Aquela seria a ultima noite juntos, era o que não saia do pensamento de Carlos Daniel, teria que abandonar Paulina, não tinha escolha. Ele foi para o quarto, tentou relaxar enquanto tomava banho, mas tudo era em vão, sua cabeça girava, seu coração sentia um aperto enorme.

Quando Paulina finalmente entra no quarto, depois de ter colocado as crianças para dormirem, Carlos Daniel esta sentado na cama, os olhos fechados e o corpo recostado no travesseiro, sua expressão era de uma imensa tristeza, Paulina o observa algum tempo, queria tanto que ele lhe contasse o que estava acontecendo, o que tanto lhe atormentava.

Ela se aproxima e se senta ao seu lado pegando suas mãos, Carlos Daniel abre os olhos.

— Meu amor, - Paulina diz num tom suave – me conte o que esta acontecendo, há dias que tem andado assim, sempre triste e distante, distraído...

Carlos Daniel a interrompe colocando o dedo sobre seus lábios.

— Não minha vida, - ele diz forçando um sorriso – só estou cansado.

Carlos Daniel diz e se inclina para beijá-la.

Paulina o olha profundamente, da pra ver o quanto esta atormentado, sabia que seria em vão tentar arrancar dele a verdade, ela o beijou e se deitou na cama ao seu lado.

Carlos Daniel a puxou para seu peito e a abraçou, precisava senti-la ali, entre seus braços, seus olhos lacrimejaram imaginando o que faria no dia seguinte, Paulina o olhou angustiada, não suportava vê-lo assim e não poder fazer nada para ajudá-lo.

— Meu amor. – ela diz o beijando com ternura – O que esta acontecendo?

— Não se preocupe minha vida, vai ficar tudo bem. - Carlos Daniel diz passando as mãos pelo seu rosto suavemente, fazendo os contornos da sua face com seus dedos.

Paulina sentia o toque das mãos de Carlos Daniel na sua face como uma despedida, como se estivesse decorando cada contorno do seu rosto.

— O que esta fazendo meu amor? – ela perguntou estranhando a atitude dele, não sabia o porquê mas sentia um aperto no peito.

Carlos Daniel não responde nada, apenas a olha profundamente enquanto puxa seu queixo para cima para beijá-la.

— Hoje o que mais preciso é de você Paulina. – ele diz se virando na cama e ficando por cima dela.

Paulina o abraça, sentia quase um desespero no peito, estava tudo estranho, se sentia amada e protegida com Carlos Daniel, mas também não conseguia afastar aquela angustia do peito, como se algo terrível estive por vir, ela também precisava senti-lo, amá-lo. Carlos Daniel beijava cada cantinho do seu rosto, do seu corpo, Paulina sentia cada toque dos lábios do amado como o ultimo, ele a beijava como se estivesse indo para uma guerra sem ter certeza de voltar, ela o beijava com desespero, seus lábios se moviam rápidos nos deles, uma lagrima solitária desceu pelo rosto de Paulina.

Carlos Daniel queria aproveitar cada segundo daquela ultima noite com Paulina, queria se lembrar de cada detalhe do seu rosto, do seu corpo, suas mãos acariciavam Paulina dizendo adeus, já Paulina o tocava como se estivesse suplicando para nunca deixá-la, aquilo torturava Carlos Daniel, saber que aquela seria a ultima vez que fariam amor, a ultima vez que estava sentindo Paulina ali nos seus braços. Tinha certeza que nunca mais a teria de volta, esse era o preço que pagaria para Paulina continuar a salva, sem nenhum perigo a cercando.

Quando se separaram Paulina não pode segurar o choro, ela o abraçou forte enquanto as lagrimas desciam pela sua face, sentia que o perdia a cada segundo que passava.

Carlos Daniel vendo o desespero de Paulina também não conseguiu conter suas lagrimas, ele a envolveu nos braços puxando para o mais perto de si que podia enquanto tentava fazê-la se acalmar.

