POV Caroline

O liso e escaldante asfalto das ruas de New York era, agora, refrescado pela fina chuva veranil que atingia todo o Estado. A cidade jamais parecera tão magnífica aos olhos de seus cidadãos e turistas; durante o dia o Sol brilhava com todo o seu poder, tendo a sua onipresença ofuscada pelas frias gotas de chuva que vinham no final da tarde. Em um dos arranha céus mais luxuosos de todo centro, presa em uma sala cheia de trabalho a fazer, se encontrava uma bela loira de olhos azuis realmente nervosa. Caroline estava trabalhando em ajustes  para a sua saída; afinal, havia muitos anos que a vampira era funcionária da mesma empresa, e mesmo amando o que fazia, não poderia deixar de tomar cuidado com a questão do seu envelhecimento, que nunca chegaria.

A loira deixou uma pequena lágrima escorrer pelo perfeito rosto de dezessete anos; se sentia triste pela situação, apesar de estar no melhor momento de sua vida, era exatamente assim que ela se sentia; triste por saber que estaria sempre deixando as pessoas que tanto lhe agradavam e que lhe faziam bem, pelo simples fato de ser o que era. Não que a vampira quisesse a sua vida humana de volta, muito pelo contrário, ainda mais com Klaus preenchendo todos os seus dias de felicidade agora, mas era uma sensação tão estranha para ela deixar de frequentar o lugar no qual tinha tantas pessoas queridas, tantas lembranças, tantas conquistas; era bobagem, Caroline sabia disso, poderia voltar à empresa depois de alguns anos, assim como a Mystic Falls, mas sabia também, que as coisas jamais seriam as mesmas.

- O que você quer James? Eu já não disse que não quero ser incomodada? – Caroline  vociferou autoritariamente ao ouvir o barulho da porta.

- Nem pelo Híbrido Original mais lindo e charmoso do mundo? – Klaus perguntou, escorado no batente da porta, fazendo a loira levantar os olhos em sua direção.

- Você esqueceu de mencionar o sotaque mais sexy também. – ela brincou sorrindo largamente, deixando os documentos que examinava de lado.

- Se você diz Sweet Heart. – o Híbrido disse reforçando o já acentuado sotaque britânico.

- Por que tanto trabalho? – ele inquiriu, já de porta fechada e sentado em uma das confortáveis cadeiras em frente à mesa da loira.

- Vou pedir demissão semana que vem. Já estou aqui há mais de oito anos, sem envelhecer um dia se quer. Está na hora, não está? – a vampira respondeu melancolicamente.

- Sinto muito Love.

- Eu sei. E muito obrigado! De verdade. Eu não sei o que eu faria se você não estivesse aqui, Klaus. – ela agradeceu calmamente, segurando a mão do Original que se encontrava sobre a mesa.

- O que acha de dar um tempo do trabalho? – o loiro sugeriu calmamente.

- Não amor, eu tenho que terminar isso aqui. – rebateu, quase implorativamente, Caroline

- Vamos, tem um pequeno café aqui perto. – Klaus insistiu, começando a fazer pequenos movimentos circulares com o polegar na mão da loira.

- Não.

- Ah, vamos. Só alguns minutos Caroline, eu não mordo. – o Original usou da sua voz persuasiva, dando lentamente à volta na mesa, ficando com o rosto a centímetros do dela.

- Se eu aceitar o convite, quero a sua palavra que eu não verei nem a sua sombra amanhã, Sr. Mikaelson. Eu tenho toneladas de papel para revisar, e se você ainda quiser me mostrar o mundo, bom, eu preciso estar aposentada. – a vampira rebateu falsamente séria.

- E nem me venha com essa mentira; você morde sim. – ela continuou, levantando-se e roubando um beijo de Klaus.

- Mas você gosta. Não gosta Sweet? – o Híbrido perguntou divertido, envolvendo a cintura de Caroline com ambos os braços.

