Serendipidade escrita por Roxanne Evans


Capítulo 1
01


Notas iniciais do capítulo

Capítulo terminado em: 26.11.2011

Publicada no FF.com.br: 27.06.2013

Olááá!
Primeira história publicada do casal, espero que agrade alguém. Já tenho 16 capítulos completos dela e ela está bem perto do fim, por isso decidi posta-la, espero que gostem.



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Serendipidade = Significa "acidente feliz" ou "agradável surpresa"; especialmente o acidente de achar algo bom ou útil sem procurar por isso, é o encontro casual ou fortuito de algo que não se procurava. Também conhecido como Serendipismo, Serendiptismo ou ainda Serendipitia, é um neologismo que se refere às descobertas afortunadas feitas, aparentemente, por acaso.

01

"Eu sou o fantasma da garota
Que eu mais quero ser

Eu sou a concha de uma garota

Que eu costumava conhecer bem"

Renesmee entrou em casa, os sapatos em mãos, tentando fazer o mínimo de barulho possível, devido à hora avançada. Aquela não era a primeira vez que fazia aquilo e sabia que ser pega no ato era sempre a pior coisa que podia acontecer. As broncas do dia seguinte eram sempre amenizadas.

Fecha a porta com todo o cuidado atrás de si, até cerrando os dentes, mordendo o lábio inferior. A porta range devagar, a madeira antiga não colaborando, mas fora isso, o silêncio volta a imperar. A ruiva suspira, aliviada.

Pára por um momento, tentando fazer com que seus olhos se acostumassem ao escuro, abraçando o corpo ao perceber que sentia frio. Permanece assim, imóvel durante alguns segundos, antes de voltar a andar, apressada, porém um pouco encolhida e silenciosa, como um predador noturno, subindo as escadas que ficavam logo à frente, grata ao alcançar o segundo andar sem ser descoberta. O piso de madeira fria lhe incomodava os pés, principalmente agora que estava com frio, mas não se permitiria o barulho do salto alto contra a superfície.

Corre para o quarto, aliviada ao fechar a porta atrás de si, respirando fundo ao fazê-lo. Sorri no escuro, inconsciente de que o fazia, o sorriso bonito e perfeito desperdiçado sem alguém para admira-lo.

Entra no banheiro, acendendo a luz e rapidamente limpando a maquiagem pesada do rosto, passando água e demaquilante. Se não fosse dormir agora, não acordaria para a aula no dia seguinte. Na verdade, se fosse dormir agora, provavelmente já não acordaria para a aula, mas afasta o pensamento de sua cabeça com violência enquanto tentava tirar o rímel, que insistia em grudar a seus olhos.

Irrita-se, bufando, desistindo, deixando resquícios, passando para a escovação dos dentes.

Sua mente vagueia, cansada e um pouco alta pela bebida. Não sabia exatamente dizer por que fazia o que fazia. Sua mãe sempre fora a obra-prima da pessoa bem comportada, e era comum que comparassem as duas. Encara sua imagem no espelho. Pensando por esse lado, seu pai também sempre fora assim. A única coisa que a salvava da condenação era o fato de eles a terem tido da maneira como tiveram. Sorri quanto a isso, pensando em quantas vezes aquilo lhe servira de consolo.

Nunca fora exigido nada de si em demasia, como comportamento, nem de seus pais, ou de seus tios, nem de ninguém. Até porque tirava boas notas. Era só sua rebeldia comportamental que os preocupava, e, embora não soubessem, a si também.

Era como se fosse impelida a sair de casa, senão sufocaria, e antes que percebesse, o fazia de novo e de novo, até que se tornou extremamente normal. Sua mãe se estressava e chamava seu nome como repreensão, ficando genuinamente abalada, enquanto seu pai simplesmente suspirava e preferia ignorar.

Mas não entenda mal, afinal eles não eram e nunca tinham sido maus pais, pelo contrário, mas, depois de tantas vezes de castigo e de causar brigas de família, decidiram que o melhor era ignorar e aproveitar o seu lado bom, como ela mesmo fazia.

