Quase abri os olhos, estavam semi serrados. Vi algumas luzes amarelas se movendo num cenário um tanto avermelhado. Não consigo distinguir exatamente onde estou, acho que pode ser uma sala, ou um quarto, pois estou deitado sobre algo macio, seria uma cama? Tem um tipo de gosma gelada e grudenta por todo meu corpo, até parece um tipo de lama, mas não sei ao certo, não consigo me mover. Minha cabeça dói e é como se tivessem passado pastilha de halls preta por todo meu corpo, arde de um jeito gelado.

Um cheiro de incenso paira no ar, era verdadeiramente bom. Acho que que é uma mistura de lavanda com rosas, é realmente agradável, me deixa feliz e tranquilo, mesmo neste ambiente desconhecido.

Tento chamar por socorro mas não consigo. Cara! Devo estar parecendo um objeto, não consigo me mover, e agora não falo? Até imagino o quão ridículo estou parecendo, coberto por alguma gosma estranha, deitado, imóvel e incomunicável. Um vulto dourado e cheio de luz passa em minha frente, será que estou morto? Será que isso é um anjo? (Ó as ideia, tô viajando), eu, um bruxo, que uso magia negra, que tento mandar corpos inocentes para o inferno, estou querendo ir pro paraíso? (É pode rir da minha cara).

—Ah! Você está acordando, que bom! Por um momento achei que não conseguiria!— É aquela doce voz novamente. Aparentemente a dona deste belo timbre de voz, é uma pessoa calma, de aspecto feliz e bondoso (assim espero), a verdade é que me sinto bem, escutando a voz suave desta moça.

—Sabe, eu sei o que aconteceu com você! Estava vendo tudo! — Então ela me viu, tentando mandar um cara pro inferno?

—Não podia deixar aquela garota descobrir que você é bruxo!— Ela sabe sobre nós bruxos? Então ela já foi da linhagem Mágica Nerfal.

—Por hora, é melhor eu não dizer mais nada... Mas antes, vou te dar um presente! Pode ser doloroso agora, mas isso é uma ajuda! — Ajuda? Como assim ? Doer? Ei calma aê, que isso brilhando nessa ponta de metal? Uma marc... Gritei (internamente já que estou totalmente paralisado). Aquilo queimou na minha barriga, lado direito perto do meu umbigo, um pouco acima da virilha. Ela está me marcando? Tipo, como marcam os cavalos? Por que?

—Agora descanse Jhonatan Framer, você precisa... — Um sono forte me atingiu, junto com a fumaça doce de um incenso diferente, era agora cheiro de leve de camomila. A fumaça entrou em minhas narinas e dançou livre em meus pulmões, então adormeci profundamente.

Abro os olhos e desta vez estou em meu quarto, cara, que sonho maluco. Levanto de minha cama, um pouco zonzo, até parece que tomei o maior porre de minha vida, mas acho que estou voltando a mim aos poucos. Percebo que estou apenas de cueca box preta, vou até a TV que está ligada com aqueles chuviscos cinza e um chiado muito irritante, antes que pudesse desligar piso em algo.

— Ai, Porra! — Que foi? Tava sozinho em casa, pisei, gritei. Hã? Que isso? Meu celular? O pego do chão e vejo na tela do aparelho, vinte e duas ligações perdidas da Lexa, e quinze do Erick. O que será que eles querem comigo? "TOC,TOC,TOC"

— Jhonatan! Abre essa porta agora! — É a voz da Lexa.

— Tem certeza que ele tá em casa? —E o Erick.

*--Do outro lado da porta—-*

Eu e Alexa viemos para casa do Jhon, ele não dá sinal de vida há algum tempo. Na verdade, eu nem sabia que ele mora aqui, Lexa falou que veio aqui antes e ele não estava, mas não custa nada tentar de novo.

— Erick! Arromba a porta! —Lexa grita autoritária, com o dedo apontando pra porta.

