Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 18
Sobre Just Like Heaven e Camel


Notas iniciais do capítulo

Ainda é terça-feira! Desculpem-me acabei me distraindo por duas horas e quarenta minutos e só consegui postar agora.

Essa é mais uma visão do nosso queridinho.

ANTES DE MAIS NADA, queria agradecer à Milkisa pela recomendação. Menina, não sei se você leu no aviso (que eu já vou apagar), mas eu vi numa aula de biologia e quase tive um surto de felicidade, quase choro! Muito obrigada mesmo, significa muito. Fico nas nuvens quando abro a página e vejo lá... a primeira recomendação da minha vida. Linda. Linda.

Meninas, leio os comentários de vocês e alguns eu dou risada sozinha, como os da minha linda Fanta.

AAAAh, mas vamos ao que interessa né? O que será que o Thorne tá aprontando dessa vez?



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Encarei qualquer coisa supérflua sem o mínimo interesse. A única coisa que eu não queria no momento era encará-la, ou talvez não quisesse que ela me encarasse e visse toda mágoa carregada nos meus olhos.

Tanto faz, eu estava na merda. Só continuava não querendo que nossos olhares se encontrassem.

A sala era ampla e as paredes pardas me deixavam com vontade de pintá-las de qualquer outra cor, menos algum tom pardo. Tinha uma luz fraca, quase inexistente. Havia dezenas de sapos sem órgãos dentro de um recipiente de vidro. Olhei para a parede oposta, as letras grandes e garrafais diziam que estávamos numa das salas de Biologia do Complexo 7, mas todos sabiam que estava sem uso há alguns meses e foi exatamente para lá que Julia nos arrastou.

Não queríamos ser vistos.

Um som de uma cadeira rangendo sobre o piso me chamou a atenção. Julia se desculpou, o som da sua voz me fez virar e acabei sorrindo.

Ela era linda até com um casaco que tinha três vezes o seu tamanho. Meu sorriso se abriu ainda mais o que era muito piegas – confesso- , mas eu conseguia sentir até os meus olhos brilharem, a garganta se fechar e doer. O fluxo de sentimentos rodopiarem pela minha mente. Só conseguia pensar em Julia e em como os seus olhos se estreitavam quando ela sorria.

– O que foi? – perguntou, seus olhos se voltaram para sua própria imagem e ela prendeu o cabelo escuro com um único nó.

– Nada, só... que você fica bem com o meu moletom.

Ainda com a luz débil da sala eu pude ver quando o seu rosto ficou rosado e ela começou a tirar o casaco.

– Desculpe, eu saí apressada, pensei que fosse do Steve.

– Você não precisa me devolver – soltei, ficando de costas e encarando o couro pálido dos sapos. A vontade de toma-la nos braços era tanta que a minha mão se direcionou para o bolso dos meus jeans, apertando uma caixa de Camel com um ou dois cigarros vagabundos que sobraram. – Não menti quando disse que ficava bem em você.

O silêncio seguiu-se tão gritante e escandaloso que tive medo de corta-lo. Meu coração batia rápido pela ansiedade de me resolver o mais rápido possível com a minha garota, que no fundo eu sabia que nunca fora ou seria minha. Senti o punho se fechar dentro do bolso. A raiva que eu sentia de Darwin estava transbordando, não cabia mais em mim. O sentimento agonizante me sufocava. Sentia amor. Estava apaixonado. E, contudo, a raiva ainda me domava e meu coração sentia que eu iria explodir a qualquer momento e esquecer-me de tudo. Espancar o imbecil do Darwin até... até... até depois que as minhas mãos começassem a doer.

Além de tudo, não podia contar nada para o meu melhor amigo, estava cansado e preso dentro de mim mesmo. Uma coisa que eu não desejava nem ao meu pior inimigo, com exceção se ele estivesse roubando a garota que eu amava.

– Você conhece o Darwin e não me contou.

Não foi uma pergunta. A afirmação saiu firme e dolorosa quando atingiu os meus ouvidos. Julia estava magoada, era evidente ainda mesmo sem olhar para ela.

– Desculpe. – foi a única coisa que consegui pronunciar, e nem sabia por quê.

– Porque não me contou antes, Dylan?

Eu não tinha uma desculpa. A dor me pegou de surpresa quando senti algo em como ela pronunciou o meu nome. O sangue fluiu mais rápido pelas minhas veias, o rosto recomeçando a ficar quente. Senti ânsia de vômito, mas não demonstrei.

– Eu não sei, Julia. – disse

Não se ouviu mais nada além de passos no corredor. Um barulho de algo se chocando contra metal, uma sombra pelo pedaço da parede que a pequena parte de vidro na porta de madeira deixava ver. Não dei importância.

