Essência escrita por AnaMM


Capítulo 21
Reprise


Notas iniciais do capítulo

VOLTEI BRASIL! Eu ia me arrastar feito um zumbi pro meu quarto e call it a night, mas não me permiti desligar sem terminar esse capítulo. Vamoquevamo.

https://www.youtube.com/watch?v=fNlxKH9Jtmc - trilha do dia, The Civil Wars - Poison & Wine

O que acharam da participação da Lia? Bem que o Dinho podia ter aparecido com ela, né? Notaram como não houve referência alguma a Vitor nem quando o Gil apareceu pela primeira vez? Yup, motogirl pode muito bem ter voltado pra Brasília e nunca mais dado as caras, goishto assim. A minha teoria da conspiração, tho, é que a Lia virou lesba ou bi. Azul é a cor mais quente, gatinha no palco... Enfim, os dinho pira. Alguém notou que o pedido em namoro Joanca foi igual ao Judi? LOL Sinal que o pedido do Dinho foi influência da dona Lia, é, só acho. Consideração final: "tem esquentadinha tbm agora?" me lembrou demais "a mecha é rosa agora?". Ah, os pequenos momentos...



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Adriano os observava de longe. Lia e Vitor pareciam felizes. Riam e se abraçavam e riam novamente. Pensava constantemente no que Lia falara na noite anterior. Estava recuperando com Dinho o que perdera há anos, mas acabaria voltando para Vitor. Era inevitável. Adriano sabia que não ficaria por muito mais tempo no Brasil e que seria injusto fazê-la sofrer novamente. Estavam bem novamente, agora sem mágoas ou histórias abortadas. Haviam se entendido, estava tudo certo. E Lia voltaria à sua vida de antes com o coração consertado. Para Vitor. Agora que raciocinava, tendo sido o vício praticamente vencido com a ajuda de seus amigos, sabia. Não era justo, jamais seria, brincar com os sentimentos de Lia Martins. Por que esperar até que fosse substituído permanentemente? Ainda assim, precisava dela. Precisava dela até seu último dia no país. Por tanto tempo quanto conseguisse. E não era justo. Lia estava feliz. Podia deixá-la assim.

Como por encomenda, a chuva despencou das nuvens, encharcando-o. Lavando sua alma, seu corpo, seus pensamentos, sua existência. Que lavasse suas memórias. Que apagasse seus erros. Partiria como se jamais tivesse sido parte daquele bairro.

Seus olhos se encontraram.

– Dinho. – Murmurou, levando a mão à janela.

Vitor percebeu que a garota hesitava.

– O que foi? Você não vai falar com ele?

– Déjà vu. Foi na chuva que a gente se viu pela última vez. Ele do lado de fora, eu tocando no Misturama... É como se algo ruim fosse acontecer de novo.

– Ou a chance de consertar aquele momento. Vocês já não são mais os mesmos. Tá na hora de mudar o final dessa cena, não acha? Olha, Lia, se você não for, eu vou.

– Eu não... Dói. – Tentou se explicar. – Tudo o que eu senti há um ano tá voltando, entende? Parece que não passou um dia.

– Mas o tempo passou, Lia. Tava tudo tão bem...

– Será? Ontem mesmo eu falei pro Dinho umas coisas... Lembrando agora, eu não pareci muito decidida. Ele pode ter entendido tudo completamente errado.

– Lia! Você mal impediu que ele viajasse, já vai deixar o Dinho escapar de novo? Olha lá, ele já tá indo embora! Corre!

Lia observou a cena como uma reprise. Seu coração acelerou. Não podia deixar que se repetisse, não teria forças, principalmente sabendo que o deixara passar. Reencontrara a felicidade com ele. Nenhuma dor do passado apagava o que sentia ao olhar em seus olhos. Nenhum nó na garganta a impedia de se arrepiar ao seu toque. Nada do que supostamente crescera nos últimos meses a impedia de sofrer ao rever a cena. Sofrer tudo de novo dessa forma seria muito pior que reviver algo que em breve novamente perderia. Não estava mais com Vitor. Havia apenas um último empecilho. Seu barco. Precisava desancorá-lo, cortar suas amarras.

Adriano deu as costas para a oficina lentamente, cada passo pesando seu corpo todo. Não tinha pressa. A chuva parecia freá-lo. Lembrou-se da primeira vez em que estivera ali, com Valentina ao seu lado o chamando. Se pudesse voltar no tempo... Ouviu uma voz feminina, mas não era da gringa. Cogitou estar sonhando novamente. Igual, girou o corpo. Não teve tempo para assimilar. Como na maioria dos sonhos que tivera desde o fatídico dia, recebeu a garota em seus braços antes mesmo de tentar alcançá-la. Sentiu-a abraçá-lo, murmurar alguma confissão e beijá-lo com pressa, sem tempo para respostas. Levou as mãos à cintura que tão bem conhecia. Parecia real. As curvas, a pele aveludada, o calor de seu corpo, tudo como uma vez tivera. Tudo como voltara a ter. Sorriu contra seus lábios. Nem promessas, nem Vitor, nem passado lhe importavam. Com um simples toque, escolheria tê-la ao seu lado acima de qualquer amor ou cuidado. Como podia cogitar voltar a se afastar? Para o inferno com a vida segura e feliz que sua amada supostamente merecia. Era com ele que estava, em seus braços, e duvidava que beijasse o motoqueiro do mesmo jeito. Veneno e vinho eram a mesma coisa, dor e alegria, frio e calor, chuva e a melhor das brisas. Tudo era nada quando estava com ela. Estava com ela. Só isso importava. Enquanto estivesse no Brasil, só isso importaria. Não tinha escolha, era ela ou ela. Só Lia lhe bastava. Sequer tinha escolha, e a escolheria todo dia.

