Minha visão estava extremamente turva por causa das lágrimas. Eu acompanhava a Senhora Wayves até a cafeteria do hospital. Ela falava coisas sobre Collin quando era criança mas eu não prestava muita atenção já que a cena que eu havia visto não saía da minha mente. Eu apenas balançava a cabeça e sorria levemente.

Nos sentamos nas pequenas cadeiras de vime da lanchonete. Pedi um capuccino e ela pediu um suco de laranja.

–Então querida, - ela pegou na minha mão e deu um sorriso fraco - sei que o Collin tinha terminado com você.

Não disse nada, apenas assenti com a cabeça e suspirei. Ela fixou os olhos na mesa de vidro e pude ver uma lágrima escorrer.

–Collin tem esse problema desde os doze anos. - ela balançou a cabeça e olhou para mim - Ele evita falar disso, já que o pai dele morreu por falta de um doador de órgãos.

–O pai dele, tinha o mesmo problema? - perguntei e ela apenas concordou calada - Collin está na fila do transplante?

–Está, ele precisa de um doador compatível muito rápido. Estou me mantendo otimista, não precisa ser um doador morto ,pode estar vivo sabe, já que precisamos só de um rim para sobreviver.

–Então não deve ser difícil assim, é?

–As chances de encontrar um compatível com o de Collin são mínimas, geralmente são pessoas da mesma família que apresentam essa compatibilidade. Eu já fiz os testes e, não possuo. - ela lamentou em silêncio por um tempo.

–Vou fazer os testes. - falei.

–Querida, eu agradeço de verdade mas é quase impossível que dê certo, não se desgaste tanto.

–Não posso me perdoar se eu não fizer nada para pelo menos tentar ajudá-lo.

Ela sorriu para mim e apertou mais forte minha mão. Nossos pedidos chegaram e nós os tomamos em silêncio.

**

Collin já havia terminado a seção e eu esperava do lado de fora do quarto para falar com ele. Sua mãe estava lá dentro e logo me chamaria para entrar.

Escorada na parede e olhando para o teto branco, eu pensava, como minha vida havia ido parar nisso? Quero dizer, ao lado de Collin Wayves, o cara que eu evitei a vida toda e que agora precisava de um transplante.

–Tiffani, - a enfermeira chamou - ele vai falar com você agora.

Entrei no quarto que ainda era bem deprimente, mas agora Collin estava acordado e os fios que antes o cobriam, estavam pendurados ao lado da cama.

Me aproximei e peguei sua mão. Ele me deu um sorriso debilitado e tentou se levantar mas eu o impedi. Me inclinei e o beijei.

–Oi. - falei.

–Fico feliz por ter vindo. - ele falou fraco.

–Por que não me disse Col? - franzi a testa - Eu vou te ajudar a sair dessa.

–Pra mim, a dor de ver você sofrendo por mim, é maior do que a dos rins. - ele sorriu.

–Não devi ter escondido isso de mim.

–Eu sei. Me desculpe por te deixar chorando aquele dia na cabana.

Balancei a cabeça e passei a mão nos cabelos negros dele. Dei um sorriso reconfortante para ele.

–Não se preocupe comigo, vamos dar um jeito em você agora ok?

Ele assentiu de leve e se virou para o lado apontando para um caderno que estava em cima do criado mudo. Eu peguei o caderno e perguntei o que era.

–São músicas e poesias , escrevi para você enquanto me entediava aqui nesse quarto. - ele falou.

–Você só ficou um dia aqui.

–Foi um dia muito difícil sem você. Deu pra escrever muita coisa.