À Prova De Som escrita por Tenteitudo


Capítulo 3
Momentos Compartilhados...


Notas iniciais do capítulo

Obrigada Pandora, pela recomendação! Eu não estava esperando ^^
Então, aqui está, parte 3, penúltimo capítulo :)

Muito obrigada pelos comentários! :DD

Agradecimento especial a minha querida Arginine, que arrumou a capa pra mim..

Alguns time jumps, prestem atenção nas idades..

Boa leitura e continuem comentando!



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Idade, 8.

Rachel bateu na porta da casa branca, abraçando sua mais nova aquisição firmemente contra o peito, como se o objeto pudesse criar vida e fugir se ela não o segurasse com força o bastante.

"Olha só quem está aqui..." Russel sorriu. "Olá, Rachel, como estão indo as férias?"

A morena sorriu brilhantemente para ele. "Muito boas, tio Russ... A Quinn está ai?" Ela perguntou, tentando enxergar por trás dele.

"Sim, ela está na sala pintando... Você pode entrar." Ele deu um passo para o lado e Rachel passou voando por ele, correndo em direção a sala e encontrando sua melhor amiga sentada no chão, pintando em um caderno com giz de cera.

"Quinn!" Chamou ela, tentando conter sua excitação. "Olha o que eu ganhei!" Obviamente não houve resposta e ela revirou os olhos consigo mesma. Depois de dois anos ela ainda conseguia esquecer que a loira não podia ouvir. "QUINN!" Ela gritou ainda mais alto, batendo seu pé com força contra o chão de madeira, fazendo-o vibrar e sorrindo quando a cabeça de sua amiga virou em sua direção.

Os olhos esverdeados estavam arregalados e olharam em volta, como que tentando encontrar algum motivo além da pequena morena para o mini terremoto que acabara de sentir. Rachel saltitou em sua direção e sentou ao seu lado em cima do tapete novo e caríssimo que havia sido batizado com suco de uva há alguns dias atrás (para o horror da senhora Fabray).

"Olha o que eu ganhei!" A morena sinalizou precariamente, usando apenas uma mão enquanto a outra segurava seu mais novo DVD de Funny Girl.

Quinn olhou para a caixinha sem parecer nem um pouco impressionada. Ela não conhecia muitos filmes, não tinha muita graça assistir TV no mudo.

"Podemos assistir?" A morena a encarou com um olhar esperançoso. "Por favooooooor?" Ela falou em voz alta, sinalizando de forma exagerada. Rachel sabia que Quinn não gostava de ver filmes por que era difícil de entender sem ouvir, mas aquele era seu filme favorito de todos os tempos e ela queria compartilhar aquilo com sua melhor amiga de todos os tempos. Sem contar que a TV dos Fabrays era maior do que a que ela tinha em casa e ela não queria perder a chance de ver Barbara em uma tela gigante (32 polegadas parecia gigante naquela época).

A loira olhou para o teto, tentando fingir irritação, mas sorrindo mesmo assim. Era engraçado ver Rachel implorar pelas coisas. Ela não respondeu de primeira, querendo pensar no que poderia conseguir caso concordasse com a pequena morena.

"A gente vai poder comer pipoca junto com o filme?"

Rachel concordou vigorosamente, soltando uma risada e abraçando o pescoço de sua melhor amiga.

Ela se levantou e colocou o filme no aparelho antes de correr até a cozinha. "Tia Judy!" Ela gritou, fazendo a loira mais velha se virar com uma mão no peito e uma colher de pau na outra, um pouco sobressaltada. "A Quinn quer pipoca, você pode fazer pra gente?"

Judy fez que não com a cabeça. "Está quase na hora do jantar e..."

"Por favooor, só um pouquinho! Se não a Quinn não vai querer ver o filme comigo!" Ela apoiou uma mão na bancada, pulando um pouco sem exatamente sair do chão. "É importante pra mim..." Ela falou suavemente, usando o tom de voz que sempre funcionava para convencer seus pais de qualquer coisa.

Judy suspirou. "Está bem... Mas só um pouquinho e só dessa vez."

