Contos do Escritor Anônimo escrita por Queen Vee


Capítulo 16
Fazenda. /16.1#


Notas iniciais do capítulo

OI GENTE! PRIMEIRO CAPÍTULO DE 2014!
Devia ter postado na outra fic, mas um certo Escritor Anônimo andou martelando em minha cabeça, portanto...)o) YAY!
Esta é a parte 1 do capítulo 16, certo? Espero que gostem.
E OBRIGADA À TODOS QUE FAVORITARAM! Não dá pra colocar o nome de todos, mas saibam que eu dou uma beijoca virtual em cada um que o fez!



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Deixei o calendário em seu lugar — estava ali há tanto tempo que ficara marcado na poeira — e espreguicei-me, tentando levantar da cama. Deixei o lençol de lado, esfreguei as mãos na calça da minha roupa de dormir e rolei para o chão por ainda não conseguir me pôr de pé. Interessante, não é?

Minha calça de patinhos.

Ainda fiquei no piso por um tempinho. Observei as sombras que os raios de sol faziam na minha parede, olhei o espaço negro e vazio debaixo da minha cama e encarei o bom e velho amigo teto, que sabe da minha situação financeira e nunca teve mofo. Palmas para o meu teto!

E então, levantei. Não tinha nada marcado, nada para fazer, nenhum amigo para visitar e muito menos estava com vontade de escrever alguma coisa. Após um banho morno — mais gelado do que quente —, passo na frente da televisão ao me dirigir à cozinha e ligo-a como quem não quer nada.

Faço um café com o que me resta, pego umas torradas, volto para a sala…

E me deparo com algo tão desagradável que quase me fez engasgar. Algo tão tenebroso, horrendo, que deveria ser cancelado pelo resto da vida, e as imagens deletadas da mente humana. Terrível! Calafrios percorreram meu corpo assim que dei de cara com o…

…Programa de fazendeiros. Aquele sobre as áreas rurais da cidade. Com cenas de vacas, bois, plantações, famílias que vivem das suas fazendas e tudo o mais que passam nesses programas.

Que horror! Que calamidade!

Ou, pode ser só exagero da minha parte para chamar a atenção dos leitores e avisar que agora é o esperado momento que começo uma narrativa sobre algo no mínimo espalhafatoso que aconteceu em algum dia de minha vida que se arrasta.

Algo que, visto os contos mais recentes, deve ter alguma apelação sexual e/ou cômica para que ninguém deixe de ler e dar atenção à estas histórias mais que tolas e aparentemente simples que, por algum motivo nebuloso, alguém teve interesse em iniciar a leitura.

Nada que possam culpar o Escritor Anônimo. A vida é minha. Só acho.

Agora, após expressados meus sentimentos, vamos logo. Assim que o programa foi para os comerciais e uma propaganda de amaciante de roupas surgiu na tela, as lembranças vieram à minha mente.

O dia em que visitei a fazenda dos meus tios. Parece nome de filme dublado, série de livros “O dia em que…” de histórias infantis originais, mas é realmente esse dia. Devo dizer que o clima no carro era o mais pesado possível, também.

Nenhum dos homens da família estavam plenamente contentes com aquilo. Meus pais, como já lhes disse, se separaram aos meus oito anos, mas todas as férias fazíamos viagens juntos. À cada ano um de nós escolhia para onde seria a “aventura em família” dentro da possibilidade financeira dos meus pais. Tente adivinhar de quem era o ano.

Charllote, minha mãe.

Isso é bem controverso, já que na maioria das vezes as mulheres querem distância de lama, terra, animais que dão coice, etc...Porque elas são inteligentes. Mas, a coisa mudara. Meus tios dariam uma festa para meu primo de 3° grau que chegaria do “exterior” após um intercâmbio, e as notícias eram que ele tinha ficado muito mais bonito que antes.

E minha mãe sempre teve um abismo pelo cara mesmo quando ele era franzino de cabelo semelhante à palha, então…

Aquela era nossa maravilhosa viagem de família para as férias, com um Noah carrancudo no volante, uma Charllote sorridente olhando pela janela e um Chris chateado por não conseguir escrever porra nenhuma com o carro em movimento. Também tinha a Cyndi Lauper no rádio com “Girls Just Wanna To Have Fun”, mas melhor ignorar.

Oooh, just wanna have fuuun!~”, e essa foi minha mãe, batendo palminhas e dançando no banco, balançando o cabelo para os lados no ritmo da música. Meu pai e eu trocamos olhares...Suspiramos em conjuntos e ignoramos a cantoria.

E devo dizer que, anos após isso, mamãe e eu dançaríamos isso no palco da minha formatura. Juntos. Tem uma filmagem, à propósito.

Pois sim. Com as tais garotas só querendo diversão, o carro parou na frente daquela fazenda enorme. Uma placa de madeira esculpida e bem grande tinha o nome do lugar desenhado. “Rancho Santa Bárbara”.

