Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 21
21




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382294/chapter/21

21

"Eu sei que dói
É difícil respirar às vezes
Essas noites são longas
Você perdeu a vontade de lutar

Tem alguém aí fora?
Você pode me levar para a luz
Tem alguém aí fora?
Diga-me que tudo vai ficar bem.."

Estaria mentindo para si mesma se não admitisse surpresa com a seriedade e quase indiferença com que terminou a maquiagem e, metodicamente, trocou de roupa e arrumou os cabelos, se dando até ao trabalho de escolher o melhor sapato para sua roupa.

A verdade é que era uma menina alta, com mais de um e setenta de altura, então não se preocupou com o salto. Estaria em casa, entre amigos. Os detalhes de praticidade do dia a dia mantinham sua mente ocupada e beneficamente distraída.

Era estranho o vazio respiratório dentro de sua caixa torácica. Estivera tão preocupada com aquele dia, pelo que parecia ser tanto tempo e, agora que ele estava aqui, de forma sobrenatural, não havia mais nada com o que se preocupar. Ao contrário do que achava originalmente, aquilo a matava um pouco.

O pânico que tomara seu peito ainda algumas horas antes no dia anterior havia morrido. Jacob tinha razão, precisava amadurecer. Deixara-se tomar por seus piores demônios e ao exteriorizá-los sem pensar, havia matado tudo e todos que tocavam. Por seus momentos de fraqueza pagara um preço caro. O que tinha de mais precioso atualmente.

Suspira.

Quando era pequena, sempre estivera acostumada a ser excessivamente madura para sua própria idade. Seus colegas de classe a viam assim, seus professores, pais… Se pergunta quando aquilo deixara de ser verdade e quando ela se perdera em algum viés da vida adulta.

Por que era tão difícil crescer?

Crescer era mesmo estar recomposta o tempo inteiro e não deixar, em nenhum momento seus sentimentos subjugarem suas outras faculdades mentais? Talvez a verdade fosse que não importava muito o que você fizesse, desde que estivesse pronto para assumir as consequências de seus atos. Isso sim era ser adulto.

Parecia plausivelmente doloroso.

Ainda mais preciso, porém, talvez fosse dizer que não havia escolha. Ser adulto era precisar arcar com os seus atos, pois não havia mais ninguém para arcar com eles, além de você mesmo.

Não queria arcar com as consequências do que fizera no dia anterior. Preferia milhares de vezes ter de lidar com seus pais e a notícia bombástica do dia de hoje, do que com o que fizera, com o seu toque de destruição. Escolhia atos sobre atos.

Estava tão confusa! Seu emocional estava em frangalhos e, sinceramente, se alguém propusesse um brinde e contasse qualquer espécie de história tocante e bonitinha, desataria a chorar como uma criança pequena que acabara de ralar o joelho e deseja atenção.

Pensando nisso, reforça o rímel à prova d'água.

Sentada em sua penteadeira, encara seu próprio reflexo. Estava pálida, seus olhos lívidos e famintos. Honestamente, mesmo depois da camada de maquiagem atrás da qual se escondia, estava abatida e de aparência cansada. Os olhos fundos, o rosto de aparência macilenta. Como enganaria todas aquelas pessoas que a conheciam tão bem?

E não só bem, como terrivelmente bem. Bem demais para que os enganasse tão deslavadamente. Principalmente Alice, Alice era terrível de atenta, esperta demais até para o seu próprio bem.

Afasta os pensamentos da cabeça, sem se importar com eles, afinal, agora não é como se tivesse algo para esconder. E se perguntassem, sempre podia dizer que estava preocupada e despreparada para sair de casa.

Ouve um marulho vindo do andar debaixo e o tilintar de louças, risadinhas baixas sendo compartilhadas. Em um par de horas, a casa estaria cheia e sua paz de espírito já tão abalada, completamente sufocada. A pior coisa que existia era tentar se mostrar bem, fazer aparências quando se sentia tão mal.