"Yaay!" Rachel exclamou. "Você é a melhor, tia Judy..." Ela a abraçou rapidamente antes de voltar para a sala.

"Cadê a pipoca?"

"Tua mãe já vai trazer." Ela se acomodou no chão, escorando as costas no sofá e dando play no filme. "Vou por legenda, ai você vai entender também..."

Quinn fez que sim com a cabeça, sentando ao seu lado e sorrindo um pouquinho ao sentir a mão (ainda minúscula) da pequena morena envolver a sua. Ela tentou com todas as suas forças prestar atenção no filme, mas as legendas passavam rápido demais e por mais que já soubesse ler (mais ou menos), ela não conseguia acompanhar o que elas diziam. E sinceramente, ela não conhecia uma boa parte daquelas palavras.

Então a pipoca chegou e ela desistiu de tentar entender a história, se contentando em contemplar o rosto de sua amiga e o modo como ele parecia expressar uma gama enorme de emoções ao mesmo tempo. Ela espichou as pernas e as dobrou novamente antes de deitar de barriga para baixo, apoiando o queixo nas mãos e tentando voltar a prestar atenção, mas a história já não fazia mais sentido.

Ela encarou a mulher de nariz grande na tela e era óbvio que ela estava cantando, ou talvez estivesse tentando sugar o ar das pessoas, por que ninguém fala abrindo a boca daquele jeito. Ela engatinhou até a TV e encostou uma mão na saída de som, sentindo as vibrações da música e fechando os olhos por um segundo, fingindo que podia de fato ouvir.

"O que você está fazendo?" Rachel perguntou quando ela voltou a abrir os olhos.

"Ouvindo música."

A morena franziu a testa,

"Traduz a mulher nariguda pra mim." Demandou Quinn, ficando em pé e escorando as costas na saída de som, sentindo os pequenos buraquinhos vibrar contra sua coluna.

"Ela não é nariguda, o nariz dela é perfeitamente normal."

"Que nem o seu."

A morena fechou a cara.

"Eu não vou mais brincar com você. E não vou traduzir nada também."

Quinn mordeu o lábio. Ela era péssima em saber quando falar as coisas e às vezes ofendia as pessoas. "Desculpa. Eu gosto do teu nariz. Agora traduz pra mim."

Rachel mordeu a parte interna da própria bochecha, ela não conseguia ficar brava com Quinn por muito tempo. Ela pausou o filme e tirou os sapatos, subindo no sofá e fingindo estar em cima de um palco. Ela limpou a garganta e começou a cantar uma versão mais lenta (para poder traduzir ao mesmo tempo) de 'Don't Rain on My Parade'.

Sua voz era impecável e ela desejou que sua amiga pudesse ouvi-la naquele momento. Ela sinalizava com naturalidade, soletrando as palavras que não conseguia traduzir e Quinn sorria, apesar de achar a letra totalmente confusa e sem sentido, por que ela sabia que o sol não era uma bola de manteiga, e pessoas não podiam voar e quem será que tinha uma maçã no lugar do olho?

...

Idade, 10.

"Deixa eu levar a Quinn lá embaixo? Eu sei que não ta pronto e que tem fios no chão e poeira e tudo o mais, mas o cara disse que o som ta pronto e eu queria testar e eu queria mostrar pra Quinn por que o chão do palco é de madeira e ela pode sentir a música e você sabe o quanto ela gosta disso... Por favor papai! Eu prometo que eu lavo a louça todos os dias dessa semana!" Ela segurava sua mão e a balançava de um lado para o outro. Quinn só olhava a cena, tentando imaginar o que sua amiga poderia estar dizendo e tentando ler os lábios dela, mas Rachel sempre falava tão rápido que isso era quase impossível. "É importante pra mim..."

Leroy fechou a cara. Sua filha realmente sabia como conseguir o que queria. Ele culpava Hiram por isso (simplesmente por que precisava culpar alguém). Ele olhou para a menina loira que o encarava com uma expressão tranquila. Ele sempre achara interessante o modo como as duas meninas pareciam se completar.

"Está bem... Mas tomem cuidado."

