, se limita a calar-se e comer. Era a primeira vez que via aquela mesa tão calada em dias, e surpreende-se com isso.

-Alguém me dá carona pra escola? – Pergunta, olhando do pai para a mãe.

-Eu te dou – O ruivo responde, dando-lhe um sorriso de lado, que agora a fazia lembrar Jacob. Repreende-se por pensar assim. Provavelmente se lembraria dele toda a vez que alguém sorrisse de lado de agora em diante.

Não queria, iria atrapalhar seu cotidiano e lutaria o máximo possível contra isso.

Notando sua perturbação, Edward não consegue evitar perguntar.

-Está tudo bem Nessie? Está se sentindo mal? – E ela responde com um enfático não, levantando-se.

-Vou escovar os dentes, para que você me leve, está bem? – E antes de dar a chance para qualquer outra indagação, segue seu caminho, subindo as escadas, de dois em dois degraus. Já ia entrar em seu quarto, quando ouve o barulho de um chuveiro. Engolindo em seco, mas deixando sua curiosidade falar mais alto, segue para o quarto ao lado do seu, entreabrindo a porta.

O quarto estava vazio e ela ficou observando-o por um instante. Respira fundo. O que estava fazendo? O que esperava ali? Ia se retirar, mas ouve o chuveiro desligar, e seus pés parecem presos ao chão, alguns segundos se passam, e a menina percebe que vivia uma batalha interna.

Estava quase decidida a partir, quando a porta se abre, e tudo mais desaparecesse. O moreno já usava calça jeans, mas seu tronco estava exposto, exibindo uma tatuagem no braço, a pele escura, o corpo bem definido. Ela engole em seco, encarando-o, vendo o movimento das gotas que ainda não haviam secado escorrerem. Sente seu coração bater tão rápido, que tem certeza de ter ficado vermelha e tonta.

Segue uma gota que escorregava por sua barriga, cada músculo, seu umbigo, deixando a beirada da calça molhada. É só então que percebe o quanto estava encantada, e se força a dar um passo para trás. O que diabos estava fazendo ali, escondida, enquanto Jacob Black se trocava? Só podia estar ficando louca.

Dá outro passo para trás, temendo que ele a visse pelo espelho do quarto. O que estava pensando? O que estava pensando? Estava ficando louca?

Vira-se, apressando-se para seu quarto, mas tropeçando no caminho, soltando um gemido baixo, o ruído de seu pé torcendo de leve. Esperava que ele não a tivesse ouvido. Estava quase alcançando a maçaneta de seu quarto, quando um barulho atrás de si a alerta.

-Nessie? – E ela se vira, sem graça, tentando esconder sua vergonha, ainda clara de que estava representada em seu rosto.

-Hey Jake... – E fica quieta, evitando seus olhos, uma mão esfregando na outra, nervosamente. E por um momento, temeu que ele a tivesse visto. Não saberia onde esconder a cara. O que faria? O que fazer?

Ele fez uma cara esquisita e seu coração parou. Ele a tinha visto, não havia dúvida, não tinha?

-Você... – O coração parou, e ela estava gelada. Ele a encara, seu olhar perscrutador, parecendo ver através de si, deixando-a sem ar. Ele parece pensar por um instante, agora já devidamente vestido, parado a porta – Deixa pra lá – Diz simplesmente, fazendo-a soltar mais ar do que sabia que tinha armazenado, chegando a sentir-se atordoada. Ele se vira, mas volta-se – Boa aula – Diz, antes de bater a porta.

Fora por pouco que não passara mal de nervoso. Ela estava começando a perder seu jogo e isso a desagradava mais do que qualquer coisa.

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-Sua mãe estava pensando em visitar a Rosalie esse fim de semana – A voz grave parece trazê-la de volta a terra, e por alguns instantes encara Edward como se nunca o tivesse visto, antes de voltar a si.

-Hã? – E pisca algumas vezes, atestando seu retorno.

-Sua mãe, visitar Rosie. – Ele diz, impaciente, mas não tirando os olhos da direção.

-Ah sim, sim, ela merece, principalmente com essa situação do bebê e tudo. – E dá uma pausa, alisando a bolsa que repousava em seu colo – Você vai? Quero dizer, já vai ter terminado o projeto e tudo?

