Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 9
Despreocupar


Notas iniciais do capítulo

OE! Aqui vai o maior capítulo de todos, e o maior que já escrevi, porque senti que viria muito vazio se não viesse completo.

Início, com Ju e Lia
http://www.youtube.com/watch?v=uvrae89lEzk

A música da Tatá
http://www.youtube.com/watch?v=eqLq_VbbtJ8

Espero que gostem! Eu dancei junto e tudo hahaha



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Lorenzo estava desconfortável há algum tempo e a útima informação foi a gota d'água. Era a primeira vez que lhe era contado o que havia passado na fuga de sua filha com o, na época, namorado. Ainda que tivesse se preocupado durante todo o período, angustiado por saber o que acontecia com sua filha, certos detalhes eram dispensáveis.

Juliana, que havia chegado durante o discurso de Dinho, tampouco estava amando escutar tudo aquilo. Claro, era uma linda declaração de Dinho e a primeira vez em que Ju ouvia falar do que realmente acontecera na fuga, mas ainda lhe era um assunto delicado. Estava bem com Lia. Havia ido visitá-la para oferecer ajuda com a matéria, levando ao apartamento para que a roqueira não precisasse voltar às aulas até estar se sentindo realmente bem, mas tocar em qualquer assunto da época em que brigaram por Dinho ainda doía. Havia superado. Vê-los no mesmo quarto não mais a angustiava como antes. Lembrar da época da fuga, no entanto... Ainda que sempre tivesse se perguntado sobre o que teria acontecido - e temesse a resposta-, não estava preparada. Por mais romântico que fosse, havia acontecido às suas custas.

– É... Eu acho melhor eu... - Ju gaguejou.

Percebendo o incômodo que havia causado ao tentar se justificar, Dinho olhou uma última vez para Lia e se retirou do quarto. No caminho, lançou a Juliana um sorriso desconfortável de desculpas. Lia sentiu o calafrio de sempre ao vê-lo se afastar.

– Você tá bem? - Ju perguntou calmamente à amiga, aproximando-se da cama.

Lorenzo inventou uma desculpa e saiu.

– Tem como estar? - Lia questionou com a voz trêmula. Sorriu meio torto, o que fez Ju rir.

– Você não precisa fingir nada, nós que temos que conseguir te fazer sorrir naturalmente.

– Talvez um abraço ajude. - A roqueira pediu, com um pequeno sorriso doce que Ju não via há anos.

– Não tem problema, Lia, eu juro que não vou lembrar disso amanhã.

A loira riu, dessa vez, de verdade e abraçou a amiga com mais força.

– Viu? É esse sorriso aí que eu quero ver. Não falei que era uma missão nossa? - A it-girl sorriu.

– Eu te amo, Ju.

– Eu sei, eu sei... Também não vou lembrar. As duas riram novamente.

– Por que você me entende tão bem? - Lia perguntou ingenuamente.

– Porque eu sou a sua melhor amiga. - Ju sorriu em resposta. - E, como sua melhor amiga, eu também trouxe brigadeiro!

Lia sorriu como uma criança e Ju posicionou a pequena panela sobra a cama, entre as duas. Em seguida, entre risos e colheiradas, ambas embarcaram em uma conversa sem fim sobre os dias que Lia havia perdido e qualquer outra coisa que lhes viesse à mente.

–x-

– Dinho? - Lorenzo chamou.

O garoto prontamente atendeu, ainda receoso na presença de Lorenzo.

– Eu queria te pedir desculpas pelas acusações de agora há pouco. Essa história toda... Mexeu muito comigo e-

– Tudo bem, dr Lorenzo, eu entendo. Eu errei bastante, já, e a situação deve estar sendo bem complicada pro senhor.

– Pode me chamar de você de novo, Dinho. Eu... Eu reconheço o seu esforço pelo bem da minha filha. Você tá praticamente morando aqui, sem sair por um segundo, e até no emprego já pediu pra trabalhar daqui e eu queria agradecer por isso. Eu não sei quanto tempo mais isso vai durar, mas, enfim, a gente agradece bastante.

– Eu só estou tentando consertar o que eu fiz. É uma dívida com vocês e comigo.

– Então assim que pagar a dívida você some de novo? - Lorenzo questionou acusador.

– Dr Lorenzo, eu vou lutar pela Lia. Se ela realmente não quiser me ver nunca mais, só então eu vou tentar sumir. E não prometo nada.

– Vai sonhando, Dinho. O Lorenzo vai sumir com você assim que a Lia não precisar mais. - Paulina apareceu na sala rindo. - Bom, estou vendo que a Lia já está um pouco mais alegre, então vou voltar pro meu apartamento. Boa noite, meu filho, Raquel, Tatá, Dinho.

Com isso, Paulina se retirou.

– Dinho, você vai mesmo ficar? - Tatá perguntou.

– Você vai ter que me aguentar, Tatá. - Dinho riu.

