POV Caroline

As já não tão desconhecidas paredes, agora, assumiam um tom genuinamente verde; o branco pálido e um tanto amarelado pelo tempo, deixava de ser clean para se tornar moderno. Mais uma vez, naquele final de semana, Caroline e Matt estavam pintando o apartamento de Stefan; sim, ele o havia dado à loira, porém, a mesma pensava que era apenas um empréstimo, afinal, segundo o amigo, ele havia vivido ótimos momentos dentro daquele imenso lar, localizado a poucos metros da Time Square, e isso a fazia querer devolve-lo o mais rápido possível a ele. Aquele local, aonde ela se encontrava totalmente suja de tinta, era o novo quarto da vampira, ela o havia escolhido porque este continha uma enorme cama de dossel; pelo que ela pode perceber, se tratava do antigo quarto da melhor amiga de Stefan, Lexi. E por ser algo, que provavelmente, tinha grande importância para o vampiro, foi que Caroline decidiu mantê-lo com a mesma mobília, iria reformá-las, obviamente, mas a essência daquela que foi tão significativa na vida de seu amigo, ela esperava, permaneceria a mesma, deixando assim, o loiro contente pelas lembranças que poderia reviver ao voltar ao local futuramente.

A loira havia escolhido um brilhante tom de verde para cobrir as paredes; os móveis, já estavam em reforma, ela os queria brancos, como, com certeza, eram antes da passagem do tempo. A vista do quarto andar era um tanto cinzenta durante o dia, porém, era a noite, que as luzes da cidade de New York faziam Caroline sonhar; era tudo extremamente colorido, cheio de vida, cheio de pessoas, de sonhos, de realizações; era isso, afinal, o que ela e Matt tanto queriam, a realização de seus sonhos, e uma vida melhor da que levavam em Mystic Falls. Por falar no incrível amigo, ele havia tomado para si o quarto ao lado do da ex-namorada, que era o que se podia chamar de quarto de hóspedes, era tão grande quanto o de Caroline, contudo, não possuía nada, apenas um quadro de uma pela paisagem, que ambos julgaram ser italiana, o que fazia todo sentido, uma vez que a descendência do proprietário era essa. A cor escolhida pelo loiro havia sido o azul, e os móveis, já estavam a caminho, o que fazia com que eles estivessem ocupando a sala como dormitório, enquanto modernizavam a casa dos seus próximos cinco anos. Aos poucos, a loira tinha certeza, conseguiriam deixar o local com as suas caras, sem deixar que ele perdesse a identidade do verdadeiro dono.

Os primeiros dias na cidade grande passaram quase que voando. A dupla de amigos ficava, a cada dia, mais feliz e ansiosa, o tão esperado primeiro dia na Universidade Columbia se aproximava, e querendo, ou não, seria um imenso desafio. O apartamento já estava pronto, todos os cômodos, até o quarto de Stefan, haviam sido reformados por Caroline e Matt, o seu novo lar nem mais se parecia com o local mal assombrado que eles haviam encontrado há dez dias, tudo estava, agora, em seu perfeito lugar, incrivelmente limpo e belissimamente moderno; e a sensação de que aquela era a casa deles, finalmente, se instalara no coração da vampira.

Naquela ensolarada manhã de New York, ambos, humano e vampira, corriam desenfreados pelo enorme apartamento, hora um arrumava o café para que outro pudesse se vestir, hora um arrumava tudo enquanto o outro tomava banho; sim, quase que como uma armação do destino, Caroline havia se deixado dormir demais, e Matt, se quer se lembrara de ativar o despertador, isso resultara em apenas uma coisa, caos; estavam realmente muito atrasados, e ao trancar a porta, o loiro teve que usar de todos os seus dotes físicos para acompanhar uma Caroline enlouquecida pelos corredores e estacionamento do prédio. Sem condições para dirigir, com dificuldade para respirar e dor no baço, Matt se jogou no banco do carona do confortável Ford Fiesta, recebendo não só um olhar confuso da vampira, como também uma pequena reclamação por ser lerdo demais.

