–Aqui está, Yukki Scarllet – Mikami disse lentamente meu nome, fazendo-me me levantar da cadeira bruscamente e a xicara cair no chão, derramando todo o chá e quebrando sua porcelana.

–Mu-muito engraçado, mas eu já disse... Me-meu nome é Alice – Eu ri nervosamente.

–Yukki Scarllet, a policial brasileira que veio para o Japão em trabalho ao caso Kira – Teru murmurou, com seus olhos castanhos me observando atentamente.

Minha respiração engatou em minha garganta e meu corpo começou á tremer.

Esse cara... Ele é... Ele é um dos Kiras...

–O-o qu-quê? Da onde você tir...

–Não tente negar, eu já sei de tudo, Yukki Scarllet, eu sei de tudo que aconteceu com você nesses últimos meses, Beyond Birthday, o sequestro, o resgate de seu irmão e sei que agora você terá que se esforçar máximo para enganar L, não é mesmo? – Mikami continuou com seu tom calmo, porém era possível notar a arrogância e sarcasmo em sua voz.

Droga... Como ficou sabendo disso em tão pouco tempo?

–Qu-quem? Quem te contou sobre isso? – Eu perguntei cautelosamente.

O moreno soltou um pequeno riso com minha pergunta.

–Eu não preciso responder á suas perguntas... Deus não perdoaria qualquer tipo de falha vinda de mim, e eu jurei nunca o decepcionar – Ele simplesmente respondeu.

Como ele consegue chamar um homem como Raito de Deus?

–Deus? Ah, sim, Kira, acho que o termo correto para ele seria “assassino doentio” – Eu rosnei com raiva.

Mikami se irritou tanto com minha frase, que chegou ao ponto de segurar ambos de meus braços com força.

–Não diga sobre Deus com esses seus lábios imundos, você é cega por não ver o quão justo e bondoso ele é conosco – Ele apertava mais meus braços a cada palavra que dizia.

Eu mordi meu lábio inferior, tentando reprimir a dor que o moreno me causava.

–Eu não sou cega, eu vejo muito bem o que Kira faz, ele mata, ele não só mata criminosos, ele mata qualquer um que lhe ameaça e o contradiz, você sim é cego – Eu murmurei, tentando livrar meus braços das fortes mãos de Teru.

O moreno rosnou, antes de finalmente libertar meus braços de seu forte aperto.

–Não há nenhuma razão para me questionar, Deus é absoluto, e meu trabalho é fazer sua vontade, você tem sorte, Yukki-san, se fosse por mim você já estaria eliminada, porém Deus quer você viva, por alguma razão – Mikami disse ao se afastar de mim e pegar os pequenos pedaços de porcelana quebrados no chão.

Eu suspirei, esfregando meus braços doloridos.

–Eu me pergunto o porquê disso – Eu sussurrei para mim mesma.

Mikami ignorou meu sussurro e continuou á limpar o chão molhado do chá.

Raito deve confiar muito nesse cara para ter contado sobre mim ou ele simplesmente quer que Mikami tome cuidado comigo...

–Você realmente teve ser grata, Deus mostrou seu rosto á você e não planeja te eliminar tão cedo, eu seria grato se ele mostrasse-se á mim – De repente Mikami disse, cortando-me de meus pensamentos.

O quê? Raito nunca se mostrou pessoalmente para Mikami? Então... Como eles se comunicam? Telefone? E-mail? Droga, como eu desejo ter um cérebro como o de L agora.

No final de tudo não foi tão ruim Mikami saber de minha verdadeira identidade, claro, o plano de L foi por água a baixo e eu não poderia lhe dizer uma palavra, mas ao menos eu consegui descobrir que Kira e Mikami nunca se viram pessoalmente e que Mikami já sabia sobre a existência de Gevanni, agora tudo que eu preciso saber é sobre seu Death Note e bem... Seu possível Shinigami.

–Me desculpe por não poder acompanha-la até sua casa – Depois do que pareciam horas, Mikami e eu estávamos do lado de fora de sua casa, e é claro, como Gevanni observava tudo na virada da rua, nós tínhamos que fingir que absolutamente nada acontecera dentro da casa.

–Não se preocupe, eu sei me cuidar, além do mais minha casa não é muito longe, Boa noite e até amanhã, Mikami-san – Eu sorri inocentemente, antes de fazer meu caminho para longe da casa do moreno. Quando chegava à esquina, eu senti uma mão segurar suavemente meu braço, fazendo-me parar e olhar para o rosto curioso de Gevanni.

–O que aconteceu lá? Você está bem? – Ele perguntou cuidadosamente.

Eu sorri para ele e neguei com a cabeça.

–Não aconteceu nada lá, apenas coisas sobre o trabalho e uma xicara de chá, nada que realmente valesse a pena – Eu menti rapidamente, parecia muito mais fácil mentir para Gevanni do que para L e Beyond, talvez o fato dele não me olhar como se eu fosse um objeto em exposição ajudasse muito.