Seu coração doía mais quando pensava em sua mãe sem conseguir dormir direito, pensando nela em lugares desconhecidos e provavelmente perigosos, por isso, hoje em dia, era normal sair e voltar escondida, pra poupar a dor em seu coração, poupando o de sua mãe.

A menina volta para a realidade, sentindo a cabeça dar voltas e pontadas por estar pensando naquele estado. Grunhi baixo, tirando o vestido roxo, tomara-que-caia que usava, coberto de renda preta, deixando-o no chão mesmo.

Estava na hora de dormir. Olha sua imagem uma última vez no espelho do banheiro. O banho teria de ficar para amanhã. E com isso, joga-se na cama, exaurida.

–/-

Acorda de manhã com batidas suaves na porta.

-Nessie – A voz suave de sua mãe ecoava, fazendo-a querer se enterrar mais e mais fundo nos cobertores, assim como a consciência de que o sol batia contra sua pele, por ter esquecido a veneziana aberta, só as cortinas de cor branca para lhe protegerem da luz.

Abre os olhos, recusando-se a aceitar a realidade, vendo seus cabelos a sua frente, engruvinhados pelo travesseiro, o cobre destacando-se contra a sua roupa de cama azul bebê. Senta-se, percebendo que o fizera muito subitamente, sentindo um gosto amargo na boca, a visão girando um pouco, fazendo-a desequilibrada.

Tenta se levantar, percebendo que novamente, dormira só com suas roupas de baixo. Não tinha mais ânimo de alcançar a gaveta dos pijamas. Estava tão tonta que falha em se por em pé, os mesmos para fora da cama, pendurados como duas massas mortas.

Leva a mão à cabeça, pensando que exagerara um pouco na dose da bebida no dia anterior.

Limpa a garganta com rusticidade, sentindo-a seca e dolorida. Levanta-se, apoiando na mesa de canto ao lado da cama, cobrindo os olhos ainda, tentando protege-los da luz, esbarrando pelos seus pertences, enquanto se refugiava no banheiro.

Atravessa o local a passadas longas e decididas, feliz pelo banheiro não ser muito grande, e por ser um pouco estreito, fazendo-a poder se apoiar nas paredes, sentindo o gelado do azulejo. Senta-se na privada, tentando recuperar a si mesma, um pouco do seu equilíbrio, para poder enfrentar o banho.

Por fim, decidida, encontrando toda a coragem e força características de sua família dentro de si, levanta-se, apenas para ir até a pia beber um pouco de água, antes de jogar as roupas pelo chão, entrando no chuveiro, fechando a porta de correr atrás de si, sentindo a água morna contra a sua pele. Nenhum sentimento podia ser melhor do que aquele, e, naquele instante, a luz que entrava pela janela alta a seu lado não lhe incomodou, fazendo-a sorrir discretamente por ela, cantarolando.

Desce, agora vestida com uma calça jeans azul clara e uma regata branca, sentindo-se limpa, outra pessoa, as forças renovas. Passou pelo comprido corredor de sua casa praticamente saltitando, sem se importar com o barulho, descendo a escada de mármore de dois em dois degraus, ignorando a pontada de dor de cabeça, cada vez que forçava o pé contra o chão.

Pára um pouco, hesitando, olhando para o lado direito, para a sala, mas não vê nada, a sala estava vazia, acompanhada somente pela claridade crescente. Caminha então para a esquerda, para a cozinha, estancando há apenas alguns passos da entrada, encostando-se à porta, ouvindo sua mãe ao telefone.

-Por favor Alice, eu sei que já fez isso muitas vezes, mas só mais essa vez? – E a ouve suspirar, sentindo seu próprio coração grudar contra suas costelas com isso. Odiava magoa-la – Ela não me escuta, você sabe disso, você é a pessoa com quem ela chega mais perto disso.

Inconscientemente, a menina leva o polegar à boca, mordendo-o.

Alice era a melhor amiga de sua mãe, e, de alguma forma, sempre o fora, desde que Isabella Swan se mudara para aquela cidade, há pelo menos vinte anos. E fora através dela inclusive que conhecera seu pai. Um processo estranho, na verdade.