"Vamos tomar, eu prometo!" Rachel concordou, já começando a arrastar sua amiga até a porta do porão.

"E você vai lavar a louça até o final do mês!" Ele exclamou antes de ouvir a porta bater.

...

"Nosso antigo porão agora é uma sala de música!" Rachel exclamou, acendendo a luz e fazendo Quinn rodopiar consigo antes de traduzir o que havia acabado de falar. O lugar ainda não estava totalmente pronto, ainda faltavam alguns acabamentos no palco e havia fios de luz espalhados por todo o chão, bem como uma poeira cinza que ainda tinha que ser limpa.

Mas o sistema de som havia sido instalado naquela manhã e Rachel estava excepcionalmente animada com aquilo. Ela mal podia esperar que seu microfone cor de rosa chegasse para poder cantar que nem uma estrela de verdade.

"Senta aqui..." Sinalizou a morena, traçando com o pé um círculo no meio do palco (o círculo era realmente visível graças a poeira).

Quinn fez uma careta. "Tá sujo."

"É só poeira, depois sai!"

A loira olhou para seu vestido azul de bolinhas. "Se minha mãe brigar eu vou dizer que é culpa sua."

Rachel colocou uma mão na cintura. "Senta logo! Eu quero te mostrar uma coisa!"

Quinn fechou os olhos ao sentar, tentando não pensar no que sua mãe diria quando ela chegasse em casa com um vestido todo manchado. A pequena morena cutucou sua bochecha e a loira piscou, encontrando sua amiga ajoelhada a sua frente com um controle remoto preto nas mãos.

Rachel sorriu e apertou o botão de ligar, fazendo música ecoar pelo aposento a todo o volume. Quinn arregalou olhos. O palco era de madeira e as caixas de som estava posicionadas nas laterais, o som que saía delas fazia toda a estrutura vibrar (e poeira voar para todos os lados, o que, graças a luz do sol que se infiltrava pelas pequenas janelas, era contraditoriamente bonito).

"Musica..." Disse Rachel, vendo o rosto de sua amiga se transformar em um sorriso e as mãos dela tocaram o chão sujo hesitantemente. Ela não conseguia escutar por causa da música, mas a morena tinha certeza que Quinn estava murmurando "mmmmhmm", como sempre fazia quando estava feliz, ou animada com alguma coisa. Ela tinha certeza que a loira nem ao menos percebia que emitia aquele som.

A pequena morena se afastou, ficando em pé na frente de Quinn e começando a dançar e traduzir a música que tocava no rádio, 'Complicated', da Avril Lavigne (estava na moda em 2003). Quinn não estava prestando atenção em sua amiga, absorta demais nas vibrações e querendo poder sentir mais.

Todas as pessoas falavam tanto sobre o quanto gostavam de música e ela queria poder entender o mistério por trás daquilo e por que sua mãe sempre chorava quando ouvia uma mulher chamada Celine Dion cantar. Ela sentiu o ritmo mudar junto com a música, que agora era 'Get This Party Started', da Pink. As vibrações eram mais definidas e intensas e ela deitou no chão, esquecendo completamente sobre a sujeira.

Alguns segundos se passaram e Rachel pulou em seu colo, sentando sobre suas pernas com um joelho de cada lado de seu quadril, parecendo um pouco irritada.

"Eu estava traduzindo pra você!" Ela reclamou, cruzando os braços, mas logo sorrindo ao ver o brilho nos olhos de sua amiga. Ela se inclinou para baixo e começou a fazer cócegas nas laterais da loira e em seu pescoço.

Quinn fechou os olhos em uma overdose de sensações, a música e as cócegas e o peso leve que era Rachel sobre suas pernas. Ela sentiu algo quente inundar seu peito e partiu os lábios, permitindo que uma risada escapasse de sua garganta.

A pequena morena parou o que estava fazendo e encarou sua amiga, surpresa com o som que havia acabado de ouvir. Ela percebeu que em 4 anos nunca havia escutado Quinn rir. A loira sorria bastante, e murmurava ou gritava quando estava feliz, mas aquele som era algo totalmente novo e incrivelmente musical. Seu coração saltitou, como havia feito quando vira Quinn pela primeira vez e ela se viu rindo também.