– Ai, que romântico! Você vai vigiar a Lia enquanto ela dorme, que nem o Edward?

– Edward? Que mané Edward, Tatá? Eu sou muito mais legal que aquele vampiro almofadinha! Você tá me trocando por aquela bichinha sem graça do Vitor? Eu não brilho, não, quem sua glitter é ele!

– Adriano, olha o respeito com o namorado da Lia! - Raquel censurou.

– E não fala assim do Edward! Eu só vou relevar porque é você.

– Você sentiu a minha falta, né, Tatá? Fala a verdade! - Dinho piscou, rindo, para a menina.

– É... Eu devo admitir que fez falta, sim. Só não deixa a Lia ouvir isso, que ela rasga o meu poster do Justin.

Dinho riu novamente. Tinha sentido falta da irmã caçula de sua ex-namorada.

Lorenzo auxiliava Raquel na cozinha, enquanto Dinho levantava Tatá nas costas e contava lendas africanas sobre monstros e animais selvagens.

– Dinho, larga a Tatá, vocês vão cair! Ela não tem mais seis anos! Aliás, ela tem o dobro! - Lorenzo ordenou, enquanto Raquel se divertia com a cena.

A mãe de Lia havia sentido mais falta de seu ex-genro do que pensara ter sentido.

–x-

– Ô, Lia... Eu sei que você não vai querer falar sobre isso, mas como tá sendo com o Dinho? - Ju perguntou receosa.

Lia parou por um instante, desconfortável.

– É estranho, Ju. - Respondeu depois de uma longa hesitação. - Por algum motivo eu só me sinto segura perto dele, como se o resto fosse uma ilusão, e eu só soubesse que tô a salvo quando ele segura a minha mão. Brega, eu sei, mas é assim.

– Ah, vai ver existe uma razão psicológica plausível pra isso. Sei lá, ele te salvou de um trauma, você sabe que nele pode confiar contra o... Contra Ele.

– É, o meu pai chamou um psicólogo, talvez ele também explique porque eu só me sinto segura com o Dinho por perto.

– Então ele vai ficar aqui?

– Sim, né, Ju, tem outro jeito? Se ele sair por aquela porta, eu não respondo por mim, acho.

– Iiiih... Ele deve estar adorando! - Ju riu.

– Para, Ju, não tem nada a ver. - Lia corrigiu incomodada.

–Não, imagina... Nada a ver, mesmo. Ele só vai dormir aqui todas as noites, sabe-se lá em que quarto.

– Ele que arranje um quarto!

– Aham, daí você começa a surtar e ele vai ter que vir passar a noite abraçaDinho com você, tô até vendo. Agora até eu tô querendo ser seques- Desculpa.

Ju rapidamente interrompeu o que falava ao ver a reação abismada da melhor amiga.

– Não fala isso nem brincando, Juliana! Ele pode ouvir!

Preocupada, Ju observou a roqueira esfregar as mãos contra os braços arrepiados. Não parecia ser suficiente, e Lia logo começou a arranhar os braços com suas unhas. Foi quando a it-girl decidiu intervir.

– Vem comigo. - Puxou a amiga para a sala, ao encontro de Dinho, contra a vontade da roqueira, que tremia de medo.

–x-

– Dinho! Tio Lorenzo! - Ju chamou assustada.

Viu Dinho se afastar de um pequeno tambor que se assemelhava a uma ampulheta de madeira e se aproximar de Lia com pressa e zelo. Lorenzo amparava a filha com cuidado.

– Ela teve mais um ataque. - Ju explicou.

– Ele tá vindo! Você falou aquilo e agora ele tá vindo! Dinho, ele tá vindo! - Lia agarrou-se com força à camisa de Adriano, que a abraçou com cuidado.

– Shh... Vai ficar tudo bem. - Dinho beijou a cabeça de Lia, preocupado.

Seu olhar implorou pela ajuda dos médicos presentes. Raquel e Lorenzo, no entanto, tampouco sabiam o que fazer. Adriano levou a garota até o sofá, sob olhares assustados de Tatá e de Juliana.

– Ele não vai vir. Você sabe por que? - Dinho perguntou com cuidado. - Porque eu justamente tava mostrando pra Tatá esse tambor africano que eles usam pra espantar o perigo, e vai dar tudo certo, ó.

Adriano sentou Lia entre suas pernas e encaixou o tambor entre as pernas da ex. E que pernas... Sem poder se controlar, suas mãos se encaixaram nas coxas de Lia, acariciando-as como não fazia há meses.

– Dinho! - Lorenzo exclamou.

– Ok, f-foi mal. Onde eu estava, mesmo?

– No tambor. - Lia respondeu com as mãos sobre as mãos de Dinho.