— Você já olhou bem pra mim? —Abro os braços mostrando o quão magrelo eu sou. — Não sou o tipo de garoto que tem força pra arrombar uma porta! —Ela revirou os olhos e falou.

— Com magia né criatura? Obvio!

— E por que você não faz isso? — O fato de ter que usar mágica me assusta. Sempre que uso magia, saio de controle, tenho medo de ao invés de arrombar a droga da porta, acabe acidentalmente botando fogo no prédio inteiro.

— Eu não posso! —Ela ficou triste de repente.

— Hã? Por que? —Antes que ela pudesse me responder qualquer palavra a porta se abre.

— Ei! Querem mesmo arrombar a porta da minha casa? —O choque que tivemos ao ver Jhonatan, nos fez surtir um sorriso muito rápido, em reflexo de nossa alegria. Lexa se jogou em cima dele, lhe dando um forte abraço e fazendo os dois caírem no chão.

— Ai! Sua maluca! Que bom te ver! —Ele reclama após bater com a cabeça no chão.

— Nunca mais faça isso de novo ouviu? — Ela disse. E depois continuou. —Jhon?

— Sim! — Ele respondeu rápido.

— Espera aí, você está de cueca box?

— Sim! —Responde ele cinicamente.

— Enquanto estou em cima de você?

— É, por que? Quer que eu tire? — Ele disse, eu ri.

— Qualé Jhon, sai fora cara! Nojento! — Entendo. A amizade deles é como se fossem irmãos. Ela saiu rápido de cima dele e ambos ficaram de pé.

Eu não deveria ficar olhando pro corpo do meu amigo ou muito menos comentar, (na verdade isso é tanto gay) mas, o corpo do Jhonatan é bem sarado, barriga definida e ele nem precisa ser um daqueles gorilas gigantescos, para parecer forte e... O que seria isso?

— Jhon? — Perguntei e os dois olharam pra mim.— Você tem esta marca desde sempre?

— Que marca? —Eles olham agora para onde minha visão estava, constrangedoramente, um pouco acima da cueca box.

— Puta merda! O que é isso? — O rosto de surpresa do Jhon nos preocupou. Se ele não tinha essa marca antes, onde ele adquiriu e por que ele não sabia de algo assim em seu próprio corpo?

A marca que estava no corpo do Jhonatan era um pequeno circulo. Dentro deste circulo, tem outro com o hexagrama nele, em volta da estrela de seis pontas vê-se alguns símbolos, Entre a estrela e a circunferência do circulo maior. Eram quatro símbolos, uma espiral e quatro pequenos círculos diferentes.

— Como isso apareceu? —Pergunta Alexa parecendo conhecer bem, o corpo do amigo.

— Não sei! —Fala o Jhon, passando devagar os dedos por cima da marca, esticando sua pele para ver melhor.

— Ok! Coisas estranhas estão acontecendo e precisamos ligar os pontos!—Falei enquanto Lexa jogava uma calça jeans pro Jhonatan e pergunta.

— Coisas estranhas? Como assim?

— Ela ainda não sabe de nada? — Perguntei olhando pra ele, eu achei que eram amigos do tipo que dividiam segredos, mas pelo que estou vendo, Jhonatan manteve este pra ela.

— Ainda não! — Respondeu colocando a calça, que a amiga havia jogado.

— Saber do que?Jhon sou sua melhor amiga, o que você tá escondendo? — Lexa perguntou com uma cara que parecia, que iria matar o Jhon, ela sentou na cama desforrada e cheia de peças de roupas.

— Então tá! Você vai ficar sabendo de tudo agora!— Respondi pelo Jhonatan, ele sorri como agradecimento. Logo para de sorrir quando percebe o modo raivoso que Alexa ainda lhe olhava.

— Podem começar!—Lexa faz uma careta, acompanhada por um biquinho autoritário. Eu e o Jhonatan nos olhamos desconfiados e então comecei.

— Lembra a algumas semanas atrás, quando sai de sua casa abandonando o ritual portões? —Ela assentiu e continuei.—Meus amigos estavam em apuros, Jhonatan me ajudou a salvá-los de um bicho!

