POV – GINA

Era incrível como Harry podia ser perfeito em tudo o que fazia.

Desde sorrir até escolher as melhores palavras para se dirigir à pessoa que ama. Eu ficava encantada com essas simples coisas, talvez por eu fosse ingênua demais, ou simplesmente por amá-lo cegamente. Eu não entendia o que ele fazia para que isso acontecesse, mas mesmo morando juntos, meu coração dava rodopios de felicidade quando eu ouvia sua voz.

 O mais estranho de tudo era que o sentimento era recíproco. Não estranho, mas... Eu nunca imaginei que poderíamos nos amar de tal forma. Éramos apenas pessoas com 19 e 20 anos, começando as vidas, juntos, alegres como dois idiotas, sempre nos achando bem mais legais do que os outros, rindo de tudo e sempre contando um com o outro nos melhores momentos que passávamos juntos. Isso era a prova de que nada é impossível e de que o amor existe. Mas eu sempre soube. Nunca tive dúvidas, nunca...

Aquela era uma bela tarde de inverno. Eu estava visitando meus pais, para aproveitar que os treinos terminaram mais cedo para descansarmos para o “grande jogo” – nas palavras de Rony – do próximo dia: contra o seu time de Quadribol, Chudley Cannons. Harry estava trabalhando, e provavelmente, sairia em uma missão em uma semana. Ele estava empolgado porque nunca o mandaram para fora do Reino Unido, sim ele ia para a Itália, e era o seu sonho conhecer o mundo afora – comigo, segundo ele – mas ambos sabíamos que isso seria impossível. 

  Apenas minha mãe estava n’A Toca quando eu cheguei. Toquei a campainha assim que apartei em frente à porta de madeira da casa, quando ouvi os passos dela sobre o piso de madeira, formei um sorriso. Eu estava com muitas saudades dela. Ao destrancar da porta, olhei para ela, sorrindo abertamente. Primeiro, ela me analisou cima a baixo e demorou alguns segundos até lembrar que eu era a Gina, a sua única filha mulher, e a mais nova.

  Ela me abraçou fortemente, quase me tirando do chão. Envolvi meus braços envoltos de seu pescoço, apertando-a ainda mais forte. Quando nos soltamos ela começou a falar sem parar de como tudo estava mudado, tanto em mim, como na casa, na vida deles, e principalmente como A Toca andava vazia sem os meus passos alegres por ela e meus gritinhos histéricos de uma mulher com menos de 25 anos.

  Foi estranho ela se referir a mim como uma mulher, e não uma menina. Nunca me senti assim antes, tão... Eu não diria velha, mas... Bom, nem eu sei descrever como eu me sentia quanto a isso. Não feliz, mas era como se eu recebesse destaque.

  - Gina querida, entre. – ela deu passagem para mim – Veja como o seu cabelo cresceu e... Você emagreceu? Ah não. Já era magrinha e agora está deixando de comer porque está cismando que não é bonita o suficiente para Harry? Filha, você sabe que ele pouco se importa com isso. Mesmo se você fosse cheia de rugas e gorda como uma porca, ele ainda te acharia atraente. – ela me guiou até o sofá, parando de falar apenas quando se sentou – então querida, ao que veio?

  - Nada mamãe. Eu apenas queria lhe fazer uma visita. Sabe como é, né? Saudades! – sorri. Ela manteve a sua expressão.

   - Gina...

   - O quê?

   - Diga de uma vez ao que veio.

- Foi um dia abalado. – eu disse.

- Harry? – levantou uma sobrancelha.

 - Também, mas não brigamos nem nada, mas é que... – senti lágrimas em meus olhos – Enfim, não é esse o maior problema.

  - Conte-me – ela fez um gesto convidativo com as mãos.

 - Mamãe, eu fui chamada para fazer propagandas de cosméticos e alimentos por causa do meu desempenho com as Harpias...

 - Mas isso é muito bom, querida! – exclamou – Não está feliz?