O caminho até o campus foi silencioso até demais, para a loira, falar nesse momento, não se fazia importante, afinal, tanto ela quanto o amigo estavam completamente imersos em seus pensamentos. Caroline se perguntava inúmeras coisas, já cogitava incontáveis explicações; afinal, ela jamais envelheceria, nem mesmo uma marca de expressão em seu rosto perfeito seria provocada pelo tempo, em cinco anos, era capaz que alguém desconfiasse de ela estar sempre bem disposta, sem revelar qualquer coisa que seja sobre o passado, não gostar de fotos ou beber, constantemente, algo em uma garrafa sem oferecer a ninguém, sendo ela tão generosa como era. O que ela diria depois da formatura? Diria adeus, e sumiria? Era ainda uma boa opção, mas para que a loira a escolhesse, ela deveria não se apegar as pessoas; o que era impossível para uma vampira tão cheia de humanidade como Caroline era. Apesar de esse momento futuro estar imensamente distante, a vampira não conseguia parar com as suas próprias conspirações para uma saída triunfal, como Bonnie havia dito no telefone há dois dias, ela ainda era ansiosa e controladora demais para deixar o acaso e o destino tomarem conta desse pequeno problema.

Depois, do que pareceram horas, o belíssimo carro cinza foi, calculadamente, estacionado em uma vaga do novo ambiente escolar de Caroline Forbes e Matt Donovan. O estômago de ambos parecia ter, levemente, se revoltado com o improvisado café da manhã daquele dia, as borboletas no estômago da vampira se agitavam cada vez mais, e ao perceber a aflição da amiga, Matt alisou tranquilamente a mão dela que ainda se encontrava sobre o volante.

– Vai dar tudo certo Car. Olha só quanta gente! Imagine quantas festas você terá que organizar! – o loiro disse sorridente, fazendo, pela primeira vez, Caroline notar algo além do painel perfeitamente desenhado do automóvel.

Era uma imensidão de pessoas; Calouros, como eles, perdidos com tantos papeis e prédios, Veteranos, enraivecidos e curiosos por causa dos novos estudantes, pessoas de mais idade, que poderiam não ser só professores, como também, alunos mais experientes e cheios de vida. Os grandes prédios recebiam uma quantidade enorme de gente que se espremiam rapidamente pelas imensas portas de madeira e vidro, Caroline se perguntou, aonde os pensamentos desses humanos ocupados se encontravam, será que eles, mesmo em seu primeiro dia na Universidade tinham tempo de pensar em algo que não fossem os seus estudos? A vampira rezava internamente que não; que todos estivessem tão focados que pudessem se esquecer de coisas como atração e saudade, era isso que ela queria, se manter tão ocupada para que seus pensamentos jamais voltassem a passear na pessoa chamada Niklaus Mikaelson.

– Eu sei. – a loira respondeu depois de quase cinco minutos de silêncio.

– Vamos! Nós estamos atrasados você sabe. – Caroline continuou confiante, já saindo do seu amado Ford.

Ela não estava sozinha, pensou. Ela não tinha somente a Matt, mas também Bonnie, Stefan, sua mãe, e de certa forma Damon também. Tudo o que ela precisava era ser o que sempre foi, ela mesma. Depois de toda a loucura que se instalou em sua vida, algo que a loira já julgava impensável, estava acontecendo, ela estava na fase adulta, cursando administração, em uma renomada entidade de ensino, logo encontraria um emprego, se tornando uma CEO de respeito e alto nível. Com esses pensamentos firmados na mente da vampira, tinha certeza, poderia fazer tudo o que quisesse, seria grande; não só agora, mas em todas as vezes que fosse fazer algo. Ela era Caroline Forbes, Miss Mystic Falls, organizadora de todos os eventos escolares dos últimos quatro anos, líder das líderes de torcida, bonita, inteligente, e vampira. Não havia nada que ela não pudesse fazer, e foi assim que a loira pensou durante todo o dia.

