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“Desculpe”.

Essas palavras ditas num tom melancólico, usadas como trilha sonora para um plano de fundo preto despertaram as memórias no fundo da gaveta. Lucy tinha certeza. Aquela era a voz do seu herói, do seu salvador. Daquele que a tirou do fogo. Encontrada a resposta para uma pergunta, a próxima a ser feita era: “Porque ele está me levando daqui?”

Mas, para o próprio infortúnio de Lucy, essa pergunta seria logo respondida.

Quando Lisanna acordou, ela viu a si mesma presa numa jaula como um animal. Como uma prisão, tinha apenas um lugar de onde vinha a luz, através das barras de metal, do outro lado da sala, onde dois homens se encontravam ao lado do corpo desacordado de Lucy. Eles não se importavam com ela, provavelmente mal lembravam que ela estava ali, presa. Lisanna sacou que o objetivo deles era Lucy, e sua presença os atrapalhava. Para sair dali era fácil. Bastava Lisanna assumir a forma de um rato ou algum bicho pequeno e passar por entre as barras. Mas ela estava curiosa e queria ouvir a discussão dos dois, queria saber o que estava acontecendo.

Um deles, era o tão chamado “herói” da Lucy. Yoshiaki. Ele tinha o rosto triangular e culpados olhos cor de mel. Ele parecia estar sempre olhando para baixo, para o corpo de Lucy. Por um segundo, Lisanna achou que Lucy tinha morrido e, se esse fosse o caso, ela sairia da jaula num instante e pegaria Lucy para tentar escapar dos dois. Mas, para seu alívio, Lucy logo mexeu-se e levantou-se, sentando na frente dos dois.

O outro homem era aquele com quem Lisanna mais se preocupava. Ele tinha um sorriso maligno e olhos vermelhos. Uma grande cicatriz lhe cortava o pescoço na metade. Ele parecia se divertir com tudo aquilo. Ele parecia contente.

Quando Lucy acordou, ela paralisou.

Ver aqueles dois rostos familiares despertara lembranças desagradáveis. Despertara uma dor lancinante em sua perna. E, por um mísero segundo, ela soube do nome dele antes mesmo de ele se apresentar.

— Ora, essa. Veja quem acordou! — O mago disse, alegre. Ela estava viva, afinal. — Como estava a soneca, Bela Adormecida?

Lucy engoliu em seco, não conseguindo dizer nada. Um nó desceu em sua garganta, ela queria gritar, mas não conseguia produzir nenhum tipo de som.

— Dane-se sua soneca. Você não tem alguma coisa a me dizer? — O mago disse enquanto o sorriso de seu rosto desaparecia.

Lucy balançou a cabeça negativamente. Ela não conseguia se lembrar dele. Sabia que era perigoso, sabia do medo que sentia dele, mas não sabia porque.

O mago percebeu algo nos olhos dela.

— Não me diga que você não se lembra de mim.

Lucy acenou negativamente com a cabeça, novamente. O sorriso maligno voltou-se ao seu rosto, dessa vez maior que antes.

— Então, você também deve ter se esquecido da promessa que fez para mim. — Ele disse lentamente, deliciando-se com cada palavra. — Você me prometeu, jurou, que na próxima vez que nós no encontrássemos, você ia entrar na minha guilda.

E ali... Naquele momento de espanto da Lisanna e em meio à paralisia de medo de Lucy, ela riu. Mesmo sabendo que morreria se risse, ela riu. Ela riu da promessa que sabia que nunca tinha feito.

— Eu? Sair da Fairy Tail? — Ela disse, zombando de cada palavra. O sorriso do mago sumiu naquele instante, transformando seu rosto em puro desgosto. Ele estava com raiva. Não tinha conseguido. — Mentira, não me faça rir. Eu nunca sairia da Fairy Tail. Eu preferiria ser queimada viva a deixar minha família.

Acho que você não gostaria de estar na pele da Lucy naquele momento.

O mago ficou nervoso. Irritado. Bravo. Mil emoções passaram por ele naquele momento. Ele desejou, por um segundo, mas desejou, que Lucy estivesse morta por ter dito aquilo. Família, família... Mesmo que tenha perdido a memória, a personalidade ainda se mantinha ali. Firme e forte. Tanto que ela respondeu da mesma forma, no mesmo tom que respondera da mesma vez. Deixando o mago super bravo.

— Tsc... — Ele suspirou, tendo que resolver as coisas no seu plano original. — Família, família... É só nisso que você sabe falar? — Ele disse, provocando Lucy que se mantinha convicta, firme no que acreditava. — Chega. Eu cansei disso. O tempo já está acabando mesmo. Não é como se você fosse mudar de ideia em dois dias. Cansei de jogar o negociador. — Ele disse, passando a mão no cabelo, puxando-o para trás, enquanto fechava os olhos. — Se você não vai entrar na minha guilda por bem... — Ele disse, colocando a mão com a palma aberta em direção da testa da Lucy. — Vai por mal.

Algo brilhou dentro da mente da Lucy. Ele puxou violentamente todas as memórias escondidas ali, por todo aquele tempo.

E naquele gesto, sua mão na testa de Lucy, ele a fez se lembrar de tudo o que aconteceu naquelas oito semanas, somente para fazê-la esquecer-se tudo de novo.