Como queria poder mantê-las sobre sua pele. Sentira tanta falta... Mas não podia, tinha que ser forte. Podia confiar no garoto apenas em relação a Sal. Uma vez que seus sentimentos estivessem envolvidos, não poderia mais confiar. Hesitante, soltou as mãos do ex, que tentou se concentrar no instrumento.

– Aí, isso é um tambor africano? - Gil questionou ao entrar na sala com Raquel, que lhe havia aberto a porta.

– Legítimo! Eu trouxe da viagem. - Dinho respondeu.

Gil se desconsertou ao ver Lia sentada entre as pernas de Dinho, que, pouco antes do questionamento do grafiteiro, enterrava seu rosto contra os ombros da garota, sensualmente entrelaçando seus braços sobre as pernas descobertas de Lia.

– E você sabe tocar? - Gil perguntou desconfortavelmente.

– Até onde eu sei, Dinho, você não toca nem caixinha de fósforo. - Lia riu.

Adriano sorriu com a lembrança. Haviam acabado de sair da festa à fantasia do Quadrante, e, resolvida a situação com Gil no Misturama, os problemas pareciam tão distantes... Daria tudo por voltar no tempo.

Com um sorriso desafiador, Adriano ergueu os braços sobre as pernas de Lia e começou a tocar o tambor como lhe haviam ensinado durante a viagem. Conforme tocava, seu corpo colava no da roqueira, apertando-a contra si na tentativa de alcançar certos sons em áreas mais afastadas do instrumento. Com o violão em mãos, Gil tocou algumas notas para acompanhar, entretendo Tatá, que pediu permissão a Dinho para puxar Lia.

– Vem dançar comigo! - Tatá ordenou.

Juliana percebeu que a ideia de Tatá animaria sua melhor amiga e completou.

– E comigo!

Deixa tudo e vem

Esta noite juntos vamos voar

Volume a cem

Segura o fogo, agora vive e o solta

Adriano, pela primeira vez, apesar de sentir falta do corpo de Lia tão logo a garota foi puxada pela irmã e pela it-girl, não sentiu um vazio ao se afastar da roqueira. Ver a ex distraída com as duas era o suficiente para que Dinho também sorrise e tocasse seu tambor com mais ânimo.

Se moverão dez mil silhuetas sob a luz

Mas ninguém vai me importar se tu estás aqui

Empolgada, Tatá havia botado para tocar uma de suas músicas favoritas, e agora aumentava o som. Dinho e Gil acompanharam a batida da música com seus instrumentos, enquanto uma envergonhada roqueira de mechas rosas tentava dissuadir ambas de tentar fazê-la dançar. Com algumas expressões pedantes da irmã mais nova e uns empurrões de Ju, Lia deixou que a música tomasse conta de seu corpo e dançou com as duas.

Não era o estilo de música de Gil, nem de Dinho, mas bastava-lhes o sorriso de uma certa marrentinha em crise para que seguissem o ritmo e sorrissem tanto quanto as meninas. Lorenzo batia palmas, animado. Sentira falta de uma casa assim. Raquel surpreendeu a todos unindo-se às filhas e a Juliana.

Divertiam-se como não acontecia há muito tempo. Dinho não tirava os olhos de Lia. A roqueira, distraída, correspondia, sorrindo para o ex.

Vamos nos amar e dançar até queimar-mos o sol

Nada vai impedir que ganhe teu amor

Eu vou te desafiar a dançar comigo hoje

Encantado, Dinho não sabia se era impressão sua, ou se Lia realmente o chamava conforme a letra da música. Parecia dançar para ele, e apenas para ele, quando sabia que a roqueira dançava para si, por se sentir bem, pela sua felicidade. Seu olhar não saía da garota por um instante. Nem sabia como ainda tocava no ritmo. Estava completamente envolvido pela ex.

Vem e toma-o

Não direi que não

Se hoje somente importas tu

Se demoras hoje

Nunca entenderás

O que posso te causar

Antes que percebesse, Dinho havia largado o tambor e se deixado levar pela garota, que o puxava para dançar. Seus olhos não piscaram. Não podia deixar passar um segundo sem olhar nos olhos castanho-esverdeados de Lia. Não sabia que ritmo dançava, tampouco o que estava fazendo, apenas seguia o que seu corpo mandava, movendo-se em sintonia com a dona de seus pensamentos.

Não esperes mais, não

Quero estar perdida em teu olhar

Livre entre teus braços enfeitiçada

Eu vou te desafiar a dançar comigo hoje

E passaram o resto da noite assim. Sem se preocupar se os outros presentes estavam muito distraídos em sua animação para notar o clima entre o ex-casal ou não. Sem se importar com o mundo exterior, com seus perigos. Sem pensar em passado, nem futuro. Viveram o presente da forma mais verdadeira e livre desde que haviam se reencontrado. Não haviam fraquezas exceto pelo quanto um hipnotizava o outro.


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Notas finais do capítulo

Para críticas, sugestões, ou meu número para DJ, comentários ali embaixo ^^