A guilda inteira permaneceu em puro silêncio, não conversando mais em voz normal, e sim em burburinhos e murmúrios. Por mais que Erza tentasse falar com Natsu, por mais que Lisanna mostrasse para ele suas lágrimas, Natsu ficou em silêncio, estático. Ele ficou em estado de choque nesses minutos. Não só por causa da visão do corpo mole de Lucy nos braços de Gajeel, mas também por causa do olhar de Gajeel de quando ele passara pela guilda em direção à enfermaria. 

Um olhar de puro ódio. 

Talvez tivesse mais alguma coisa naquele olhar de Gajeel, mas a única coisa que Natsu vira em seu olhar foi ódio. Tanto que, quando tentou avançar na direção de Lucy, Gajeel rosnou em aviso. Nem mesmo quando Gajeel pertencera à Phantom Lord ele mostrara esse olhar para Natsu ou qualquer outra pessoa. 

Mas já tinha passado meia hora. 

—O que você acha que deve ter acontecido com ela? — Perguntou Lisanna, com seus olhos inchados já secos, e uma preocupação genuína em sua voz. "É culpa minha." Ela pensou, convencida. 

Como se esses pensamentos não estivessem passando na mente de Natsu. Não só Natsu, mas de todos na guilda. Resultado de um reflexo involuntário, mesmo que eles não estivessem procurando culpados, eles sabiam quem era o culpado. O verdadeiro culpado. 

Natsu sabia quem era. Ele batia a perna debaixo da mesa, nervoso, enquanto esperava Wendy sair da porta. 

Até que não aguentou mais e levantou-se, rosnando. Andou decidido até a porta, com passos largos e pesados. 

—C...Chotto¹, Natsu! — Lisanna disse, tentando pará-lo. — A Wendy pediu que a gente esperasse aq...

Antes que Lisanna pudesse terminar a frase, Gajeel aparecera na porta, indo ao encontro de Natsu que deu um pulo para trás. 

-Como ela está? - Perguntou Natsu, preocupado e irritado. Mais irritado do que preocupado. Ele estava irritado com o fato de que Lucy voltara machucada, e, pior ainda, nos braços de Gajeel. Ele estava irritado porque, se Gajeel estava lá, porque Lucy voltara machucada daquela forma? Ele estava irritado porque sua Nakama não a chamou para ir na missão com ela. Ele estava irritado por muitas coisas, inumeráveis. 

Mas, Gajeel estava mais irritado ainda. Muito mais irritado e por motivos mais fortes do que os dele. Por isso, Gajeel ignorou-o. Nem olhara para ele, ignorou-o enquanto andava novamente em direções aos portões da Fairy Tail. 

Natsu não aguentou. Ele nunca foi calmo o suficiente para ignorar isso, para começo de conversa. 

-GAJEEL!

Gajeel parou, já à alguns metros dele, e deu uma espiada pelo canto de olho, não se dando ao luxo de virar-se de frente ao Dragon Slayer. 

-Porque você estava com ela? - Não era essa a pergunta que Natsu queria fazer à Gajeel, mas foi essa que saiu, e, sinceramente, ele também queria a resposta dessa pergunta.

-Porque se não fosse por mim, - Gajeel começou. Sua voz, grossa e brava. Ele falou, odiando cada palavra, como se ele estivesse repetindo essa mesma frase em sua cabeça há muito tempo, apenas esperando pelo momento em que Natsu perguntasse isso para ele. Gajeel sabia que quem perguntaria isso seria Natsu. Gajeel virou a cara para frente, não querendo olhar em nenhum dos olhos daquela guilda traiçoeira. - Ela teria morrido.

Dito isso, deixando um Natsu enraivecido para trás, Gajeel sai, atravessando mais uma vez as portas de Fairy Tail. Dessa vez, um pouco mais aliviado.

Um pouco depois disso, Wendy sai da enfermaria anunciando:

-Ela está melhor agora. 

Exatamente as palavras que Natsu queria ouvir. Ele se enfiou entre Wendy e a porta e correu em direção à Lucy. Wendy virara para ele e avisara:

-Ela está inconsciente. - Wendy gritou para Natsu, porém ele não a ouviu. Wendy sabia disso. Ele não ouviria ninguém até ver Lucy.