Já era domingo e o dia parecia estar lindo, já eram em torno das 12:00 da manhã, ao abrir meus olhos, fui me espreguiçar, fazendo com que o meu braço sem querer – foi sem querer mesmo, eu juro – acertasse o rosto do Pedro, que levantou na mesma hora assustado com a mão sobre o rosto.

-Caralho Lucy! Mal acorda e já começa a agredir as pessoas. – disse ele levantando-se da cama, ele estava realmente lindo, o que me fez pensar: como alguém consegue acordar desse jeito? Ele estava sem camisa, apenas com uma calça de moletom, e seu cabelo estava bagunçado, mas não era um bagunçado assustador como o meu, era um bagunçado bem charmoso.

-Desculpa cara, foi sem querer – e pra ser sincera, realmente tinha sido sem querer, é que eu não estava acostumada a dormir com alguém na mesma cama, e sempre fui espaçosa.

-Sei – disse ele andando em direção ao banheiro.

 Eu continuei deitada pensando no que eu poderia fazer nesse domingo que lindo, que a propósito era meu último dia de liberdade, é, porque a partir de amanhã as aulas começariam, e eu nem fazia idéia em que escola meu pai havia me matriculado, eu pensei em ligar para a Manuela, mas me lembrei de que ela havia ido viajar com a família do Felipe.

  Pedro estava demorando de sair do banheiro, e eu estava apertada, acho que a qualquer momento eu faria xixi nas calças. Finalmente ele saiu, e assim que deu seu primeiro passo para fora do banheiro, eu saí disparada, entrei e fechei a porta, pude ouvir Pedro rindo da minha atitude, e não pude deixar de rir junto, afinal, a cena realmente tinha sido engraçada.

  Depois de fazer minha higiene matinal sai do banheiro e dei de cara com Pedro, que ainda estava sem camisa, o que me fez pensar: Que corpo é esse meu Deus...

  Nós nos encaramos durante alguns minutos, até que eu percebi que aquela situação estava tensa e constrangedora, então resolvi quebrar o silêncio:

-Então...

-Ah sim, ér... Eu só estava esperando você sair para tomarmos café da manhã – Disse ele, eu percebi que ele estava meio sem graça;

-Por que exatamente? – Perguntei curiosa arqueando uma sobrancelha.

-É que eu não gosto de comer sozinho, e imaginei que você também não gostasse, por mais estranha que você seja.

 Confesso que não esperava ouvir aquilo, fiquei meio impressionada, não com a parte que ele me chamou de estranha, mas sim quando ele disse que não gostava de comer sozinho, isso não fazia muito o perfil dele, aliás ele estava sendo legal de mais, o que me fez estranhar um pouco.

-Na verdade eu não costumo tomar café da manhã – vi uma expressão de decepção formando em seu rosto – Mas, por incrível que pareça hoje amanheci com fome.

   Ele sorriu, e fomos até a cozinha, chegando lá vimos um recado colado na geladeira, era do meu pai, isso era típico dele, peguei o papelzinho e li em voz alta.

   “Lucy, eu e Kate fomos dar uma volta pela cidade, não temos hora para voltar, deixei dinheiro em cima da geladeira para você sair com Pedro para aproveitar seu último dia de férias, a propósito você e Pedro estudarão na mesma escola e eu pedi a diretora que colocassem vocês na mesma sala. Ah pegue seu cartão e compre o seu material escolar e o do Pedro”.

  Com amor, papai “.

   Depois de ler amassei o papelzinho e joguei no lixo, peguei uma cadeira para alcançar o dinheiro que ele dissera que estava em cima da geladeira, mas antes que eu fizesse isso, Pedro pegou o dinheiro, apenas levantando um pouco a mão para alcançar a geladeira,e me entregou fazendo uma cara: Nanica!

  Fritamos ovos com bacon e abrimos um suco de caixinha sabor laranja, comemos e eu fui trocar de roupa, peguei a blusa do Super Homem que eu havia comprado ontem com o Pedro e uma calça jeans preta com vários rasgos na perna, e ele pegou a blusa do Batman e usou a mesma calça jeans que usou ontem, fui até o banheiro e me troquei, peguei meu all star de cano médio e calcei.

-Então, aonde vamos? – Perguntou Pedro

-Eu estava louca para ir ao parque de diversões que chegou aqui na cidade. – disse me lembrando de que eu havia combinado de ir com a Manu, mas por conta da viajem dela acabamos não indo.

-Ér... Parque de diversões? – disse ele com uma expressão meio indecifrável.

- Isso aí, algum problema? – perguntei curiosa

-Não, vamos lá.

Pegamos o elevador e esperamos um táxi que não demorou muito, eu estava super ansiosa  e não escondia isso, mas já o Pedro estava meio apreensivo, e desde que havíamos saído de casa, ele não havia dito uma palavra.

-Pedro o que houve?

 Ele ficou um tempo calado, mas depois respondeu:

-É que... eu tenho meio que um certo medo daqueles brinquedos, ok, pode me zoar.

-Ah deixa de bobagem cara, hoje eu vou fazer você perder esse medo ou não me chamo Lucinda Thompson! – eu disse rindo,tentando tranquilizar ele.

