Quando Mais Precisava escrita por AnaMM


Capítulo 21
Explicações e Passados


Notas iniciais do capítulo

https://www.youtube.com/watch?v=1e_j66mgTDE sim, habemus beatles pras ceninhas familiares finais
https://www.youtube.com/watch?v=h6OhzwkBAEc pov da lia - final
http://www.vagalume.com.br/mcfly/bubble-wrap-traducao.html
ps.: essa é a minha música favorita do McFly (por acaso, minha banda favorita), me deixem, tô emocionada em botar essa coisa linda no capítulo



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Mais um dia se passara e Vitor ainda não conseguia acreditar no que vira. Como Lia pôde traí-lo daquela forma? Tudo bem, sabia que a garota ainda sentia algo pelo ex, mas precisava tanto? E na frente dele? Estava revoltado, enojado. Como era possível ter se enganado tanto acerca de alguém? Pensava que seu sentimento era correspondido, que o que viviam era genuíno, e não um plano B para até Dinho voltar. Revivia a imagem várias vezes. Não era masoquista, apenas queria acreditar que de fato acontecera, entender como pudera ser tão cego... Vê-la agora à sua frente, claro, não ajudava.

– Você pode falar? – Lia perguntou sem jeito, da porta da oficina.

– Pra que? Você não tem o que explicar, Lia, eu vi.

– É, eu sei...

– Você tava bêbada, ok, eu entendo isso, mas se fez foi porque, lá no fundo, era o que você queria.

– Sim. – Respondeu a voz fraca.

– Que? – Vitor estranhou. – Você... Você não vai tentar negar?

Lia deu de ombros com um sorriso derrotado.

– Pelo menos você admite...

– Você vai me perdoar algum dia?

– Você perdoou o Dinho, não perdoou? Então... Claro, ele não te traiu na sua frente tão graficamente, mas...

– Eu entendi, Vitor, não precisa entrar nesse assunto. – Desconversou.

– Não, não, você não entendeu. É com ele que você quer ficar? Com o idiota que te traiu na primeira oportunidade?

– Vitor, ele não...

– Não? Então foi quem? O Pilha? Porque eu nunca te fiz mal. Já você...

– É complicado...

– Vocês se merecem! – Interrompeu novamente. – Dois traíras que não podiam se importar menos pelo que os outros sentem por vocês! – Explodiu.

– Vitor, pelo amor de deus, me escuta-

– Escutar o que? EU VI, Lia, EU VI!! Você sequer hesitou! Você sequer... Porra, Lia!

– Me perdoa, Vitor, por favor, não foi por mal, eu-

– Ah, não, foi por ótimo! Foi por pura bondade! Ah, que grande mulher essa Lia Martins, distribui pra todos!

Lia o interrompeu com um tapa no rosto, depositando toda sua raiva e frustração, tanto por Vitor não escutá-la, quanto por suas ações não escutarem sua razão. Sabia que cada palavra do motoqueiro era verdade, convivia com aquelas frases e acusações diariamente, desde que descobrira a traição de Dinho, não precisava que alguém a lembrasse novamente daquilo.

– Eu sei que eu tô cometendo um erro! Eu sei que eu vou sofrer, mas eu preciso ser sincera comigo mesma por pelo menos uma vez! – Gritou contra a face ainda latejante de Vitor. – Eu vim pra me desculpar e pedir que você me entenda, que nós possamos ser amigos algum dia, mas já vi que estou perdendo o meu tempo.

– Amigos? Lia, amigos? – O garoto riu. – Pelo amor de deus, garota, você não cansa de ser baixa, não? Eu te amo! A última coisa que eu quero é ser seu amigo, eu quero muito mais, e você sabe disso!

– Pois é só o que você vai ter!

– Lia, sinceramente? Depois do que você fez, eu quero mais é distância, de você e daquele imbecil. E não venha chorar no meu ombro quando der tudo errado, não! Você quer brincar na lama, já deve saber que vai se sujar.

– Vitor, desculpa, eu...

– Só um pedido de desculpa não conserta o que você fez.

– Eu não... Eu não tava falando disso, é que... Bom, é que eu perdi a razão e acabei descontando em você e você é quem menos tem culpa nisso tudo. Eu só espero que um dia você me perdoe. – Explicou à porta, a voz novamente baixa.

