Oito Semanas

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As memórias não foram selecionadas. Também não foram aleatórias. Naquele momento de profundo desespero e medo, o mago parecer ter retirado aquelas memórias do fundo do baú. E para a sorte dela — se você olhar isso de uma maneira otimista — tinha recuperado justamente as memórias que ela queria se lembrar.

As memórias das oito semanas que passara fora de Fairy Tail.

Essa seria a época, assim como dizia para si mesma, em que se apaixonara por Gajeel.

“Será que Natsu não vai sentir sua falta?”

Lucy pensava nas palavras de Mirajane enquanto olhava a janela do trem sem realmente prestar atenção. Seu ombro espremido contra a janela, seus olhos castanhos tristes voltados para o vidro. Poderia se a cena perfeita de um filme dramática se o sol estivesse coberto por nuvens grossas e escuras. Mas como o tempo nunca ia de acordo com os sentimentos de Lucy, o sol estava brilhante e forte no meio do céu, radiando com toda sua força.

Oh, Mirajane.. Se ao menos fosse verdade...

Se Natsu tivesse dado a atenção que Lucy tanto desejava, ela não estaria fugindo agora.

Ela estava fugindo, não estava?

Enquanto olhava para o nada, num trem que ficava cada vez mais e mais longe da Fairy Tail, a guilda que ela tão firmemente chamava de família. Como ela podia fugir da família? Pela segunda vez?

Ela tentou desviar seus pensamentos daquilo mais uma vez, mas a imagem do cabelo rosado não saia de sua mente.

Lucy desceu do trem, ainda pensando nele.

E sem perceber, enquanto ainda pensava nele, chegou até a vila sem nem prestar atenção por onde andara. Então, pela primeira vez naquele dia, Lucy observara com a mente limpa, sem nenhum pensamento. Incluindo os do rosado. Lucy notara o sol próximo do horizonte, quase se pondo, a luz laranja sobre as casas dispostas ao redor de algo parecido à uma rotatória, com uma grande árvore no meio. Pequenas ramificações emergiam do que seria um parque logo à sua frente.

O que mais a preocupava era o sol próximo da linha do horizonte. Ela demorou mais que o esperado para chegar ali.

Mas logo o rosado voltara à sua mente. E assim, encontrou-se com sua cliente, ainda pensando nele.

E enquanto pensava nele, no momento em que saia da casa de sua cliente, tentando se lembrar do que ela acabara de dizer, ainda tentando desligar sua mente dele e voltar seus pensamentos ao trabalho, uma voz conhecida a chamara.

— Lucy?

Para seu próprio espanto, e também para seu alívio, a voz pertencia a um rosto quadrado, olhos de gato, nariz arrebitado e rugas tão leves como o amassado em sua roupa.

— Spetto-san? — O canto dos lábios de Lucy ergueram-se ao ver aquele rosto tão conhecido, tão visto no passado… Quase esquecido… Quase que imediatamente, Lucy se jogou nos braços dela para um abraço do qual ambas não quiseram sair. — Mas porque você está aqui?

— Eu poderia dizer a mesma coisa para você. Eu estou de volta para o lugar de onde eu vim.

— Você nasceu aqui?

— Pode se dizer que sim. — Spetto-san pôde ver a confusão nos olhos de Lucy, então pôs-se a explicar. — Depois da falência do seu pai, cada um de nós espalhou-se e foi para lugares diferentes. Eu voltei para o vilarejo onde fui criada. — Spetto olhou para baixo e pegou a mão direita de Lucy. — E você, na Fairy Tail?

Lucy riu sem graça, passando a outra mão na cabeça.

— Oh, céus, minha Lucy. Temos tanta coisa para conversar...