-Não sei – E ele suspira, parecendo algo entre o cansado e o irritado – Espero que sim.

A menina sorri de leve, distraída.

-Espero que sim, aí podemos tocar o piano. – A idéia parece agradar o ruivo, que lhe lança um olhar terno, antes de voltar a olhar para frente.

-Eu ia gostar disso.

E o carro volta a cair em silêncio por alguns instantes, os dois presentes parecendo cair em suas próprias reflexões.

-Pai? – Ela o chama, continuando assim que percebera que tinha sua atenção – Como você soube que gostava da mamãe? – Indaga, voltando sua atenção para a bolsa a sua frente.

-Que espécie de pergunta é essa? – E ela não soube responder, dando de ombros. Visto que ela não respondera, ele continuou, não antes de respirar fundo, parecendo escolher as palavras – Acho que não é algo que se saiba com a razão, é algo que se sente. – E ele sorriu, parecendo perdido em memórias. Ele só tinha aquela expressão no rosto quando pensava em Bella, seus olhos pareciam brilhar, seu rosto se iluminava. E fora sempre assim que Nessie soubera que seu pai amava sua mãe – E um belo dia, eu simplesmente olhei para ela, sentada a meu lado, vendo um filme qualquer, e eu pensei 'O que eu estou fazendo? É ela!'. Foi estranho, foi quando eu percebi que era ela a pessoa certa pra mim, e que eu não queria mais procurar por ninguém, pois tinha achado quem tanto procurara...

As palavras ressoavam de leve na cabeça de Nessie ainda, quando desceu do carro na escola, ecoando nos quatro cantos de seus pensamentos.

Ele simplesmente soubera. De alguma forma, sabia o que queria dizer, e isso a assustava. Tenta bloquear sua linha de raciocínio, mas quanto mais o fazia, mais pensava a respeito. Quando estava com Jake, de certa forma, podia soar tão errado, tinha todos os motivos para acreditar nisso, mas simplesmente sentia que estava certo, e agora, isso a incomodava.

Entra na sala, sentando-se, alheia, etérea.

-E aí vadia? – Jane senta-se a sua frente, encarando-a com seu usual e cuidadoso desinteresse. O jeito de a loira chamá-la não a incomodou. Era o jeito carinhoso dela de tratar as pessoas. – Me deixou esperando sem avisar que não vinha por quê? E é bom que tenha um bom motivo.

E Nessie cai pela segunda vez em terra, encarando a amiga, a culpa voltando a crescer em si.

-Desculpa Jane. – E pondera um instante, ao ver a cara de descaso vazio da outra – Eu tenho uma boa desculpa, na verdade, só não sei se estou pronta para partilha-la.

Aquilo parece atrair a atenção da menina, que joga os cabelos tingidos para trás, um sorriso malandro aparecendo em seu rosto.

-Vamos, me conte – E estica o sorriso, batendo de leve na menina a sua frente – Estou esperando, vamos, é o mínimo depois de ter me abandonado lá, vamos!

E a ruiva suspira, sabendo ser verdade, remexendo-se na cadeira, desconfortável.

-Então... Tem esse cara...

-E não tem sempre? – Nessie a cala com o olhar e a loira sinaliza desculpas com as mãos, como se dissesse que não mais a interromperia.

-Mas ele é muito mais velho, e amigo da minha mãe! É loucura, você não acha? Quero dizer, nem ao menos posso afirmar que ele gosta de mim ou quer alguma coisa comigo – E antes que percebesse, desembestara a falar – Me diz que é loucura, eu nem sei mais o que eu estou fazendo, eu só o conheço há uma semana, mas ele me deixa louca, eu já não sei mais o que fazer, eu não sei que tipo de poder ele exerce sobre mim mas—

-Owowow, calma Nessie, calma! – A loira a interrompe, apenas para desembestar a rir, parando, e começando novamente, até a menina a sua frente cruzar os braços, começando a ficar irritada – É sério isso?

E a menina volta a confirmar, abaixando o rosto.

-Você está apaixonada?

A menina parece se exasperar, sem saber como agir, tornando-se inconstante, nervosa.

-Não faço idéia! O que diabos é amor para começo de conversa? – Jane a olhou por um instante, de olhos arregalados, e, passando de espantada, para seu normal, indiferente, começa a rir, rapidamente tornando-se histérica. A ruiva a encara, inconformada, logo começando a se enervar.