Tira um cochilo, tentando recuperar tempo de sono, mas seus sonhos são estranhos e intercalados com períodos em que se via subitamente acordada, mesmo que não percebesse. Seu tempo escorre rapidamente e, antes que pudesse reparar, Bella dava batidinhas em sua porta, chamando-a para descer.

Não queria descer.

Agora já era o final de tarde e podia ouvir agitação e ânimo no andar inferior. A voz fina de Alice se destacando acima de todas as outras, risada alta, música, conversação. Era a imagem perfeita de uma festa, ainda assim, o ânimo não a contagiava, como talvez devesse.

Não queria descer.

Lança um último olhar ao espelho e ajeita os cabelos longos, o vestido lilás e a maquiagem. Estava perfeita. Uma completa estranha. Segura o ar e ajeita a postura, mantendo-se firme. Iria fazer isso, iria mostrar a si mesma que conseguia aguentar, assim como faria isso por sua família, que não merecia isso agora.

Seu coração aperta um pouco na garganta. Queria vê-lo, embora não se achasse no direito.

Será que Jake viria?

Seu coração acelera no peito, loucamente e seus olhos se esbugalham. Estranhamente não pensara nisso antes, por motivos óbvios. Achara que não havia motivos para ele vir, mas havia. Ele era amigo da família e, estando na cidade por tão pouco tempo agora, seria inclusive estranho se ele não viesse.

Seria mesmo muito tarde para forjar um desmaio e uma leve internação no hospital? Suas palmas começam a suar e seu coração continua, descompassado. Não queria, nãoquerianãoqueria. . .

A respiração alterada a faz morder o lábio e segurar o choro, fechando as mãos com toda a força. Não iria chorar. Se recusava. Seus olhos ardiam como se cacos de vidros, pequenos como areia, fossem esfregados contra eles.

O evitaria, fugiria dele como o diabo foge da cruz e, assim que possível, subiria para o seu quarto e choraria até seus olhos degringolarem das órbitas. Parecia um bom plano, sólido e possível. Respirando fundo e fechando os olhos, trancando fundo dentro de si tudo aquilo que a incomodava, estava preparada.

A respiração ainda era trêmula quando ela alcança o final da escada, mas, o movimento era tanto, que, por instantes esquece todo o resto, ao ver a arrumação do local e a inebriante presença dos participantes.

Alice logo se aproxima, um sorriso estampado no rosto e lhe dá um beijo na bochecha.

—Como está menina? Está melhor? - E, trocando risinhos, lhe passa a taça de champanhe que segurava, com uma piscadela, fazendo sinal de silêncio - Não conte a ninguém. - Bella passava justamente nesse momento e lança um olhar recriminatório à amiga, mas apesar disso, sorri logo em seguida se aproximando.

—Hoje não tem problema - E acaricia o braço da filha, sorrindo maliciosa. - Só não conte ao seu pai - E cai na risada com Alice.

A bebida era gelada e tinha um gosto incrivelmente doce, delicioso, sem arranhar a garganta. Toma tudo em dois goles e depois aproveita para provar dois tipos diferentes de canapés.

A casa, no seu estilo clássico americano, estava incrivelmente arrumada e a decoração feita nos fundos era linda ao ar livre. Havia várias mesas pelo gramado e um toldo grande. Tudo em tons de creme e vinho. Certamente Bella tivera a ajuda de Rosalie e Alice para preparar tudo.

Pisca-piscas amarelos estavam espalhados por todo o lado, da maneira elegante e discreta. Se não soubesse melhor, Nessie acharia que tudo aquilo era por um casamento ou ao menos uma renovação de votos. Adorava os caprichos de seus pais e suas festas anuais.

Aniversários de casamento, dias de ação de graças, natais e anos novos. Todos, em maior ou menor escala, eram comemorados com direitos a grandes festas e organizações. Isso sempre a fizera ressentir-se, uma vez que sua comemoração favorita sempre fora o dia das Bruxas. Era uma daquelas besteira com as quais se acostumara a lidar. Não é como se não arrumassem a casa ou comprassem os doces. Só era uma festa de menor importância.