Inconscientemente, aquela risada se tornou sua música favorita.

...

Idade, 13 – inverno.

"Eu vou com vocês!"

"Não vai não! Hospital não é lugar para criança!"

"Eu já tenho 13 anos! Eu quero ver a Fran!"

Russel olhava a discussão entre sua filha e esposa já fazia alguns minutos quando decidiu intervir.

"Você vai ficar na Rachel e não tem discussão!" Ele exclamou, sinalizando ao mesmo tempo. "Não é hora de brigar! Sua irmã está no hospital e eu estou indo para lá agora!" Ele colocou uma mão no ombro da loira mais nova. "Eu prometo que ligo avisando como ela está assim que tivermos notícias."

Os olhos dela estavam cheios de água, ela sabia que não adiantava argumentar com seu pai. Ela o abraçou e concordou com a cabeça.

"Tenho medo..." Ela sinalizou ao se afastar.

"Vai ficar tudo bem... O medico disse que não foi tão grave e que ela estava acordada quando chegou no hospital." Fazia alguns minutos que o telefone havia tocado na casa dos Fabray, trazendo notícias não tão boas. Aparentemente, Francine tinha se envolvido em um acidente de moto e fora levada as pressas para o hospital.

Judy e Russel estavam indo para lá, mas não queriam levar Quinn. Já era tarde e a loira tinha aula no dia seguinte. Sem contar que ela estava nervosa demais e o hospital não iria adiantar em nada para acalmá-la. Eles explicaram a situação para os Berry e deixaram a loira com eles antes de partir.

...

Rachel saiu do banho para encontrar uma Quinn cabisbaixa sentada em sua cama. Ela se aproximou e percebeu que pequenas lágrimas escorriam de seus olhos e pingavam da ponta de seu nariz. Ela parou na sua frente e secou algumas gotinhas com a manga de seu pijama antes de perguntar o que havia acontecido.

Quinn explicou, chorando mais um pouco enquanto sinalizava. Ela estava nervosa e assustada, por que o pai do Joe, seu colega de aula, tinha morrido em um acidente de carro mais cedo naquele ano. Ela não queria que Fran morresse.

"Ela não vai morrer, vai ficar tudo bem." Rachel respondeu, a abraçando brevemente antes de ir até o quarto de seus pais e pedir que eles ligassem para Russel para saber como estavam as coisas.

Fran estava em cirurgia.

Ela disse aquilo para Quinn enquanto pensava em algo que elas pudessem fazer que ajudasse a distraí-la. Ela mordeu o lábio, olhando e volta por seu quarto e percebendo que Wall-E estava no topo de sua pilha de filmes. Rachel pegou a caixinha e a segurou na frente do rosto, espiando pelo lado para ver um sorriso tremulo nos lábios de sua amiga.

Wall-E era o filme favorito de Quinn, por que quase não tinha falas e ela conseguia entender a história sem precisar ficar lendo legendas que passavam rápido demais. As duas meninas se acomodaram embaixo das cobertas e Rachel ficou mexendo nos cabelos dourados enquanto assistia o filme. Ela sempre se sentia melhor quando mexiam nos seus cabelos e esperava que o gesto fizesse sua amiga se sentir melhor também.

Os cabelos da loira tinham um cheiro bom, doce, mas não muito, e suave e familiar. E o peito de Rachel era tão quente. Quinn podia sentir o calor contra sua bochecha, junto com o pulsar de seu coração e uma leve vibração causada pela respiração dela.

Às vezes Quinn imaginava o quanto seria maravilhoso ouvir, mas então ela pensava no quanto também gostava de sentir... Ela sabia que por não ouvir, podia sentir melhor do que outras pessoas. Perceber sons mesmo sem escutá-los e notar mudanças sutis que a maioria dos ouvintes não perceberia, como por exemplo, o modo como o coração de Rachel mudava de ritmo a cada movimento e suspiro seu.

...