-Por que está rindo? Jane, pára! Por que você está rindo? – E cruza os braços, emburrando, o que só faz a loira rir mais ainda, quase se engasgando, tendo de se curvar para frente, para se agüentar.

-Desculpe, é que eu nunca imaginei que você, Nessie Cullen, um dia pudesse se apaixonar! É um marco histórico! Posso anotar no meu celular?

Aquilo só faz a menina corar de raiva, o rosto combinando com os cabelos.

-Você não poderia fazer o favor de me ajudar? – Empurra o Iphone da menina, impedindo-a de tirar uma foto – Nada de fotos. Ah Jane, não enche então! – E empurra as mãos da loira, fechando o rosto.

-Ixi, a situação está pior do que eu pensei então – E tenta conter um risinho, analisando a amiga – Mas sinto não poder ajudar, não sei nada sobre o amor, ou o que quer que seja que ninguém não saiba. – E mordeu a cartilagem, no canto da unha, já em carne viva, sangrando, uma mania autodestrutiva – Já pensou em perguntar pra... Sei lá, sua mãe? – E quando a ruiva se virou, voltou atrás – Péssimo conselho, péssimo, péssimo, eu sei, mas não sei o que te dizer – E vendo a desolação desesperada, não se segura – Cara, espero que eu não passe por isso, isso só dá merda!

E Nessie volta a rolar os olhos, inconformada.

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Chegou em casa preocupada com a prova que teria no dia seguinte, que acabara por se esquecer. Se quisesse ir bem, provavelmente teria de estudar o dia inteiro, mas esquece disso assim que fecha a porta e vê Jacob circulando pela sala, com o telefone em mãos.

O encara por alguns segundos, antes de ouvir um barulho e voltar sua atenção para sua mãe que vinha em sua direção pelo corredor, saindo do escritório.

-Oi amor, como foi a aula? – E lhe beija o rosto, continuando o caminho, mas parando, esperando-a responder.

-Tudo bem, normal. – E parecia distante – Mãe, o que o Jake faz em casa tão cedo?

A morena dá de ombros.

-Ele disse que precisava voltar para casa porque tinha algumas coisas pra resolver. Eu não perguntei o que. – E dá um ligeiro sorriso antes de se voltar para a escada, mas volta a parar – Ah, espero que não se importe, sua comida está no forno, acabei comendo mais cedo porque tinha de correr contra o tempo.

-Tudo bem – E menina a tranqüiliza, sorrindo de leve. Quando a mãe já estava quase no topo da escada, lembra-se de algo – Mãe, vamos mesmo para a casa da Rosie esse final de semana? – E a moça simplesmente confirma com a cabeça, estranhando.

-Por quê?

-Estava pensando em praticar o meu piano. Será que o papai pratica comigo? – E volta a ideia antiga, embora já soubesse a resposta, só fazendo conversação, enquanto levanta as sobrancelhas repetidas vezes, divertida, arrancando um sorriso da mais velha.

-Se ele tiver terminado o projeto, com certeza. – E vira-se, voltando-se para seu próprio escritório.

Ainda sentindo-se leve, a menina vai para a cozinha, mas enquanto comia, o moreno permanecia no telefone, parecendo ocupado, sem nem lhe lançar um olhar. Sem que percebesse, a ruiva come encarando-o, vendo-o andar de um lado para o outro, parecendo alterar-se de tempos em tempos.

Levanta-se quando termina, parando a porta, na dúvida se o esperava terminar a ligação ou se subia para o seu quarto.

Rapidamente, os pensamentos do que fizera aquela manhã lhe vieram à mente, o corpo bem definido gravado em suas órbitas, fazendo-a esquecer-se de sua realidade e engolir em seco. Forçando-se a prestar atenção no que fazia, lembra-se de sua prova. Assim, percebeu que aquela, provavelmente, apenas entraria para a sua lista de péssimas idéias que vinha tendo nos últimos tempos.

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A menina passou algumas horas no quarto, lutando para se concentrar, olhando as folhas de exercício a sua frente, repetindo-as diversas vezes quando se perdia, até praticamente desistir. Não conseguia se concentrar.

Maldição!

E tudo aquilo por causa de um homem chamado Jacob Black.