E falando em doces, com a qualidade daquela comida, mal podia esperar para ver a qualidade dos doces que seriam servidos.

Uma moça passa carregando mais bebidas e Nessie prontamente aceita uma, deliciando-se com o frescor em sua garganta.

Era mais fácil lidar com tudo assim, quando não precisava pensar muito no assunto. Já deixara seu medo dominar tudo, sobrepujar todo o resto e estragara tudo. Sentia que, não importava o que acontecesse, sua vida dependia daquele momento, de não deixar o medo ganhar, pois a partir do momento que o fizesse, ela teria perdido mais uma vez. E tudo estaria acabado de novo e novamente.

Precisava se provar forte, precisava provar que conseguia aguentar a situação, para si mesma e os outros ao redor de si. A bebida doce ajudava um pouco a acalmá-la, embora não quisesse abusar. Precisava ser minimamente responsável na frente daquelas pessoas que tanto considerava. Afinal de contas, ninguém merecia uma cena com uma adolescente bêbada chorando suas pitangas pelos cantos.

Isso acabaria sendo pior do que toda a junção de fatos. A única situação pior do que se lembrar era sair de si. Para isso, definitivamente ainda não estava pronta. Pela primeira vez na noite, o pensamento parece engraçado.

Ao contrário do esperado, apesar da dificuldade em se concentrar em toda e qualquer conversação ao seu redor por mais de trinta segundos e da insistente sensação de sufocamento, como se o ar sempre estivesse faltando, uma pontuada lá no centro de seu peito, a noite saía melhor do que o esperado.

Todos faziam de tudo para deixá-la o mais confortável e feliz possível, achando, erroneamente que sua tristeza era provinda do afastamento que teria de casa, tão em breve. Bella e Alice certamente haviam dado com a língua entre os dentes e agora todos sabiam de como perdera a compostura apenas alguns dias atrás.

Era difícil ter qualquer espécie de segredo dentro daquele grupo. Podia jurar, às vezes achava que alguns deles podiam ler mentes. Era um milagre que tivesse conseguido ocultar seu relacionamento com Jake durante tanto tempo.

O pensamento traz uma nova onda dolorosa pelo seu corpo e, novamente, se obriga a prestar atenção em qualquer outra coisa.

—E aí baixinha? Já começou a malhar para conseguir bater em todos os caras que falarem com você no corredor? - Emmett se aproxima, segurando uma grande quantidade de comida em mãos, uma bebida fresca na outra.

—Não aceito sugestões de quem não consegue nem escolher o nome dos próprios filhos - E arqueia a sobrancelha bem desenhada de forma malvada. Ele se finge atingido no peito.

—Eu continuo dizendo que Leia e Luke seriam os melhores nomes possíveis, mas Rose simplesmente não me escuta - E fecha os olhos, negaciando com a cabeça - Juro que nunca vou entender. - E revira os olhos, de forma exagerada.

Nessie é obrigada a soltar um risinho, grata pela distração. Adorava como não precisava se esforçar na frente de Emmett, pois ele não parecia levar nada a sério, sendo sempre leve.

—Estou cansada - Reclama, coçando os olhos com cuidado, para não tirar a sombra. Ele presta atenção, enquanto devorava mais um dos canapés.

—Já te falei que você precisa se alimentar melhor. Ninguém aqui me ouve! - Ela sorri e o acerta no braço.

—Besta.

—De fato, muitas pessoas me chamam assim. Acho que são os músculos, assustam as pessoas. - Ela revira os olhos.

—É, não sei como ainda não te descobriram para interpretar o Hulk no cinema. Não precisaria nem de efeitos especiais. - Ele parece genuinamente ponderativo.

—Você tem razão, não tinha pensado sobre isso. - E em seguida, muda o assunto - Você já foi assistir ao último filme que lançaram?

Na verdade, sendo bem honesta consigo mesma, Nessie nunca gostara muito de filmes de super heróis, pois de alguma forma, tudo parecia excessivamente forçado, como um grande filme de ação.

Ela nega.

—E você?