Temendo que não conseguiria mais ficar um segundo sem beijá-la, resolvi que o mais fácil seria acabar com tudo aquilo o mais rápido possível.

– O que você queria comigo, Collins? O que temos para conversar?

– Olhar para mim facilitaria, Thorne. Se você virasse essa cara de... de...

– Cara de quê, garota? – virei-me raivoso. Apertei os olhos o tanto até onde conseguia, impedindo que ela visse o brilho colérico que os eles entregavam.

– Eu te odeio, Dylan! – ela gritou.

Andei em sua direção, sem me importar em segurar o seu pulso com tamanha brutalidade. Estava com raiva dela. Com raiva de Darwin. Com raiva do beijo que os dois compartilharam sem lá que horas. Seus olhos se encheram de lágrimas e as gotas gordas tomaram os seus cílios como se ela tivesse mergulhado em uma piscina. Os seus olhos pareciam uma piscina quando banhados pelas lágrimas. De repente senti toda a minha raiva baixar. Perdi o fôlego quando os meus olhos escuros repousaram no tecido ferido de seu lábio, e novamente fui tomado pelo asco. Foi como se o nosso toque me pusesse em choque. Me afastei tão rápido que o maço de cigarros caiu do meu bolso.

– Você andou fumando? – Julia perguntou, mesmo sabendo que a resposta seria positiva e pegou a carteira de Camel no chão, amassando-a.

– Me deve um maço de cigarros, linda – disse e sorri o mais maldoso que pude, independente de como estava quebrado por dentro. Estilhaçado como líquido amorfo: vidro.

– Você é ridículo. – ela jogou o que restou dos cigarros em mim – E quer saber? Não me importo se você é o próximo da fila dos idiotas que querem morrer de câncer no pulmão.

Soltei uma gargalhada exagerada, a raiva voltava a todo vapor.

– Eu não me importo se você se importa, Julia! Também não me importo com você. – disse querendo que as palavras soassem tão verdadeiras quanto não eram.

Então ela parou e eu também parei.

Julia Collins fez menção de que iria sair da sala e me deixar só, mas eu não deixaria aquilo acontecer.

Ela ouviria tudo o que eu tinha para falar.

– Eu acho que eu já me importei demais, Julia. – afastei uma cadeira que estava entre nós e a segurei pelo pulso, encostando-a na parede. Seus olhos azuis me fitaram receosos, mas eu não iria soltá-la enquanto não dissesse tudo. Mesmo que a vontade de beijar aquela boca fosse maior que tudo, maior até que a raiva – Eu passei a noite em claro, só pensando no que eu te disse. Queria voltar correndo só pra te pedir desculpas, mas passei a madrugada inteirinha ouvindo Just Like Heaven e te desejando perto de mim. – apoiei um dos meus braços na parede, ela poderia sair se quisesse, mas permaneceu imóvel, encarando os meus olhos como eu encarava o seu rosto: fixo. – Quando eu tinha dezesseis anos meus pais discutiram e vi que ele correu para os fundos com cigarro nas mãos, então ele me disse “Se sofrer por amor, Dylan, por favor, não beba. Só faz você perder o juízo e pode trazer consequências terríveis. Um bom cigarro é um verdadeiro amigo. Só nicotina, filho.”

“Eu o ignorei ontem à noite e bebi, eu vomitei e mesmo depois de toda essa droga eu não consegui te tirar da cabeça, Julia – trinquei os dentes e apertei os olhos. Falava rápido demais – Então seu irmão veio, mas eu não quis voltar e comprei cigarro. Eu perdi a conta de quantas vezes eu engasguei, porque eu nunca tinha fumado, Julia. E sabe porque eu nunca tinha fumado? Eu tinha guardado o conselho do meu pai e eu nunca tinha sofrido por amor.”

Meu coração disparou rápido e eu temia que àquela distância a dona dele pudesse ouvi-lo. Estava cansado de bancar o impenetrável que só quer sexo com a irmã do melhor amigo. Ela pareceu surpresa com a minha confissão tão impetuosa. Para falar a verdade, até eu estava.

Julia permaneceu quieta. As lágrimas que eram cristais na ponta dos cílios ainda estavam ali, sumindo a cada piscar. Seu peito subia e descia com a movimentação irregular que a sua respiração quase falha causava, ela não iria dizer nada. Fugia sempre, não sei por que estava tão surpreso.

– Nós não damos certo juntos e uma conversa é inevitável. – lamentei.

Desencostando a palma da parede dei as costas para a mulher tão menina que mexia com os meus pensamentos.

Olhei uma última vez para trás e Julia estava encostada na parede, me encarando.

Uma chama de esperança se acendeu quando ela olhou para baixo e abriu a boca para dizer algo.

– Just Like Heaven é uma música muito boa. Gosto de The Cure.