O casal fez todo o caminho até a saída do prédio com inúmeras provocações, Caroline chegou até a arranhar o pescoço de Klaus dentro do elevador, o que quase fez com que os funcionários tivessem um elevador travado pelo resto do expediente, uma vez que o Híbrido quis agarrar a namorada ali mesmo. Já na calçada, ambos começaram a se comportar, andavam de mãos dadas, e se beijavam esporadicamente pelas ruas, nenhum deles tinha um guarda chuva, o que atraia ainda mais a atenção de todos para eles, afinal, não era todo dia que se via duas pessoas tão bem vestidas, completamente molhadas e apaixonadas daquele jeito tão épico e romântico.

O café que Klaus sugerira era novo, a loira particularmente não havia nem se quer passado na frente do sofisticado prédio de estilo vitoriano, com uma imensa fachada feita somente de vidro; o lugar era realmente muito bonito e charmoso, tinha uma decoração ao mesmo tempo clássica e moderna, sofás de aparência aconchegante escorados nas paredes, e o salão coberto de mesinhas redondas de madeira com banquetas combinando, havia um enorme balcão para se fazer os pedidos, e o número de pessoas que ali se encontrava era razoavelmente grande.

Caroline logo tomou a frente, e se dirigiu a uma das mesas mais afastadas, onde ela e Klaus se acomodaram. Em poucos minutos, uma bela garçonete ruiva veio atendê-los, o Híbrido pediu apenas um café preto, enquanto a loira desatou a escolher, ao que pareceu ao vampiro e a moça, infindáveis pedaços de torta e um suco de laranja. Quando os pedidos chegaram, e as conversas mundanas tomavam conta do casal apaixonado, que discutia os detalhes da decoração do local, a pequena sineta da porta se fez ouvir, e sem realmente pensar, a vampira dirigiu o seu olhar aos recém-chegados, encontrando uma moça sustentando uma enorme barriga, que ela julgou ser de sete meses de gravidez.

A jovem se dirigiu até a enorme fila que havia se formado, por algum motivo, Caroline não conseguiu desgrudar os olhos do ventre avantajado dela, se perdeu tanto nos sentimentos amargos que aquela visão lhe trazia, que se quer ouvia as palavras do loiro a sua frente. A vampira se deixou afundar nas certezas de que aquilo, aquela mágica jamais viria para ela, sua barriga nunca teria aquele tamanho porque ela nunca conseguiria engravidar, estava morta, e apesar de toda a mágica que a rondava em função disso, ela jamais seria capaz de gerar uma vida; era uma sensação muito estranha, afinal, ela não era como as amigas, Bonnie e Elena sempre expressaram seus instintos maternos, falavam dos nomes que seus bebês teriam, mas a vampira, não pensara em nada disso até aquele momento; talvez fosse o seu amor por Klaus, a certeza de que seu amor jamais daria frutos, de que não existiria uma criança correndo pela imensa cobertura no Upper East Side, sendo mimada por seus inúmeros tios e tias, chamando a de mãe e ao seu amado de pai.

De todas as situações que Caroline já experimentara essa, era de longe, a pior. Pela primeira vez como vampira, ela invejava alguém; invejava o futuro que aquela morena de olhos verdes teria, dos dias que seu bebê a faria sorrir, das descobertas que estriam por vir, de tudo aquilo que ela como vampira jamais teria: um casamento, uma família completa, um filho. E ao mesmo tempo em que a tristeza tomava conta da alma da vampira, ela desejava toda a sorte e felicidade do mundo para aquela pessoa. Era um sentimento doce e amargo, que fez a loira de súbito levantar de seu lugar e ir em direção a aglomeração de pessoas que estavam na fila, pouco se importando com os chamados do Híbrido, que começava a ficar extremamente preocupado com o estado hipnótico da amada.

- Olá! Meu nome é Caroline! Você gostaria de uma ajuda? – a loira ofereceu a garota, que lhe sorriu gentil.

- Meu nome é Brooke. Mas eu sinceramente não sei como você poderia me ajudar. – a morena respondeu um tanto divertida.

- Vem. – a loira a pegou pela mão e começou a passar na frente das outras pessoas até chegar ao balcão.

- O que você vai querer?

- Uma bomba de chocolate, um pedaço de torta de limão e um suco de melancia.