Uma hora depois, Leroy entrou no quarto de sua filha para ver como Quinn estava e oferecer um chocolate quente. Ele sorriu quando encontrou as duas meninas dormindo abraçadas. A loira descansava a cabeça no peito de sua filha e tinha uma expressão tensa no rosto, que contrastava com o leve sorriso que agraciava os lábios da pequena morena.

Ele desligou a TV e puxou o cobertor de florzinhas para cima das duas, beijando seus cabelos antes de se retirar.

...

Eram duas da manhã quando ele voltou a entrar no quarto, segurando o telefone sem fio contra o peito. Ele acendeu a luz e Quinn se moveu, enterrando o rosto no pescoço de sua amiga para fugir da luminosidade.

Leroy se aproximou e chamou por Rachel suavemente. A morena piscou seus olhos abertos e tirou uma mão de baixo das cobertas para esfrega-los.

"Estrelinha, o pai da Quinn ligou." Leroy passou uma mão por seus cabelos, vendo-a despertar totalmente antes de continuar. "Ele disse que a Fran já saiu da cirurgia e que está bem, ela tinha rompido o baço, mas os médicos controlaram a hemorragia." A pequena morena fez que sim com a cabeça, mordendo o lábio, aliviada. Ela gostava de Fran e estava preocupada. Sem contar que não queria mais ver sua melhor amiga triste. "Ela também fraturou uma costela e teve que fazer pontos no queixo, mas está fora de perigo." Ele sorriu. "Você pode avisar a Quinn?"

Rachel fez que sim e percebeu que a loira estava com o rosto pressionado contra o seu pescoço. A respiração dela fazia cócegas e por algum motivo, a pequena morena enrubesceu. Ela se afastou um pouquinho e balançou o ombro de Quinn gentilmente. Seu coração bateu na garganta quando os olhos dela se abriram. Aqueles olhos que antes eram apenas verdes, mas com o tempo foram colecionando pequenos pontinhos dourados (como as estrelas que Rachel tanto amava) e naquele momento conseguiam conter as duas cores em um mar de verde que faiscava.

Uma de suas mãos estava presa embaixo de Quinn, então a morena apontou para a própria boca, falando devagar para que a loira pudesse entender.

"Fran vai ficar bem." Ela levou a mão livre para a têmpora, fazendo o sinal de 'entendeu?' depois de falar.

Quinn respirou pelo nariz, sua mandíbula relaxou em alívio. "Sim." Ela oralizou baixinho. O som de sua voz fez a morena sorrir. Era sempre uma surpresa quando a loira falava e Rachel adorava ser surpreendida dessa forma, mesmo que as palavras fossem sempre curtas e simples. "Obrigada." Ela murmurou, engolindo o 'r' e voltando a enterrar o rosto no pescoço da morena.

Rachel sentiu algumas lágrimas quentes contra sua pele e passou seus dedos pelos cabelos de sua amiga antes de chamar seu pai para apagar a luz e voltar a dormir.

...

Idade, 15.

Era metade de setembro, uma quarta feira entre o início das aulas no dia primeiro e o aniversário de 16 anos de Quinn no dia 23. As duas meninas atravessavam o shopping em direção a praça de alimentação enquanto conversavam animadamente. Ou melhor, Rachel conversava e a loira tentava caminhar e olhar para as mãos dela sem tropeçar.

A pequena morena estava animada, era seu segundo ano do ensino médio e aparentemente um professor do coral havia sido demitido e ela finalmente conseguira entrar para o Glee Club. Ela falava sobre seus colegas e sobre como eles não eram tão bons quanto ela, mas que ainda assim soavam muito bem e sobre esse menino, Finn, que estava, mas ao mesmo tempo não estava no clube.

"E se conseguirmos membros o suficiente, vamos poder competir nas seletivas e se ganharmos as seletivas vamos para as regionais e então para as nacionais e o troféu é enorme e tão bonito e eu quero ele!"

Quinn soltou uma risadinha. Nem sinalizando Rachel conseguia utilizar vírgulas.

"Vocês vão ganhar. A sua voz é linda..."

