Contos do Escritor Anônimo escrita por Queen Vee


Capítulo 14
Provadores. /14#


Notas iniciais do capítulo

HOLA! Sei que demorei, sei que esse capítulo ficou curto - e uma bosta - mas meu computador estava na casa do caraio e só chegou agora. Obrigada e voltem sempre!
Até as notas finais! ~



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De banho tomado e enrolado em uma toalha maior do que deveria, arrastei os pés até o quarto. Cheguei tão distraído e cansado em casa que acabei não levando ao roupas para o banheiro...e odeio quando isso acontece. Fechei a janela, as cortinas, me vesti o mais rápido possível e deitei na cama.

Não gosto muito de me trocar na frente dos outros.

Parece contraditório, já que nos últimos contos que repassei à vocês, ocorreram pelo menos duas trocas de roupa na frente de outras pessoas...mas o motivo do meu “sutil” trauma se passa anos à frente daquelas situações.

Estremeço ao lembrar. Atendentes de lojas de roupas nunca seriam as mesmas. A luz do abajour ilumina o quarto e eu me enfio nos lençóis, fitando o teto.

Só mais um dia comum. Tinha 13 anos e estava no shopping com a Sra. Charllote e o namorado dela - outro - para “melhorar o meu guarda-roupa”. Fui arrastado por umas quinze lojas e na primeira hora o “companheiro” da mamãe” estava cheio de sacolas.

O cara também não estava lá tão feliz com a situação. Era um loiro de óculos com algumas sardas no rosto...acho que se chamava Charles Henson. Não lembro muito bem do sobrenome, mas lembro que mamãe fez ele de burro de carga a tarde inteira.

Eis que vamos parar em uma loja “em especial”. Era nova no lugar e a Sra. Progenitora quis conhecer, já que bateu os olhos na vitrine e achou que as roupas ficariam melhores em mim do que a calça jeans acinzentada e o moletom de Pocky.

Sim, o biscoito japonês “Pocky”. Sempre gostei daquilo...entrava no mercado com minha mesada, e saía com dois terços dela e uma sacola cheia de Pocky. Se me procurassem na escola, estava sentado na parte de poesia da biblioteca comendo o doce e lendo um livro.

Mary me roubava metade do pacote...Ísis roubava da minha boca mesmo.

Pois ela saltitou nos saltos altos para dentro do lugar e nos arrastou junto. Uma atendente logo nos cumprimentou, perguntou se podia ajudar e sorriu com aquela típica passividade que ocorre após qualquer pessoa aceitar o emprego de vendedor.

Deve ser lavagem cerebral, porque aquele sorriso era tão estranho quanto o de Hunter. Encolhi os ombros e me desliguei para encarar a moça. O cabelo castanho de mechas avermelhadas estava preso em um rabo para trás. A franja se ajeitava no rosto e os olhos esverdeados por um instante se prenderam aos meus.

Ela não era feia. Não precisa ter feito o que fez.

Charllote saiu remexendo vários cabides por vez, parando vez ou outra para olhar o loiro que nos acompanhava para pedir opnião. Ele murmurava coisas como “você sabe que eu não tenho o melhor conceito de moda do mundo, querida…” e ela desistia até achar outra peça que lhe trazia dúvida.

Quando achou as dez - mil - peças que queria levar, jogou tudo para cima de mim e da atendente para que eu fosse ao provador. Bom, até onde sei, mulheres não ficam no provador masculino...mas ela foi. Deixou as roupas no canto e se virou para mim com aquele sorriso congelado que me dá calafrios até hoje.

Vamos, por que não tira seu agasalho?”, pediu, rindo quase angelicalmente.

Uma ironia triste. A fitei e não movi um músculo. Estava tentando entender os motivos que uma jovem teria para entrar no meu provador e me pedir para tirar a roupa. Aquela lógica nunca entrou na minha cabeça mesmo.

Não seja um garotinho teimoso...sua mãe está te esperando!”, insistia, ajeitando a franja caída na testa sem desfazer aquele sorriso abobalhado. Franzi o cenho. Garota mais estranha. Queria ser mal-educado e grosseiro para lhe empurrar dali.

Você está aqui dentro.”, disse simplesmente. Ela cobriu a boca com a mão e riu outra vez, abaixando o zíper do meu moletom. Comecei à ficar incomodado.

Um adolescente que foi arrancado do grupo de amigos para comprar roupas com a mãe e o namorado dela e que ainda estava prestes à ser molestado por uma moça que deveria ter vinte anos. Ah, meu humor não era dos melhores.

Pode sair…?”, resmunguei, parando sua mão. Nossos olhares se encontraram e eis o motivo real do meu trauma. O sorriso estranho sumiu de sua face. Era séria, dura e implacável quando se tratava de me estuprar...pois é.

Sem que notasse, seus lábios domaram os meus. Me debati. Pedi ajuda.

Ninguém ouviu.

Meu moletom foi ao chão. Estava pronto para dar adeus à minha vida, minha dignidade e minha virgindade também. Minha camisa deu adeus. Ela me tateava como se fosse minha dona e infelizmente não conseguia me livrar. Que nojo.

Mechas vermelhas me dão asco até hoje. Tentei gritar, tentei morder sua língua para que se afastasse, tentei a empurrar...e nada funcionou. Estava me desgastando e ainda sim à toa. Comecei à chorar. Foi vergonhoso, mas comecei à entrar em prantos enquanto sentia seu batom rosado manchando meu pescoço.

Eis que a coisa mais estranha - ainda mais - acontece. O loiro de óculos abriu a porta do provador, arrancou a moça de lá direto para os braços dos seguranças e segurou meus ombros, como se estivesse completamente preocupado.

Entrei em transe, o olhar perdido em suas pequenas sardas. Catatônico e ainda chorando. Zonzo e nervoso. Com medo.

Tudo bem, Christopher?”, tocou meu rosto como se procurasse algo errado e usou as mangas da camisa para limpar as marcas de mim. Apenas solucei...e desabei em seus braços, chorando feito uma criancinha. “Calma, ninguém vai te incomodar mais…

Ele me ajudou à colocar as roupas e saímos de lá. Minha mãe processou o lugar, não compramos as tais roupas e voltei para casa, encolhido no colo do cara que um mês depois foi dispensado pela minha mãe por algum motivo que não sei bem qual é.

Desde então, evito me trocar na frente de outras pessoas. E odeio lojas de roupas. E provadores. Mechas vermelhas. Olhos verdes eu até gosto porque são bonitos. Enfim, a experiência de ser quase molestado é péssima.

Será que por isso minha vida é uma merda?

Não sei. Mas a moça ficou uns oito anos na cadeia pelo que fez e eu guardei minha vida, dignidade e virgindade para perdê-las em uma ocasião mais agradável com alguém que não fosse me dar asco no fim.

Um dia conto para vocês...Se acontecer…

Já que eu ainda vivo, tenho um quinto da minha dignidade e sou um cara de quase trinta anos que nunca foi para a cama com ninguém e…

Bah, estou brincando!

Em partes estou.

Em um bocejo cansado, me embrulho nos tecidos e apago a luz que ilumina o quarto. Pisco...cerro as pálpebras e tento cair no sono sem ter pesadelos com provadores ou sorrisos macabros. Suspiro.

Aw, essa é a vida de um escritor anônimo.


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Notas finais do capítulo

Uhn...é isso. Quase estupro, participação especial do Charles Henson, propaganda de Pocky...XD
Prometo que melhoro essa bosta da próxima vez!



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