 - Ah, sim. Estou muito feliz, mas é que... Eu... Não sei explicar o porquê disso, apenas estou... Alegre demais. Reconheceram o meu trabalho e estou emocionada por isso! – uma lágrima saiu do meu olho direito - Mas falaremos de Harry agora. Ele está indo para a Itália com um grupo de aurores, dentre eles, pelo menos eu acho Rony. A senhora deve saber disso – ela balançou a cabeça para cima e para baixo – E eu já não estou aguentando ficar longe dele por algum tempo mesmo que ele ainda esteja aqui, já que ele me disse que poderia ser até mais de um mês dependendo da situação... – suspirei.

  - Gina, sei que não quer ficar longe dele, mas... Você não está sendo muito egoísta? Ele está indo para salvar pessoas das garras de Bruxos das Trevas! – disse.

  - Compreendo que sou muito egoísta em relação ao meu noivo. Mas eu tenho certo medo de perder ele, sabe? Principalmente porque uma sirigaita que dá em cima dele também vai! – bufei – Fico orgulhosa dele por esse avanço tão grande em sua vida. Está sendo um auror brilhante e eu me sinto muito alegre com isso. Ele vai para cumprir a sua tarefa e eu simplesmente acho isso o mais importante.

  - Então está insegura por causa de um rabo de saias? – ela riu.

  - Mamãe, ela é linda. – falei – E você sabe como eu sou ciumenta.

    - Mas não confia em Harry? – perguntou.

    - Confio minha própria vida. – respondi.

 - Então, o que há para temer? – sorriu.

  - Devo estar sendo uma idiota. – ri.

  - É normal se sentir assim, querida. – me acompanhou.

  Fiquei na casa por mais uma hora até decidir que era hora de tomar meu rumo e descansar para o grande jogo. Afinal, eu adoraria ver a cara de derrotado do Rony quando eu capturasse o pomo antes do apanhador lerdo do time que ele torcia.

***

   - Uau, essa vitória foi ainda maior do que a outra. 400 x 0! – Harry exclamou – Quem não deve ter gostado foi Rony.

- Eu vi a cara de desespero dele quando eu alcancei o pomo – eu ri, deitada no meio do meu noivo – Acho que ele tinha muitas esperanças para essa partida...

 - No fundo ele sabia que o time dele nunca conseguiria. Não depois daquela maré de azar. – suspirou.

   - É realmente. – concordei – E então, está indo para a Itália daqui a seis dias... – sorri.

   - Não lide como se fosse bom. – riu.

   - Não que eu queira me livrar de você, mas tenho que estar alegre perante as suas conquistas. – beijei seus lábios.

   - Apenas um mês fora... Quer algo de lá? – perguntou.

   - Falam que a massa italiana é a melhor que há. – respondi.

   - Trazer massa seria difícil. – riu.

   - Correio coruja? – sorri.

- Piorou. – gargalhou.

 - Quero lembrancinhas, de qualquer forma.

  - Não pode ser um tipo esse de agora? – riu, eu fiz um muxoxo e então sorri – Brincadeira. Vou trazer um presente.

   - Harry, nós não podemos “comemorar” dessa maneira toda vez que o meu time ganhar! – ri – Daqui a pouco ficaremos mal acostumados e sempre têm jogos, duas vezes por semana! Sem contar os outros dias que...

  - Argumento inválido – sorriu.

  - Sentirei saudades das suas brincadeiras bobas.

   - Eu sentirei falta das suas reações depois que eu acabo de falar uma idiotice. – rimos.

  - Não são idiotices... Eu realmente acho engraçado. – sorri.

  E era verdade. Eu o achava incrível, como disse acima, ele tinha seus defeitos, mas era repleto de qualidades que faziam quaisquer pessoas baterem palmas – se importar excessivamente com as pessoas ao seu redor, por exemplo, ou sacrificar a si mesmo pelo bem comum... Ele era um exemplo a ser seguido? Bem, para mim sim. E eu o amava por causa disso.