Absence escrita por Thalita Moraes


Capítulo 55
Capítulo 55


Notas iniciais do capítulo

E se o capítulo de hoje não continuar de onde parou?
Mwahahaha!



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A pena movia-se rapidamente sob as páginas amarelas, a tinta preta foi buscada mais uma vez. Então ela parou. E moveu-se de novo. As palavras escritas em latim foram surgindo uma por uma no seu livro de capa dura, o espaço de tempo entre cada uma ia ficando cada vez maior. Até que as palavras deixaram de se escrever.

Ele largara a pena ao seu lado. Suas mãos tocaram seus olhos, pressionando os cantos internos para evitar as lágrimas de caírem nas páginas. Prevendo que não ia conseguir evitar que elas caíssem, podia ao menos evitar que caíssem nas páginas do livro. Ele, então, fechou o livro e chorou em cima da capa de couro. De novo.

Maki Colban não conseguiria continuar. Ele sabia disso agora. Por mais que quisesse trazer sua amada de volta, ele não estava disposto a fazer a troca. Tudo o que ele poderia fazer, então, seria deixar uma carta para seu filho com a esperança de que ele nunca tocasse naquele livro. O maior erro de sua vida era aquele livro.

"Zafron, me perdoe. Eu não posso fazer mais nada, não tenho poder para tanto. Sei que prometi, mas não posso trazer sua mãe de volta. Sei que me odeia e, provavelmente, agora você deve me odiar mais ainda.

"Eu não vou voltar.

"Eu só espero que você não siga os meus passos. Estarei te cuidando de longe, apenas esperando que você não se torne como seu velho."

Maki, então, escondeu o livro entre seus pertences pessoais, ao meio de suas caixas. Não era o melhor lugar para se esconder um livro daquela grossura e importância, mas sabia que Zafron não ia mexer nas coisas de seu pai. Então, simplesmente saiu.

Os desejos de Maki foram sinceros, no entanto, nunca cumpridos. Somente depois de ter passado pela terceira cidade que lhe caiu a ficha de que talvez deveria ter queimado o livro ou levado consigo, mas ele era muito orgulhoso para destruir o seu trabalho. E era muito mais perigoso levar consigo. Mas era tarde demais, porque nessa época, Zafron encontrou o tal livro.

Riu da carta de seu pai e não deu importância ao livro, riu mais ainda do que estava escrito ali. Ele era muito novo para entender o que era magia. Jogou noutro canto de sua casa e o ignorou por um belo tempo.

Até o dia em que voltou chorando, com as mãos banhadas em sangue. Nunca sentiu tanta culpa em toda sua vida. Sentiu mais tristeza do que no dia em que perdera sua mãe. Quebrou todos os espelhos que estavam ao seu alcance, odiando o que via. O que tinha se tornado. Tinha matado-a, da mesma forma que seu pai matou sua mãe. A reação de seu pai também tinha sido a mesma.

Então, lembrou-se do livro que seu pai deixara, lembrara-se do nome ridículo que ele dera. Agora fazia sentido. Correra por toda a casa, revirando tudo o que via pela frente apenas para encontrar o livro. E quando achou, leu a receita, dessa vez com outros olhos. Com os olhos de alguém que perdera alguém amado. Jurou a si mesmo que ia trazê-la de volta.

Nem que isso significasse matar alguém.

***

A magia estava incompleta. Pelos anos seguintes, Zafron fez o que pôde para aprender magia e para desvendar seus truques. Desenvolvera algumas, nenhuma tão poderosa quanto as que seu pai escrevera.

Ele não tinha metade do talento que precisava para realizar tais magias. No entanto, ele conhecia alguém que tinha.

—Eu estou pensando em montar uma guilda.

Imediatamente, a frase gerou risos por parte de Yoshiaki e Haruta, os dois amigos de Zafron antes de tudo começar.

