Amor E Caos... escrita por Bel Russeal


Capítulo 10
Eu não consigo te odiar.


Notas iniciais do capítulo

Oiii!
Desculpa pela demora, mas acho que esse capitulo bem grandinho vai recompensar.
Gente fiz um trailler para a fic:
https://www.youtube.com/watch?v=WiPxLVrNX0w



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Três dias depois, estava na hora de aparecer no colégio, uma entrada na faculdade precisava de estudos e faltar dias na escola não ajudaria em nada.

_ Finalmente, decidiu ir à escola hoje? – Cezar disse surpreso a me ver descendo a escada, depois deu um gole em seu café de aroma tão forte que me causava náuseas;

_Sim, ainda preciso dela para entrar em uma faculdade.

_ Um objetivo para o futuro, isso já me deixa contente e aliviado, pensei que se trancaria naquele quarto pelo resto da vida.

_ Mamãe ligou ?

_ Sim, suas ligações estão mais comuns, acho que ela esta preocupada com você.

_ Ou então está brigando com o Billy e já pensa em divorcio e quer uma filha para preencher o vazio. – Disse passando manteiga em um pão, não demonstrando tanta importância aos recados de Cezar, mas eles importavam muito.

_Acho que na verdade, depois da briga de você, ela se arrependeu e tenta participar mais da sua vida mesmo longe.

_ Pobre Cezar, não conhece nada sobre Lucia Lorenzzi. Me convença disso quando ela largar todas as sua roupas de grifes e câmeras para uma única visita.

_ Quando vai parar de me chamar de Cezar e me chamar de pai? – ele disse irritado.

_ Desculpe, mas durante um tempo não tive um pai, então deve demorar mais um pouco para me acostumar a ter um. – Peguei minha mochila ignorando qualquer replica que Cezar pudesse dar e aquilo virasse uma DR e fui à escola.

...

Tudo na escola parecia igual, mas fiz como o primeiro dia de aula, encostei-me à boa e velha árvore gigante e me sentei no gramado do campus, abri um dos meus livros e coloquei o cabelo na frente o suficiente para não mostrar o meu rosto cheios de olheiras. As minhas noites mal dormidas estavam acabando comigo, toda noite tinha o sonho ruim, o dia fatídico se repetindo várias vezes em várias noites.

_O que aconteceu , garota? – Gabe disse sentando ao meu lado.

_ Nada.

_Sumiu durante esses três dias.

_ Estava cansada. Hm.. ah , quais são as novidades?

_Caio e Antenor já se falam, mas ainda não são amigos como antes; teve alguns testes que você perdeu, mas como é inteligente sei que vai recuperar; e falando em teste alguém deu um trote em Melanie e deu um gabarito de cola errada, ela tirou zero e como conseqüência saiu das lideres de torcidas.

Fiquei impressionada como tanta coisa aconteceu em três dias e como Gabe sabia reportar tudo aquilo como um telejornal.

_ Espera, vai devagar. – Disse surpresa. – Quer dizer que Melanie não vai mais fazer parte da dança do acasalamento que elas fazem antes dos jogos?

_ Não! – Gabe disse gargalhando.

_Quem será que fez o trote?

_ Com certeza foi Dinho, deve ser a vingança por ela ajudar o Toni, estou ansiosa pela vingança que com certeza ele deve ta armando para Antenor também.

_Dinho é vingativo assim?

_ São minhas suposições, mas acho que elas fazem sentido.

Avaliando as suposições de Gabe, acho que ela estava correta. E Melanie devia está em uma situação divertida, vestir aquela minisaia era tudo para ela, eu até sentia pena... Não, eu não sentia.

_ Eu juro que não fui eu, Mel. Avalia a história não faz sentido. – A voz de Antenor ecoava ali perto e avistei o garoto conversando com Melanie que parecia irritada.

_Mas o gabarito veio do seu e-mail.

_ O Dinho armou isso e se você fosse esperta saberia que não armei esse trote e nem que teria um gabarito do teste de matemática.

_ Ta me chamando de burra? – Mel arqueou as sombracelhas.

_ Tecnicamente, sim. – Antenor tentava não rir, enquanto eu e Gabe ríamos muito.

_ Eu não sou burra.

_ Então, porque acha que não foi Dinho ?