Sorri, mas ainda assim algo dentro de mim se decepcionou.

Assim que deixei os sapos desovados e a sala parda e com pouca claridade ouvi passos que acompanhavam os meus. Não queria olhar, sabia quem era. Mas assim que pude captar que o som não era de tênis e sim de salto me virei em um único giro, fazendo com que Demetria Halker desse um sorrisinho enquanto as palmas de sua mão paravam em meu tórax. Olhei-a com descaso.

– O que você quer? – perguntei inexpressivo.

– Desculpe ter me esbarrado em você – sorriu – Oh, não, você parece desapontado... Sentimento de perda, Dylan Thorne?

Retirei as suas maõs de unhas enormes de cima do meu corpo com certa rispidez, e saí andando a passos largos, não tinha esperança que ela não continuasse a me seguir, Demi era insistente quando queria, isso eu sabia bem.

– Não se perde o que nunca foi seu, Halker.

– Bom, uma pena. Mas você sabe que pode ter mulheres muito melhores que Collins na sua cama.

Parei para encará-la, seus lábios vulgarmente pintados por um vermelho chamativo formaram um bico para deixa-los mais carnudos. Estava frio, mas mesmo assim os seios da loura quase saltavam para fora e as pernas estava à mostra numa saia que caberia em uma criança de sete anos. Eu a acharia provocantemente gostosa e seu rosto até bonito há alguns meses e em outras circunstâncias.

– Desculpe novamente, acho que eu não deveria ouvir conversas atrás da porta.

– Não peça desculpas quando não está se desculpando de verdade. Você é ridícula, Demetria.

– Eu só queria dizer que a sua namorada está te esperando, campeão. – ela sorriu – No refeitório.

Estava ainda mais colérico devido às provocações de Halker. Dei as costas para ela, enquanto caminhava em direção ao refeitório, prestes a resolver algo em minha vida.

– Dylan! – Demi gritou uma última vez, mas eu não dei ouvidos e continuei a seguir o meu caminho. – Você conhece Steve Collins? Uma figura ele, não?!

Apenas trinquei os dentes enquanto dobrava a esquina, seguindo para o corredor seguinte. Esperando que o som do salto contra o piso não me alcançasse.


Antonia me receberia com um beijo nos lábios se eu não desviasse o rosto, fazendo com que sua boca se chocasse com a minha bochecha, onde uma barba rala estava por fazer. Ela pareceu surpresa, mas o olhar provocante e onipotente voltou quando ela ajeitou a saia prestes a sentar em meu colo. Eu apenas afastei a minha cadeira um pouco mais para frente, não havia espaço para ela ali.

– Aconteceu alguma coisa, amor? – perguntou passando a mão em meus ombros, abaixei a cabeça, cansado e descansei-as sobre os meus braços apoiados na mesa, fazendo com que ela me soltasse.

Ela notou imediatamente que havia algo errado.

– Eu te esperei ontem, você não apareceu – sua voz era chorosa.

– Olha, Toni... Eu não posso fazer isso... Eu...

Estava tudo escuro, na minha linha de visão, mas os ouvidos atentos souberam quando ela arrastou a cadeira ao meu lado e seus dedos finos passearam entre a bagunça dos meus fios negros.

– Sua voz está abafada, amor, não consigo te entender.

Levantei a cabeça, um pouco tonto, e a encarei com somente um pensamento na cabeça: Ela faria um escândalo.

Pelo canto do olho, pude ver Julia Collins pedir uma água e sair do refeitório, tão rápido quanto entrou, tanto que eu nem havia percebido. Acompanhei pela grande janela de vidro o movimento que ela fez antes de se encontrar com Darwin no campus e ele lançar-lhe um sorriso que me deu náuseas.

Até mesmo Luce achava que o melhor para ela era ele e não eu.

Mesmo com esse pensamento um tanto feliz na consciência eu não deixaria de fazer o que deveria ser feito.

– Toni, nós não damos certo juntos. – falei pela segunda vez naquele dia. A diferença era que dessa vez a pessoa para quem eu falei a frase teve uma reação extremamente contrária.

Desejei estar na sala parda com os sapos sem órgãos outra vez.


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Notas finais do capítulo

"Eu que não fumo queria um cigarro... Eu que não amo você." ♬


Não vou comentar. Não vou comentar. Não vou comentar sobre esse capítulo.
Olha, gente, o próximo eu vou fazer de tudo pra sair semana que vem, vou olhar um dia que as minhas provas estejam folgadas e meter a mão na massa, prometo!

Não esqueçam de dizer meeeeeeesmo o que estão achando e se tiverem sugestões podem mandar aí, tô aceitando. Críticas também, tô naquela fase que precisa encarar tudo, então FALEM O QUE ACHAM SEM MEDO.
Um beijo, queridos.
Saudades extremas!