Senta-se na cama, bufando, brigando e xingando a si mesma. Ela podia ficar mais ridícula? E o pior? Desse jeito, obviamente iria mal em sua prova, o que poderia acarretar em uma recuperação, que significava em uma mancha no currículo, o que significava uma péssima faculdade.

Como, pensando em tudo isso, ainda não conseguia tira-lo da cabeça? Bastava distrair-se, um segundo que fosse, e já estava relembrando do caminho das gotas, percorrendo lentamente o corpo moreno, as costas bem definidas, o que a lembrava a pensar nas mãos segurando-a firme junto a si, o calor dele de encontro ao seu.

E subitamente, estava em um lado completamente oposto a seu estudo. Havia perdido a conta de quantas vezes isso acontecera no decorrer do dia.

Abafa um grito frustrado no travesseiro, balançando as pernas no ar.

Nisso, ouve alguém bater na porta, e senta-se corretamente, automática, apenas para ouvir uma voz grave arrepiar sua pele do outro lado.

-Posso entrar? – Demora um pouco para responder, assimilando.

-Han... Claro que sim – E pensou em algo mais para responder, mas as palavras morreram em sua boca. Jacob abriu a porta, e, por um momento, apenas ficou parado no batente, sem saber direito o que fazer, os dois se encarando, constrangidos.

-Hei... E aí? Só passei pra te dar um oi, uma vez que quando você chegou, eu estava ocupado demais pra falar com você – E sorri sincero, fazendo-a derreter por dentro, com seu sorriso de menino levado. Ela permanece a encara-lo, calada. Ele bate as mãos uma na outra, encostando-se ao batente, o sorriso esticando-se na boca – Agora seria sua vez.

Ela não entende, franzindo as sobrancelhas.

-Han?

-Eu já contribuí pra conversa, agora é sua vez. – E disso ela riu, com gosto, inconformada – Isso não vale! Você está roubando minhas falas!

-Ah, então quer dizer que é assim é? As regras só valem quando são com você? – E levanta uma sobrancelha, tentando manter-se sério, mas ainda escondendo um leve ar maroto.

-Que bom que você sabe! – E os dois caem na risada. Assim que se recuperam, Nessie não consegue conter sua curiosidade, algo dentro de si falando mais alto que sua razão – Mas e então, o que esteve fazendo o dia todo? Até voltou mais cedo...

Ele suspira, massageando de leve o ombro esquerdo com a mão direita.

-Basicamente? Estive correndo atrás das peças de carro que eu pedi, mas que até agora não chegaram, ou que estão me enrolando – Ela faz um aceno de leve, confirmando. Jacob trabalhava em uma oficina mecânica com seu pai, e às vezes, montava alguns.

-Você acha que vai conseguir ir embora esse fim de semana? – Na verdade, era a pergunta que estivera evitando e que não queria saber a resposta, embora, de alguma forma, simplesmente precisasse saber.

Ele pareceu um pouco embaraçado, enquanto evitava olhar diretamente para ela, antes de pensar um pouco para responder.

-Na verdade, depende muito do meu pai, se ele vai precisar de mim de volta, se ele vai querer que eu fique e espere as peças, se ele quer que eu compre algumas outras... – E um silêncio constrangedor seguiu o final da sentença.

Ele passou a observar o quarto da menina, enquanto nitidamente ignorava o olhar de análise que ela lhe lançava. Mantinha os braços cruzados, tentando manter uma posição defensiva, mas os olhos amendoados pareciam afronta-lo, clamando por atenção.

Ele percorreu a vista rapidamente pelas paredes claras, o armário no canto direito de onde estava, a cama no centro, a escrivaninha do outro.

-Você estava estudando? Desculpe se te interrompi. – Fala genuinamente, fazendo-a soltar um sorriso amargo.

-Não se preocupe, eu já tinha terminado mesmo...

-Você vai se formar esse ano? – Ele enrolava e ela se irrita, sabendo-o.

-Se você sabe que sim, por que está perguntando? – E cruza as pernas, como as de índio, no edredom macio, olhando-o, desafiadora, desagradada.

-Estava tentando fazer a sua parte da conversa, já que você não pretende colaborar – Responde, voltando a olha-la, os olhos penetrantes fazendo-a arrepender-se do que dissera, engolindo em seco, presa em seu olhar cortante e intenso.

