Colégio Interno escrita por Híbrida


Capítulo 72
Fim da submissão e sentimentos do mundo


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo que pode agradar Nichies e Gabies.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/369744/chapter/72

Nicholas me encarou sem entender por alguns minutos. Pudera, entrei em seu quarto sem pedir licença dizendo-o que aquela porra toda ia acabar. Do jeito que Nick era lerdo ao acordar, provavelmente nem sabia de que merda estava falando.

— Quê? – perguntou ele com olhinhos confusos – Amanda, não força muito minha cabecinha agora não, eu acabei de acordar.

— Eu quero acabar com essa palhaçada, Nicholas. Eu cansei. Você quer gritar a verdade ao mundo? Sinceramente, cara, pode gritar! Eu não ligo. Eu cansei.

Levantei-me da cama e mexi no seu maço de cigarros e o isqueiro. Acendi um e coloquei na boca, tragando-o. Eu estava nervosa e precisava daquilo. Rafael acordou e soltou um riso cínico, levantando-se e preparando seu café puro. Encarou-me, depois de encarar Nicholas, ainda deitado com uma mão sobre o rosto.

— Seus hábitos saudáveis são assustadores.

— Os seus também. Café puro não é o que eu chamo de café da manhã reforçado, sabia?

Ele deu os ombros e voltei mais uma vez minha atenção a Nicholas. O garoto se sentou, encostando-se sobre a cama. Massageou as têmporas ainda de olhos fechados. Parecia que havia acordado depois de uma noite de bebedeira, estando agora de ressaca. Mas aquelas eram só as expressões cotidianas de Nick.

— Você... Disse que quer terminar tudo? – murmurou, tirando o cigarro de minha mão e tragando-o devagar e deliciosamente, como sempre fazia. Aquele garoto tinha em sua arrogância e indiferença um sex-appel inegável – Esqueceu tudo o que eu sei?

— Não, Nick. É justamente o que eu tô dizendo, presta atenção – expliquei, segurando sua cabeça e fazendo-o sorrir presunçosamente – Não me olhe assim, eu tô falando sério aqui. Eu vou voltar com o Gabriel e, na boa, você pode colocar no Le Courrier se você quiser, eu não ligo mais. A partir do momento em que eu perco o medo, você perde isso aqui. É sobre isso que o nosso joguinho se trata, não? Sobre medo. Eu não tenho mais medo de você. Do que você pode me causar.

— Mas ainda tem o desejo, Amanda – sussurrou tão charmosamente que eu prendi a respiração – Ainda tem aquela vontade de vir aqui de vez em quando, porque eu não tenho essas firulas de “tem que ser tudo mágico”. Porque com a gente o negócio é carnal. Amanda, aceita. Você gosta do jeito com que as coisas com a gente acontecem.

Oh, merda.

Ele estava certo. Gostava de como as pegações eram casuais e não envolviam nenhum contato emocional. Gostava do jeito meio bruto com que ele me tomava pra si. Amava fumar com ele e depois conversar como se fôssemos apenas amigos. E éramos. Com alguns benefícios, mas não passávamos de amigos.

E Deus, como ele era gostoso. Ali, deitado, cheio de cicatrizes e algumas tatuagens (frases e desenhos escuros demais para que eu pensasse em decifrá-los) sobre o abdômen semi-definido, marcas tão contrastantes em sua pele deliciosamente alva. Com aqueles braços magros, mas ainda fortes e musculosos, cheios de veias. E aqueles olhos.

Puta que pariu, aqueles olhos.

— Você, Nicholas, é um merda – sussurrei.

— E você demorou demais pra responder. Olhando demais pro meu corpo, o que comprova que, direta ou indiretamente, você me quer. Amanda, não tente fugir desse instinto carnal.

— Eu amo o Gabriel.

— E você se sente atraída por mim!

— Mas eu não quero! E eu não posso. Então por favor, se você me deixar ir embora sem mais delongas...

— É isso mesmo o que você quer?

Desencostou-se da cama e se aproximou perigosamente de mim. Eu sentia seu cheiro. A deliciosa mistura do drogado e da criança. Eu podia sentir sua respiração pesada e afetada pelos anos de cigarros, quente, lenta, intensa, muito perto de mim. Eu sentia seu hálito de cigarro e cachaça barata. Por Deus, eu não sabia mais o que queria.

— Sim, eu acho. Por favor, Nick, me deixe... – supliquei em um tom baixo. Ele riu. Aquela risada deliciosa e sádica – Do que está rindo?