Alice namorava Jasper, que tinha uma irmã, Rosalie. Por sua vez, Rosalie namorava Emmett, que era irmão de seu pai, Edward. Até hoje isso lhe dava um nó mental. Em uma festa, quando eram novos, se conheceram, se apaixonaram, o que levou a uma gravidez precoce, quando Bella ainda tinha dezessete anos, o que os levou a se casarem logo, antes mesmo de começarem a faculdade. E agora, nada menos nada mais do que o dobro de tempo depois, dezessete anos, ali estava Renesmee, a prova do crime feita.

Sabia que seus pais haviam sofrido muito para estarem onde estavam hoje, na verdade que haviam sofrido até para conseguir freqüentar a faculdade enquanto cuidavam de si, o que só fazia sua culpa aumentar, como uma fome insaciável dentro de si. Imaginava se conseguiria mudar a si mesma. A única coisa que a conformava era estarem tão bem hoje em dia, porque provavelmente, se ainda vivessem em uma situação difícil, a ruiva entraria em um modo autodestrutivo.

Suspira, ouvindo sua mãe desligar o telefone. Entra na cozinha depois disso, com a cabeça um pouco baixa, quase um animal no abate, pronta para o que quer que viesse a enfrentar.

-Bom dia amor! – Sua mãe lhe sorri, os olhos, tais quais os seus não demonstrando nada além de ternura, enquanto lhe passavam um prato com panquecas. Diante o olhar incrédulo da menina, Bella ri com gosto – Estava inspirada hoje, não se preocupe. – E ri um pouco mais, falando das panquecas, vendo quando a menina permanecia estática.

Sem reclamar, a menina pega o prato da ilha que ficava entre os aparelhos como o fogão e a máquina de lavar, assim como a pia e o microondas, indo sentar-se a mesa, colocando um pedaço da comida na boca.

-Não vai dizer nada? – Finalmente pergunta, quebrando o silêncio, não agüentando a tensão que se abrigava dentro de si.

-E qual seria o objetivo? – A mãe diz, finalmente com uma voz cansada que conhecia. Encara as costas da moça, vendo seus cabelos castanhos se moverem levemente, enquanto se mexia. Se avaliasse o assunto, ela ainda era tão jovem para ter alguém como Nessie chamando-a de filha.

Pondera sobre o assunto rapidamente. Alice e Jasper começavam a planejar se casar agora, enquanto Rosalie e Emmett tentavam ter o primeiro filho. E lá estava Bella, já com uma filha de dezessete anos, tendo apenas trinta e quatro anos. Sente-se pior ainda e tenta abafar isso em sua mente, como vinha fazendo com todo o resto.

-Desculpe... – Murmura baixo, contraindo os ombros, e vendo-a imóvel por um instante, antes de prosseguir o que fazia. Decide mudar de assunto – E onde está o papai?

-Seu pai saiu cedo, tem de fechar dois projetos ainda hoje, e no final de semana, tem uma viagem para um cliente, acho que o veremos pouco por esses dias. – Nessie sinaliza positivamente com a cabeça, enquanto comia, embora soubesse que sua mãe não via o movimento.

-Então...Outra tarde com a Alice hoje? – Pergunta devagar, pautadamente, sem saber se queria ouvir o que viria a seguir. Volta a ouvi-la suspirar. Dessa vez sua mãe se vira e pode voltar a encarar seus olhos de chocolate, profundos, que lembravam tanto os seus próprios quando se encarava no espelho. Estranhamente, era como olhar para dentro de si mesma.

-Tenho medo que isso afete suas notas. Acho que já passou da sexta vez que falta a escola esse mês.

Ultimamente, essa era a preocupação. Pois uma vez vendo que a jovem não mudaria seus costumes tão cedo, e que estava segura, voltando sempre para casa, e que não usava drogas, seus pais se conformaram, principalmente pelo fato da menina ainda manter seu foco no futuro, na faculdade, em um possível trabalho.

Não diz nada a respeito disso, sua mãe provavelmente estava certa. Ela tinha essa mania irritante. Estar certa. Ainda assim, algum impulso dentro de si a obrigava a desobedecê-la. Tinha certeza que algo muito inconveniente ainda aconteceria consigo por fazê-lo.