Acenou para o garoto que lhe havia ajudado tanto quando Dinho fizera o mesmo com ela. Riu da ironia e da injustiça com Vitor, apunhalado da pior forma por quem por tanto havia zelado. Deixou a oficina com um misto de culpa e de liberdade. Sentiu como se deixasse a fachada para trás, a falsa felicidade, para recuperar sua verdadeira vida de volta. Só então percebeu que havia saído de casa. Estava tão perdida em sua vida amorosa que esquecera completamente de sua condição. Idiota! Como pudera se distrair tanto? Correu para casa. Estava tudo bem. Era coisa de sua cabeça, como todos lhe repetiam. Não havia Sal, não havia bandidos, estava segura, estava segura, estava segura – exceto pelo vulto. Um vulto! Não era nada demais. Era coisa da sua cabeça, coisa da sua cabeça... O vulto lhe sorriu sadicamente. Apenas uma ilusão, por favor, que fosse apenas uma ilusão. Os olhos negros não eram de Sal, não eram. Correu, mas, como em seus piores pesadelos, o apartamento temia em não se aproximar. Parecia que não chegaria nunca, suas lágrimas já escorriam em desespero, seria pega, estava tudo acabado. Um baque.

– Vem, vem, vem! – Conhecia a voz que a empurrava, contra cujo dono havia esbarrado sem perceber.

– Dinho. – Sua voz trêmula pode pronunciar.

Tudo aconteceu muito rápido, e em poucos minutos estava novamente em casa. Do lado de fora, um conhecido vulto se afastava do bairro. Agora sabia o que queria.

– Você tá melhor? Mais calma? – Dinho perguntou angustiado.

As mãos de Lia tremiam contra a xícara de chá.

– Eu não devia ter saído, não devia... Eu sou muito idiota... Eu estraguei tudo... – Murmurava a loira.

– Deixa que eu cuido dela, Dinho. Você tinha que terminar um relatório pro trabalho, não tinha? – Raquel se pronunciou.

– Eu posso fazer depois...

– Não, Dinho, eu cuido da Lia, ok? Você já fez o bastante.

Hesitante, o garoto voltou para seu notebook, na mesa com Tatá, que fazia o dever de casa. Raquel levou a filha até o quarto.

–x-

– Ei, você saiu por conta própria, não viu? Já tá começando a melhorar. – A mãe sorriu.

– De que adianta? Agora ele me viu, tá tudo acabado. Ele vai me levar de novo, Raquel!

– Lia... Vai ficar tudo bem, você vai ver. Se o Sa- se aquele cara se atrever a aparecer no bairro, vão chamar a polícia. Tem cartazes de “procura-se” por toda a área!

– Você não entende, Raquel, ele tava lá!

– Eu entendo, Lia. Eu entendo que você tá nervosa e tá vendo coisa. Você lembra aquela vez que era só um cliente do Nando? Então.

– E se não for? – Perguntou o fio de voz.

– Se não for, a gente já venceu eles uma vez, não foi? Acredita em mim, Lia, eu não vou deixar que nada aconteça com você. – Assegurou, acariciando os fios loiros da filha.

– Como você fez por todos esses anos? – Perguntou sarcástica.

– Não, claro que não! – Respondeu culpada. – Eu voltei pra ser sua mãe, e eu vou cuidar de você, nem que tenha que enfrentar esses bandidos só com os braços.

– Quem garante? – Ignorou o choro da mãe.

– Todos os meninos na África que eu não deixei na mão. Lia, se você visse os vídeos que eu trouxe...

– Eu não quero saber do que você fazia, Raquel, você abandonou a gente.

– Por que você deixa tudo tão complicado? Ontem tava tudo bem entre a gente.

– Ontem você tava me ajudando, hoje eu não tenho essa garantia.

– Lia, por favor... – Implorou às lágrimas. – Deixa eu cuidar de você.

– Eu tenho o meu pai e eu tenho a Tatá, e a minha vó, e os meus amigos.

– E você tem o Dinho e a sua mãe. Você o perdoou, não perdoou?

– O Dinho era só um adolescente imaturo, você era a minha mãe.

– Eu sou a sua mãe, Lia, foi por isso que eu voltei.

–x-

– Dinho, Tatá. – Lorenzo acenou ao chegar.

Tatá correu para abraçar o pai, Dinho a seguiu aos poucos. Tão logo a menina se afastou, o garoto pediu atenção ao médico.

– A gente pode falar a sós?

– Claro... – Estranhou, conduzindo o garoto até um quarto vazio.

– Eu... Eu acho que o vi.

– Viu quem? – Perguntou o médico, confuso.

Ele. Nas outras vezes que a Lia se assustou, confesso que não vi nada, mas dessa vez eu acho que vi. – Respondeu temeroso.

– Você... Não, não, você deve ter se confundido. – O médico contrapôs relutante.

– Bem que eu queria. – Respondeu preocupado.

Lorenzo levou as mãos à cabeça, sem reação. Os dedos logo escorregaram por sua face cansada, revelando seu desespero.

– O que a gente faz agora? Você falou pra ela?

– Não, não, isso só vai deixar a Lia mais apavorada do que ela já tá! A Raquel tá no quarto tentando fazer ela se acalmar.

– A Raquel? – Lorenzo riu, voltando para a sala sem mais palavras, em direção ao quarto das meninas.