- Com licença, a minha amiga aqui quer uma bomba de chocolate, um pedaço de torta de limão, e um suco de melancia para levar. – Caroline pediu com gentileza ao atendente.

- Senhora ela estava no fim da fila. Vocês terão que esperar. – o rapaz informou, e a vampira sentiu seu sangue ferver; como alguém, em sã consciência, quer deixar uma mulher com uma barriga daquelas esperando de pé em uma fila?

- O que a minha namorada quer dizer, é que você vai fazer o que ela quiser, sem questionar, entendeu? – a voz suave de Klaus a despertou, e entendo perfeitamente o tipo de persuasão que ele havia usado, a loira se virou para ele com um brilhante sorriso.

- Obrigado! – ela sussurrou no ouvido dele antes de o Original voltar para a mesa que ocupavam.

- Aqui está. São 15 dólares. – o atendente entregou o pedido a Brooke que lambeu os lábios ao sentir o cheiro da comida.

- Não. É por conta da casa. – Caroline rebateu sarcasticamente, e despedindo-se da moça grávida, voltou à mesa ocupando o lugar ao lado do loiro que a encarava curioso, mas que a recebeu de bom grado em um meio abraço, quando ela apoiou a cabeça em seu ombro.

- Você está bem Sweet Heart? – o Híbrido a questionou calmamente.

- Estou. – a vampira respondeu como se nada tivesse acontecido, voltando a desfrutar do seu delicioso suco de laranja.

- Um milhão pelos seus pensamentos. – ele arriscou uma brincadeira.

- Realmente desnecessário. Você sabe o que estou pensando. – a loira rebateu com um olhar interrogativo, desafiador.

- Você gostaria de ser mãe algum dia? – o Original inquiriu olhando nos olhos da amada.

- Eu sinceramente não sei. Só hoje esse pensamento me ocorreu. Eu não creio que eu tenha esse desejo, só, pela primeira vez eu me dei conta de que essa é uma possibilidade que nós vampiros não temos. – Caroline respondeu mais para si mesma do que para o loiro.

- É essa é uma das frustrações da Rebekah, ela sempre quis se casar e ter filhos. Eu não compreendo esses sentimentos. Eu não sabia o que era amor até conhecer você. – Klaus rebateu os pensamentos da loira com os próprios.

- Então quer dizer que não houve uma única vez, em todos esses, nem quando humano, que você pensou nisso? – a vampira inquiriu curiosa. Silêncio. Ela se sentia melhor agora, a sua curiosidade pela vida de Híbrido a fazia esquecer praticamente de tudo.

- Ah! Qual é? Nunca mesmo? Seriously? – ela pressionou um tanto indignada.

- Bom, houve uma vez. Nunca foi segredo que eu e Elijah gostávamos de Tatia, e que ela já tinha um filho e era sozinha. Uma vez, eu a peguei brincando na floresta com o filho, eles riam de um jeito tão maravilhoso, eu fiquei apaixonado por aquele sentimento, e eu desejei me casar com ela, ter filhos com ela. Tatia era tão encantadora. Uma pena o Esther fez a ela. Mas eu abandonei esses sonhos quando me tornei o que sou; eu sempre acreditei que os vampiros não haviam sido feitos para ter uma vida assim. – Klaus contou nostalgicamente, tomando mais um gole do seu café.

- E você? Já pensou em se casar Love?

- Não. Na verdade não. Eu também abandonei essa ideia quando me tornei uma vampira. – ela respondeu a verdade. E o rosto de Klaus se contorceu minimamente, o que não passou despercebido para a loira.

- Você está bem? – Caroline questionou o Original divertidamente.

- Claro que sim Sweet Heart. Por que não estaria? – o loiro respondeu com indiferença.

O resto do dia passou tranquilamente, nem Caroline, nem Klaus voltaram a tocar no assunto casamento ou filhos, e assim depois de muitas banalidades e brincadeiras, ambos rumaram para o apartamento no centro da cidade. E depois de uma noite regada a filmes e muito whisky, eles se deitaram na espaçosa cama da vampira, e adormeceram uns nos braços dos outro, sem pensar ou sentir nada, exceto o infinito amor que sentiam um pelo outro.