Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 17
Um perdedor com o rosto quente


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Como foi a virada de ano? Que vocês brilhem em 2014, seus lindos.
Estava escrevendo esse capítulo e comecei com a visão da Julia, estava quase na metade quando decidi que o Dylan deveria compartilhar uma coisa com vocês.

Isso aí, o Dylan quer te contar uma coisa.

Aproveitem que nos vemos lá em baixo.

Ps.: Se tiver alguns erros me perdoem, tô doidinha esses dias e precisando urgentemente de um beta.



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Eu não conseguia pensar.

Senti o meu rosto ficar quente e a minha dor de cabeça da bebedeira de ontem só me deixava pior. Tudo que eu podia pensar era que o pai me avisara quando aquilo iria acontecer. Aquilo estava acontecendo e eu estava fora de controle.

Tentei ligar toda a noite para conversar com o meu pai. Ele era o único que me entenderia e que me daria o conselho certo quando eu abrisse o jogo. Não podia contar com o meu melhor amigo naquela situação complicada, quando eu abrisse a boca e tocasse no nome da Julia eu seria morto a facadas antes que conseguisse piscar.

– O que você está fazendo aqui? – ela devolveu a pergunta, mas o seu olhar estava no Darwin e aquilo só me fez querer mais ainda socar a cara daquele imbecil até ele ficar verde.

Desviei no último segundo assim que percebi que estava caminhando até ele com o punho cerrado, e eu não pretendia fazer a minha Julia presenciar um assassinato. Fui até a mesa e abri a mochila vazia que tirei das costas jogando todos os papeis dentro dela. Eu tinha esperança de amassar também os sentimentos ali transformados em letras quando eles caiam amassados no fundo da mochila.

Todas as letras falavam dela e de como eu estava me sentindo, de como ela não se sentia. Luce prometera criar uma melodia com Chase para a última que eu havia escrito, ainda inacabada. Lembro de como ela me olhou solidária no dia anterior, quando matamos o primeiro tempo.

– Eu li aquilo que você escreveu, é uma letra muito bonita. Você sabe que o Darwin é louco por ela, não sabe?

– Sei – respondi decepcionado, as mãos segurando o queixo e os cotovelos apoiados nas pernas – Eu sou ainda mais... você não tem noção do que ela fez comigo.

Luce me olhou com curiosidade e se aproximou mais para que eu pudesse ouvir a voz dela baixa.

– O que há entre vocês dois? Eu nunca te vi assim Dylan, eu lembro da primeira vez quando estudávamos juntos e a gente foi fazer um trabalho na casa do Stev. Você pode me xingar todinha agora, mas eu vi como você não parou de olhar para ela e nós ainda éramos pirralhos, quer dizer, um pouco – Luce confessou. Ela nunca me disse que havia percebido. Estudávamos juntos no colegial, Luce não costumava conversar comigo e o Stev e, na verdade, foi obrigada naquele dia a ir à casa do Stev fazer um trabalho. Ele ainda não morava sozinho e sim com os pais.

Eu não consegui tirar os olhos de Julia. Ela se movimentava de um lado para o outro sempre, mas parecendo se esconder da gente. Eu ficava a olhando pelo canto dos olhos sempre que o Stev a chamava para fazer alguma coisa, e mais tarde quando Luce havia ido embora e eu fiquei para assistir Hellboy pela o que deveria ser a milésima vez e o Stev a convidou para se juntar a gente. Ela devi ter quinze anos e eu olhei bem para aqueles olhos azuis. Ela recusou o filme naquele dia e continuou a recusar pelos cinco anos posteriores.

Eu ergui os olhos para Luce e contei a ela o que eu nunca fui disposto a contar para ninguém. O que realmente havia acontecido.

– Nunca houve nada, Luce... Depois daquele primeiro dia eu nem ligava mais para ela, mas foi só entrarmos na universidade justamente no mesmo ano para tudo começar a acontecer... – minha mente estava uma confusão, um emaranhado de névoa negra queria me dizer que eu não podia contar aquilo para a Luce, mas eu sabia que me sentiria mais leve se o fizesse. – Foi a festa dos calouros, e você sabe, o Stev não estuda aqui, mas mesmo assim veio porque a Cora o convidou. A Julia já tava morando lá havia algum tempo e é sério, eu não dava a mínima para ela até aquela festa. O Stev falou que a Julia iria demorar para ir e como eu também estava atrasado ele falou que ia na frente porque buscaria a Cora e ele falou que o idiota do Darwin iria com eles e que a Cora pretendia apresentar ele à Julia, mas...

– Você não dava a mínima para ela ainda, eu sei – Luce sorriu.

– É. Isso. – respirei fundo antes de continuar – Aí ele me mandou uma SMS me pedindo para buscar a Julia e eu simplesmente não aguentei quando ela abriu a porta do apartamento e... - perdi o fôlego quando a imaginei veio vívida em minha mente - Ela estava linda e sempre dizendo que não aguentava mais eu socado na casa deles que eu fechei a porta atrás da gente e não deixei ela sair com aquele vestido preto e curto e apertado...