Rachel sorriu abertamente, enganchando um braço ao da loira e aceitando o elogio (mesmo sabendo que Quinn não tinha como afirmar aquilo).

Chegando a sorveteria, a loira foi pegar uma mesa enquanto Rachel pedia dois sorvetes de cereja com chocolate (chocolate era o seu favorito e cereja era o de Quinn e as duas concordavam que juntos eram a combinação perfeita). Quinn aceitou seu potinho e comeu uma grande colherada, umedecendo os lábios antes de pressionar um beijo gelado na bochecha de sua melhor amiga, que havia acabado de sentar ao seu lado.

Rachel riu, passando uma mão pela própria face e sentindo-a grudar com sorvete. Quinn sempre fazia aquilo, desde que elas eram pequeninhas...

Elas comeram e conversaram sobre a escola de Quinn e seus novos colegas e seu professor de sinais, que apesar de surdo conseguia saber menos sinais que Hiram (o que era algo a se dizer, por que o Berry mais baixo tinha uma dificuldade absurda em aprender a língua).

"Não seja má..." Disse Rachel, com a colher de plástico azul dentro da boca. "Você não sabe a história dele. Talvez ele tenha sido proibido de usar sinais quando era criança, como a sua professora de artes."

"Se ela conseguiu aprender depois dos 30, ele também deveria." Pontuou Quinn. "Você aprendeu muito rápido..."

"Eu tive a melhor professora." Piscou a morena com um sorriso, fazendo as bochechas da loira se tingirem de cor de rosa e seu coração bateu um pouquinho mais rápido.

Quinn desviou o olhar para o lado, sentindo suas mãos se tornarem úmidas de repente (já fazia algum tempo que isso acontecia quando ela estava perto de Rachel e era muito desconcertante). Ela avistou cabelos loiros familiares no balcão e acenou para Sam, o menino novo que havia entrado em sua turma naquele ano.

Ele sorriu e acenou de volta vindo em direção a elas com seu pote de sorvete de baunilha.

"Oi." Ele sinalizou para Rachel antes de sentar na cadeira desocupada a frente delas sem pedir permissão.

Quinn os apresentou rapidamente e a morena se sentiu vagamente irritada com a presença do garoto, afinal, aquela tarde era para ser delas duas apenas (as aulas estavam se tornando cada vez mais puxadas e elas já não tinham mais tanto tempo juntas como antigamente). Ela também não gostava do modo como ele olhava para sua amiga, nem do sorriso que ela oferecia para ele.

Ela sentiu seu estomago cair quando percebeu que estava sentindo ciúmes.

Desde quando ela sentia ciúmes de Quinn?

Rachel era possessiva e tinha plena consciência disso, mas ela nunca havia sentido ciúmes como aquele antes. Ela se sentia um pouco deslocada quando via sua amiga conversando com outras pessoas, mas normalmente não demorava muito até que se enturmasse e entrasse na conversa também.

Dessa vez era diferente. Ela não sentia a menor vontade de conversar com Sam. Na verdade, ela tinha vontade de pegar as mãos de sua amiga para que ela não pudesse mais falar com ele.

Ela percebeu que Sam se atrapalhava em alguns sinais e bufou e sorriu. Ele claramente não era inteligente o suficiente para sua Quinn. Então o sorriso desapareceu e ela cobriu o rosto com as mãos, perdida em sentimentos que não conseguia interpretar.

Uma mão morna apertou sua coxa suavemente e ela levantou os olhos, encontrando um redemoinho de preocupação verde e dourado.

"Tudo bem?" Pediu Quinn, apertando sua perna mais uma vez.

Rachel fez que sim com a cabeça, super consciente da mão da loira contra sua pele. Ela respirou com nariz, pensando que seu amigo Kurt talvez tivesse razão, ela precisava mesmo arrumar um namorado.

...


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam do passar dos anos? Ficou coerente?

Proximo capítulo, Sectionals (vocês lembram da primeira competição do Glee?), alguns Gleeks, breve momento pânico quando elas percebem o que realmente querem and also angels.. ;)

Comentários pelo capítulo final!

Abraços, A.