Bem, e mais uma noite foi igual. Acordei novamente no meio da noite. Não tinha muito o que fazer, sem celular, sem internet... Mas tinha uma pequena televisão no quarto, bem no canto em cima de um criado mudo. Nunca gostei de TVs, os programas são muito chatos e idiotas, mas quando não se tem nada pra fazer, até o que você mais odeia pode se tornar um passatempo. Liguei a TV em um volume baixo, pra não acordar os outros, e fiquei rodando os canais com o controle remoto. Acabei por parar em um filme de ação qualquer e fiquei assistindo da minha cama, com as mãos apoiadas no rosto.

Quando o filme acabou, marcavam 5:07 no relógio. Me levantei da cama e fui até o banheiro lavar meu rosto e escovar os dentes. Passei os dedos por meus cabelos, só pra abaixar aquela "juba de leão". Voltei pra cama e revirei minha mochila procurando algo pra fazer...

– Ahn... Bom dia... - dei um pulo, assustada e me virei, dando de cara com um Diego sonolento esfregando os olhos...

– Ahn... Ah, oi Nath... - ele soltou um bocejo até finalmente conseguir focar os olhos escuros em mim - Posso conversar com você? Juro que não vou demorar.

– Claro Di. - falei com o tom de voz ainda baixo - Jogue uma água no rosto e... - olhei para seu peito nu com um olhar interrogativo - Seria pedir muito pra você vestir uma roupa?

Ele olhou pra baixo e sorriu quando voltou a olhar pra mim. Suas bochechas estavam levemente ruborizadas, o que fizeram ele parecer fofo naquele momento.

– Foi mal. Já te encontro.

Girei a maçaneta e fiquei do lado de fora esperando Diego. Estava chovendo, o que me animou já que adoro chuva. Diego saiu do quarto depois de algum tempo com uma camiseta preta que se colava em seu corpo. Revirei os olhos antes de começar a falar com ele.

– Cara... Você parece que vai rasgar a camisa.

– Eu sei, você não é a primeira a dizer isso. - ele suspirou se colocando ao meu lado.

– Enfim Di, o que você quer conversar?

Ele ficou tenso de repente. Ele parecia, sei lá, assustado...

– É que tipo, você sabe que essa missão pode ser meu fim não é? - ele começou, seu olhar era triste.

Agora eu tinha ficado assustada. Diego sempre parecia um poço interminável de confiança e agora estava falando de morte. Isso não era bom.

– Como assim Di? - perguntei tentando manter minha voz firme.

– Eu meio que sinto que essa pode ser minha última dança Nath... Mas eu amo a Isa, muito mesmo e não quero deixa-la. Quero ficar perto dela, protege-la. Foi ela quem me trouxe novamente a vida. - ele começou a sorrir - Sabe? Eu tinha 10 anos quando ela chegou no acampamento. Eu que fiquei responsável por ela.

– Sério?

– Uhum... Acabei me apaixonando. Ela é meu anjo, não quero que ela sofra caso eu morra...

– Ei Di... Você não vai morrer.

Ele estava me encarando. Pude ver uma pequena chama de esperança nos olhos dele. Ele me abraçou com força e quando se afastou seu sorriso de costume estava novamente no lugar. Sorri de volta, mas parei ao ouvir um estrondo. Diego levou as mãos a bainha que ele tinha amarrada a perna que era o local onde ele depositava sua espada.

– Isso não é bom... - ele balbuciou.

Fer, Isa e James saíram do quarto com suas armas na mão. Dava pra perceber que eles já tinham acordado a um tempinho, mas ainda estavam sonolentos.

– Que barulho foi esse? - Isa perguntou.

– Não faço ideia... Esperem aqui...

Diego começou a descer as escadas lentamente. James voltou para o quarto e pegou nossas mochilas, pois seja lá o que fosse precisaríamos dar no pé o mais rápido possível. Isa começou a descer também, sua lança já em mãos. Vimos Diego no pé da escada olhando sobre o próprio ombro. Quando notou nossa presença, ergueu o indicador aos lábios pedindo silêncio.

Entendi o por que do pedido em alguns minutos. Diego estava observando o corpo do balconista estraçalhado no chão. Mas o causador ainda estava ali. Um minotauro rondava o lugar procurado - só acho né, só acho - por nós. Diego sinalizava para o carro. Estava apenas a alguns metros de distância.

– Vão e entrem no carro. Vou distrai-lo. - ele tirou as chaves do bolso e as entregou a James - Completem a missão.

Seu tom de voz era baixo e urgente. James e Fer começaram a ir em direção ao carro, mas eu e Isa estávamos petrificadas no mesmo lugar. Isa principalmente, ela segurava a lança com força fazendo os nós de seus dedos ficarem brancos.

– Não vou sem você. - ela falou - Não posso te deixar aqui.

Diego a encarava com os olhos suplicantes. Ele beijou Isa por um instante e quando se afastou tinha um sorriso triste no rosto.

– Essa não será a última vez anjo. - ele retirou a espada da bainha e voltou a olhar pro minotauro - Vencerei essa por você, eu prometo.

Diego correu pra cima do monstro que rugiu. Ele apontava os chifres afiados em direção a Diego que brandia a espada de forma ameaçadora. O minotauro investiu e ele se esquivou, sua lamina cortou o braço do monstro que soltou um urro de dor. Seus olhos estavam vidrados de ódio agora.

Isa começou a andar em direção a ele, mas a segurei pelos braços. Ela tentou se soltar e me olhava como se fosse me matar.

– Me solte! - ela trovejou.

– Você ouviu o que ele disse. Não vai ser a última vez que você o verá! - falei a puxando pelo braço.

– Você ainda não entendeu? Não posso deixa-lo!

– Você vai atrapalhar ele Isabela! Vamos logo, ele nos encontra depois, mas temos que sair daqui!

Escutei a buzina do carro. James estava mandando nós nos apressarmos. Puxei uma Isabela relutante que acabou cedendo por fim. Pude ver que ela estava desesperada pra voltar e ajudar o namorado, mas não o fez. Eu a convenci de que ele ficaria bem. Entramos no carro na mesma hora que Diego caiu rolando pelo chão. Sua camisa estava cortada em uma linha diagonal na barriga, deixando um rastro de sangue.

– Pisa James, sai daqui logo! - Fer gritou quando o minotauro se deu conta de nossa presença.

Pronto, James maluco no volante modo on. Ele deu uma ré que reprovaria qualquer um em um teste pra tirar a carteira. O minotauro estava vindo em nossa direção com os chifres apontados para o capô do carro.

– Ai merda, merda, merda! Sai logo daqui! - gritei.

Diego pulou no pescoço no monstro que se debatei para tentar tira-lo dali. O minotauro virou em direção a piscina com Diego em suas costas. Ambos caíram na água, que começou a jorrar pra todos os lados. Nenhum dos dois tinham saído quando James pisou fundo pela estrada.

Isa estava chorando, olhando pra trás a cada segundo tentando ver se Diego aparecia. Mas ninguém apareceu...