Hold On escrita por Meredith Kik


Capítulo 1
Dia a dia


Notas iniciais do capítulo

É uma introdução, espero que gostem e que continuem lendo.



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Há alguns anos atrás, o jardim daquela casa estava sempre cheio, sempre nos finais de semana tinham festas para comemorar qualquer coisinha boba, as pessoas eram mais animadas, hora e outra batiam vizinhos reclamões por causa da música alta de madrugada. Agora estava tudo morto. Não se ouvia mais um pio da família Montini. Esse nome engraçado porque, apesar de viverem em um bairro simples, eles tinham descendência italiana, e eram podres de ricos.

A morte de uma das filhas do casal resultou em silêncio total, foi como se a família toda tivesse morrido. Já faziam 5 anos desde o ocorrido. Os vizinhos fofoqueiros diziam que a falecida Katty, que deixara a família aos 19 anos, sofria de anorexia e bulimia. O casal tinha outra filha, Sophie Montini, ela era linda. Parecia saudável, não era tão magra quanto a irmã, tinha um longo cabelo castanho escuro, liso com pequenas ondulações. Os olhos eram verdíssimos. Devia ter uns 21 anos, não mais que isso. Hora ou outra, um menino passava em frente a grande mansão da família andando de skate e via a menina com um triste olhar sentada no parapeito da janela do que devia ser seu quarto.

Ah, Thomas Löhnhoff. Apesar do sobrenome de peso, os Löhnhoff's moravam numa vila simples da cidade, perto da grande mansão, a uns dois quarteirões dali. Não eram pobres nem nada, tinham algo mais do que o necessário, talvez classe média média, nem alta nem baixa. O Sr. Löhnhoff trabalhava num pequeno restaurante da cidade, ajudante do chefe de cozinha. Não era um grande emprego, mas servia para pagar as contas. A Srª Löhnhoff era manicure, só trabalhava de vez em quando na casa de conhecidas, não gostava muito de salões. Quando as coisas apertavam ela oferecia seus serviços de porta em porta, já que ali era uma cidade pequena e todos se conheciam. Thomas era o filho deles. Não tinha uma beleza excepcional nem nada, mas era bem bonito, os olhos eram castanhos, tinha cabelos bem curtos, um pouco espetado com um topetinho bem baixo, era alto, bem alto, os músculos eram bastante desenvolvidos, tinha o que as meninas chamavam de tanquinho. Sempre era visto andando de skate pela vizinhança, seja com os amigos ou sem eles. Tinha 22 anos, velho demais para andar de skate, talvez? Ele não se importava, na verdade. Gostava de se divertir, acima de tudo. Depois, claro, da faculdade. Quando ele passou pra medicina numa faculdade federal Dona Anna fez questão de contar pra vila toda, nesse dia ela recebeu em casa todos os moradores com uma janta especial feita por Louis Löhnhoff (O Sr. Löhnhoff), que aliás, cozinhava maravilhosamente bem. 

Era uma manhã de sábado como qualquer outra. Thomas estava no seu quarto dormindo, Louis estava lendo jornal sentado no sofá da sala e Anna estava fazendo café na cozinha.

- Louis, precisamos comprar outra cafeteira. - Anna falou, sentando ao lado do marido no sofá com a xícara de café na mão. - Demorei quase uma hora pra conseguir fazer esse café, isso não é normal. - Ela disse, fazendo um gesto negativo com a cabeça e dando um gole no seu café. 

- No final do mês nós compramos, querida. Tenho que comprar uns livros para Thomas agora, e você sabe o quanto esses livros de faculdade são caros. - Ele disse, abaixando o jornal para encarar a esposa e depois levantando de novo para voltar a ler.

- Hoje vou fazer a unha da filha dos Montini's. - Anna disse, sorrindo para o marido. O homem deixou o jornal de lado, o colocando na mesa de centro e deu atenção a mulher.

- Pobre menina. - Ele disse, balançando a cabeça negativamente. - A vida foi cruel com os Montini's, ficaram arrasados. - Ele falou, com tristeza na voz.

- Infelizmente a morte é a única coisa certa na vida. - A mulher disse, colocando a xícara de café também na mesa de centro. 

- Mamãe começa o dia filosofando. - Thomas falou com voz de sono enquanto coçava os olhos. Louis deu uma risada.

- Oh Thom, bom dia! Acordou tão cedo. - Ela disse, levantando e encarando o filho, que estava arrumado como todos os outros dias: com uma calça jeans e uma blusa de malha duas vezes maior que ele. - Onde vai? - Oras, como se ela já não soubesse a resposta. 