_ Porque perguntei e ele disse que nunca faria isso com a líder de torcida mais linda da escola, ele é caidinho por mim.- Mel contava feliz e ingênua e Antenor soltou a gargalhada.

_ Realmente, inteligência não é seu forte. Eu desisto de tentar te convencer. –Toni disse entrando para o prédio da escola.

_Antenor, vollta aqui. O que você quis dizer com isso ? – Mel dizia atrás de Toni.

_ É que o único neurônio que ela tem dormiu. – Gabe e eu, dissemos em coro e gargalhávamos.

...

Narração Antenor:

Na escola, a primeira coisa que notei era que depois de alguns dias faltando a marrentinha do sul tinha ido à escola. Ela estava como no primeiro dia de aula, cabelos cobrindo o rosto e concentrada no livro, não entendi. Não parecia mais a garota que me desafiou e me deu um chute no saco a uma semana, ela havia se fechado novamente.

Abri o meu armário e peguei os livros necessários, o fechei de novo, ainda mantia meu olhar nela, distraída encostada na frente do seu armário tinha sua atenção em um livro como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.

_ Ei Toni, tudo bem? – Peter chegou dando batidinhas no meu ombro.

_ Tudo na perfeita ordem.

_ Ta sabendo do trote de Dinho na Mel ?

_ To sim e há boatos que os próximos somos nós. – Disse rindo.

_Estou com tanto medo disso. – Peter disse irônico e entrando na sala comigo.

A aula de matemática se deu inicio, Peter desenhava em seu caderno, enquanto eu realizava os cálculos propostos no quadro, eu me dava bem com a matemática, ao contrario de outros:

_ Professora, pode refazer esse calculo? Eu não entendi. – disse Melanie na cadeira do meio.

_Isso é quase obvio! – Gabriele exclamou.

_ O que o calculo? – Mel perguntou.

_ Não, você não ter entendido. – Gabe disse e a maioria da turma riu.

_ Ta me chamando de burra? – Mel disse irritada e aquilo eu ouvia pela segunda vez no dia, mas ele devia repetir muito mais.

_ Claro que não. – Gabe disse irônica.

_ Ah ta, pensei que estava, quase fiquei irritada com você. – Mel disse em alivio com sua santa inocência e todos riram de novo.

_ Silêncio, pessoal. Vou explicar de novo para quem não entendeu , por favor, prestem atenção dessa vez. Não é mesmo Samantha? – A professora disse esperando a atenção de Sam que estava no mundo da lua.

_Sam ?

_ Ah, oi professora! – Ela disse distraída.

_ Presta atenção, ok ?

_ Sim!

...

Na hora do intervalo, aproveitei para ligar para meu novo advogado Luís Garcia, eu não confiava muito nele por ser pai de Dinho, mas era o único capaz de conseguir o apartamento deixado de herança para mim, antes dos 20 anos, pelo menos é o que eu espero.

Tudo no caso continuava igual e teria a resposta em breve. Sentei um pouco cansado na escada do colégio, havia dormido tarde. Mel então passou na minha frente com as amigas acenei para ela e a mesma virou a cara, Mel pensa que foi eu que fez o trote do gabarito falso com ela, minha suspeita é de Dinho, ele deu o troco nela por ter me ajudado, mas ele conseguiu inverter a situação e a fez pensar que foi eu.

_ Como esta se sentindo depois de levar seu primeiro fora? – Caio disse rindo da cena com Mel e sentou ao meu lado.

_ Tecnicamente, esse não foi o meu primeiro fora. – Disse lembrando da cena da marrentinha do sul me deixando ao chão do estacionamento depois de tentar beijá-la.

_Mas isso é um tanto raro. – Caio continuava rindo.

_Ela pensa que eu fiz o trote.

_ Você e Peter são os reis dos trotes, é comum vocês levarem a culpa.

_ Mas nesse caso é meio obvio que foi o Dinho.

_ Mel não entende obvio, na verdade, ela não entende quase nada! – Caio disse rindo.

...

Aula de biologia no laboratório, me sobrou de Dupla uma garota chamada Caroline Dick, uma garota ruiva e com muitas sarnas no rosto, lembro que no ano retrasado, Peter e eu pregamos um trote nela. Colocamos pó de mico na roupa de educação física dela, tudo porque ela nos dedurou para o diretor que levamos bebidas na festa cultural da escola.