—Alguma dúvida? - E sinaliza a cabeça loira de Rosie - Aquela ali é conhecida pessoal de cada um dos protagonistas. Fomos de tapete vermelho e tudo.

De alguma forma, a imagem de Emmett de social sempre fora uma das que tivera mais dificuldade em formular. Um pequeno silêncio se estica.

—E sua amiga? A gótica? A veremos por aqui em algum momento? - Nessie parece surpresa. Na verdade, no meio de tudo aquilo, com a expectativa que colocara no dia de hoje, havia esquecido completamente de chamar Jane para a festa, embora, em todos os outros anos a amiga não tivesse faltado em nenhuma, fazendo a ocasião incrivelmente mais divertida.

Sempre acabavam o dia trancadas no quarto trocando confissões e risadinhas. Às vezes roubavam alguma bebida e ficavam conversando até altas horas da madrugada. Um pequeno sentimento de culpa cintila lá no fundo de seu corpo, embora fosse muito difícil algum outro sentimento negativo entrar em voga na sua vida.

Estava recheada até o topo deles ultimamente.

—Jane não vem - É tudo o que deixa escapar. Depois disso troca mais algumas palavras amenas, embora tivesse começado a se esforçar demais. Conseguia ver através dos olhos preocupados de Emmett. Com um risinho amarelo, pede licença.

Fica alguns minutos ao lado das meninas, mas se sentia pesada e estranha, subitamente. Novamente se distancia, indo para o andar superior, disposta a retocar a maquiagem, beber uma água e, principalmente, se dar um tempo para respirar e recuperar-se.

Era tudo um grande esforço.

Estava no corredor escuro, quando Edward sai do quarto.

—Ness? - O barulho lá fora era intenso, assim como as luzes. Metal, risadas, conversa. Um copo sendo quebrado e mais risadas. Edward cerra os olhos.

—Sou eu, papai.

—Está tudo bem? - Ele se aproxima devagar. - Você está meio abatida - O rosto dele refletia as luzes amarelas de maneira fantasmagórica.

—Está sim, estou meio cansada. - Ele parecia preocupado.

—As cartas começam a chegar esse mês - Ela sorri, adorando saber que ele se importava, que pensava e se indagava sobre o que a fazia mal. Sorri fraquinho.

—Vou precisar fazer compras. - Dessa vez ele sorri.

—Ah é é?

—Mas é claro! Ou você espera que eu vá para a faculdade só com as roupas que eu tenho? Inaceitável.

—Você devia ver isso com Alice. Garanto que ela iria adorar essa obrigação. Possivelmente mais do que deveria.

—Acho que eu que não estou pronta para isso - Ele sorri.

—Tem certeza que não anda se esforçando demais?

—Acho que não. A menos que a escola seja demais. Sempre é uma opção. Posso parar de ir.

Ele bufa e sorri, malandro.

—Não vale mais a pena agora, são só alguns meses. Você devia ter me dito antes. Podíamos ter feito alguma coisa a respeito.

—E só agora você me diz? - Os dois trocam uma risadinha significativa.

—Você é terrível! - Ela ri ainda mais, genuína, divertida.

—Acho que vou ficar um pouco no meu quarto, para descansar, tudo bem? - Edward franze o cenho - Eu desço depois, só preciso descansar um pouco.

—Tudo bem - E ele se aproxima e beija sua testa, com carinho - Vou avisar sua mãe, princesa. - Ela ri.

—O que foi?

—Princesa, pai? Mesmo? - E ele devolve o sorriso, com graça.

—Ué, você sempre será minha princesa.

—Pai! - O repreende com a voz estridente, divertida e horrorizada - Você não me chama assim desde que eu tinha uns quatro, cinco anos!

—Posso voltar a chamar, não sabia que você estava contando os anos. Por acaso você contou os meses também?

—Como você é brega, pai! - Ele aplica um novo beijo na bochecha e dessa vez, ela o abraça, com ele a segurando forte. - Eu te amo.

—Eu também te amo, filha. - E se despedem com um sorriso.

