Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 8
Desconfiança e Confissão


Notas iniciais do capítulo

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Mil desculpas pela demora, sério mesmo!



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Até ter Lia em seus braços, não havia percebido o quanto precisava de consolo. Ainda estava abalado com a notícia da morte de sua professora e com o estado de Lia, ou o que poderia ter acontecido se não tivesse chegado a tempo. Acariciou os fios da loira, passando os dedos delicadamente por sua cabeça. A roqueira estava finalmente quieta sem estar dormindo. Talvez pensasse no mesmo que ele, chorando silenciosamente pela tragédia e pelo sequestro. Ouviu-se um barulho da rua e Lia se agarrou com força à camisa de Dinho, tremendo.

–Calma, deve ter sido só um gato. – Adriano tentou acalmá-la, passando a mão por sua cabeça mais uma vez. Ficaram um tempo em silêncio até a loira se acalmar e parar de tremer.

–Dinho? – A voz fraca de Lia chamou.

–Sim?

–Você vai mesmo ficar? – A roqueira questionou temerosa, sem sua marra habitual. Dinho beijou a cabeça de Lia antes de responder.

–Eu vou ficar com você. Já liguei pra agência e arranjei um jeito de trabalhar pelo computador. Eu vou estar aqui pra quando você me chamar. – Dinho sorriu para passar confiança a Lia.

–Eu não queria, ok? É só que... Sei lá, talvez porque você me salvou... Eu não me sinto segura...

–Eu entendi. Não precisa falar em voz alta, relaxa. Eu sei como você detesta parecer vulnerável, principalmente na minha frente. – Adriano piscou para a ex, brincando. Lia deu um pequeno soco no peito do ex-namorado e continuou.

–Eu não quero voltar com você e ainda te odeio, mas eu preciso de você por algum motivo bizarro.

–Esse motivo logo será explicado, minha filha. – Lorenzo chamou a atenção dos dois ao entrar no quarto. – Eu falei com um psicólogo e marquei uma hora. Você passou por um trauma e as sequelas são nítidas, mas a gente vai cuidar disso, eu prometo. – O médico sorriu para a filha, tentando passar confiança, logo perdendo o sorriso ao perceber a posição de Lia e de Dinho.

Percebendo o olhar do médico, Adriano se levantou, causando um frio na espinha da roqueira, despreparada para se separar do ex de novo.

–Pai, eu não quero sair daqui, o Sal pode estar à espreita.

Lorenzo ponderou.

–Bom, ninguém o viu desde o sequestro, talvez você tenha razão. Eu vou ver se o Dr Hernandez pode atender em domicílio. Você acha que consegue voltar pra casa? – Lorenzo perguntou hesitante. Diante da negação silenciosa de Lia, com o semblante levemente assustado, Lorenzo ofereceu: -Eu posso buscar a sua guitarra. – O médico sorriu, tentando animar a filha.

–Você tá maluco, pai? Ele vai me ouvir! Eu não posso! – Lia respondeu apavorada.

Dinho olhou para Lorenzo preocupado. Até quando teriam que calcular cada situação para que Sal e os bandidos não atacassem Lia novamente?

–Lia, - Dinho chamou. - calma. Eu não vou deixar que nada aconteça com você, ok? Ai desse Sal se chegar a uma quadra do Botafogo! Vai se ver co-

–Com quem? Com você e esse corpinho magrelo que não bate nem no Orelha? - Lia zombou.

Adriano se sentiu aliviado por ver Lia se acalmando, ainda que ferisse seu orgulho. Mesmo assim, era Lia. Sua marrentinha era a única que ele deixava falar qualquer coisa daquele tipo. E como sentira falta disso...

–Pra sua informação, marrentinha, eu já bati várias vezes no Orelha! - Adriano se defendeu tentando parecer ofendido.

Lorenzo riu por um momento. Temia o que estava por vir: quando Dinho fosse embora de novo e sua filha ficasse sozinha mais uma vez, de novo enganada. Por alguns segundos, no entanto, realmente pensou que tudo poderia dar certo. Jamais admitiria, mas sentira falta de ver sua filha com o aventureiro. Era mais feliz até quando se implicavam. Desde quando ainda sequer imaginavam que um dia namorariam, Lorenzo era capaz de perceber como os olhos de Lia brilhavam ao vê-lo. Se pudesse ter certeza de que sua filha poderia rir com Dinho sem se apegar novamente...

– E agora, caso você não tenha percebido, eu tenho treinamento oficial de campo!

De fato, e Lia apenas então reparava, Adriano estava mais encorpado. Em seu resgate, carregou-a com mais facilidade e correu mais rápido. Fazia sentido. Se havia entendido bem, Dinho agora trabalhava com trilhas, o que demandava conhecimento e treinamento físico mais amplo e rígido que os de um garoto de 17 anos acostumado a acampar.