-Sinto que há algo errado se o papai não está aqui para brigar comigo. – Disso Bella não consegue evitar sorrir, tentando conter seus ombros de tremerem e acabar caindo numa gargalhada, destruindo todo o ar de seriedade. Por fim, a morena se rende, rindo junto com a filha.

-Estava pensando a mesma coisa, pouco antes de você entrar – E as duas riem ainda mais, até perderem o fôlego.

Nisso, mãe se junta à filha na mesa, pegando um prato no caminho, um para ela e um para Nessie, que comia a panqueca, segurando-a na mão, sem se importar com mais nada.

-Então, que horas a tia Alice vem? – A menina pergunta, voltando-se ao lanche a sua frente, mas depositando-o no prato, devido ao olhar severo da mãe, que pegava o garfo e a faca.

-Acho que deve estar aí daqui a pouco. Preciso me concentrar em escrever o próximo capítulo, minha editora está quase me matando – E dizendo isso, leva a xícara de café aos lábios, agradada. A de cabelos cobre apenas a observa, admirando-a. Será que algum dia saberia o que queria fazer a esse ponto?

Odiava ser jovem, era um daqueles problemas que sabia que só teria resposta daqui a uns dez anos, mas era impaciente e não estava disposta a esperar. Desejava poder crescer rapidamente, pular alguns anos, só para ter as respostas mais cedo.

-Acho melhor eu ir me aprontar então, senão recebo outra bronca da Alice, afinal todos sabemos como ela detesta esperar. – E sorri, recebendo um sorriso traquinas de volta da mãe, que se levanta para beija-la no rosto.

-Acho que você está certa.

A menina sobe as escadas, dessa vez extremamente devagar, olhando os detalhes e desenhos estranhos e abstratos da pedra embaixo de si, enquanto segurava o corrimão, virando a direita no corredor logo acima, para seguir para seu quarto.

Abre o armário, lembrando-se de recolher as várias peças de roupa pelo chão, jogando-as todas na cesta de roupa do banheiro, encarando suas opções. Não eram tantas assim na verdade, inclusive, era bom sair com Alice por isso, ela era estilista e simplesmente adorava comprar roupas novas, toda vez que saía com ela, voltava com um guarda-roupa praticamente novo.

Decide-se por um vestidinho básico, que ia dois dedos acima do joelho, de cor preta, com rendas na parte de baixo, as mangas finas não a incomodando. Era um vestido bonito e simples, perfeito para a ocasião.

Coloca uma sapatilha prateada para acompanhar, entrando no banheiro para prender os cabelos em um rabo-de-cavalo alto. Encara a si mesma um instante, decidindo não passar nenhuma maquiagem, aquilo levava trabalho e estava com preguiça.

Senta-se na cama, determinada a matar o tempo da espera, olhando em volta por algo para fazer. Seu celular, o computador na escrivaninha... Não, pega o livro no criado-mudo, voltando a lê-lo. Dessa vez lia Alexandre Dumas. Sempre achara que puxara o amor pela leitura da mãe, mas não se importava muito em analisar.

Não sabe exatamente quanto tempo se passa, compenetrada como estava, mas exalta-se ao ouvir seu telefone tocar, trazendo-a de volta para a realidade, pondo-a surpresa de como tinha entrado na história, tinha algum tempo que isso não acontecia. Sorri ao ver quem ligava.

Sai do quarto aos pulos, indo encontrar a amiga na porta, sorrindo-lhe, de orelha a orelha, animada. Sua mãe também estava na porta e sorri, inconformada com sua animação.

-Não me faça me arrepender te ter chamado a Alice pra falar com você hein? – E a menina lhe sorri de volta, deixando transparecer sua juventude, beijando sua mãe no rosto.

-Não se preocupe, não deixarei! – E acompanha a morena, pequena, mais baixa do que si, até o porsche estacionado do outro lado da rua, acenando para a mãe do lado de dentro.

Alice tinha um sorriso etéreo permanente ao rosto, e liga o som, animada, como era seu costume. Não demora muito até que comece a falar.

-Achei que você estaria de ressaca. – Comenta, sem recriminar ou cobrar.