– Você a beijou? – Luce interrompeu unindo as sobrancelhas.

Eu hesitei quando abri a boca para falar o que realmente tinha acontecido.

– Sim... Mas aí a gente perdeu o controle e depois estávamos pelados na cama, pronto falei. – desviei o olhar para não encontrar Luce me olhando com repreensão.

– E depois...? A sua festa de calouros aconteceu há dois anos, você não pode estar tão louco assim por alguma coisa que aconteceu dois anos atrás. – Luce ergueu a sobrancelha me desafiando.

– Aconteceu mais vezes. Colegas coloridos quando nós queríamos e depois cada um fingia que não havia acontecido nada.

Luce gargalhou e eu fiquei vermelho de vergonha, sabia.

– Sexo sem compromisso com a mesma garota? Porra, Dylan pensei que você fosse mais inteligente nem em filmes esse negócio dá certo.

Me senti meio idiota quando ela disse aquilo.

– Acontece que depois ela parou e começou a me ignorar e colocar uma cadeira contra a maçaneta do quarto durante a noite – vi Luce prender o riso – Eu perguntei a ela o que estava acontecendo e ela disse que não era saudável. – minha voz não estava mais tão calma, eu dizia as palavras quase com raiva – Ela disse aquilo quando eu não conseguia mais ficar sem ela, foi uma porra pra mim.

Luce suspirou e se sentou ao meu lado passando um braço pelos meus ombros, fazendo um papel confortador.

– Eu não vou negar que prefiro ela com o Darwin... Ele gosta pra caramba dela.

– Eu sei – estava derrotado – O que você me sugere?

Ela pensou um pouco e me lançou um sorriso torto.

– Você namora a Antonia, ela é uma vagabunda de primeira categoria mas gosta de você. – Luce era sincera, eu a adorava – Então quando acabar a aula você vai atrás dela e tenta esquecer a Julia, se até ela mesma disse que não era saudável, dá a entender que não gosta de você.

– É impossível eu fazer isso depois que a gente transou na praia. – confessei num suspiro longo.

– Que porra! Não dificulta, Dylan.

– Dificultar o quê? – Chaz entrou no porão do grupo de música e deu um selinho em Luce. Eles eram tão legais juntos que me faziam pensar em como seria se eu estivesse assim com a Julia algum dia, namorando.

– Oi, baby. O Dylan escreveu uma música linda, dá uma olhada – ela estendeu a folha surrada e Chaz a leu enquanto balançava a cabeça aprovando – A gente precisa criar uma melodia pra ela.

– Obviamente – disse Chaz e me lançou um olhar desconfiado – Apaixonado, coisinha?

Não respondi. Mais tarde procurei Antonia e tive por um momento uma sombra de satisfação quando gostei tanto de beijá-la e toca-la, pelo menos até ver Julia com o Darwin.

E ali estávamos, na Toca. Eu prestes a ser preso por assassinar Darwin Baker, o que só piorou quando ele segurou o meu braço me impedindo de continuar pegando as folhas.

Eu o olhei com toda a fúria mortal que pude e me soltei, erguendo o indicador na frente do seu nariz.

– Você está jogando sujo, filho da puta.

Ele empurrou o meu peito, mas eu não dei um soco nele porque se começasse eu não iria conseguir parar nem com Deus me pedindo.

– Jogando sujo? Eu não estou fazendo nada demais e é você quem é o filho da puta. Porque você não vai comer a Antonia? Ah, eu espero que você faça o exame pra ver se tem alguma DST, ouvi dizer que ela não parou a semana toda – ele fez uma pausa e meu punho estava coçando para acertá-lo, mas não o fiz. Queria canalizar toda a minha raiva para que pudesse chegar a matá-lo com somente um golpe. – Ah, ouvi dizer que nenhuma das vezes foi com você, corno.

Eu estava pronto para arrebenta-lo quando Julia deu um grito.

Deus não conseguia me parar, mas ela fez isso.

– Alguém pode me contar que merda é essa?

Ela estava nervosa e foi chegando perto de mim e do Darwin fazendo o meu coração acelerar.

– A gente pode conversar? – perguntou para mim com o olhar azul tempestuoso. Observei o movimento que os seus lábios fazia. Eles estavam mais vermelhos e havia uma pontinha de sangue. Darwin também pareceu ter percebido.

– Ei, desculpe por isso. – ele passou o polegar no lábio inferior da minha Julia limpando a gotícula de sangue e ela ficou corada – Não sabia que era tão sensível.

Eu pensei que ficaria com raiva, mas tudo que me deu foi vontade de chorar.

Vontade de chorar por Julia Collins, de novo.

Eles tinham ficado e a julgar pelo sorrisinho que eles compartilharam na minha frente o beijo tinha sido tão bom a ponto de se machucarem.