—Bicho?—Ela perguntou.

—Sim!—respondi e o Jhonatan me atrapalhou.

—Aquele bicho é o Williams David!

—Quem?—Perguntei. Jhon já iria abrir a boca, quando Alexa começara a falar.

—Williams David? Então é isso!

—Isso o que?—Eu e Jhonatan perguntamos em uníssono.

—Meu avô e Gabriel, não sabem sobre ele está vivo... Sabem?

—Não!—Respondemos juntos de novo.

—Ao menos não contamos nada!—Falei.

—Ótimo! Li o diário de Charlote Tailla inteiro!

—Charlote quem?—Pergunta Jhonatan.

—Charlote Tailla, foi o grande amor da vida de Williams!—Ela falou se levantando da cama.

—Aquela coisa já amou alguém?—Jhonatan pergunta.

—Oh Jhon, deixa ela falar!—Reclamei. —Quero saber o que tá acontecendo!—Lexa riu e continuou.

—Williams David Solair... Foi o último bruxo antes do Erick, que as trevas escolheu! O problema é que ele era obsessivo pela sua fome de poder! Ele descobriu um tipo de mana...

—Mana?—Atrapalhei ela.

—Quem manda faltar aulas de bruxaria!—Jhonatan ri de um jeito irritante e depois explica. —Mana é a energia que usamos para converter em magia!—Franzi a testa e pedi para que Alexa continuasse. É, fiquei meio que irritado, mas pior é saber que ele tem razão, eu perdi as aulas e fico meio que boiando, nesse negócio de ser bruxo.

—Mana Vampírica! Esse tipo de mana de acordo com o diário suga as outras, ou seja, ele meio que suga a energia vital das pessoas, para ficar mais poderoso!

—Então foi isso que ele fez com o Tony e o Allan? Sugou suas almas?—Perguntei horrorizado. Sento na cama.

—Ele já sugou duas almas?—Alexa senta de novo na cama, ao meu lado também com cara de horror.

—O pior nem é isso! Ainda bem que vocês já estão sentados!—O Jhon andou de um lado para outro, então finalmente, após cinco segundos super demorados ele falou.— O Williams está no corpo do Allan!

—Oh my god! Então não foi o Allan que vi outro dia, foi ele!—Falo assustado.

—De acordo com o diário, Williams não fez o ritual da descoberta, um ano depois que virou bruxo!—Lexa disse e Jhonatan a olhou desconfiado.

—O que exatamente aconteceu com ele?

—Ele virou um tipo de estátua viva, antes de completar a transição para guerreiro das trevas!—Ela explica.

—Ok, precisamos pesquisar tudo que pudermos, aliás, temos que arrumar um jeito de para com esse cara!—Jhonatan disse.

—Por que não falamos logo pro seu avô e deixamos ele e o Gabriel resolverem? Afinal, eles são o ancião e o sacerdote!—Perguntei olhando para Alexa.

—Você não conhece meu avô!—Ela tira uma mecha de sua franja branca da frente do olho. —Ele não tentaria destruir Williams sem saber do que sua especie é capaz! Quer dizer... Ele estudaria o guerreiro das trevas, sem ao menos se importar com as consequências!

—Seu avô me parecia tão sensato!—Argumentei.

—É, ele parece!—Ela abaixa a cabeça e afirma.

—Vocês dois procuram informações sobre que tipo de ser é o Williams David, suas fraquezas, seus modos de agir, qualquer coisa!—Fala Jhonatan.

—E você?—Pergunta Lexa.

—Eu? Vou tentar descobrir que marca é essa na minha barriga!

Já estava quase anoitecendo e prometi voltar cedo pra casa hoje. Lexa me deu carona, aliás adolescentes a partir dos 16 anos, já podem dirigir aqui em Mágica Nerfal. Alexa tem 17 e o carro dela, é simplesmente um carrão. Ela me deixou praticamente na porta de casa e fala antes de eu sair do carro.

