Finalmente chegamos a lanchonete, ela não era muito longe da escola, estava um pouco cheia, e assim que entramos, demos uma olhada e achamos uma mesa um pouco no canto, mas que ficava de frente para a rua. Assim que nos avistou, a garçonete veio nos atender.

- Boa tarde, então, o que desejam? – Disse a garçonete 

- Eu quero um milkshake de flocos com bastante calda de chocolate por favor. - Disse o Scott, eu ainda não sabia o que pedir. - E você Lucy, o que vai querer?

- Bem, ainda não sei... - Na verdade eu já tinha uma ideia do que pedir.

- Ah qual é Lucy, deixa de besteira, eu sei muito bem que você não demora muito pra escolher o que comer, e que sai atacando tudo o que vê pela frente. – Disse o Scott, a garçonete riu.

- Nossa cara, valeu, me senti aquele tipo de pessoa que não aguenta ver comida e já cai matando. – Eu disse fingindo estar ofendida.

- Ué, e você não é assim ? – Disse ele rindo. – Agora sério, pede logo porra.

- Ta bom caralho! Então, eu vou querer um hambúrguer com umas três carnes, bastante bacon e molho, e uma folhinha de alface pra não dizer que eu não sou saudável. – Quando terminei de fazer o meu pedido, o Scott e a garçonete estavam olhando para mim com uma expressão de assustados. – Que foi gente?

- Hã... nada Lucy. Então, é só isso mesmo. – Disse o Scott e a garçonete o encarou pelo "só" que ele acabara de dizer.

- Ah, quase ia me esquecendo, quero também um copo de refrigerante e uma porção de batatas. – Eu disse, a garçonete perplexa anotou o pedido e saiu.

Eu e o Scott ficamos em silêncio por um tempo, até que um grupo de garotos com em torno de dezessete anos passaram na frente da lanchonete e ao verem o Scott começou a bater na janela que ficava bem na frente da nossa mesa.

- E aí viadinho já fez as unhas hoje? Florzinha – Disse um deles, e os outros começaram a rir.

- Vão se foder! – Disse o Scott mostrando o dedo do meio para os garotos, eu confesso de que não estava entendendo nada.

Os garotos fizeram caretas para o Scott e foram embora rindo, o Scott pareceu ter ficado bastante nervoso, e eu estava boiando.

- Imbecis. - Disse o Scott com raiva.

- Quem era eles? E porque ficaram te chamando de florzinha? - Eu estava muito confusa com tudo aquilo.

- Deixa pra lá Lucy, não tem importância.

- Scott, não sei se eu já lhe disse, mas sou uma pessoa muito insistente e curiosa, então meu caro amigo, eu lhe aconselho a me contar tudo, caso contrário não vou te deixar em paz tão cedo.

A expressão do Scott não era nada legal , por um minuto até pensei em não insistir para que ele me contasse, mas minha curiosidade estava falando mais alto. Antes que ele decidisse se iria me contar ou não, a garçonete chegou com a comida, fiquei tão feliz ao ver aqueles lindas batatas, e aquele hambúrguer suculento, depois de tanto admirar a comida, por um minuto eu esqueci sobre minha curiosidade, mas logo lembrei-me.

- Ei, sério, pode ir me contando tudo. - Eu disse, o Scott parecia estar meio envergonhado. - Anda vai, o que está acontecendo?

- Olha Lucy... Eu acho que vai ser meio difícil de acreditar, mas eu não quem você pensa. - O.k com isso que ele acabara de dizer, fiquei mais confusa ainda.

- Não me diga que você é o Batman. - Eu disse fazendo ironicamente uma cara de surpresa.

Por um momento ele riu, mas depois o silêncio reinou ali.

- Eu sou gay.

- Sério Scott, sem gracinhas. - Eu disse comendo minhas batatas.

- Mas eu estou falando sério, eu sou gay Lucy. - Fiquei em silêncio, e ele também, eu não conseguia acreditar no que ele acabara de dizer, quero dizer, se ele era mesmo gay, porque havia tentando me agarra?

- Mas Scott, você ser gay não faz sentido algum, se você é mesmo gay, porque tentou me agarrar aquela noite? - Eu sinceramente estava esperando uma resposta bem convincente, porque aquilo para mim não estava fazendo nenhum sentido.

- Vou lhe explicar Lucy, mas espero sinceramente que você entenda, ou pelo menos tente entender o meu lado. 

- Tá, agora desembucha logo porra!

