Essência escrita por AnaMM


Capítulo 19
Tudo Como Antes


Notas iniciais do capítulo

Trilha: https://www.youtube.com/watch?v=oFkSMHle8-M



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– Eu não vou deixar! – Lorenzo gritou de repente.

– Que? – Lia foi pega de surpresa.

– Isso mesmo que você ouviu! Eu sou o seu pai e te proíbo de voltar a ver aquele moleque!

– Pai, isso é um absurdo! Eu não sou mais criança, não!

– Absurdo seria eu ver a minha filha se deixando ferir mais uma vez por aquele inconsequente! Você pode estar confusa, apaixonada, mas eu não! Eu estou bem lúcido e é o meu dever te afastar daquele merda!

– Você não pode fazer isso! Quem decide o que eu faço ou deixo de fazer sou eu! Eu tenho quase dezoito anos, e você vai ter que aceitar!

– Lia, não complica! Você mesma sabe que eu tenho razão! Pode ir preparando o discurso, a próxima vez que você o encontrar vai ser para se despedir e eu mesmo faço questão de botar aquele moleque em um voo pra Miami! E está decidido! – Lorenzo ordenou convicto.

– Pai!

– Está decidido! – Repetiu.

Parou para assimilar o estado de sua filha, que já fazia as caretas de sempre para esconder as lágrimas. Estava fazendo o certo. As lágrimas de agora eram muito menos doloridas que as que ainda poderiam vir, caso a deixasse continuar com Adriano.

– Eu esperava mais de você.

Lia olhou para o pai surpresa.

– Eu sinceramente esperava que você já tivesse criado um pouco mais de juízo...

O pai se retirou cabisbaixo, tomando posse da chave da porta do quarto. Por mais autoritário que estivesse sendo, era para o bem de Lia.

–x-

– Eu pensei que te encontraria aqui. – O médico falou ao se aproximar.

– Doutor Lorenzo?

– Eu posso te expulsar da minha casa, mas não posso te expulsar do Misturama, não é verdade? Bem pensado...

Dinho o observou, alerta.

– O que eu tenho pra falar com você é muito simples: você vai daqui pra casa, vai arrumar as malas e embarcar no primeiro voo pros Estados Unidos, onde você tem uma família pra ajudar, ao invés de ficar aqui pra estragar a minha.

– Você enlouqueceu, dr Lorenzo? – Adriano debochou.

– Sim, enlouqueci. Eu enlouqueci quando você fez a minha filha chorar por meses e fingir que estava tudo bem. Olha, Dinho, eu sou um homem calmo, mas mexeu com as minhas filhas...

– Eu não vim pra piorar as coisas, Lorenzo, eu vim pra me acertar com a Lia.

– Você, seu moleque, não tem nada para acertar com a minha filha. Eu quero você longe dela, ou não respondo por mim!

– Lorenzo, você não acha que tá pegando pesado, não? – Nando se pronunciou.

– Você fala isso porque não foi com a Morgana.

– Faz sentido... – O roqueiro concordou. – Ainda assim, o Dinho veio com boas intenções, ele também sofreu pela Lia.

– Não sofreu o necessário, aposto. Se você soubesse identificar quando a Lia está se comportando sob uma fachada, entenderia. Eu vi a minha filha se quebrar por completo várias vezes, já. Chega. Ela não vai mais chorar uma lágrima. Estamos entendidos, Adriano? – Voltou-se para o garoto.

– Qual é, seu Lorenzo, eu já aprendi a minha lição!

– Duvido. Eu já não confiava em você desde que esse namoro começou pela primeira vez, e agora menos ainda! Está avisado. Nando, se você puder se certificar de que esse moleque vai se manter longe da Lia, eu agradeço.

Lorenzo se retirou sem espaço para que refutassem. Assim que escutaram a porta do apartamento de cima, Nando e Dinho se encararam.

– O que que eu faço?

– Como diria a nossa amiga Fatinha, ajoelha e reza, meu amigo. – Respondeu com a mão sobre o ombro do garoto.

No fundo, reconhecia a razão de Lorenzo. Ainda assim, sabia que Dinho havia pagado seus pecados e que merecia uma segunda chance. No entanto, tivesse Lorenzo visto o estado no qual Adriano se encontrava uma semana antes, aceitaria ainda menos o envolvimento do garoto com sua filha.

– Você não tem nada mais forte, não, Nando? – Dinho implorou do outro lado do balcão.

– Nem pense nisso! E não, não tenho, e o senhor vai ficar aqui, onde eu te tenho em vista. – Repreendeu, sacando o celular do bolso em seguida. – Orelha, alerta vermelho, vem correndo pro Misturama.

Em menos de meia-hora em que Dinho tentou de todas as formas convencer Nando a conseguir-lhe algo para beber, Álvaro Gabriel chegou à lanchonete. Nando narrou os acontecimentos, enquanto Dinho procurava por distrações nas paredes.