—Então combinado! Amanhã depois suas aulas acabarem, passo na sua escola e te pego!—Ela dá um tchauzinho e sai disparada.

—Ah! Agora pega carona com a vaca?—E lá estava ela, na porta de sua casa e braços cruzados, Dani, muito linda e com uma cara muito enraivada.

—Achei que não estava falando comigo!—Falei sorrindo.

—Não é que eu, não estivesse falando com você! Só que tive problemas maiores, do que esses probleminhas adolescentes pra resolver!

—É? Quais?—Ela se calou e veio andando. Perguntei.—Então, quer jantar aqui em casa hoje?—Sabia que ela esperava mas algumas palavras, tipo insistisse e simplesmente quero ficar ao lado dela hoje, já tinha esquecido como D. é minha melhor amiga e sua companhia me faz muito bem.—Podemos fazer o macarrão monstro!

—Fechado!—Ela sorriu e entramos. Macarrão monstro é uma gororoba que inventamos, a gente coloca macarrão e vários outros itens pra deixar ele gigante, sério é muito bom.

Foi um jantar bem feliz, por incrível que pareça foi a única coisa normal que tive em dias, meus pais sorrindo, a Dani tagarelando e eu só os observando, com um sorriso naturalmente bobo na face, era como se eu realmente esquecesse os problemas que ainda tenho pra resolver. Dani acabou ficando para dormir, já estávamos prontos, ela na minha cama e eu num colchão no chão.

—Erick!—Dani coloca a cabeça pra cima e pude ver seu cabelo todo bagunçado, mesmo com o cabelo todo desarrumado ela ainda continuava muito bonita.

—Oi!

— Você está escondendo algo de mim?—Suspirei, mas tinha que responder.

— Sabe D. existem coisas que guardamos só para nós, mesmo que nossa garganta doa querendo contar para quem amamos! Muitas vezes, só não queremos mudar a visão, que as pessoas mais próximas a nós, tenha de nós mesmos!— Por incrível que pareça a Dani entendeu. Acho que ela também tem algo que seja só dela, aliás todos temos. Ela deu um rápido sorriso, que não durou quase dois segundos.

Nos encaramos, não sei o que realmente está acontecendo com a gente, meio que por impulso, cheguei perto da cama e aproximei meu rosto ao da D, senti sua respiração ofegar juntamente acompanhando a minha. Umedeci os lábios e ela mordeu o lábio inferior, meu nariz encostou suavemente no dela, se alisando numa dança carinhosa mas sensual, olhei nos olhos azuis dela, recebendo de volta o mesmo olhar de desejo que estava transpassando. Então nossos bocas se tocarão, um único selinho e foi suficiente para que eu e a Dani, sentássemos na cama e intensificarmos os beijos. Alisando o rosto macio dela, enquanto ela segurava forte meus cabelos, o clima estava cada vez mais intenso, até que ao mesmo tempo, nos separamos. Nenhuma palavra foi dita, apenas a olhei desconfiado e voltei ao colchão posicionado perto da cama, enquanto a D. se deitou na cama com uma expressão tão surpresa quanto a minha. Tipo, o que foi isso? Nos conhecemos desde sempre, mas esse tipo de coisa nunca havia acontecido.

*--Daniella--*

OK! Definitivamente, NUNCA MAIS isso irá acontecer de novo, eca, Rick é como um irmão pra mim, mesmo agora sabendo que ele beija bem e nossa que beijo. Agora já são três da manhã, olha como ele é fofo dormin... Daniella Rindley! Nem pense em gostar do Rick de outra forma! Estou confusa, com tudo que aconteceu.

AI!!! O que é isso? Uma bíblia? Na cabeceira de cama do Rick? Sei que o pai dele é alto sacerdote da igreja, mas Erick nunca foi tão apegado a religião, espera aí. Esse livrinho não é uma bíblia e por que tem uma daquelas estrelas satanistas de seis pontas na capa? OH MY GOD! O que tá acontecendo com o Rick?