Acredite se quiser, tal nome criou inúmeras brigas na família Valentini. Uns espíritas, uns católicos. Uns evangélicos, outros budistas...Uns ateus, outros que endeusam à si próprios…

Olha, Charllote, você ainda pode desistir. Não entramos e nem ligo de gastar mais gasolina...Mas esse lugar é terrível!”, meu pai ainda tentou quando fomos pegar as malas. A morena revirou os olhos, jogou os cabelos para o lado e pegou duas das malas, entrando no lugar enquanto rebolava e ignorava nossa expressão abatida. “Ela não desistiu”.

Encarei-o. Neguei com a cabeça. Peguei minhas malas, uma sacola com biscoitos que compramos no caminho e ainda encarei a placa do Rancho Santa Bárbara antes de entrar. Não conseguia parar de pensar nos meus primos. Nossa, impossível.

Primas, na maioria.

Quase sempre saltitantes, sorridentes, afofadoras de bochechas alheias e adoráveis também. Não é por nada, mas eu adorava e ainda adoro minhas priminhas, apesar que grande parte delas me ache frio demais ou indiferente. No fundo, eu adoraria abraçá-las e não soltar mais. Fofinhas. Nhac.

Quando nascia alguma bebê nova na família, era o primeiro à pegar no colo e brincar. Mimos, cafunés, carinhos...E se uma mãe precisasse sair, deixava a criança comigo. Isso vocês sabem. Sandy, hm? A minha panda sem cor linda.

Então, sim, sou um tiozão de quase trinta anos que baba em filhotinhos e crianças.

Mal deixei as malas na entrada de uma das grandes casas da fazenda e um projetinho de garota veio voando para os meus braços. Se jogou em mim e assim que peguei-a no colo, vieram pelo menos umas três meninas me abraçarem.

Candy! Candy, Candy! Saudades de você!”, e lá me fui, sendo abraçado, afofado, amassado pelas priminhas e alguns priminhos que não eram tímidos.

Tudo estava indo bem, até. Minha mãe ignorava a água gelada, a ausência de internet e televisão — na época era coisa rara — e isso tudo para aguardar o primo que possivelmente havia deixado de ser magricela e pálido.

Os dias foram passando. Às vezes eu fugia para o lago, outras jogava cartas com meus tios e brincava de me jogar no feno ou de bonecas — … — com as meninas. Até de “Sra. Filomena” me vesti para divertir a família no meio do lanche da tarde!

Oh, Sra. Filomena, o que a senhora vai querer para esta maravilhosa degustação?”, disse meu primo com uma falsa voz aristocrática enquanto comia suas batatas fritas — estas feitas de batata de verdade, não apenas óleo, por minha avó.

É claro e evidente, monsieur! Chá e bolo para esta bela dama!”, entre outras palhaçadas. Nem estava sendo tão ruim...Nem para mim, nem para Noah, que só fazia o de sempre das férias. Lia jornais e livros em uma poltrona. Só que esta era na varanda, então ainda sentia o vento na cabeleira criada.

Tinha também uma cavalo que mais parecia uma mula...E era tratado como corcel. As crianças o amavam, os adultos o paparicavam e todo mundo adorava o pseudo-cavalo do Rancho Santa Bárbara. Seu nome? O melhor nome entre os cavalos.

Picasso.

Crianças naquela fase em que se aprende à falar palavrões e se descobrem as genitálias achavam muita graça. Pobre pseudo-cavalo. Como eu gostava do pintor, ignorava as piadinhas.

Todos os dias voltava para a casa grande com as roupas sujas de brincar no celeiro, no campo e no poço. Digo até que tropecei e cai lá. Fiquei horas lá dentro até que notassem meu sumiço e me tirassem dali.

Mas, a primeira parte deste conto — que divide-se em dois — não se trata de mim. Nenhuma das partes, na verdade. E sim, das pessoas que estão sempre ali, apesar de nem sempre você lhes dar atenção. BUM! Tente descobrir até o fim.

Dois dias para a chegada do primo. Estávamos jantando após um dia longo com direito à tirar leite da vaca, montar nos cavalos, levar tombos, rolar na grama e escalar árvores. Eu quase me sentia parte da natureza!

Jackie, minha prima de 13 anos comia feito um animal. Digo, não todos os dias. Naquele sim. A comida parecia ser sugada para um buraco negro. Segundo ela, porque queria muito ir logo brincar no celeiro antes que Picasso fosse dormir. Ah, sim. A mula das crianças.

Minha outra parente, cujo tem um nome meio difícil que não me recordo bem — uma das raras vezes que me esqueço de algo...—, tentava disfarçar o quanto queria voar para o lado de fora também. Ao contrário de Jackie, queria parecer calma e controlada.