O tempo fora passando cada vez mais rápido, o outono de New York já se fazia presente, e três meses depois do início das aulas, Caroline se encontrava mais ocupada do que jamais estivera; a loira se encontrava na sua primeira semana de provas, e cada segundo possível de seu dia, ela estudava, não era assim tão difícil, afinal, seus dotes sobrenaturais a permitiam ter uma memória impecável, e tudo o que ela tinha que fazer era feito apenas uma vez antes de ser gravado eternamente no cérebro da vampira. Matt também estava bem, adorava seu curso, e estava tão bem adaptado a nova vida, que até já havia conseguido um emprego como garçom em um pub perto da Universidade. Ambos morriam de saudades de casa e dos amigos, porém, as ligações constantes os ajudavam, e muito, a se dedicar cada vez mais aos seus objetivos.

Nas semanas seguintes, nas quais, Caroline se encontrava um tanto calma, ela havia se permitido começar algumas amizades, havia uma garota, Claire, que possuía extrema dificuldade em cálculo, matéria em que a vampira se encontrava melhor do que todas as outras, a tinha procurado pedindo ajuda, e logo a loira a havia acolhido em seu enorme coração, bastaram apenas algumas horas de estudo, para que elas tivessem se tornado amigas de infância, e Caroline não poderia se sentir mais feliz, pois ela estava seguindo em frente. E, após apresenta-la ao melhor amigo de longa data, o recém-formado trio, fazia ponto todos os finais de semana em festas, musicais e baladas da cidade mais movimentada do mundo.

A nova amiga, que possuía inúmeros contatos por possuir muito dinheiro, fazia, a cada dia, um melhor trabalho com a vampira; Caroline ficava tão ocupada com os estudos e eventos, que já se sentia livre de todos os assuntos que poderiam fazê-la ficar horas e mais horas questionando suas atitudes e pensamentos. A loira, nem se quer ligara mais para o telefone, provavelmente desativado, de Tyler, ele estava livre, então ela não iria mais se preocupar com esse assunto, se ele voltasse a Mystic Falls, com certeza, Stefan lhe informaria a situação atual das coisas; e quanto a Klaus, bom, ela estava por aí, em algum lugar do mundo, e como Caroline, sabia que ela não estava pronta, portanto, não havia chegado a hora de procurá-lo.

Era mais uma sexta-feira à noite, e a loira já se encontrava pronta, esperando Claire para saírem, iriam à inauguração de um bar, nos arredores da 5ª Avenida, a nova amiga já estava alguns minutos, e nesses pequenos minutos, enquanto se olhava no espelho, um impulso tomou Caroline de assalto, fazendo-a pegar a pequena caixa de veludo preta, que continha a delicada e cheia de diamantes pulseira, presente ganho por ela em seu último aniversário, e colocá-la em seu pulso fino, admirando a beleza que Klaus lhe dera, ela não conseguiu conter suas lembranças.

– Uhr, porque não consigo esquecer você? – a vampira praguejou para o nada, fitando novamente a sua imagem perfeita refletida no espelho.

– Era só o que faltava; falando sozinha agora Car? – Matt interrompeu divertidamente os pensamentos da amiga.

– Ah, não é nada Matt. Você já está indo? – disse a loira, escondendo a pulseira o máximo que conseguia.

– Sim, hoje vou trabalhar das onze às quatro da manhã. Tchau! E juízo! – o loiro disse rindo, já chegando à porta e sendo seguido por Caroline.

– Bom trabalho pra você! Não vai deixar muitas garotas bêbadas. – a vampira brincou abrindo a porta e dando de cara com a ruiva de olhos chocolate que parecia que bateria na porta a qualquer instante.

– Oi! – Claire disse sorridente.

– Tchau Claire! Estou atrasado. – Matt disse sorridente, deixando as duas garotas para trás.

– Vamos?

– Claro. Vou pegar a minha bolça. – Caroline disse, e após pegar o pequeno objeto, ambas deixaram o prédio, em direção a Mercedes vermelha da garota rica.