– Fica comigo. Por favor, fica comigo. – Lia murmurou.

Dinho sorriu. Era tudo que queria. Mirou em direção a Vitor. Lia seguiu seu olhar.

– É uma longa história.

– Não importa.

– Sim, importa. Não é o que você tá pensando.

– Eu adoraria ouvir as desculpas do dia pra continuar com ele, Lia, mas dá pra não ser no meio da rua e abaixo de chuva?

– Faz sentido. - A garota riu nervosa. - Eu vou... Eu só queria que você não... Por um segundo eu pensei que...

– Foi uma possibilidade.

– Foi? – Seu coração pulou uma batida.

– Foda-se. – Murmurou. – A gente tá aqui, não tá? – Respondeu com a voz trêmula.

A roqueira o abraçou novamente, enrolando cachos com seus dedos. Encaixavam perfeitamente. Beijou seu rosto e o puxou para dentro. Vitor, que os observava, se afastou rapidamente da porta, dando espaço para que o casal entrasse.

– Por que sempre que acontece alguma coisa importante com a gente, chove? – Lia riu.

– Os santos shippam. Sabe como é, cena de chuva... – O motoqueiro brincou.

– Lia, qual foi, vai ficar pelada na frente desse cara agora?

A roqueira, que tirava a camiseta, riu. Olhou de Vitor para Dinho.

– Você não precisa se preocupar, idiota. Além do mais, não é nada que ele já não tenha visto.

– Lia!

– Qual foi, Dinho? A gente namorou, esqueceu? Não significou a mesma coisa, mas é claro que rolou. Se você já tivesse parado pra ouvir o que eu to querendo te explicar, não tava nem dando chilique.

– Eu não precisava de detalhes.

– Relaxa, Adriano. Fala, Lia. Antes que o moleque surte.

– Além do mais, da última vez que você ficou encharcado desse jeito, passou a noite com febre, lembra? Pode ir tirando você também. Você tá muito vestido, anda.

– Se você quisesse me ver sem roupa, era só ter falado, não precisava ficar assim na frente de outros, não.

– Ele é sempre assim? – Vitor debochou, tentando focar sua atenção e Lia e não no garoto recém sem camisa à sua frente.

– Ele tinha ciúme até de professor. – Riu com a lembrança.

– Vai dizer que você não olhava pro professor Cezar? – Defendeu-se o garoto.

– Do mesmo jeito que o Vitor olha pra você, nem por isso eu tô me matando de ciúme.

– Sei... – Distraiu-se. – Espera, o que você quis dizer com...?

– Eu quis dizer que o Vitor tá fazendo o possível, mas que eu bem sei o efeito que você causa na gente.

– Se você não queria a minha presença no telhado de vocês, era só não ter ido atrás.

– Ô, Dinho, você é burro?! – Lia exclamou. – Eu e o Vitor não temos nada! O Vitor é- posso contar?

– Você confia nele agora? – Vitor perguntou receoso.

– Bom, ele vai ter que entender a história.

– É, mas e se ele der outro rompante de ciúmes e resolver jogar na cara de alguém?

– Do que vocês estão falando? Lia? – Dinho cobrou perdido.

– Existe um porém, Dinho, é disso que a gente tá falando. A gente terminou, entre nós, mas, por causa desse detalhe da vida do Vitor, pro resto do Quadrante vai ter que parecer que eu ainda estou com ele, ok? Até porque assim o meu pai não nos empata.

Dinho a encarou imerso em confusão. Tentou juntar frase por frase do que Lia havia dito. Quando enfim a decifrou, riu de sua própria estupidez. Sempre soubera, por que demorara tanto a perceber? Reparou nas roupas em suas mãos e cogitou vesti-las de volta, desconfortável. Vitor notou a mudança de postura do garoto.

– Ele sempre teve esse corpo? – Perguntou debochadamente para Lia.

– Não, ele não tinha tudo isso. Como ele ficou mais definido com toda aquela bebedeira eu não faço ideia. – Admirou o corpo do ex.

– Foi o trabalho. Eu fiquei assim quando comecei a trabalhar. Escaladas, trilhas... Trabalhar como guia turístico é um exercício e tanto. – Explicou casualmente.

Voltou a encarar a dupla. Vitor e Lia ainda o admiravam.

– Vitor, você pode olhar pro lado, por favor?

– A Lia pode?

– A Lia pode e deve. – Sorriu. – Você já não tinha visto até mais do que isso?

– Ah, sabe como é, eu estava focada em outras coisas... – Desconversou sem jeito e o beijou distraída. – É a primeira vez que eu agradeço essa viagem. Pra mim você vai ser sempre franguinho.

– Olha que eu troco você pelo Vitor se continuar esse desrespeito.

Lia riu. Abraçou a cintura de Dinho e apoiou a cabeça nos largos ombros do ex.

– A situação é a seguinte: eu e o Vitor não temos mais nada, mas vamos seguir com um namoro de fachada. Você topa namorar escondido?

– Você tá me pedindo em namoro? – Inclinou o rosto em direção a Lia, que mordia seu lábio inferior ao encará-lo, nervosa.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado e até a próxima atualização ^^ Em tempo, fic está na reta final. Caso alguém tenha ficado triste com a notícia, nem se abale. Vem mais fic por aí ;) sim, lidinho.