– Quem o pai da Lia pensa que é?

– O pai dela. – Dinho zombou em resposta.

– Ele não pode proibir vocês assim, do nada, isso é bullying!

– Do nada, Orelha? Você por acaso esqueceu o que eu fiz pra filha dele?

– Não, não esqueci, mas ele não pode te proibir de ver a Lia por medo de algo que já aconteceu.

– E quem garante que não vá voltar a acontecer? Orelha, eu errei muito feio. O Lorenzo tem razão, eu devia ter deixado por isso mesmo.

– Eu te conheço muito melhor que aquele médico e posso garantir que aquilo não vai se repetir. Você voltou por ela!

– Voltei, e nem devia ter saído.

– Não interessa, você tá aqui! Você tá aqui e vai consertar tudo!

– Consertar como, Orelha?

– Você ama a Lia! Eu nunca tinha te visto se apegar a nada, nunca mesmo, até começar essa história com a marrentinha, e agora a gente vai até o fim! Não estou te reconhecendo, meu caro Adriano! – Orelha se manifestou enfim. – Desde quando você acata ordens dos pais? Cadê aquele Dinho que era o meu melhor amigo?

Dinho sorriu. Por mais que estivesse tentando melhorar, o antigo Dinho ainda se mostrava indispensável. Lia já havia abandonado a fachada, agora era a sua vez. Não era o coração de Lorenzo que queria reconquistar, e encontrá-la era justamente o que Lia queria que o garoto fizesse. Já haviam namorado escondido, por que não retomar a forma? Deu três tapas nas costas de Orelha e saiu para a praça, de onde traçou um trajeto ideal para chegar ao quarto de Lia. Havia escalado tantas vezes, não seria difícil. Olhou mais uma vez para Orelha, sorrindo agradecido. Seus olhos brilhavam com a vivacidade que o novo Dinho havia perdido. Era um aventureiro e um apaixonado exagerado, nada mais natural que unir as duas coisas. Subiu a escada sem fazer barulho e encaixou a mão na parede do casarão para atravessá-la até a janela que queria. Ao longe, viu Vitor. Riu da expressão assustada do motoqueiro. Que assistisse e aprendesse com Adriano Costa como se faziam as coisas com sua marrentinha. O moreno de olhos azuis aparentava ser o primeiro a acatar as ordens do doutor Lorenzo em relação a sua amada filha. Talvez por isso o médico acreditasse ser possível domar Adriano, mas não conseguiria. Não estava mais lidando com o príncipe encantado.

– O que ele tá fazendo? – Vitor cobrou angustiado de Orelha e de Nando, que também observavam de fora da lanchonete.

– Ah, o Lorenzo proibiu o Dinho de encontrar a sua namorada, e ele está apelando. – Orelha respondeu.

– O que? – Repetiu abismado.

– Sim, Vitor, o motivo pelo qual você pode não ter passado pela porta hoje de manhã é os chifres que eles estão botando na sua cabeça.

– Disso eu sei, eu tô falando do que esse maluco tá fazendo! – Respondeu, para a surpresa dos outros dois. – Ele vai desacatar o Lorenzo, na casa dele, isso se não cair do segundo andar no caminho! Ele tá louco!

– Ele é maluco, Harry Potter, prazer, Dinho. – Apontou irônico para o amigo. – E obedecer o sogro é coisa de bichinha, com todo o respeito.

Vitor engoliu seco, temeroso que Orelha soubesse de algo. Quando voltou a olhar para a janela, Lia já a havia aberto e o encarava, triunfal. Não bastava traí-lo, tinha que comemorar a rebeldia de Adriano em frente a ele. Viu-a beijar o garoto e puxá-lo para dentro. Voltaram a se beijar com fúria, aliviados por poderem se reencontrar, apesar das ordens de Lorenzo. Afastaram-se da janela sem se largarem, e nada mais pôde ser visto pelo lado de fora.

–x-

– Você é maluco! – Exclamou sem fôlego.

– Você gosta. – Dinho sorriu, seus batimentos acelerados se fazendo notar.

– Confesso que tava sentindo falta dessa sua loucura.

– E eu da sua insensatez.

– Eu te amo, muito! – Lia confessou entre beijos.

– Eu não sei como eu pude aceitar as ordens do seu pai, mesmo que tenha sido por alguns minutos.

– Você não precisava mudar tanto, Dinho. – A garota riu.

– Pelo visto o meu novo eu comportado não tava funcionando com o seu pai.

– Não. – Zombou, levando o dedo à ponta do nariz de Adriano.

– Problema dele. – Adriano concluiu rindo.

– Minha sorte. – Lia acrescentou, beijando-o novamente.


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Notas finais do capítulo

Ah, Dinho is back!