_ Com as suas duplas formadas, quero que comecem o experimento. – O professo anunciou e os olhos cheios de insatisfação de Caroline pairavam sobre mim.

_ Sei que não sou o melhor parceiro de laboratório, mas...

_ Não é mesmo! – Ela disse rapidamente antes que eu concluísse a minha fala.

_Vou tentar não te atrapalhar. – Disse baixo a ela.

_ Você tem que participar também, se não, não vai aprender. Assim não vai ter nota. E eu não sou injusta de deixar minha raiva por você lhe prejudicar. – Ela disse me surpreendendo e me ensinando o assunto.

...

Biblioteca, acho que era um lugar que não visitava muito, mesmo estudando a um bom tempo aqui. Mas Caroline me indicou um livro e precisava dele. Quando entrei de imediato todos os CDFs ali me olharam surpresos.

Passei rapidamente e fui em direção a secretaria da biblioteca:

_ Pode me dizer onde consigo esse livro?

_Sim, posso pegar para você, só um minuto.

Ela saiu e a perdi de vista em meio a tantas prateleiras, me lembrei do dia que empilhei vários livros ali com Sam. Ouvi alguns passos vindos atrás de mim e supôs que era a secretária:

_Então, achou o livro? – Disse virando e encontrando Samantha, em vez disso.

_Não sei de livro. – Sam disse colocando alguns livros no balcão.

_Achei que era...

_Aqui esta o livro. – A secretaria disse me entregando. – Agora assina aqui.

_Vim devolver esses livros. – Olhei todos os livros que Samantha devolvia eram muitos, não conseguia ler aqueles livros nem em um ano.

_Perdeu alguma coisa, bobão? – Samantha perguntou agora me observando e mascava um chiclete.

_ Não, nada; - Disse pegando o livro e sentando em uma das mesas por ali.

_ A biblioteca não é um lugar que os astros do colégio vem? Na verdade é um refugio dos anti sociais. – Samantha disse se sentando na minha frente.

_ Pode zoar, eu nem ligo.

_Isso daria um ótimo documentário para aula de teatro que tenho que fazer. “ Por que os populares não frequetam bibliotecas?” – Caroline Dick sentou ao lado de Sam que deu risada.

_Porque acham que sua beleza e o incrível talento de jogar futebol já são tudo na vida. – Um garoto com óculos fundos de garrafa disse se sentando na cabeceira da mesa, o nome dele se mal me lembro era Stiven Green , Peter o apelidava de libélula, lembro que Peter fazia muito trote com ele, mas eu dava um ajudinha e talvez seja por isso que ele fazia parte do compor contra mim naquela mesa.

_ Podem zoar, eu não me importo.

_ Porque você é tão idiota quando esta com os seus amigos e parece ser mais legal quando esta sozinho? – Stiven perguntou.

_ Não vai me achar legal se continuar a torrar minha paciência. – Disse sério e Stiven abraçou Caroline assustado e continuei sério, mas eu queria rir daquela cena, porque eu não queria e nem iria fazer nada contra ele, mas Samantha nada discreta gargalhava com a cena.

_ Você é um idiota e eu pensava que só era idiota só porque era o bambambã do colégio, mas você é um idiota mesmo. – Caroline disse.

_ Pegam leve, galera! – Caio apareceu advertindo.

_Quer ir pegar uma onda hoje a tarde ? – Convidei a Caio e ignorei Caroline e Stiven que logo mudaram de mesa e Sam ainda continuava ali, olhando alguns livros.

_ Claro!

_ Voltaram mesmo a ser amiguinhos ?- Sam disse com cara de nojo.

_ Isso te importa? – Perguntei e ela revirou os olhos e fechou o livro e olhou séria a Caio.

_ Você não percebe que ele é uma péssima pessoa, não é uma boa companhia.

_ Não se convença pelas idéias de Gabe, eu sei que vocês dois se odeiam, mas gosto dos dois, então não me coloque nesse entrave.

_ Tanto faz, mas quando quebrar a cara não chore que nem uma menininha. – Sam disse abrindo o livro de novo e Caio riu.

_ Você poderia vim também? – Caio disse.

_ O quê ?- Eu e ela dissemos em uníssono.

_Surfar? Acho que você não foi a praia de dia ainda não é ? – Caio convidava a Sam.