– Continua o mesmo magrela. - Lia mostrou a língua para Dinho, rindo.

– Magrela, é? - Adriano sorriu. A loira já temia o que estava por vir. - Não era o que eu ouvia quando a gente-

– Chega! Pode parar por aí! - Lorenzo interrompeu, aflito.

– Foi mal, doutor Lorenzo...

– Foi péssimo, moleque! Olha o respeito na minha casa!

Ainda que envergonhada, Lia riu da reação de Dinho, que levantou as mãos em sinal de inocência.

– Funcionou. - Adriano sorriu vitorioso.

–Funcionou o que? Seu plano pra ser enxotado e poder deixar a minha filha sem culpa? - Lorenzo questionou, agora sério.

–A Lia está mais calma. E eu já falei, doutor Lorenzo: eu não vou deixar a Lia. Não nesse estado e nem em qualquer outro. Eu voltei pra ficar e pra consertar o que eu fiz. Lorenzo parou por um instante, desconfiado de Adriano, como sempre. - E que sorte a sua! Pôde salvar a vida da minha filha!

– O que o se- você está sugerindo, dr Lorenzo? Que eu mandei raptarem a Lia pra bancar o herói?

–Pra você, agora, eu sou "senhor", e é exatamente isso que estou querendo dizer, Adriano. Não se faça de vítima! Tanta mata para analisar e foi logo pra onde a minha filha estava?

– Pai... - Lia tentou defender o ex, mas tampouco acreditava em coincidências.

Perplexo, com a desconfiança de ambos, Adriano revidou.

– Eu posso ter errado, mas eu nunca chegaria a esse ponto. Lia... - Dinho olhou para a ex, tentando controlar a sensação de estar abandonado, sem qualquer defesa, ao vê-la encará-lo daquela forma. - Você não se dá conta? Eu não sei como esses caras encontraram aquele lugar, eu juro que não sei, mas eu não podia não estar lá. Lorenzo não entendia mais nada.

– O que você quer dizer com isso? Você não estava supostamente fazendo uma trilha, Adriano? Isso tudo está ficando cada vez mais suspeito!

– Você não se cansa nunca de mentir? Uma hora você foi fazer uma trilha, na outra vem com esse papinho que até agora ninguém entendeu... Será que você não consegue ser sincero pelo menos uma vez na vida, Adriano? - Lia se revoltou.

–Você tem razão, eu não fui completamente sincero. - Dinho engoliu seco. Não sabia se estava preparado para falar a verdade, não com Lia o encarando daquele jeito, mas tampouco podia virar um suspeito de algo tão absurdo. - Eu poderia ter ido a milhares de outros lugares para traçar trilhas, mas eu escolhi aquele. - Parou para medir as palavras. - Eu precisava voltar. - Percebeu Lia inquieta. - Você não sentiu nada? Eu sei que você também reconheceu. - Era o que Lia temia. Que Dinho também reconhecesse o local e trouxesse lembranças à tona.- A gente só conseguiu fugir daquele jeito porque já tinha feito aquilo antes. E apesar de Vaguinho, Valdete e sei lá qual era o nome do terceiro, aquela foi uma das melhores viagens da minha vida. Ou melhor, aqueles dois primeiros dias foram a melhor viagem que eu já fiz. Eu cumpri parte do meu sonho e não senti nada, apenas a sua falta. Sem você não tem graça, Lia. - Dinho fechou os olhos por um momento, com medo de demonstrar a fragilidade que sentia. - Eu sentia estar ausente... O meu corpo estava lá, mas a mente, o coração, estavam aqui. Eu sei, eu sei... Brega, cafona... Não me importa, eu só estou sendo sincero. A verdade é que, não sei, eu esperava poder te ver ainda que só como a melhor lembrança da minha vida. Eu precisava estar lá para saber se aquele sonho havia sido realidade. Foi a nossa primeira vez em tantos sentidos... A primeira vez que você se deixou levar, a primeira vez que eu confessei que te amava – e ainda amo e acho que sempre amei -. o seu primeiro ‘eu te amo’ pra mim – e eu podia morrer naquele momento e seria o cara mais feliz do mundo-, a primeira vez que...

–Chega! Muito bonitinha a sua declaração, Dinho, mas como pai eu não preciso ouvir a continuação!


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Notas finais do capítulo

Não ficou muuuito bom, tenho sérias dúvidas em relação à maneira que escolhi para inserir esse discurso do Dinho que estava pronto desde o começo da fic, mas sabia que tinha que ser no início e tampouco quis me estender muito, pq tem bastante coisa pra acontecer ainda. Espero que gostem mesmo assim... bjs