-Não bebi tanto assim, só o suficiente para me deixar perdida hoje de manhã.

Alice espera alguns segundos antes de voltar ao assunto, como que os segundos preparassem o terreno.

-E então? O que aprontou dessa vez para fazer sua mãe tão preocupada? – Mas não a encara, mantendo os olhos na direção. Renesmee encolhe os ombros, respirando fundo, antes de começar.

-Acho que tenho faltado demais à escola.

-E por que tem feito isso? – Era sempre assim com Alice.

-Porque tenho ido a muitas festas, acho.

-Tem usado drogas ou corrido muito perigo desnecessário?

-Acho que não – Responde, encarando as próprias unhas e percebendo que precisava fazê-las, o esmalte verde água todo descascado.

-E pretende deixar suas notas caírem ou repetir por falta?

-Não pretendo repetir e não posso deixar minhas notas caírem, ainda quero passar em uma boa universidade, porque ainda penso no meu futuro.

-Você me parece razoavelmente sensata e saudável. Fico feliz que tenhamos tido essa conversa. Agora, o que você quer comprar por hoje? – E diante disso, Nessie sorri, animada.

–/-

Passa uma tarde agradabilíssima, esquecendo-se até do que a levara até ali, e, como previsto, ganha um novo guarda-roupa bancado por sua incrível amiga Alice. Sempre agradecia aos céus por sua mãe a ter como melhor amiga. Não podia estar mais satisfeita com o fato.

-E então, se divertiu? – A moça pequena volta a perguntar, colocando o cinto de segurança.

-E precisa perguntar? – A ruiva aponta, indicando as compras nas mãos, sorrindo de orelha a orelha.

-Posso ver – E a morena de cabelos espetados solta uma risada deleitosa, de fada, ajeitando-se antes de ligar o carro.

A conversa de volta para casa é amena, fazendo a jovem, novamente, esquecer todas as suas preocupações. Talvez fosse por isso que dissessem que escutava Alice. Era só com ela que conseguia realmente se desligar de seus pensamentos negativos, devia ser a aura extremamente positiva da garota.

As duas estacionam o carro na frente da casa de Nessie, e esta sorri, partindo para as despedidas. Já saíra do carro, quando ouve a voz ressonante de Alice chamá-la de volta, fazendo-a se virar para encara-la dentro do veículo, através da porta aberta.

-Só procure não estressar a sua mãe está bem? Ela está realmente preocupada com você e com seu futuro. Você sabe que ela não merece isso.

Aquelas palavras pareceram corta-la como uma punhalada pelo coração, deixando-a bamba e desamparada. Engole em seco, atordoada, tendo noção somente para sinalizar que sim com a cabeça, antes de sair do carro, batendo a porta atrás de si, engolindo uma vontade de chorar subitamente crescente.

Entra correndo em casa, batendo a porta atrás de si, ouvindo o carro sumir, distanciando-se na rua. Da onde estava, pôde ver que seu pai estava em casa, e sabia que sua mãe provavelmente estava trabalhando no novo livro.

Pensou um pouco, mas resolveu falar com seu pai, pois não queria nada entre eles, bloqueando a relação que tinham. Aperta o coração, tentando ignorar a sensação incômoda e verdadeira que as palavras de Alice haviam causado, seguindo reto, passando entre a sala de estar e a escada, pelo corredor entre elas, até a sala mais ao fundo, onde as luzes do escritório estavam acesas.

-Pai? – Bate na porta, mas ouve sua voz fraquejar, mordendo a boca com força por isso, praguejando e amaldiçoando-se.

-Entre – A voz dele era um pouco mais rígida do que esperava, mas não se intimida, entrando no escritório. Para variar, papéis, réguas, contas e maquetes espalhavam-se pela mesa. Encara enquanto o homem que tinha a mesma exata cor de cabelo do seu continuava seu trabalho com o estilete, esperando-o terminar.

Ele o faz com calma e perfeição, antes de voltar seus olhos para ela, os dedos cruzados sobre a mesa, o olhar clínico.

-Você está preocupando sua mãe – Ela sente a garganta voltar a travar, mas se recusa a chorar, não sabendo a causa exata, não se sentiria fraca à toa, se chorasse, teria de saber exatamente o que a atingira.