Depois disso, a menina ronda o quarto, passando no banheiro e arrumando a maquiagem. Depois volta para a porta e tem uma visão geral do cômodo. Dali a alguns meses estaria todo desmontado, mutilado. Senta-se na cama e se lembra de sua mãe, fazendo carinho em seu cabelo até que adormecesse, seu pai contando histórias quando isso não acontecia e as noites do pijama que tivera com Jane, entrando na madrugada com risos e muitos doces. Todas aquelas memórias eram preciosas, faziam parte de quem ela era e como havia se formado.

O amor, a atenção e o carinho que a moldaram jamais poderiam ser esquecidos.

Ela respira fundo. E então, havia Jake. Seu coração doía e apertava sequer de pensar nele, de lembrar do seu rosto, de tudo aquilo que ele significava para ela, de tudo aquilo que se tornara. Era estranho como a gente pode não conhecer alguém por um tempo e depois, ser impossível imaginar sua vida sem essa pessoa. Imaginar um tempo em que essa pessoa não fazia parte da sua vida.

Ele fora algo tão imprevisível em sua vida, tão incontrolável. Ele deixara marcas. Levanta-se, saudosa, decidida a ver seus rostos felizes, ao menos em fotografias, se não na vida real.

Pega sua mochila escolar e joga tudo de dentro, de forma bagunceira e de forma típica dos jovens impacientes. Revira seu conteúdo e chacoalha seus livros, apenas para se deparar com suspiros de frustração. Onde estariam aquelas fotos? Onde as deixara? Revira mais um pouco a bagunça em vão, antes de conformar-se, nada poderia ser feito.

Com um novo suspiro, volta para a cama, pondo-se a pensar. Estava tão cansada de tudo aquilo, seu peito doía tanto, havia cometido tantos erros, imatura e por orgulho. Não queria tê-lo perdido, não assim.

Se relanceia no espelho, enquanto engolia em seco. Já não tivera demais? Já não se condenara, martirizara e sentira pena de si mesma por tempo suficiente? Afinal de contas, ser adulta era ou não lidar com as consequências de seus atos? Pois toda a ação de fato tem reação, muito aquém das leis da física.

O pensamento súbita é como um bálsamo. Se agarra ao pensamento, em uma tentativa vã de acalmar sua mente turbulenta. Era resoluta e uma vez que algo lhe ocorria, era raro voltar atrás.

Levanta-se. Estava disposta a fazer o que fosse preciso. Como a nova pessoa que se propusera a ser, encararia a realidade de frente, não fugiria como vinha fazendo, achando desculpas para si mesma, iria conversar com ele e se desculpar. Já haviam passado por tanto. Se ele não a quisesse perdoar, paciência, teria feito tudo o que podia, tudo o que estava a seu alcance.

E, uma vez com a mente tranquila de culpa, sofrendo, seguiria em frente. Não era isso que todo mundo fazia, afinal de contas? Era difícil, mas sabia que, como apoio de sua família e amigos, conseguiria aguentar. Isso a alivia e ela volta a respirar.

Decisões são sempre muito mais fáceis do que as ações que as procedem. E disso ela começa a rir.

—/-/-/-/-/-/-

Jacob chegava na festa nervoso e, totalmente fora de seus costumes, recatado. Até duas horas atrás, não tivera certeza se realmente viria, mas, no fim das contas, não só devia se despedir de sua amiga de infância, devia aquelas explicações. A Bella e a si mesmo, sua consciência. Manter aquilo escondido só poderia ser prejudicial.

Já o havia sido se todos os termos e consequências fossem postos na balança. E ele não era um homem a temer por seus atos. Assumiria todos eles perante quem fosse, assumindo a culpa que lhe era cabida.

Entraria ali e assumiria que não pretendera se apaixonar por Nessie, pediria desculpas a Bella, explicaria a situação e iria embora, como deveria ter feito há tempo atrás, não fosse a forte oposição de Renesmee. Ele sempre fora o adulto e deveria ter agido como tal, ainda assim, era difícil fazê-lo se isso significava passar por cima da autoridade de sua parceira, da pessoa que amava e decidira ter um relacionamento.