_ Não é uma boa idéia. – Ela disse.

_ Fora de cogitação, ela não vai. A marrentinha do sul pegando onda? Essa eu pagaria para ver.- Disse rindo e abrindo finalmente o livro de biologia nas minhas mãos.

_Esta duvidando que eu não sei surfar?

_ Claro que não sabe. – Afirmei.

_ Ta aí, agora eu vou.

_ Desculpe, Caio . Mas fala para sua amiga que você só convidou para ser educado eu não vou à praia com ela.

_ Às 15 horas eu passo na sua casa, Sam. – Caio disse.

_ O que? – indaguei e Sam riu.

_ Acho que vai ter que me aturar. – Ela disse sorrindo.

...

Narração Eduarda.

O sol brilhante e bem vivo no céu, típico da cidade, um dia perfeito para ir à praia. Isso me trazia lembranças dos meus 9 anos de idade de quando Lucy e Cezar ainda eram casados e meu irmão ainda vivo, todos domingos significavam praia, aquele era um dia sagrado da diversão em família que pouco me lembro de quando ainda éramos uma família.

A campainha tocou e ao abri a porta Caio estava lá com o seu sorriso que mostravam seus dentes extremamente certos e brancos, vestia uma bermuda, uma regata e segurava uma prancha de surf na mão.

_ Então, vamos lá? – Caio abordou

_ Ah sim... Cezar, já estou indo. – Disse batendo a porta e ouvindo a voz dele ecoar de dentro da casa “ Não volte tarde”.

_Cezar é seu pai ? – Caio perguntou, enquanto caminhávamos na calçada em direção a casa de Antenor.

_ Sim.

_ E por que não o chama de “pai”?

_ É complicado. – Caio deu um leve sorriso e entendeu que aquele assunto não era ideal para o momento e Antenor finalmente saiu da mansão, ele também segurava uma prancha.

_ Pensei que não era sério a parada de levar ela com a gente. – Antenor disse pegando a prancha das mãos de Caio e a prendeu em cima do carro junto com a dele.

_Achei que era uma boa idéia pra cultivar a paz entre vocês, para você ver que ela é lega e para ela ver que você não é tão idiota assim.

_ Impossível ! – Dissemos os dois juntos e nos encaramos.

_Então, mas agora vão ter que se aturar porque já estamos aqui. – Caio disse rindo.

_ Ou podemos deixar ela aqui. – Antenor disse entrando no carro e eu e Caio entramos em seguida.

...

Era um dia na semana, mas a praia ainda tinha um movimento. Deitei uma toalha pela areia e me sentei, enquanto os meninos surfavam, a brisa do mar levava os meus cabelos e a sensação era boa. A praia era linda, acho que era um único ponto positivo que encontrara naquela cidade depois da jardinagem com Jorge.

Antenor cobriu a linda visão da praia ao ficar na minha frente e sacudindo os cabelos de propósito para me molhar.

_ Para de se enxugar como um cachorro, pega uma toalha, idiota. – Disse jogando a toalha em sua cara e ele riu.

_ E então ? – Ele disse se enxugando agora com a toalha.

_ Então? E então o quê?

_Disse que sabia surfar e até agora só vi você aqui sentada. – Ele disse se sentando na areia um pouco ao meu lado e depois Caio chegou e logo lhe passei uma toalha também.

_ Me empresta sua prancha,Caio.

_ Ah claro.

_ E então, não vem ver de perto se ta duvidando tanto? – Disse levantando e segurando a prancha na direção de Antenor.

_ Quero ver você cair na primeira onda. – Ele levantou e entramos no mar.

Há muito tempo, eu não surfava, mas é como andar de bicicleta você nunca esquece. Eu não surfava na minha outra cidade, é claro, porque eu não queria congelar. Deitei na pracha e puxava a água com braçadas e ia em direção a uma onda, do meu lado, Antenor, com seu sorriso sarcástico no rosto achando que eu não conseguiria.

Então a onda veio, fiquei de pé sobre a prancha e consegui manter o equilíbrio, eu não me lembrava da sensação de liberdade que aquilo dava era tão boa. “O que? Eu não acredito” Ouvi Antenor dizer boquiaberto.

...

_ Eu me recuso acreditar no que os meu olhos viram. – Antenor disse ao sair da água juntamente comigo.