- O.k., calma, naquela noite aqueles caras começaram a me chamar de gay, e bem, é o que eu sou, mas é meio difícil você assumir ser gay quando seus pais são totalmente preconceituosos, eu tentei guardar esse segredo, mas é meio complicado você tentar esconder por muito tempo o que você é de verdade. - Ele deu uma pausa, e suspirou, eu estava meio que perplexa. - E para provar pra aqueles idiotas que eu não era gay, eu meio que fiz uma aposta com eles, eles queriam que eu provasse ser hétero, e eu usei você Lucy, me desculpa mesmo, eu havia bebido um pouco a mais naquela festa, mas foi porque eu estava muito nervoso com tudo aquilo, eu estava tão focado em tentar provar pros outros o que eu não era, que eu nem notei o que estava fazendo, ou melhor, com quem eu estava fazendo. - Novamente ele fez uma pausa e olhou para mim, eu estava completamente surpresa, não sabia nem o que falar. - Eu gosto muito de você Lucy, foi um prazer salvá-la dos ladrões naquele dia, e queria muito me tornar seu amigo, então, me desculpe por tudo isso, sei que é muito desagradável tudo isso, mas peço desculpas de coração.

Minha reação foi de completo espanto, eu não sabia o que fazer e nem o que falar, eu realmente não sei se eu fiquei mais chocada com o fato do Scott ser gay, ou o fato dele tentar provar ser uma coisa que ele não era, e me usar para isso. Mas eu acabei pensando no lado dele, quando se têm pais muito rigorosos em questões de escolhas sexuais, realmente deve ser difícil de se assumir.

- Olha Scott, sinceramente, eu estou chocada com tudo isso, mas, por um lado eu estou tentando lhe compreender, deve estar sendo muito difícil pra você lidar com isso tudo. - Eu precisava ajudar o Scott, ele não era um cara ruim, estava apenas confuso. - Eu quero que saiba que eu vou estar com você para o que você precisar, sério. - Nesse momento peguei na mão dele e ele sorriu. - Deve ser legal ter um amigo gay, aposto que é mais sincero do que muitas "amigas". 

Ele me olhou com cara feia nos primeiros cinco segundos, depois rimos e terminamos o nosso lanche. Como não tínhamos nada para fazer essa tarde, chamei o Scott para ir na minha casa para fazermos alguma coisa, e ele topou.

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Ao chegarmos na minha casa, como sempre o meu pai havia saído para trabalhar, e a Kate estava no shopping.

O Pedro e o Jack estavam jogando Guitar Hero na sala, o Pedro para variar estava ganhando, eles estavam tão concentrados no jogo que nem perceberam que eu e o Scott havíamos chegado.

- Vamos pro quarto. - Eu disse pro Scott.

Fomos até o meu quarto, e eu fechei a porta.

- Então, o que vamos fazer? - Perguntou ele

- Não sei, dá uma ideia ai.

- Coloca uma música aí, e vamos conversar, tenho umas perguntas para lhe fazer.

O.k., eu fiquei tensa e curiosa ao mesmo tempo quando ele disse isso, coloquei Somebody Told Me para tocar, e me sentei na cama ao lado dele.

- E como vai você e o Pedro? - Ele disse sendo bem direto.

- Hã... acho que não entendi sua pergunta. 

- Ah sim, você entendeu Lucy. Acha que eu não percebi o clima de vocês? Por favor né Lucy.

- Não tem clima nenhum! Dá pra parar com isso? - Eu estava começando a ficar nervosa.

- Tudo bem... Mas você não deveria esconder as coisas de si mesmo, digo isso por experiência própria.

Eu o ignorei, e bem na hora certa, assim que ele terminou de falar, alguém bateu na porta e entrou. Era o Pedro, e atrás dele estava o Jack.

- Onde você estava? Nem vi você chegando. - Disse o Pedro. - E o que esse cara está fazendo aqui? - Disse ele nervoso ao ver o Scott.

- Porque diabos eu tenho que me explicar pra você? Me poupe Pedro.

- Tudo bem então Lucy, mas quando ele tentar te agarrar novamente, eu não vou lhe salvar novamente. 

- Fique tranquilo, ele não vai tentar me agarrar de novo, e mesmo se agarrasse, não preciso de você.

- Ah é? E como você tem tanta certeza que ele não vai tentar nada com você de novo?

Eu olhei para o Scott, e ele pareceu entender o que eu estava tentando falar, e assentiu com a cabeça.

- Porque o Scott é gay Pedro.

O Pedro olhou espantado, e eu entendi a reação dele, pois eu também havia ficado daquele jeito, e o Jack parecia estar boiando .

- Gay? Mas isso é impossível! - Disse o Pedro.

- Não, não é. - Disse o Scott. - Senta aí Pedro, vou lhe contar tudo.

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O Pedro ainda estava surpreso, ele ficou quieto por um tempo, tentando processar tudo isso.

- Nossa cara, que barra hein... - Disse o Pedro, ele parecia estar arrependido por ter acusado o Scott.

O Scott deu um sorrisinho, e todos ficaram em silêncio, até que eu tive uma ideia.

- Vamos todos assistir a um filme no cinema? 

Todos toparam, e eu liguei para a Manu, e ela também topou ir. Nos arrumamos super rápido e fomos buscar a Manu, e próxima parada: cinema.