Aquele tipo de beijo era o do desejo e meus olhos marejaram. Um inferno! Eu aproveitei a distração dos dois para me afastar do casalzinho de merda e sair por onde havia entrado.

– Onde você pensa que vai? – Luce me interceptou com a mão no meu braço, eu não queria que ela olhasse para mim e visse os meus olhos vermelhos então mantive a cabeça baixa.- Você vai ficar aqui – ela falou alto para que todos escutassem – e o Darwin também e vocês vão conversar e esclarecer a merda que tá acontecendo. – Ela se virou para Chaz e Kyle – Ei, baby, você poderia falar para a Julia e o Kyle daquele videogame que você comprou no fim de semana.

Kyle não gostava de videogame, mas entendeu o recado e pegou Chaz pelo braço, que não entendeu muito a indireta, e eles foram para cima. A minha pequena não protestou, mas estava bem claro que ela queria conversar comigo depois.

Luce esperou ouvir a porta pesada se fechar para começar a putaria.

– Vocês não contaram para ela que são amigos? Que merda!

Eu e Darwin permanecemos em silêncio. Não conseguia imaginar que os lábios que me beijaram com tanto sentimento no final de semana estavam grudadas na boca do louro momentos antes. Me sentei em um dos pufes, desejando evaporar.

Talvez se eu me concentrasse o bastante conseguiria.

Evaporar era tudo que eu precisava antes que eu explodisse.

– Talvez não fosse necessário e nós só somos suportáveis um com o outro – ouvi a voz do Darwin e continuei com a cabeça abaixada. Evaporar. Preciso. Evaporar. – Eu só queria que ele não metesse o dedo onde não é chamado – evaporar – Eu gosto da Julia, sabe? – ouvi o risinho daquele idiota e o nome da Julia na sua boca foi suficiente para eu quase me esquecer o que queria... evaporar. – Acho que... estou apaixonado.

Aí eu explodi.

– Porque você não cala essa boca, Baker? – levantei, a mochila com os papéis caíram no chão, eu partiria a cara dele se a Luce não estivesse na frente – Sabe o que você vai fazer? Vai procurar outra menina pra foder, a Julia é minha. – apontei para o meu próprio peito.

Julia. Minha.

Eu queria acreditar que aquilo era verdade.

Darwin sorriu com zombaria.

– Você tem a nota fiscal? – perguntou. A Luce pediu para que ele parasse de me provocar, mas ele não deu ouvidos – Não. E sabe porquê? A Julia não é um produto e ela não tem nada com você. Deu pra se drogar e imaginar coisas Dylan? Faça um favor para mim e para Julia, deixe a gente em paz.

– Eu tenho mais coisa com ela do que você imagina – gritei. O meu sangue bombeava de um jeito que eu nunca pensei que seria possível.

– Engraçado – ele riu – Você tá falando tão sério que eu poderia até pensar em acreditar, quer dizer, não se nós dois não tivéssemos nos beijado agora a pouco. Nossa! O beijo da Julia é maravilhoso. E sabe o quê mais? Eu vou sair com ela no sábado.

Ouvir aquilo me deixou louco e eu me segurei para não partir pra cima do idiota.

– Eu comprei um anel.

Agarrei a Luce pelo braço e a tirei da minha frente. Tudo o que Darwin fez foi rir quando tentei acertar o primeiro soco, mas os meus olhos estavam muito marejados para eu saber onde estava o idiota. Tentei um chute e não tive sucesso. O louro demoníaco riu ainda mais.

Então eu desisti. Estava cansado e talvez a Julia não fosse mesmo minha. Dylan Thorne era um fraco por baixo da casca impermeável e só queria atenção... amor.

Luce me abraçou quando meu rosto ficou quente e Darwin parou de rir.

– Você está chorando – ela sussurrou, mas eu continuei sem a olhar.

– Não estou, me deixe em paz.

A deixei no chão e peguei a minha mochila. Subi a escada correndo e abri a porta da Toca, passando por Julia, Chaz e Kyle que me olharam em choque, provavelmente pelo meu rosto vermelho e um pouco molhado.

Passei o capim alto, corri das árvores, do refeitório e da Antonia quando ela brotou do nada e quis me beijar, mas quando estava alcançando o carro uma mão pequena segurou a minha.

– Você vai para casa? – a voz da Julia era baixa e ela parecia ter dificuldade para falar eu não pude ver a sua expressão porque olhava para frente, eu não queria olhar aquele rosto lindo e aqueles olhos azuis.

– Não.

– Precisamos conversar, você poderia ir para casa? – ela perguntou novamente.

Qual a parte da minha negação ela não havia entendido?

– Não.

– Então vai ser aqui mesmo, Thorne. Precisamos conversar.


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Notas finais do capítulo

Como diria um colega, Tadin do Dylan.
E, como diria a Turma do Pagode, Amar e sofrer são coisas do amor. Ai, Dylan, eu te consolo, vem cá...