_Ela surfa melhor que você, cara. – Caio falava para Antenor.

_ Ah não exagera.

_ Eu vou comprar água de coco, alguém vai querer? – perguntei.

_ Eu quero. – Caio se pronunciou e Toni não fez muita questão.

Caminhei até o quiosque e pedi a água de coco e observava Caio e Toni de longe, apesar da briga eles pareciam bons amigos agora. A água de coco foi servida e Caio se aproximou e Antenor foi abordado por uma garota que pedia o número do celular dele e embalaram em uma conversa que parecia agradar os dois.

_ Por que tanto olha? – Caio disse me fazendo dar leves tossidos ao beber a água de coco.

_ Eu não to olhando. – Finalmente, consegui dizer.

_Parecia esta olhando os dois. – Ele disse rindo.

_ Eu não entendo o que ta insinuando. – Disse e Caio apenas riu e encerramos aquela conversa ali quando Toni chegou animado.

_Então, vamos embora? Tenho um encontro daqui a pouco não posso me atrasar. – Ele disse animado.

...

Ele estava calado e batia os dedos no volante de acordo com o ritmo da música, desde quando Caio saíra do carro nenhuma palavra foi declamada por nós dois. A cidade era pequena mais não se livrava de um pequeno engarrafamento na avenida principal, o sinal estava vermelho e Antenor ainda impaciente, batendo os dedos no volante e os olhos no relógio. O sol lindo que nos acompanhara por toda tarde já se despedia e me distraia com o CD de imagine dragons no som do carro, aparentemente tínhamos uma banda que gostávamos em comum. O sinal abriu e os carros a nossa frente foram dando caminho e Antenor deu a partida.

_ Ei, vá com calma! – cada pelo do meu corpo se arrepiou quando Antenor acelerou demais o carro.

_ Ah, esqueci do seu trauma com carros. - Ele desacelerou o carro e encontramos mais um engarrafamento logo à frente.

_Droga, mais carros! – Antenor estava insatisfeito e não tirava os olhos do relógio.

_ Como isso acontece nessa micro cidade? – Disse encostando minha cabeça na janela.

_ Desculpa, mas eu não posso me atrasar para o meu encontro.

Antenor levou o carro em direção ao encostamento e aquilo não era algo certo para se fazer, definitivamente aquele garoto havia enlouquecido.

_ Eu não to nem ai para o seu encontro, volte já para a rua e espere os carros. – Disse alto e Antenor riu.

_Nem pensar, você viu aquela garota na praia? Ela é linda e não posso perder esse encontro.

_ Ela é uma magrela ridícula e eu quero que dirija corretamente, já pensou se uma viatura aparece? Estamos ferrados.

_ Não vai aparecer nenhuma viatura. – Ele disse rindo, mas seu sorriso foi desmanchado pelo barulho de sirenes atrás de nós, olhei para trás e havia uma viatura nos seguindo, olhei novamente para Antenor.

_ Calada! – Ele disse irritado. – Ah eu não vou perder esse encontro. – Antenor ignorou o pedido para parar o carro e acelerou mais ainda.

_ O que ta fazendo?

_ Fugindo. – Ele acelerou mais o carro ainda pelo encostamento e a viatura nos seguia.

_Para já com isso. – Disse enfiando as unhas no banco do carro e fechando os olhos.

_Tem que superar esse trauma, garota. Vem cá, porque tem tanto medos de carros?

_Não tenho medo de carros, tenho medo das pessoas inconsequentes que o dirigem. – Gritei.

Saímos do encostamento e a curva que Toni fez foi tão cruzada que me fez arrepiar cada fio de cabelo do meu corpo, novamente.

_ Que droga esses caras não desistem. – Ele reclamou.

_Para agora, Antenor.

_ Eu, sinceramente, ainda não entendo esse seu medo de adrenalina em um carro. – Ele disse rindo e ainda manobrando o carro.

_Pessoas inconsequentes dirigem carro de forma errada, carros dirigidos de forma errada causam acidentes, acidentes causam a morte de pessoas, a morte de pessoas causam um sofrimento terrível. – Disse já sem ar e Antenor pousou seus olhos em mim e seus olhos azuis transmitiam algo que nunca vira em Antenor.

_ Antenor, olha pra frente. – Disse fechando os olhos.