Suspira de leve, tentando fazer-se cansada, mas sabendo perfeitamente bem que o suspiro nada tivera de cansaço.

-Então... – E percorre qualquer coisa em seu cérebro – Como era a sua escola? Você gostava de lá?

Ele sorri, voltando a mostrar os dentes brancos, os caninos pontudos, simpático, divertido.

-Nós tínhamos uma escola na reserva, onde a maior parte de nós freqüentávamos. Costumava ser divertido, eu geralmente não me incomodava, todos os meus amigos estudavam lá...

E ela sorri, desenhando padrões imaginários com o dedo no tecido grosso debaixo de si.

-Imagino que sim – E levanta o rosto, com uma expressão traquinas – Você era bagunceiro?

Ele faz uma falsa cara de ofendido, fazendo-a rir.

-Por que diz isso? Não pareço um aluno comportado?

E ela tenta imagina-lo, mas volta a rir, fazendo-o embalar-se também, pelo som de sua risada.

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Assim que Jake se retirou, Nessie tentou focar-se três vezes mais, e não conseguiu, a imagem dele sempre a bloqueá-la. Tinha de fazer algo para tira-lo de sua cabeça. Revirando-se algum tempo na cama, enquanto pensava no que fazer, decide levantar-se e sai do quarto, indo para o escritório, entrando bem quando sua mãe desligava o computador.

-Alguma coisa errada? – E a ruiva se põe a pensar como sua mãe podia ser tão perspicaz e ao mesmo tempo demorar tanto para entender certas coisas.

-Não consigo me concentrar e tenho uma prova importante amanhã.

A mãe faz uma cara de estranhamento.

-Então o que está fazendo aqui? – A menina suspira ao ouvi-la irritada.

-Tentando transparecer – E faz uma cara de tédio, saindo novamente, pensando em voltar para o seu quarto, mas a porta um pouco mais adiante lhe parecendo tentadora. Hesitando, pára em frente à porta, pensando se deveria ou não bater. Sente seu coração acelerar pela perspectiva, as mãos começando a suar. Começava a odiar o que ele a fazia sentir.

Desiste de bater a porta, relaxando de leve.

-O que faz aqui? Não vai bater? – E ela se sente gelar, um arrepio como uma corrente elétrica passando por suas costas, fazendo-a subitamente alerta. Vira-se, violentamente.

-Ja-Jake? – Gaguejara. Detestava parecer uma idiota, e era exatamente isso que parecia agora.

Ele estava parado a alguns passos dela no corredor, encostado na parede a seu lado, os braços cruzados, um sorriso enigmático no rosto, os olhos brilhando... Com malícia?

A menina engole em seco, mordendo o lábio inferior.

-Estava procurando o que fazer, mas não queria atrapalhar – Diz, rapidamente, as palavras que pareciam embaralhadas em seu cérebro saindo quase vomitadas. Disso ele sorri genuinamente, balançando a cabeça de leve, e vindo em sua direção, passando por ela ao entrar no quarto, fazendo-a tremer de leve ao passar a seu lado.

-Entre então, por favor, sinta-se em casa – E volta-se para lhe lançar um sorriso jocoso, mas brincalhão, que ela lhe devolve com um olhar superior, indiferente.

Ele faz um barulho engasgado, e ela se senta na beira da cama, enquanto ele olhava algumas sacolas de compras pelo chão.

-Então, o que veio fazer aqui, de verdade? – E vira-se brevemente, inquirindo. Ela suspira, cansada.

-Matar tempo? Tenho uma prova amanhã e simplesmente não consigo me concentrar... – E tenta estralar o pescoço, virando-o de um lado para o outro, depois disso passando a encarar o abajur ao lado da cama, a única iluminação do quarto.

-Prova de que?

-Física – Dá de ombros, encarando a colcha a sua frente, vendo-a manchada por várias luzes que ficaram marcadas de encarar o abajur.

Os dois permanecem em silêncio até Jacob se sentar em uma poltrona logo ao lado da escrivaninha, e do armário, encarando-a.

-Soube que você toca piano – A menina sorri, constrangida.

-Soube ou ouviu a conversa dos outros quando eu cheguei?