Dinho voltou para a mesa, sentindo-se culpado pelo que não fez e nem poderia ter feito para protegê-la, por tê-la deixado sair sem perceber.

– Tá tudo bem, Dinho? – Tatá estranhou.

– Sim, Tatá, tá tudo bem. Quer ajuda? – Apontou para o dever de geografia.

–x-

– Lia? – Lorenzo chamou.

– Ela tá recém conseguindo se acalmar. – A morena informou com a voz em um sussurro.

– Ela brigou muito com você? – Perguntou com a voz também baixa.

– O de sempre... – Respondeu a mãe, frustrada. –Sabe que ontem a gente até tava se entendendo? Bastou mais uma crise pra ir tudo por água abaixo...

– Não é culpa sua, Raquel. Não as crises...

– Claro que não, Lorenzo, mas se ela ao menos pudesse deixar de lado o que eu fiz...

– Deixar de lado é um pouco impossível quando você é abandonada pela mãe, não é?

– Você sabe muito bem porque eu fui embora. Se pelo menos ela pudesse entender...

– Prioridades, Raquel. Eu mesmo ainda custo a entender. Eu também fui abandonado, lembra?

A mãe de Lia abaixou a cabeça, culpada. Muitas vezes se esquecia do que vivera com Lorenzo e focava apenas em suas filhas.

– E você algum dia acha que vai conseguir me perdoar?

– É difícil... Mas pelo menos você tá aqui agora, e pode cuidar da sua filha. Ela precisa de você mais que nunca. – Desconversou.

– Se ela ao menos me desse abertura...

– Ela vai dar, Raquel. Ela já tá dormindo, não tá? Então.

– Está... Ela fica linda até dormindo... Como pode?

– Ela é sua filha... Feia não tinha como ser. Nem que herdasse 99% dos meus traços, ainda teria algo seu. – Observou. – Eu falei em voz alta, não falei? – Acrescentou após uma pausa.

– Sim, Lorenzo, falou. – Raquel confirmou divertida.

– Eu fui completamente apaixonado por você... – O médico sorriu.

– E eu por você.

– Será mesmo?

– O meu jeito de amar é diferente, Lorenzo. Eu não poderia praticar o egoísmo de botar as minhas filhas em um mundo como esse, eu tinha que ajudar os outros, assim como as minhas filhas, a terem um mundo melhor. Enquanto elas dormiam em berços confortáveis, as menininhas tão amadas por suas mães quanto as minhas filhas estavam desamparadas.

– Eu sei... Apesar do que causou nas meninas, foi muito nobre o que você fez, e eu me sinto até culpado por te admirar tanto por esse seu lado altruísta.

– Então...

– Então que chega de conversa, ou a Lia acorda. – Desconversou o médico.

Às sombras de suas confissões, ambos contemplaram a calma com a qual a filha mais velha dormia. Se pudessem garantir aquela calma diariamente... Pensou no que Dinho lhe havia dito. Daria tudo por poder escondê-la em uma caixinha, contra qualquer perigo externo. Por que não podia se preocupar com as “ameaças” normais com as quais todo pai se deparava? Era tão melhor estar alerta por Dinho, ao invés de Sal... Desejava com toda sua força que Dinho estivesse enganado, que tivesse visto coisas. Sem perceber, segurou a mão de Raquel, abraçando-a firmemente por trás. Era seu maior apoio, enquanto se esgotava em dar a força que não tinha a suas filhas.

Discretamente acordada desde o início do diálogo entre os pais, Lia tentou manter a fachada de sono profundo enquanto mastigava uma a uma as informações da troca entre Lorenzo e Raquel. Tantas respostas e tantas outras perguntas... Seu orgulho, no entanto, e suas feridas de filha não lhe permitiam mais que entender os motivos de Raquel. Compreensão não fechava cortes. Talvez com o tempo pudesse enfim entender o lado da mãe. Se isso a levaria a perdoá-la... Ao mesmo tempo, precisava tanto dela... E sabia, também, que Raquel estava se esforçando dessa vez, ao contrário das outras. Se pudesse perdoá-la... Lembrou-se do dia anterior, de como haviam sido mãe e filha, sem preocupações. Era irônico como quem supostamente menos a conhecia era quem melhor compreendia sua questão com o garoto. Talvez porque Raquel havia feito o mesmo. Agora que havia traído Vitor, começava a ver o lado deles... Não significava que os perdoava, mas estava tentando com Dinho, não? No entanto, era a primeira vez que dava uma segunda chance ao garoto por tê-la feito sofrer, já Raquel... Uma lágrima deixou seus olhos. Contra tudo que pensasse, sentia-se tão bem ali, deitada sob a guarda de ambos os pais, uma família novamente... Sonhara tanto com aquele momento... E ali, sob a guarda de Raquel e de Lorenzo, voltou a adormecer.


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Notas finais do capítulo

Tchutchuquinhos