O moreno franziu a testa para minha resposta, mas logo soltou um suspiro cansado.

–Bem, não acho que ele vá sair para mais algum lugar à uma hora dessas, vamos voltar para a força tarefa o dia foi cansativo demais para nós dois – Ele sorriu gentilmente para mim.

Eu concordei e então começamos nossa caminhada de volta para a sede de investigações. No caminho Gevanni e eu conversamos sobre coisas casuais como o quão sério e monótono Mikami parecia ser, e coisas do tipo, ele era uma pessoal muito agradável quando não estava focado em seu trabalho, foi muito bom ver esse outro lado do homem sério e inteligente. Depois de alguns minutos, nós já estávamos dentro da sala de investigações, onde apenas L estava sentado em frente aos computadores, focado demais em seu trabalho para perceber a presença de Gevanni e eu. Gevanni limpou a garganta, em uma tentativa de chamar a atenção do detetive, assim que percebeu nossa presença, L voltou sua atenção á nós.

–Oh, vocês dois... Gevanni, Near precisa de sua ajuda nas análises das câmeras do prédio de Mikami – L disse monotonamente para o homem ao meu lado.

–Certo, boa noite – Gevanni concordou com a cabeça, antes de sair da sala, deixando apenas eu e L em um silêncio absoluto. Eu já estava pensando em deixa a sala, até que a voz de L me pedindo para sentar ao seu lado me interrompeu. Hesitantemente eu me sentei ao lado do detetive que me olhava com cautela e curiosidade, o que me fez muito desconfortável.

–En-então... Co-como foi o encontro do Yagami-kun com a Kiyomi? – Eu quebrei o ar tenso com a primeira pergunta que veio em minha mente.

–Muito bom – L respondeu simplesmente, era como se ele estivesse lendo cada movimento e expressão minha.

Eu engoli o seco em minha garganta e sorri nervosamente para o moreno, murmurando um “que bom”.

–E você com Mikami? Você chegou tarde... Trabalhou em horas extras? – L perguntou-me, com o olhar focado totalmente em mim, lendo cada movimento e estudando-me cuidadosamente.

–Nã-não, ele me fez ir até sua casa e assinar uns papéis para minha admissão como assistente, na volta eu me encontrei com Gevanni e voltamos juntos – Eu respondi nervosamente.

L focou os olhos negros em mim, parecia que ele tentava encontrar um traço de mentira ou nervosismo em meu rosto e voz.

–Oh, você descobriu algo com isso? – Ele continuou a perguntar, sem tirar os olhos de mim.

Eu sinceramente queria contar a verdade para L, mas simplesmente não podia, pelo menos não até eu achar o ponto fraco de Kira...

–Não, sinto muito – Eu murmurei incapaz de olhar nos olhos do detetive.

Longos minutos de silêncio se passaram, até que L o quebrou.

–-Não precisa se desculpar, Yukki-chan, todos nós sabemos o quanto você está se esforçando no caso, se você diz que não conseguiu nada, eu acredito em você, eu confio muito em você – As palavras de L fizeram o aperto surgir em meu coração e um nó em meu estômago. Como eu podia continuar á mentir para um homem que tanto me ajudou e confia em mim, que tipo de pessoa eu sou?

–Ryu-ryuuzaki... E-eu... Eu...Me desculpe, eu tenho que ir – Eu estava preste á fugir, com lágrimas da sala, mas a mão de L segurando meu braço, fez-me parar imediatamente com minhas ações. Eu tentei ao máximo segurar as lágrimas que ameaçavam rolar em meu rosto, enquanto L se levantou de sua cadeira para me encarar cautelosamente, eu olhava para qualquer lugar que não fosse para os olhos de L.

–Yukki-chan... Existe uma alta chance de que você esteja mentindo para mim – L disse calmamente. Minha respiração ficou presa em minha garganta, enquanto meu corpo tremia, eu estava com tanta vergonha e medo de olhar para L, porém hesitantemente eu consegui erguer minha cabeça para olhar para seus olhos negros, com meus próprios cheios de lágrimas. A mão de L lentamente foi até meu rosto, limpando uma lágrima que começara escorrer por meu rosto.

–Por favor, me diga que eu estou errado... Eu quero tanto estar errado, só desta vez, eu não suportaria que você mentisse para mim... – O moreno sussurrou suavemente, fazendo-me sentir como uma traíra, como o pior ser humano na face da terra. Eu olhei para os olhos de L, na esperança de que talvez ele percebesse o quão arrependida eu estava, os olhos de L sempre sem emoções, desta vez mostrava um pingo de tristeza e hesitação. Com um suspiro, L começou á se inclinar para frente, com os olhos semicerrados, me tornando mais nervosa com a proximidade, ele só parou quando nossas respirações se tornaram uma e nossos corpos foram pressionados um contra o outro, quando me dei conta, os suaves lábios de L já estavam sobre os meus.

Por que... L está... Me beijando?

Fim do capitulo 40!!!