—Você? — Haruta disse, não conseguindo segurar a risada. Ele não costumava ser tão branco, ao contrário, sua pele morena entrava em contraste com seus olhos claros. Seu cabelo preto curto brilhava no sol enquanto ria. — Você não sabe nem o que é magia! Como prentende montar uma guilda?

—Para sua informação, eu sei o que é magia. Eu ando estudando. — Ele se defendeu.

—Mas o que te fez querer fazer isso? — Yoshiaki perguntou, um tanto interessado. Ele sabia usar magia, não o suficiente para ser chamado de mago, mas ele sabia uns truques aqui e ali.

Zafron ficara quieto, não respondera à pergunta. Ele não queria trazer à tona a morte de Sumiko, eles nem sabiam quem ela era. O relacionamento dos dois tinha sido curto demais para se apresentarem aos amigos, no entanto, foi longo o suficiente para fazê-lo amá-la daquela forma.

—Não sei se você percebeu, Yoshiaki reformulou a pergunta — Mas nenhum de nós pode ser chamado de magos. Não sabemos nenhuma magia. Como pretende que...

—Eu ensino a vocês. — Zafron respondeu prontamente. — Eu encontrei um livro interessante. Mas precisa de usuários com grande capacidade mágica. Eu não sou tão poderoso quanto vocês.

O que era uma verdade, mas também uma mentira. Zafron era tão poderoso quanto os dois, mas não queria testar aquelas magias em si mesmo.

—Então, estão dentro?

Tanto Yoshiaki quanto Haruta jamais esqueceriam-se daquilo, o momento do qual se arrependem até hoje.

—Porque não?

***

E aquela era apenas uma das cenas que não lhes saia da cabeça. A outra era uma imagem pior ainda, uma cena da qual ambos tinham pesadelos.

Haruta gritava de dor, a luz do sol queimava sua pele, literalmente. Sua pele morena descascara feito uma cobra, caindo por inteira, em parte chegando até seu músculo. O grito dele era algo que Yoshiaki jamais esqueceria. A dor também se tornou inesquecível para Haruta, uma vez que o processo de descascamento ocorria a cada vez que a luz do sol tocava sua pele.

Yoshiaki o cobriu com sua camisa, enquanto Haruta tremia de calor e frio.

—O que está fazendo? — Zafron disse sem se deixar sentir pena pelo que tinha feito. — Deixe-o!

—Não está vendo que ele está sofrendo? — Yoshiaki tentou defender o amigo. Zafron tinha se tornado irreconhecível. Não era o mesmo amigo que uma vez o convidara para formar uma guilda.

—Eu disse para você largá-lo! — Zafron disse, a irritação em sua voz maior do que antes, seus olhos dando medo em Yoshiaki. Inconscientemente, não porque queria, Yoshiaki soltou Haruta enquanto encarava os olhos de Zafron. Aquela tinha sido a primeira vez que seus olhos se tornaram vermelhos.

Aquele tinha sido o dia em que seu coração encheu-se de trevas, quase se esquecendo do seu propósito original.

Trazer sua amada de volta

*

*

*

Instância Para O Regresso Da Alma Perdida

Para chamar uma alma de volta, é primeiro necessário que esteja disposto a entregar outra em seu lugar.

O corpo não poderá ser trazido de volta. A carne apodrecerá, somente os ossos restarão. De onde viemos, voltaremos.

As almas trocarão de lugar, o corpo que escolher será aonde a alma viverá. Escolha com cuidado. Não poderá trocar futuramente.

É necessário que o escolhido saiba usar magia.

Junte as doze chaves douradas usada pelos magos celestiais. Quando invocados através da sequência correta de palavras, os espíritos serão coagidos a agir como ordenado.


Magister amet, ad ostendendam viam. Ut pro vobis*


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Notas finais do capítulo

*Chave mestra, mostre o caminho de volta. Leve para ti

Simplesmente, joguei no google translator, palavra por palavra. A frase inteira dá um resultado diferente. Não me pergunte porquê.