Riley’s POV

Eu olhava para fora da janela. O dia estava nublado, ameaçando chover. Ah, aquele clima melancólico me lembrava Player. Fazia um tempo desde que eu saí de lá, e toda vez que o dia tinha um clima assim, me sentia meio nostálgico.

Caminhei pelo quarto muito bem decorado em direção ao grande espelho que tinha na parede. Analisei as cicatrizes que eu tinha por todo o corpo. Marcas de batalha, marcas do meu sucesso.

Olhei para meu rosto, observando meu olho esquerdo, que havia passado de vermelho para quase branco. Sim, eu não enxergava mais com ele. Mas aquilo não foi um grande problema. Teria me atrapalhado muito se eu tivesse que lutar outra vez, mas eu não pretendia lutar nunca mais.

Me lembro perfeitamente de como aconteceu. As últimas palavras que ouvi do Rei foram “eu lhe concedo meu trono”. De repente, como se tivesse saído de um transe, abri meus olhos e percebi que tinha retornado para Player.

Não vi mais o Rei por perto, apenas um monte de pó sendo levado pelo vento, então deduzi o que tinha acontecido. Foi aí que percebi que não conseguia mais enxergar com o olho esquerdo. Aquilo era sinal de que tudo tinha acabado.

Confesso que fiquei meio apavorado. Tudo tinha acabado? Mas e depois? O que eu faria? Não sabia como seguiria em frente.

Foi aí que Phil apareceu, com seu típico sorriso divertido. Ao se aproximar, ele me entregou uma carta, escrita por Hawkney Kendrick III. Lá estava escrito algumas instruções. Ele havia me concedido sua fortuna como herança, sua residência e todo o resto que lhe pertencia. Porém, sobre como governar, apenas estava escrito: “Cuide bem do meu reino”.

E foi o que eu fiz. Quando fui levado para a cidade em que Hawkney habitava, comecei meu governo. A população ficou meio receosa quanto a um garoto de 18 anos governar o mundo, mas ao verem o quanto o mundo evoluiu e se tornou melhor, passaram a me apoiar.

Transformei o mundo naquilo que sempre quis. Libertei as terras que haviam sido tomadas, e parei com qualquer guerra que tivesse sido iniciada. Eu queria um mundo pacífico, gentil, onde todos poderiam ser felizes. Onde todos poderiam... Sorrir.

Eu também pude sorrir com sinceridade. Minha vida jamais voltaria a ser como a de um garoto comum, mas eu não me importava. Eu agora podia fazer do mundo um lugar melhor. Eu me sentia realizado, por ter cumprido meu maior objetivo.

Me lembro que um dos meus outros objetivos, além de mudar o mundo, era vingar minha família. Porém, eu percebi que vingança é uma coisa horrível. Assim como haviam dito para Hawkney, é um ciclo vicioso, onde todos saem feridos. Aprendi que não se combate mal com mal, e sim com o bem.

Lembro-me também, que meu outro objetivo era tentar trazer minha família de volta. Eu pretendia, assim que virasse rei, procurar um jeito de fazer isso. Porém, descobri que um rei não tem capacidade disso. Um rei pode trazer o corpo de volta, mas não a alma. E qual a necessidade de um corpo sem alma?

Eu neguei qualquer poder sobrenatural que poderia ter. Eu queria governar de uma forma justa, como um ser humano normal, sem trapaças. E eu não precisava daquilo, não queria trazer ninguém de volta. Eu finalmente havia aceitado a morte da minha família.

Uma coisa que aprendi com Lix e Skyne, é que todos estão no mundo por um motivo. Lix me ensinou que só se morre quando sua missão já foi cumprida. Se você já zerou o jogo, por que continuaria nele? E ainda mais, por que voltaria nele?

Skyne me ensinou, que muitas vezes, o objetivo da pessoa não é apenas para ela. Assim como ele se sacrificou por mim, poderia ter sido o mesmo com minha família. Se eles não tivesse partido, eu jamais tentaria ser o rei, e o mundo continuaria podre como ele era.

Ou seja, eles não morreram em vão, eu aceito isso agora. Entendi que alguns espinhos, um dia podem se tornar belas flores. E que algumas barreiras um dia podem se tornar passagens.

Incrível como em alguns meses, eu aprendi mais do que durante minha vida toda. Eu mudei, as pessoas me mudaram, mas para melhor.

Eu poderia dizer que cumpri meus objetivos desejados, mas ainda não acabou. Ainda tenho muito que fazer como rei. Ainda tenho muitos caminhos para traçar, muitas missões para cumprir, e muito que aprender.

Eu venci o jogo da morte, mas agora, tenho que vencer um jogo ainda mais difícil. Um jogo que vou ter que batalhar para zerar, mas que aprenderei muito com isso.

O jogo da vida.