Akai:yume escrita por killdream


Capítulo 1
Capítulo 1 - Kill the Lights


Notas iniciais do capítulo

Kureha Shrine: Templo Kureha
Hellish Abyss: Abismo Infernal
The Lost Village: Vilarejo Perdido (essa tradução ficou muito tosca, alguém aí tem um termo melhor? .-.)



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            — Você vai me deixar para trás de novo...? — A voz familiar ecoou na cabeça de Mio enquanto ela se dirigia ao santuário, correndo pelos degraus de pedra. A câmera obscura em uma das mãos trêmulas, enquanto a outra segurava a lanterna que porcamente iluminava o caminho. — Mio... não prometemos... — a voz de Mayu continuava a ressoar, em um tom depressivo. Mio olhou para trás, instintivamente, segurando a câmera na frente de seu rosto.

            Nada apareceu, mas aquela sensação ruim continuava a atormentar a jovem garota.

            Ainda com a câmera apontada para a escada, ela caminhou para trás. O coração dela batia mais rápido a cada vez que seu pé tocava o chão de pedra. Os lábios dela estavam levemente entreabertos, tentando compensar sua respiração irregular.

            — Estaríamos sempre juntas... — Mio se virou no instante em que aquela voz chegou aos seus ouvidos, por trás, apertando o botão antes que qualquer coisa tivesse a chance de atacá-la.

            Mas não havia nada à frente das portas do templo além da trêmula Mio. A foto que saiu da câmera, por outro lado, mostrava Mayu, de costas, segurando a mão de outra pessoa. Uma corda vermelha amarrada na cintura das duas pessoas conectava a irmã de Mio com a garota vestida com um quimono branco. Olhando melhor a foto Mio pôde reconhecer o lugar; era o Abismo Infernal que vira em um filme na casa dos Kurosawa.

            — Mayu... — ela murmurou, tocando a foto mais uma vez antes de adentrar o templo Kureha. Sentia pena de sua irmã, já que a promessa não pôde ser cumprida, mas agora ela precisava correr para sair daquele pesadelo. Passando por uma abertura nos fundos do templo, ela se apressou escada abaixo.

            Era isso, pensou, se eu continuar por aqui, então...

            — Você vai me deixar para trás de novo...? — A voz de Mayu soou na cabeça de Mio mais uma vez. Quando ela pensou sobre voltar, tropeçou e quase caiu, mas conseguiu manter o equilíbrio e continuou pela caverna. — Não prometemos que estaríamos sempre juntas...?

            Mio mordeu o lábio inferior e, no instante em que ela se preparou para olhar para trás, foi a vez da voz de Itsuki assaltar sua cabeça, — Não olhe para trás! — mas já era tarde, pois a jovem virara sua face ligeiramente, — Mayu...? — se voltando completamente para trás quando o sentimento de culpa se tornou quase insuportável. — Mayu...?!

            A jovem deu um passo para frente e então congelou-se, completamente. O que a lanterna palidamente iluminava não era a irmã de Mio, mas uma garota vestindo um quimono branco. Manchas de sangue se percebiam em suas roupas enquanto ela caminhava na direção de Mio. A jovem desesperada por escapar a um segundo atrás não conseguia se mover nem um milímetro; ela apenas observava inexpressivamente a garota, Sae, que se aproximava mais e mais rápido. Aquela expressão maníaca tomava conta do rosto da garota de branco enquanto ela encurtava a distância entre ela e Mio.

            — Mayu... — a senhorita em desespero murmurou, em um tom baixo.

            E então, estava tudo acabado.

           

———oOo———

 

            — Me desculpe... — a voz depressiva combinava com a expressão abatida no rosto de Mio. Pela segunda vez seguida ela tinha corrido, deixando sua irmã para trás. Não poderia se perdoar, depois de tudo. E duvidava que Mayu a perdoasse também.

            Ela observou a floresta por um instante, lembrando-se das vezes em que as duas brincaram juntas ali. — Seria melhor se eu tivesse morrido lá também — ela condenava a si mesma, mas nunca teve a coragem necessária. A única coisa que podia fazer era rir do fato, tentando manter o último resquício de sanidade que ainda tinha.

            Algum dia ficaremos juntas novamente... nem que eu tenha que esperar pela eternidade... ficaremos juntas...

            Enquanto ela sonhava com sua irmã, seus olhos se fecharam lentamente, levando as luzes com eles. A estranha sensação de letargia que a atacou foi seguida de um calor acolhedor, como se estivesse dormindo nos braços de alguém. E talvez fosse aquele o caso.

            Ela imaginou Mayu em sua mente enquanto se acomodava nos braços da irmã. Por aquele instante ela se sentiu viva, como nunca sonhara se sentir antes. Um sorriso se formou no rosto da bela adormecida quando a mão de Mayu gentilmente acariciou seu cabelo macio. A outra tocava as bochechas de Mio, deslizando paulatinamente para sua boca. Os finos, delicados dedos tocaram a extremidade da boca de Mio, então contornaram-na, parando finalmente no meio dela, como se quisesse impedir que a garota dissesse qualquer coisa — mesmo que ela não tivesse a intenção; Mio só queria continuar assim para sempre. Queria apenas que aquele calor afável nunca se apagasse.

            Provavelmente fora aquele sonho infantil a lhe causar arrepios quando sentiu uma respiração fria e apagada em suas orelhas. Estava certa de que não era a respiração de Mayu; nenhuma pessoa no mundo tinha uma respiração que poderia congelar o universo inteiro se quisesse — ou ao menos, não alguém vivo.

            — Por que me deixou para trás, Mio? — o sussurro cruel chegou aos ouvidos de Mio, fazendo seus olhos se abrirem completamente, em um impulso. A respiração alterada combinada com o barulhento coração eram os únicos sons que podiam ser ouvidos.

            Mio reconheceu o lugar, timidamente banhado pela luz da lua. Era a entrada do Vilarejo Perdido.

 


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Notas finais do capítulo

— 11.08.2009 —

——oOo——
Eu descobri que escrevo melhor em inglês do que em português o.o bizarre (bem, leve em conta que eu leio mais livros/visual novels em inglês e não será tão bizarre assim .-.)