"Sabe, a primeira vez que te vi você estava assim, desacordada. Trouxeram você para mim, estava muito machucada e à beira da morte.

"Eu realizei sua cirurgia e tentei de tudo para te salvar. Fiquei muito nervoso, nunca a havia visto antes mas já sentia como se nos conhecêssemos há anos. Então coloquei na cabeça que tinha que salvar você de qualquer forma. E eu tentei, mas você morreu. Seu coração havia parado de bater, e eu enlouqueci. Tentei trazê-la de volta e consegui. Eu sabia que você era forte, eu podia ver isso de longe.

"Desde então, passaram-se os três dias, eu acompanhava de perto a sua recuperação. Fui criando um certo afeto por você, é claro.

"Nunca fui à favor de injetarem a Substância em você, eu tentei convencê-los de que não deviam fazer isso, mas os exames indicavam que você era bastante forte para isso. Mas como todos concordaram, eu quis participar do processo, para ter certeza de que nada te aconteceria. Mas eles sabiam que você tinha gênio forte, então prepararam uma pequena capsula com um antídoto à Substância, eles esconderam essa minúscula capsula em um lugar estratégico em você, e isso garantiria que se você causasse problemas, essa capsula explodiria e espalharia o antídoto pelo seu sangue, fazendo com que as mudanças causadas no seu organismo acabassem e você voltasse a ser apenas mais uma garota normal.

"O momento em que você acordou foi glorioso. E eu falei com você pela primeira vez, ouvi sua voz e vi seus olhos. Resolvi continuar sendo discreto, você pareceu bem difícil, nunca se renderia tão facilmente à um estranho. Mas eu esperei. Fiquei do seu lado o tempo todo. Confesso que fiquei bem abalado quando soube que você já gostava de outra pessoa, mas você parecia estar numa situação mais deprimente que a minha, então continuei tentando ajudar você.

"Quando aconteceu aquele beijo...foi a melhor coisa desde que o caos começara. Foi como Sol depois de alguns dias de chuva. Eu sabia que você sentia algo por mim, mas não sabia o quê. Porém, o que houve na cabana não pareceu mudar seus sentimentos por Seth Carlyle.

"Não queria desistir de você. Não desisti de você.

"Quando soube que você havia fugido do Centro de Pesquisas eu sabia que não acabaria bem. E eu estava certo.

"Quando a capsula foi ativada, foi questão de apenas algumas poucas horas para que você voltasse ao normal. Enquanto você caía de uma altura absurda, os efeitos progrediam lentamente. Assim, quando você chegou ao chão, continuou intacta.

"Todos organizamos uma busca. Adimito que não foi muito agradável ficar perto de Seth Carlyle. Ele sente ciumes, e acho que com razão.

"Encontramos você deitada numa campina há algumas muitas milhas de Washington. Estava bem machucada e ficamos extremamente preocupados, em especial, Seth. Ele não ficou longe de você em momento algum. Até agora.

– Queria que você acordasse.

A voz de Noah parecia embargada. Eu não sabia de nada do que havia acontecido. Senti uma agonia terrível ao perceber que não conseguia me mexer, nem abrir os olhos e nem falar. Não lembrava quando eu havia começado a ouvir a história de Noah. Queria poder dizer alguma coisa, mas se pudesse também acho que não saberia o que dizer.

Ouço o som de uma porta se abrir e logo uma voz familiar toma conta tornando o ambiente um pouco tenso.

– Hum, está tudo bem com ela? - pergunta Seth.

Sinto o coração bater mais rápido ao perceber a situação em que eles se encontram, e ouço o que deve ser uma das máquinas registrar essa mudança dos meus batimentos cardíacos.

– Sim. Bem, eu vou indo - diz Noah, sua voz parece um pouco mais firme.

– É, acho melhor - diz Seth um tanto provocativo.

A porta bate e eu ouço o som do ranger de uma cadeira há alguns centímetros de mim.

– Oi - diz Seth.

Sinto seus dedos tocarem meu rosto. Novamente a máquina emite sons mais rápidos. Ele parece entender que eu o estou ouvindo.

– Está tudo bem agora. Você vai ficar bem. Nós vamos ficar bem - ele dizia calmo e baixo - Estou orgulhoso de você, Alexandra.

Ele fica alguns minutos em silêncio. Me sinto exasperada por não conseguir me mexer, e desesperada por não poder falar.

– Você quebrou a ditadura, Alex. Sei que não foi fácil para você, mas valeu à pena - ele diz rindo fraco. Então muda de assunto - Seus pais estão aí fora, e querem muito ver você. Estão orgulhosos também.

Ele fica desnorteado por um segundo. Então volta a falar, mas dessa vez num tom diferente.

– Queria poder ouvir sua voz.

Sinto angústia por não poder consola-lo.

Ele se aproxima e posso sentir seus lábios tocarem os meus suavemente.

Então é como se eu estivesse no escuro, e de repente surge uma luz no fim do túnel. Nesse caso elas começam como machas oscilando distantes, e se transformam num banho de luz que me deixa atordoada. Fecho novamente os olhos sentindo o incômodo.

Vejo os olhos claros de Seth me olhando com surpresa. Um sorriso se desenha em seus lábios e seu rosto parece se iluminar.

– Oi - eu sussurro, já que a voz parece não sair.

– Oi - ele diz sorrindo.

Engulo sentindo a garganta seca.

– Posso perguntar uma coisa? - ele diz.

Eu faço algo como "uhum" em resposta.

– Por que se arriscou daquele jeito?

Eu não esperava essa pergunta, mas sorri.

– Talvez eu...ache você legal - sussurro.

Ele ri e eu percebo que consegui o efeito esperado. Continuo sem saber o por quê de ter me inscrito para aquele sorteio, mas com certeza aquilo mudou alguma coisa. As coisas não seriam mais como antes, talvez ficassem melhores.

E eu faria de tudo para que ficassem realmente melhores.