Em um relacionamento, ambas as pessoas têm de ter uma voz igual, ambos precisam aprender a ceder.

Sabia que havia se enganado no dia anterior, que havia perdido a cabeça e cedido para seu nervosismo, para seus piores demônios, como nunca antes havia se permitido fazer. Mas o que podia dizer? Ainda era só um humano e, em um momento tão difícil, suas fraquezas haviam sido testadas. Fracassara.

Não se permitiria ir embora de tal forma. Tinha todas as intenções de, antes de ir, conversar e acertar de todas as formas possíveis seu relacionamento com Renesmee. Por algum motivo, essa conversa o deixava ainda mais ansioso do que aquela com Bella.

Devia mesmo ter parafusos a menos em sua cabeça.

Apesar da tremenda sensação de nervoso, sentia-se estranhamente em paz consigo mesmo e sua decisão. Havia demorado para organizar todos os seus pensamentos e sensações, mas agora conseguira e sentia-se tranquilo por isso.

Toca a campainha.

A casa parecia agitada e colorida, cheia de luzes amarelas. A rua estava cheia de carros dos convidados da festa e a animação podia ser ouvida três casas abaixo. Ouve uma voz que cantava alto e uma sessão de vaias. Bella abre a porta.

—Jake! Não sabíamos se você vinha! - e o abraça - Graças a Deus você está aqui! Estava com medo de não te ver mais antes de você ir embora!

—Estou aqui Bells - e a abraça forte, levantando-a do chão, fazendo-a rir. Assim que é posta no chão, ela bate em seu braço, sem seriedade, para repreendê-lo.

—Venha, entre, a festa ainda vai longe. - E o conduz pela casa conhecida, até os fundos, onde todos se encontravam, nas tendas, trocando conversas e risadas - Posso te oferecer alguma coisa para comer ou beber?

E quando se vira para ele, nota pela primeira vez, a seriedade em seu semblante, o que a faz estranhar, franzir o cenho. Aquele não era o humor normal de Jacob. Havia algo muito errado ali, tinha certeza, alguma coisas muito séria acontecera. O medo nasce nas entranhas de Bella e ela segura o braço do amigo, com força.

—Está tudo bem Jake? Aconteceu alguma coisa? Com meu pai? O seu? O que está errado?

Ele queria tranquilizá-la, mas sabia que não deveria, que a seriedade e o clima austero agora eram importantes se queria prepará-la, minimamente, para a notícia que estava prestes a despejar. Ela não estava pronta para isso, embora ele também não estivesse.

—Na verdade Bells, preciso conversar com você sobre algo sério, podemos ir a algum lugar mais reservado? - O cenho dela franze ainda mais, mas ela apenas anui, virando-se.

—Vamos para a cozinha. - E conduz o caminho.

—/-/-/-/-/-/-

Alice sorria enquanto bebia o champanhe do copo, conversando futilidades com uma amiga de faculdade de Bella. Tanya podia ser meio boba, mas conseguia manter um assunto interessante, quando era sobre moda, algo que Alice jamais iria dispensar.

—Ainda não acho que esse ano tenha havido um sequer lançamento inovador. - Pontua, enquanto via Jasper se aproximar pelos fundos, com sua visão periférica. Ia fazer um movimento articulador com a mão, bem quando seu marido tenta abraçá-la, o que a surpreende e, com um gritinho mudo, derruba a taça no chão da sala, ouvindo seu espatifar, no que seria a segunda destruição da noite. - Ai meu Deus! - Exclama.

—Desculpe amor, eu juro que foi sem querer! - Jasper solta, no momento do susto, fazendo a morena rir. Ela se vira, ainda rindo.

—Que bom, pois eu genuinamente achava que havia sido de propósito - Ele sorri também e trocam um selinho - Vai pedir a Bella onde podemos achar algo para limpar isso aqui? - Edward também entrava na sala, para vistoriar a bagunça.

Alice se abaixa, recolhendo os cacos, até mesmo os debaixo da cristaleira.

—O que aconteceu aqui? - O ruivo pergunta.