— Da sua insana tentativa de tentar resistir. Amanda, sua mente diz não, mas o seu corpo todo implora “pelo amor de Deus, Nicholas, sim”. Porque todo esse drama? Uma despedida. Só isso.

Joguei-me pra trás. Santo Deus, quão difícil podia ser resistir a um garoto que até ontem eu sentia nojo? Maldito foi um dia em que eu resolvi aceitar sua súplica e beijá-lo na mesma intensidade que este ordenou. Ou pediu. Nunca saberei. Ele deitou a cabeça em minha barriga e levantou minha blusa, beijando a parte desnuda do meu corpo. Puxei seus cabelos, sem saber se fazia aquilo para que ele parasse ou prosseguisse. Ele entendeu como a opção b, levantando-a e beijando meu colo. Então, voltei a mim.

— Nicholas – murmurei em um tom sóbrio – Não. Isso é errado.

Encarei-o, fazendo-o levantar-se e me levantar. Segurou meu rosto com a mão esquerda e a direita segurou a minha. E então me beijou.

Aquele beijo urgente, acelerado, que arrepiou cada milímetro de pele em mim. Correspondi à altura e assim ficamos por um tempo, até que eu fiquei sem fôlego e o empurrei. Encostei a cabeça em seu ombro e suspirei.

— Eu preciso ir.

— Isso vai ter volta – prometeu. Não parecia uma ameaça. – E quando eu digo isso, quero dizer que você ainda vai ser minha.

— Da maneira ortodoxa, eu espero.

Encarei-o e sorri, colocando as mãos em seus ombros e o abraçando. Suspirei profundamente enquanto sentia algo quente pingar sobre meu colo.

— Caralho – sussurrei – Você tá chorando?

Ele não respondeu. Só continuou ali, imóvel, com as mãos gélidas pousadas sobre minhas coxas e o rosto enterrado no meio desta. Ele havia literalmente desabado e agora jazia em posição fetal, chorando silenciosamente sobre meu colo.

— Quem diria que você era apenas um garotinho sensível.

— Não sou – sussurrou, tentando parecer descontraído – Só sou babaca assim com você.

— Eu estou quase lisonjeada. Agora se levante e tenha o mínimo de amor próprio.

— Eu tenho. Muito mesmo. Tanto que a única pessoa que eu já amei além de mim, Amanda, foi você.

Apenas sorri, afagando seu rosto. Precisava ir embora, mas do jeito que as coisas estavam fluindo, aquilo não ia rolar. Então apenas beijei demoradamente o topo de sua cabeça, baguncei seus cabelos negros e me levantei, saindo do quarto.

Ao entrar no elevador, sentei-me no chão e comecei a pensar sobre o que eu havia feito: eu havia terminado com aquela bagaça toda. Eu podia entrar no quarto, pular no colo de Gabriel e dizer a ele, finalmente, que estava tudo bem. Que eu estava em paz pra poder ser dele, só dele.

Quando a porta do quarto dos garotos se abriu e todos se viraram pra me encarar, minha única reação foi me jogar na cama de Gabriel, em cima dele. Beijei seu pescoço, ombros e peito nus. O corpo levemente bronzeado do meu garoto loiro, másculo, maravilhoso. Mordi seu maxilar definido e o encarei.

— Eu sou sua, Gabriel – sussurrei – Eu sou só sua.

— Então você quer dizer que...

— O pesadelo acabou, meu menino. Somos só nós dois agora. Sem máscaras, sem mentiras...

— Só eu, você e o sentimento do mundo – sussurrou.

— Não é assim! – bronqueei – Tenho apenas duas mãos...

— Não me interessa o que Drummond dizia. Do que me valem minhas mãos, meus olhos, meu corpo, se eu não posso ter o seu colado ao meu? Do que me valem as mãos se não posso tocá-la. Os olhos se não posso vê-la e o corpo, se não pra aquecer o teu?

— Quando foi que se tornou poeta?

— Meu amor, eu tive muito tempo para pensar sobre muitas coisas enquanto estivemos separados. Só serviu para que eu percebesse que ninguém me faz sentir o que você faz.

— Gabriel, eu te amo pra caralho – sussurrei – Sem firulas, sem poesias, sem mimimis, sem máscaras. Eu...

— Sh – disse, colocando o dedo sobre meus lábios – Tem jeito melhor de expressar isso.

E quando tirou o dedo e o substituiu por seus lábios, eu soube. Soube que não haveria outro no mundo que pudesse fazer meu coração se confundir entre bater rápido e quase parar. Soube que nenhum outro me faria planejar o futuro. Nenhum outro me teria nas mãos como Gabriel.

Ah, caralho. Era ele. O meu Gabriel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Colégio Interno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.