E quem é calmo e controlado na minha família? Meu pai. Só por hobbie. Ele sempre dava um jeitinho de surtar, dar a louca, soltar a franga, rodar a baiana e entre outras expressões populares que mostram como meu querido pai sempre foi meio paranoico quando incomodado.

Ambas terminaram de comer. Na mesma hora, sumiram da mesa como se virassem poeira e fossem levadas pelo vento. Silêncio. Alguns adultos riram, outros reclamaram da falta de educação das “crianças de hoje em dia” e meus pais disseram algo como:

Ah, Chris, vá com as meninas. Está tarde, você é mais velho e é um rapazinho. Cuide delas, sim?”.

Como se ser um “rapazinho” evitasse que um desastre natural, um tropeço, um escorregão, duas meninas brigando e se arranhando — ou puxando os cabelos —...Não. Ser um rapazinho não evita isso. No mínimo você tenta se meter e é nocauteado pela prima mais nova. Garanto isso.

Ainda sim, engolindo um suspiro, saí da sala de jantar e fui atrás das garotas, no celeiro. Grande hora que escolhi ser o filho que obedece. Perfeita hora que eu não bati o pé, revirei os olhos e disse “ah, vão vocês!”. Tsc.

Se tem uma coisa que Christopher Valentini nunca aprendeu, foi à se meter nas opiniões, brigas, pedidos ou ordens dos pais. Nunca valeu à pena discutir.

Estava bem frio do lado de fora. Tentava me aquecer com um moletom durante o percurso. Aquele era um dos momentos em que eu não desconfiava de nada. As coisas pareciam em seus lugares para mim. Um quebra-cabeça com todas as peças na mesa.

Me enganei.

Acreditem, me enganei.

Foi chegar na casa de madeira, olhar ao redor, acenar para o pseudo-cavalo acordado e ir mais à fundo que tive uma visão privilegiada que algo que, no fundo, não queria ter visto. Não é para me fazer de vítima também.

Detesto fazer-me de vítima. Mas, a situação era minimamente complicada.

Foi como Mary e Alec na biblioteca da escola. Toques quentes, fervorosos, íntimos… Alguns traços de “sinto sua falta” em meio à gemidos que pareciam até ilícitos. Tudo isso tentando se abafar nas paredes do lugar, em cima de um monte de feno, com Jackie e a prima sem nome praticamente iniciando um ato sexual.

Pisquei. Não disse nada. Mal abri a boca, na verdade. Quando tentei sair escondido, tropecei em uma ferradura que brotou do inferno no chão e cai, chamando a atenção de ambas. As camisas abertas, os corpos unidos…

Nossa.

Poderia ter conseguido uma boa grana vendendo uma filmagem. E uns anos na cadeia. Um emprego de diretor de filmes pornográficos. Mais dinheiro do que tenho agora.

C-Candy! N-não...Não pense errado, nós só…”, e a prima sem nome ainda tentou se explicar, o que era bem difícil, já que seu — quase nunca uso essa palavra, whoa — sutiã estava praticamente aberto.

Meu rosto era um tomate. Minha boca, um túmulo fechado.

Olha, por favor, não conta para ninguém...Se nossos pais soubessem, nos matariam! Por favor, Candy, não dedura!”, e após um período de silêncio e trocas de olhares, encontrei minha voz antes oculta.

...Entendi. Tudo bem. Não vou contar nada. Não se preocupem.”, levantei do chão, limpando a sujeira das calças e ignorando que à poucos metros havia estrume de cavalo. “Confiem em mim.

E sabe por que digo que guardar tal segredo por tanto tempo valeu à pena? Por que mesmo a situação não sendo exatamente o que as pessoas esperam, ocultei o romance das minhas primas sem ganhar nada em troca?

Pfft. Não foi de graça.

Recebi os dois sorrisos mais brilhantes que poderia ter visto as meninas abrindo na vida, dois abraços mais que apertados e um beijo duplo na bochecha. Diz ai, é bom ou não é bom ter as primas mais dóceis do mundo?

Além do que, as duas cresceram, casaram e tudo indica que estão planejando ter filhos. Se não fosse por elas, o escritor aqui estaria sem luz, já que me mandaram dinheiro para pagar a conta faz um tempo.

Eu amo minha primas.

O programa de fazenda volta ao ar assim que um comercial de sorvetes some. E ainda sim, mantenho calafrios com aquelas ovelhas pastando tão tranquilamente.

Mas, isso tem explicações.

E, como é de meu feitio, contarei depois.


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Notas finais do capítulo

;u; Oi. Sim, finalmente me lembrei que esta fanfic se inclui em "yuri"! u3u
Pois muito obrigada quem leu até o fim, quem acompanha e manda reviews...Voltarei em breve com a parte 2/2 do capítulo 16!
Quem vive na fazenda...'3' Boa sorte. -q
Beijocas com Glitter e-
Chris: ^3^ Até logo mais!
...Esse recalque...



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