-Sei disso – Murmura, não conseguindo mais manter o olhar, passando a olhar os próprios sapatos, vendo as sacolas de compras penduradas de seus braços. Ouve-o suspirar, cansado, para em seguida se levantar, os passos ficando próximos, até ficar a sua frente, consegue ver seus pés, suas calças, seu corpo fazendo sombra no dela, infinitamente menor.

E então ele a abraça, acariciando seus cabelos devagar. Sem que se desse conta, o abraça de volta, querendo abrigo e carinho, o calor do gesto de suporte.

-Eu só quero que você fique bem, você sabe disso, não sabe?

Naquele momento, foi necessário tudo o que tinha em si para que não despencasse e chorasse no colo do papai, como fizera tantas vezes quando era criança. Mas não saberia explicar o porquê, o porquê de chorar e isso a incomodava, não choraria na frente de ninguém sem um motivo, seu orgulho adulto já não mais a permitia.

-Eu sei, me desculpe pai – Pede, pela segunda vez no dia, antes de olhar para sua face preocupada e beija-lo de leve, saindo da sala, subindo correndo, fechando-se no quarto. Não queria se entregar às lágrimas, não queria se entregar a si mesma. À noite de hoje pedia por uma festa, mas não sabia de nenhuma no momento.

Contenta-se a engolir seu choro, percebendo que sua irritação crescia com isso. Abraça-se, virando de lado, ficando na posição fetal. Se dormisse, tudo isso ia passar, tudo iria acabar...

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Dessa vez quem a acorda é o despertador no celular, e, quando se senta na cama, percebe que dormira com o vestido de ontem. Desanimada e repetindo o ritual matinal, lava o rosto, coloca o jeans e a blusa do dia anterior, prende o cabelo, põe um tênis e desce para comer, a sensação de vazio dentro de si agora sobre controle, sendo só um formigamento fraco lá no fundo.

-Bom dia – Murmura para o pai e para a mãe. O primeiro perto da máquina de café expresso, servindo-se, enquanto a segunda já estava à mesa, comendo uma torrada e olhando um texto que deveria ter algo relacionado com o que escrevia agora.

-Bom dia – Respondem quase em uníssono.

A menina se senta a mesa, ainda na inércia, começando a comer devagar. Sua mãe se agita, mas a ruiva permanece inalterada.

-Vocês não sabem quem me ligou ontem! – Ela parecia tão animada, que aquilo só serviu para deixar Nessie mais frustrada, a combustão de raiva dentro de si crescendo, e embora soubesse que estava era brava consigo mesma, não conseguia evitar deixar o incômodo crescer.

-Quem? – Edward parecia genuinamente interessado, embora a menina fizesse questão de metodicamente parecer ignora-los.

-O Jake! – Bella falou aquilo com tanta emoção e carinho na voz, que a ruiva soube que aquilo deveria lhe dizer algo, mas não dizia. Permaneceu calada, encarando, enquanto a mãe se empolgava sozinha.

-Jake? Que Jake? Jacob Black? – A voz de Edward passara de curiosa para estudiosa.

-Sim, claro, que outro poderia ser? – E ela parecia muito feliz com o fato – Faz acho, quase vinte anos que eu não o vejo! E ele vem para cá, trabalhar em alguma coisa, disse que ele podia ficar aqui em casa a semana – E emenda, rapidamente, tropeçando nas palavras, de um jeito que só ela conseguia fazer, e o marido tanto amava – Quer dizer, você não se importa né? Porque se você se importar, posso ligar para ele e dizer—

-Não se preocupe – E o ruivo lança um charmoso sorriso de lado, enigmático. – Não me incomodo. Na verdade, sempre quis conhece-lo. Quando ele chega?

-Esse final de semana! – Parecia uma criança que acabara de ganhar um doce, o melhor doce da loja.

Renesmee rola os olhos, irritada consigo mesma, por estar irritada com a sua mãe. De final de semana provavelmente teria alguma festa para ir, não é como se planejasse estar em casa, ou algo do tipo... E isso pelo menos a livraria de ter de fazer sala para algum desconhecido...


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