-Ouch, dessa vez eu fui pego – E ri baixo, fazendo-a rir com ele, mas analisando o sorriso que tanto a atraía, fascinava. – Seu pai te ensinou? – Retoma.

-Como você sabe? – Era engraçado ter alguém, que supostamente nem conhecia, saber tanto de sua vida. Ele sabia de coisas, que muitas vezes, nem ela sabia.

-Bells costumava falar que seu pai, o Edward, tocava maravilhosamente bem – E faz uma voz fina, chistosa, mas soa extremamente amargo, até para os ouvidos da menina, que imagina o que se passava.

-Sim, eu toco o piano, é a paixão do meu pai, ele me ensinou. – Diz simplesmente, abaixando os ombros, soltando o ar dos pulmões, encarando-o com o canto dos olhos. Por que ele parecia ter aquele problema com o seu pai? Não conseguia pensar em uma razão, seu cérebro ainda preso nisso.

Quando percebe que já estavam quietos há quase um minuto, tenta retomar, antes que se tornasse estranho.

-Posso te pedir uma coisa, digo, se você não for embora no final de semana? – E dessa vez, percebe a mágoa em sua própria voz, tentando esconde-la. É a vez dele respirar fundo, estalando os lábios, abaixando os olhos.

-Claro, diga!

-Se você não for embora, me dá outra aula de moto? – E sorri, acanhada, lançando um olhar implorativo, porém burlesco em sua direção.

Jake começou a rir, novamente fazendo-a irritada.

-Você tem desejos suicidas e eu não sabia? – Ela lhe mostra a língua.

-Eu não fui tão mal assim, ok?

-É, pra uma criança de cinco anos, talvez não – E ela sente a bochecha ficar vermelha, de raiva, lançando-lhe o travesseiro ao lado, só fazendo-o rir ainda mais. Aquilo parece deixa-la com mais raiva, fazendo-a voltar-se para trás, pegando o outro travesseiro, e lançando-lhe também. Ao ver que ele pegara os dois e ainda se dobrava para frente para rir, pega a almofada que estava no chão, logo aos seus pés, e a lança também, mas dessa vez, no furor do momento, acerta a etiqueta no próprio olho, antes de fazê-lo.

-Ai, merda! – Pragueja baixo, levando a mão para cobri-lo, sentindo-o imediatamente umidificar. Devia estar super vermelho. O moreno pára quase que imediatamente de rir, se aproximando.

-O que foi? Tudo bem? – E pára a sua frente, agachado sobre um joelho, olhando-a, preocupado. Com cuidado, tira as mãos da menina do olho machucado, aproximando-se, encarando-o por um instante, analisando.

O que não percebe é o olhar constrangido que ela lhe lançava, pela proximidade, percebendo que a mão direita dele repousava em seu colo, ele mesmo distraído, o calor emanando de seu corpo, fazendo-a respirar entrecortadamente, o rosto certamente corando.

Antes que percebesse, encara de leve os lábios bem definidos e entreabertos, os olhos intensos parecendo tão concentrados em si, focados. Aquilo a arrepia, fazendo a tão conhecida sensação de formigamento entre suas pernas voltar, e, antes que percebesse o que estava fazendo, se inclina um pouco para frente, encostando os lábios macios aos dele.

É só um toque suave, mas lhe dá um choque, fazendo-a gemer baixinho. Antes que pudesse sentir algo mais, as mãos dele seguram seus ombros, empurrando-a para trás.

-Nessie, o que você está fazendo? A gente não pode fazer isso! – A voz dele era contida, guardando um grito, rouca, os olhos furiosos, empurrando-a para longe de si, assustando-a, fazendo arregalar os olhos.

Que merda tinha ido fazer?


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Notas finais do capítulo

Terminada em: 05.12.2011

Publicado em: 14.08.2013

E agora, e agora? Imaginam o que vem a seguir? Dkasopdkasop

Nessie se deixou levar e, além de estar toda fascinada, se apaixonou e deixou as coisas levaram para uma atração física e ainda por cima, não soube muito bem lidar com toda a atração que sentiu. Como acham que Jake vai agir a seguir? Haha

A música do capítulo é Love is a Suicide da cantora Natalia Kills.

Como esqueci de mencionar, as dos últimos dois capítulos são Obsessed da Miley Cyrus e I See You do Mika, espero que gostem.



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