O combinado, por parte dos dois, estava sendo respeitado. Nada de skates e nada de lojas de marca. Para não dizer "nada", houve uma hora em que Sophie entrou em uma loja caríssima, mas não por Thomas, por ela mesma. Comprou três ou quatro vestidos, não conseguindo resistir à tentação da moda. O garoto ficou feliz em saber que não era permitida a sua entrada no provador, porque se fosse seria provável que ele tivesse pensamentos não muito respeitosos com a imagem da menina ainda mais linda. Não, provavelmente não seria possível ela ficar mais linda.

Sophie e Thomas entraram numa loja de roupas masculinas, nem muito cara, nem muito barata. A princípio, o garoto se recusou a entrar, mas ela insistiu e ele cedeu. A morena foi em direção a um manequim bem no centro da loja, antes mesmo de ser atendida. Um blazer preto aberto, por baixo uma blusa de malha cinza gola V, uma calça jeans clara reta e um tênis marrom claro. Era esse o visual que ela havia pensado pra ele o tempo todo. Na moda, mas um tanto desleixado. Ela estava parada em frente ao manequim, sorrindo. Thom estava a olhando com as duas mãos relaxadas nos bolsos da calça. Estava a estranhando, a expressão dela estava... diferente.

– Sophie, tudo bem? - Ele perguntou, dando um cutucão na garota.

– Sim, achei tudo que eu queria. - Ela falou, saindo de seus pensamentos. - Você precisa experimentar isso. - Disse animada, se colocando na frente de Thomas com um enorme sorriso no rosto.

– Isso? - Ele perguntou apontando para o manequim com uma careta. - Não gostou?

– Não é tão ruim, pensei que você fosse querer me colocar num terno rosa brilhante. - Thom debochou. Sophie sorriu e deu um leve tapa no ombro do garoto.

– Posso ajudar? - Um vendedor da loja finalmente chegou perto dos dois, estampando um sorriso no rosto.

– Claro! - Montini olhou para o homem, ele também estava bem vestido. Com certeza Thomas teria que experimentar muitas coisas, havia gostado da loja. - Ele vai experimentar a roupa desse manequim. - Ela apontou. - Você teria para o tamanho dele?

– Qual seria? - O atendente perguntou. Thomas abriu a boca para falar alguma coisa, mas Sophie o interrompeu.

– O que você achar melhor. - Ela respondeu. - Que seja realmente do tamanho dele. - Disse a garota, olhando com reprovação para roupa do amigo duas vezes maior que ele. O homem sorriu e saiu dali, provavelmente indo procurar a roupa.

– Sabia que eu tenho boca para falar? - Thom disse à morena, num tom de ironia.

– Você verá que os melhores resultados sairão das vezes que você não a usar para falar. - Ela falou, passando as mãos pelos longos cabelos pretos e fixando o olhar penetrante nos olhos castanhos do rapaz. - Aliás, é por falar tanto na hora de comprar uma roupa que se veste desse jeito. - Completou, franzindo a testa.

Era errado Thomas pensar no que Sophie havia dito como duplo sentido? Depois de deixá-lo pensativo, a menina virou de costas, mordeu o lábio inferior e fez um pequeno sorriso. Talvez ela estivesse pretendendo alguma coisa com aquilo, talvez Thom estivesse pensando coisas demais. Era o mais provável.

O vendedor chegou com várias roupas na mão. Além do que o manequim estava vestindo ele havia levado peças semelhantes, do mesmo estilo. Sophie, é claro, ficou animada, enquanto tudo que Thomas queria era sair daquele lugar. Fazer compras não era uma coisa que ele gostava muito. Mas não importava, ele estava com Sophie Montini, e aquilo por si só já transformava o tedioso em divertido.

Depois de ter colocado a primeira roupa, o garoto se olhou no espelho do provador. Não tinha ficado ruim, poderia dizer até que tinha gostado. A descrição perfeita para roupa seria mauricinho desleixado, e, por mais que ele estivesse longe de ser aquilo, havia gostado do visual. Saiu da cabine, Sophie tinha que aprovar ou não a roupa. Foi para frente da menina, quem no mesmo instante abriu um sorriso grande.

– Que orgulho de mim. - Ela falou baixinho. - Nunca pensei que diria isso, mas você está... - Ela pausou, pensando na palavra que usaria. - Atraente.

O efeito que aquela palavra causou foi o mesmo em ambos. Thomas e Sophie, assim que a garota pronunciou a palavra, ficaram com os rostos vermelhos. Não havia sido de propósito, ela tinha sido sincera. Achou que, entre lindo e atraente, o menos embaraçoso provavelmente seria atraente.

No final das contas, Thomas acabou levando 4 blusas, 2 calças, 1 blazer e um tênis. Os dois tinham gostado do resultado final, e isso era maravilhoso. Depois que saíram da loja, Sophie quis entrar numa loja de skate, mas não era nada para Thomas, era para ela mesma. Com a ajuda do garoto, comprou um skate para aprender a andar, como havia prometido para ele. A morena, além disso, comprou um tênis, e por vontade própria.

Para alegria de Thomas, os dois foram ao estacionamento. Indo em direção, finalmente, a suas devidas casas. O caminho seria longo, então ainda teriam tempo para conversar. Para se despedirem do dia tão diferente que tinham tido.

– Não foi tão ruim assim. - Thomas foi o primeiro a dizer, esparramado no banco carona. - Eu me diverti. - Ele confessou.

– Também me diverti. - Ela disse, concentrada no trânsito e sorrindo.

– Você não conta. - O garoto falou, dando uma risada. - O shoping deve ser sua segunda casa.

– Não me diverti por estar no shopping. - Sophie respondeu, como alguma coisa que parecesse óbvia.

– Então foi pelas compras? - Thom a interrompeu, revirando os olhos.

– Não, Thomas. Eu faço compras quando eu quiser. Me diverti pela companhia. - Ela disse baixo, adquirindo no instante seguinte uma cor avermelhada.

Thom sorriu.

– Você tem me surpreendido muito. - Ele disse, a olhando. - Dizendo coisas que eu nunca pensaria ouvir de você. - Sophie, olhando para frente, riu. - Não, é sério. Pra falar a verdade eu nunca me imaginaria falando contigo, não pelo menos há umas duas semanas atrás. Você sempre foi um mistério pra mim. Às vezes olhando para rua da janela, às vezes lendo um livro na janela, às vezes escrevendo alguma coisa também na janela. Incrível, para mim você sempre foi a menina linda morena dos olhos verdes que não saía da janela. Aliás, o que tanto faz lá?

– Eu me sinto bem no ar livre, oras. É agradável. - Ela explicou, com um sorriso no rosto. - E você não pode falar nada, sempre para na calçada em frente a minha casa, senta no skate e fica olhando pro céu, ou lendo algum gibi. Parece um retardado ou sei lá. - Sophie se defendeu acusando o garoto, e os dois caíram na gargalhada.

– Como descobriu que são Gibis? A vista não pode ser tão boa assim! - Thomas perguntou, franzindo a testa.

– Baker me contou. - Ela respondeu, sorrindo.

Thomas ficou feliz, muito feliz. Formou no rosto um enorme sorriso. Sophie acabara de confessar que, assim como ele, ela o observava. Lembrava bem que algumas vezes os olhares se cruzaram, quando acontecia ele tratava de disfarçar, ou olhando para o céu ou lendo o seu inseparável Gibi. É claro que ele não sentava ali em frente por sentar, ou apenas para ler ou olhar as lindas estrelas, o que o interessava era realmente a garota da janela, amava a observar.