- Dar uma volta com o pessoal. - Ele respondeu, e depois deu um beijo na mãe e um abraço no pai saiu da casa.

Bom, esse foi um resumo curto das manhãs dos Löhnhoff's, era sempre aquela rotina. Anna e Louis conversavam depois que a mulher terminava de arrumar algumas coisas na casa e preparava o café, falavam dos gastos que tinham, falavam o que fariam no dia, Thomas acordava ainda pela manhã e saía para andar de skate. Isso no final de semana, claro. Nos dias de semana todos trabalhavam, menos Thomas, é claro, que estudava. 

Thomas passava em frente a mansão de skate, a caminho de encontrar seus amigos numa praça perto dali. Como todos os finais de semana também, ela estava ali sentada no parapeito da janela enorme. Sempre que passava ali, ele andava um pouco mais devagar com o skate, apenas para apreciá-la por mais tempo. Era um pouco longe, por causa do grande jardim que tinha em frente e porque o quarto era no segundo andar, mas Thomas podia ver que estava triste. E por um momento, quando a olhava bem nos olhos, aqueles olhos maravilhosos, seus olhares se cruzaram. Algo que Thom nunca imaginara acontecera ali, a garota abrira um sorriso fraco e depois entrou no quarto e fechou as cortinas. Era realmente um sorriso? E se era, tinha sido pra ele? Bem, sendo ou não pra ele, era o sorriso ou o não-sorriso mais lindo que ele já tinha visto.

Depois que Sophie fechou a janela, Thomas começou a correr no skate, já devia estar atrasado para encontrar os amigos. Quando ele finalmente chegou na praça marcada, os três estavam lá com seus skates nas mãos. Nicholas, Caleb e Amanda. Sim, Amanda, uma menina. Ela namorava Nicholas há mil anos, era o tipo de garota que ninguém nunca imaginaria em cima de um skate, loira, cabelos longos e lisos, olhos azuis, linda. Não se vestia como um moleque, se vestia apenas como uma garota normal. Calça jeans tipo skinny, blusa baby look e tênis all star, era assim que garotas normais se vestiam. Ela era fissurada por skate, exatamente, fissurada. Ela fazia arquitetura em uma universidade federal ali perto, muito boa, a loira era inteligente. Estava bem perto de se formar, inclusive. Nicholas havia crescido andando de skate, era apaixonado. Só não amava skate mais que Amanda, o cara era simplesmente louco pela namorada. Ele cursava administração. Caleb era o melhor amigo de Amanda, andava de skate apenas porque a loira havia o obrigado a aprender, era gay assumido. Com o tempo, passou a gostar bastante do esporte. Caleb optou pela música, ele escrevia e as cantava muito bem, trabalhava em pequenos bares e ganhava um dinheiro que, com ajuda de seus pais, pagava suas despesas. E como Thomas havia os conhecido? Ora, adivinhem? No bairro, que era pequeno, andando de skate. Foi uma vez que se esbarraram, viram os interesses em comum e hoje eram todos grandes amigos. Nenhuma história muito grandiosa.

- Pô cara, até que enfim! - Nicholas foi até Thom e bateu nas suas costas, o cumprimentando. Caleb o cumprimentou da mesma forma. Já Amanda, o cumprimentou de forma mais calorosa, com um abraço apertado e longo. Depois beijou-lhe nas bochechas. A loira saiu dos seus braços e lhe lançou um olhar curioso. 

- Montini de novo? - Ela perguntou, Thomas sorriu e não respondeu nada. Não que precisasse, ficava apenas subentendido.

- É como perguntar se macacos procuram por bananas, Amanda. - Caleb se pronunciou, e mais uma vez Thomas apenas sorriu, dessa vez, ele estava sorrindo mais que os dias normais, não parecia que ele tinha apenas visto Sophie Montini. Não, claro que não. E de fato não foi, Sophie Montini tinha sorrido pra ele, ou pra outra pessoa, mas ele havia visto o sorriso mais belo do mundo naquele dia. 

Já estava anoitecendo, Thomas havia passado o dia inteiro conversando com os amigos enquanto andavam de skate, todos os sábados eram assim. No domingo, ele chamava os amigos para o almoço gostosíssimo do seu pai em sua casa. Era algo bastante engraçado. Eram todos como se fossem uma família, os pais dos amigos de Thomas iam sempre. Amanda e seus pais, a vaidosa Maria (sua mãe) e o sério senhor Henrique. Caleb e sua mãe, a descolada Beatriz. E é claro, Nick e seus pais, a amável Helena e o palhaço Roberto. Os pais de Thomas se davam bem com todos, como foi dito, eram todos como uma família.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Comentem, eu vou ficar feliz *-*