—Onde está Bella? - Jasper pergunta, sem pensar - Alice e eu quebramos um copo. - Tanya já se movia do local, saindo pela porta, indo encontrar companhia menos engajada.

—Eu a vi na cozinha, conversando com Jacob, por que?

—Você sabe onde ficam os produtos de limpeza? - Nisso, a morena vê um papel no fundo do móvel, oculto pelas sombras e, movida por uma curiosidade sem sentido, estica a mão, alcançando o papel, largando todos os pedaços de vidro juntos, em uma pequena pilha de cristal.

—Estão no armário do quarto dos fundos, posso mostrar a vocês. - Alice se levanta, virando o papel em mãos. Eram uma coleção de fotos de uma cabine fotográfica. Uma exclamação alta, um chiado e ambos os homens voltam a atenção para a dama, agora totalmente branca, com um papel na mão.

—O que foi meu amor?

—/-/-/-/-/-/-

Renesmee descia as escadas com nervosismo, mas determinada, olhando ao redor. Teria Jacob vindo no final das contas? O sangue pulsava forte em suas veias, chegando a zumbir em seus ouvidos. É quando ouve a agitação, um grito e o barulho, o movimento.

Sem nada entender, vê seu pai literalmente voar de onde estava na sala, para a cozinha, sem pausa, como um animal dando seu bote final. Desce com um pouco mais depressa, chegando ao final da escada, confusa.

É quando Alice e Jasper aparecem, logo atrás, na mãos da Alice, suas tão procuradas fotos.

O rosto de Alice estava branco e seus olhos arregalados, como os seus deveriam estar.

—Alic-? - É quando começam os gritos.

Até o tempo de entrar na cozinha, o caos havia se instaurado. Bella estava apoiada com as mãos na mesa, como se processasse muitas informações ao mesmo tempo, congelada, as feições lívidas. Jacob estava no chão e seu pai estava sobre ele, batendo em seu rosto, sem que Jake ousasse se mexer.

—O que você pensa que você fez? Ela é minha filha! Minha filha! Mal acabou de sair da infância, você está louco? - Ele gritava enquanto batia. Nessie sente seu mundo girar, a cabeça tonta, o chão sumindo de seus pés.

—Pai! - Grita, correndo em sua direção, sem qualquer ar em seus pulmões, segurando-o com força por trás. Ele se afasta, embora o ódio em seu olhar fosse tão frio e cortante, nunca antes a ruiva o havia visto de forma tão mortífera, tão ferina.

Jacob se recupera um pouco, levantando-se com dificuldade, apoiando-se no móvel atrás de si para o movimento. A troca de olhares é aflita, como se assessorasse a situação. Jacob e Nessie não ousam trocar palavras, embora ambos parecesem compartilhar os mesmos sentimentos ao se verem, turbulento, aliviado.

É quando Bella se aproxima, virando um tapa no rosto de Jacob, com expressão traída. E então todas as esperanças de Nessie vão por água abaixo.

—Pai? Mãe? - A voz vêm rouca e fraca no meio dos soluços, que não percebera, escapavam de sua garganta, com lágrimas para acompanhá-los.

—Saia daqui! - Edward pronuncia a sentença, como um rugido. Um momento de imobilidade - Saia! - E ele ruge novamente, fazendo Nessie esconder o rosto nas mãos, chorando forte. Jacob respira fundo e, sem uma segunda olhada, vira-se e vai embora pela portas dos fundos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Terminada em: 14.05.2016

Publicada: 22.04.2018

A música é Carry You (Ruelle feat Fleurie).
Há quanto tempo pessoal!
Alguém ainda esperando isso aqui? ^^
Se sim, gostaria de dizer que só trago boas notícias, apesar da demora. Terminei de escrever o projeto todo e agora estou terminando de revisar. Publicar tudo não deve demorar muito mais!
Agora é só mais um tico de paciência, a quem quiser saber o fim!
Peço desculpas pela demora e sem mais delongas, espero que me digam o que acharam desse momento, tão particularmente trágico :P

Até o próximo, em breve,
Suss.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Serendipidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.