Rapidamente, Caroline e Claire já haviam chegado ao seu destino; o bar chamado Cheers, possuía uma multidão do lado de fora, uma fila enorme já dava a volta no quarteirão seguinte. A fachada era toda preta com luzes azuis, e um enorme letreiro com o nome do bar em branco, chamava a atenção da vampira, a noite prometia. Sem problema algum, as duas entraram no local, a ruiva era conhecida pelo seu dinheiro, e sendo assim, até como vips as garotas estavam. A loira ficou deslumbrada com o lugar, um enorme balcão em formato de E se encontrava do lado esquerdo dela; a sua frente, a pista de dança, e no restante do espaço, pequenas mesas lotadas de gente. Estava praticamente, escuro, se não fossem as luzes coloridas dos refletores, e a boa visão de vampira, Caroline sentiria dificuldade em se locomover até o local apropriado para dançar, mas chegando ao seu destino, loira e morena, começaram a se movimentar de acordo com a batida frenética da música.

Após muitos shots de tequila e muita vodca, humana e vampira já dançavam em cima, de uma pequena elevação de concreto, diversos homens observavam a perfeição das duas garotas, e em alguns minutos, Claire já beijava apaixonadamente um moreno muito bonito, deixando, assim Caroline dançando quase que sozinha. No meio da multidão, a loira conseguiu distinguir um loiro incrivelmente bonito, acompanhado de um moreno impecavelmente deslumbrante, e duas morenas maravilhosas, uma com um sorriso de orelha a orelha, e a outra com cara de poucos amigos, foi assim que Caroline os reconheceu, seus amigos estavam ali, e ela, começou, freneticamente, a abanar as mãos, até que eles já estavam perto o suficiente para um abraço.

– Stefan! – ela gritou se atirando nos braços do vampiro.

– Feliz Aniversário! – ele disse sorrindo quando se afastaram alguns centímetros.

– O quê? Não é meu aniversário ainda. – Caroline disse com a voz arrastada, efeito da enorme quantidade de álcool que já estava em seu organismo.

– Já passou da meia noite, então, vem aqui Barbie! – Damon a puxou para um abraço tão apertado, que a vampira chegou a desconfiar que ele estivesse com saudades.

Com muitos abraços e parabéns, inclusive um especial por telefone, de Matt, todos começaram a se divertir e beber; a loira se sentia extremamente feliz, era seu aniversário, ela não nem havia se preparado, afinal, achou que seriam apenas ela, Matt e Claire, que a essas alturas havia ido embora com o tal moreno. Tudo estava maravilhoso, ela dançava empolgadamente com Bonnie e Stefan, enquanto Damon, sendo sempre Damon, dançava rodeado de belas mulheres e uma Elena visivelmente em conflito entre o tédio e o ciúme.

Esse era, de longe, o melhor aniversário de todos; Caroline se sentia empolgada com a sua não vida, Klaus estava certo, ela gostava de ser assim, uma vampira, ela tinha isso dentro de si, a garota patética que ela era quando humana já não existia mais, no último aniversário ela estava deprimida por nunca envelhecer, mas agora, no presente momento, ela agradecia a isso. Nessa linha de pensamentos, de euforia, e álcool, ela decidiu tentar algo. Sua garganta coçava, e ao ver o que tanto Damon quanto Elena faziam, a vampira decidiu ser o que ela era, se aproximando sorrateiramente do moreno de olhos azuis, ela começou a dançar com ele.

– Se eu for perder o controle, me ajude, ok? – ela sussurrou em seu ouvido.

– Já estava na hora. – ele disse com um sorriso de lado.

Então Caroline o fez, o que seu corpo sobrenatural tanto a implorara desde que chegara a essa cidade cheia de pessoas; se alimentou direto da veia, e a euforia do sangue humano quente em suas veias, fez com que a loira se sentisse mais feliz ainda; ela estava no controle, não machucava ninguém. Mesmo sendo um pouco repreendida por Stefan, ela não se importou, estava sendo ela mesma, e isso não tinha preço. Estava completando dezenove anos, seus amigos estavam com ela, a música era incontrolável e a bebida era ótima. Ela estava se deixando levar, mas era isso o que ela queria; e era o que ela faria, ela era Caroline Forbes, uma vampira cheia de motivos para viver.