Finalmente chegamos, fomos comprar os ingressos na bilheteria e ao entrarmos eu parecia uma criança que acabara de entrar numa loja de brinquedos, mas Pedro olhava em volta parecendo que estava em um filme de terror, eu puxei a sua mão e fomos para a montanha russa, esperamos na fila e quando chegou nossa vez ele pensou em desistir, mas eu segurei em sua mão e falei:

-Vamos! Você consegue cara.

Ele deu um sorriso meio forçado, mas foi, ele não desgrudou da minha mão, o que me deixou meio desconfortável, mas era por uma boa causa, saímos ofegantes do brinquedo e eu perguntei:

-E aí? O que achou?

Ele estava muito ofegante o que me preocupou um pouco, mas quando eu menos esperava ele disse:

-MEU DEUS! PRECISAMOS IR DENOVO NAQUELA COISA!

 Eu ri satisfeita, mas sugeri que fossemos em outros brinquedos e depois retornaríamos a montanha russa, ele assentiu e nós fomos.

  Passaram-se horas, a única refeição que tivéramos feito foi o café da manhã, mas nós estávamos nos divertindo tanto que nem pensamos em comida.

-Vamos na roda gigante? – disse ele – Foi o único brinquedo que não fomos nenhuma vez até agora.

  Eu não gostava muito de roda gigante, na verdade tinha um certo trauma, pois uma vez eu fui numa dessa com a minha mãe e quando chegamos no topo faltou luz e ficamos lá presas por um bom tempo, desde então, ao ir em parques de diversões eu nunca vou em rodas gigantes. Ao perceber minha expressão ele disse:

-Não me diga que uma garota como você tem medo de rodas gigantes! – ele me encarou, eu ainda não conseguia responde-lo – Ah qual é, vamos logo antes que fique tarde.

  Ele puxou minha mão e fomos, no começo eu fiquei meio perturbada mas ele pegou na minha mão e sorriu, eu corei, mas sorri também, chegamos no topo da roda gigante, dava pra ver o parque inteiro e mais a rua, as pessoas de lá de cima pareciam meros pontinhos, eu comecei a olhar para os lados meio preocupada.

-Vai falar comigo agora ou vai continuar aí quieta como uma baixinha medrosa? – disse ele sorrindo para mim

-O que quer que eu diga?

-Como está se sentindo?

-Até agora bem – respondi ainda olhando para os lados

Até que finalmente a roda gigante começou a descer, e chegando no chão Pedro me ajudou a sair do brinquedo – não que eu precisasse de ajuda.

 Depois de muitas risadas, fomos embora, pegamos um táxi e foi aí que eu me lembrei que tínhamos que comprar o nosso material escolar que saco, pensei.

 Mudei nossa rota indo direto para o shopping, antes de tudo eu precisava comer, e o Pedro também, fomos até a praça de alimentação, comemos no Mc Donald’s, ah, como eu amava comer lá, mesmo sabendo o mal que fazia.

  Depois de comermos e comentarmos sobre o Parque,fomos até algumas papelarias, assim que ele bateu o olho em um caderno com uma guitarra linda na frente, não demorou 2 segundos e ele foi logo pegando e colocando no carrinho, eu escolhi um caderno simples, capa preta e uma mão fazendo o símbolo do rock, o resto foram só canetas, lápis entre outras coisas.

  Depois de escolhermos tudo, fomos até o caixa, pagamos e finalmente iríamos para casa, nós estávamos muito cansados, e pela primeira vez ficamos um dia inteiro sem brigar, ou pelo menos, quase isso.

  Saímos do shopping e pegamos um táxi, não estávamos muito longe de casa, e depois de uns 5 minutos mais ou menos chegamos, pegamos o elevador e bem, já chegamos discutindo...

-NEM VEM! EU VOU TOMAR BANHO PRIMEIRO NESSA PORRA, O BANHEIRO É MEU, VAI USAR O DO CORREDOR CARALHO! – eu disse gritando e indo em direção ao meu quarto, e Pedro vinha logo atrás com as sacolas.

-NÃO! USE VOCÊ O BANHEIRO DO CORREDOR – mas ele falou tarde de mais, eu sai correndo e me tranquei no meu banheiro.

   Liguei a água fazendo a banheira encher, era disso que eu precisava, apenas relaxar antes de voltar ao estresse da escola, a propósito fiquei me perguntando como seria possível ficarmos na mesma sala sendo que o Pedro era dois anos mais velhos que eu, fazendo assim, ele estar em uma série a mais que eu, mas isso não era da minha conta, então deixei pra lá, outra coisa também me perturbava, a Caroline, aquela criatura asquerosa, até hoje me pergunto como posso ter chamado aquilo de amiga!

  Fiquei um bom tempo na banheira, até que resolvo sair, meus dedos já estavam enrugados, ao sair do banheiro Pedro parecia já ter tomado banho e estava apenas com uma calça de moletom, e estava deitado na cama usando o notebook, foi aí que me lembrei de que teríamos que dormir mais uma vez juntos, pois o rapaz da loja de móveis não pôde entregar o beliche no prazo, peguei uma blusa de alça preta e uma calça de moletom quadriculada, fui até o banheiro para me trocar.

   Quando saí do banheiro, Pedro já estava deitado, mas ainda não tinha dormido, me deitei ao seu lado.

-Boa noite nanica – disse ele

-Boa noite – respondi secamente

 Ele se levantou para apagar as luzes, e voltou a se deitar, e quando ele pensou que eu já tinha pegado no sono,sussurrou esperando que eu não ouvisse:

 - Obrigado por hoje.