Ouvi o barulho de pneus riscando no asfalto e o carro parou bruscamente, abri meus olhos e Antenor havia desviado do carro em nossa frente e dobrado para uma outra rua, longe das viaturas.

_ Você esta bem ? – Ele perguntou.

_ Me lembre de nunca mais pegar carona com você. – Disse retirando o cinto do carro e respirando fundo, abri a porta do carro e saí agradecendo muito por estar firme com os meus próprios pés em terra.

_ Desculpa, mas é que se eu recebesse mais uma multa, minha situação com o meu pai se tornaria em um caos total. – Antenor disse saindo do carro.

Observei ao redor, estávamos em uma rua deserta, havia uma linha de arvores paralelas a rua, e Toni estava parado ao meu lado me observando.

_ Você esta branca como um algodão, não vai vomitar, vai? – Ele mantia seus olhos ainda sobre mim.

Eu estava me recuperando do susto e a sensação que eu sentia era raiva, raiva por Antenor me colocar em uma situação que me fez sentir tudo novamente como no dia fatídico, como no dia que perdi o meu irmão, eu estava odiada, por que ele fez aquilo? Ele sabia que eu não gostava de carros dirigidos de forma errada, onde estava a sensibilidade daquele garoto? É claro, que não tinha sensibilidade, ele era Antenor Grayson, não se importava.

_ Eu te odeio, Antenor Grayson. Por que você não parou? – Disse cerrando os meus olhos e fechando minhas mãos tão fortes e distribuídos socos em Antenor.

_ Para com isso, garoto. – Ele se afastava para trás e eu ainda distribuía socos nele.

_ Você é um idiota, porque não parou? Podíamos ter morrido.

_ A gente não morreu... – Ele tentava se defender das minhas garras sobre ele.

_ Você podia ter evitado, idiota.

_ Chega. – Ele segurou os meus braços fortemente e em um descuido meu de tentar impedi-lo caímos sobre o asfalto duro, mas a minha queda foi amortecida pelo corpo de Antenor abaixo do meu.

_ Esta mais calma? – Ele gritou.- A gente não morreu, você ta viva, passou Sam. Supere, foi um susto, mas estamos bem. – Seus olhos azuis estavam concentrados nos meus e a raiva passou imediatamente ao ver a intensidade daqueles olhos.

_ Me desculpa, eu na vou mais dirigir de forma errada. – Ele disse passando a mão sobre o meu rosto e enxugou minhas lágrimas.

_ Você é tão forte e decidida, eu admiro isso, mas eu adoro também quando desmonta toda a armadura e deixa seu lado frágil aparecer.

O que Antenor estava dizendo? Por que ele estava dizendo aquilo? Eu odiava demonstrar o meu lado frágil, mas ele era o único que tinha visto ele, além do meu irmão, por que logo Toni?

_ Eu tenho uma raiva de você, garota, uma raiva por ser tão mandona e o seu jeito de me desafiar. Eu odeio quando empina seu nariz, me atormenta e quando quer ser a dona da razão, mas quando você desmonta e fica assim frágil – Ele passou a mão em meu rosto e colocou os meus cabelos atrás de minha orelha e acariciou minha face - Eu não consigo te odiar, quando fica assim. E é justamente por não conseguir te odiar, que eu te odeio.

Não consegui dizer nada, Antenor Grayson me falando tudo aquilo, porque ele não conseguia odiar o meu lado frágil? Aquilo não fazia sentindo, no mínimo ele tinha que ta zombando com o meu lado frágil, mas não ele estava dizendo tudo aquilo e eu não conseguia dizer nada. Mas eu não precisava dizer nada, porque eu só precisava uma coisa e eu fiz, eu o beijei ignorando toda repulsa que eu pensava que tinha por ele.

Eu o beijei, e a sensação de seus lábios no meu, era a mesma do dia em minha casa, o mesmo choque elétrico, talvez mais intenso agora, seu corpo debaixo do meu, colado com o meu e sua mão em minha cintura me puxando mais para ele, como se aquilo fosse possível. Estávamos no meio da rua deserta, dando o beijo mais intenso de toda a minha vida.


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Notas finais do capítulo

Prometo que tentarei fazer o próximo o mais breve possível!
Deixem comentários por favor, quero saber o que estão achando e ver a perspectiva de vocês sobre a história.



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