— Calma, vai ficar tudo bem minha vida, vai ficar tudo bem. – ele dizia querendo acreditar naquelas palavras também, porque é claro que não iria ficar tudo bem.

— Não me deixe Carlos Daniel, não me abandone nunca. – Paulina disse entre soluços.

Carlos Daniel apenas a abraçou mais forte e beijou sua testa, não poderia mentir dizendo que não a abandonaria.

— Não quero te perder nunca Carlos Daniel, nunca. – ela dizia enquanto suas lagrimas molhavam o peito de Carlos Daniel. – Eu te amo.

— Eu também te amo minha vida, nunca duvide do meu amor por você, e mesmo se eu te decepcionar muito, quero que saiba que foi por te amar demais e não suportar ver você sofrer.

Paulina levanta a cabeça para olhá-lo, seus olhos estão cheios de água, ela o beija e deita sobre seu ombro encaixando sua cabeça no pescoço de Carlos Daniel.

— Não posso sobreviver sem você. – Paulina diz ainda chorando – Tenho medo de te perder.

Carlos Daniel tentava acalmá-la, ver Paulina ali sobre seus braços dizendo que não sobrevive sem ele o fazia chorar também. Ele se lembrou de quando era criança e tinha pesadelos e saia correndo para o quarto dos pais chorando com muito medo, sua mãe lhe pegava no colo o abraçava forte e cantava ate ele voltar a dormir, se sentia protegido e amado com aquela canção de ninar, aquela musiquinha lhe acalmava e o fazia ter certeza que sua mãe nunca o abandonaria mesmo se estivesse distante, essa lembrança trouxe um pequeno sorriso ao seu rosto, ele olhou Paulina e disse beijando seu rosto.

— Vou cantar uma musica que minha cantava quando eu sentia medo, tenho certeza que irá se sentir melhor meu amor, não suporto te ver assim.

Paulina o olhou e o beijou, seus lábios se encontraram macios e suaves, depois ela se aconchegou sobre seu peito o abraçando apertado e esperou Carlos Daniel começar a cantar.

A voz de Carlos Daniel soava como um coro de anjos, Paulina escutava atenta a melodia, seus olhos se fecharam para poder sentir melhor aquele momento.

“- Seja onde for quando eu cantar, essa canção vai te lembrar, que o meu amor vai sempre estar junto a você pra te guiar. Confie em mim meu bem querer, que os anjos vão te proteger, eu canto assim só pra fazer você feliz, amo você’’

— Cante de novo meu amor, - Paulina disse o beijando mais calma – essa canção, apesar de pequena, me fez sentir amada.

Carlos Daniel a beijou com um pequeno sorriso, se sentia um pouquinho melhor sabendo que Paulina se sentia mais calma e principalmente amada, era isso que ele queria que ela nunca esquecesse que ele sempre a amou e sempre amará.

Ele cantou a melodia uma vez e outra, e outra, perdeu a conta de quantas vezes repetiu aquele verso, Quando Paulina finalmente pegou no sono, ele passou a olhá-la, suas mãos passeavam pelo seu rosto descendo pelo seu braço, queria que o tempo parasse ali, enquanto ainda podia sentir Paulina nos seus braços, ele a velou a noite inteira, não desviou o olhar dela nenhum segundo, seu pensamento só estava no que iria fazer no dia seguinte, no quanto iria fazer Paulina sofrer.

Quando o dia chegou e Paulina despertou nos braços de Carlos Daniel, eles se olharam profundamente, nenhuma palavra foi dita, apenas ficaram se olhando perdidos um nos olhos do outro. Carlos Daniel a beijou, seus lábios eram delicados, suaves, ternos, queria que Paulina sentisse que ele a amava mais do que qualquer coisa, aquele seria o ultimo beijo, não iria fazer-la se iludir mais, mentindo que tudo ficaria bem, o beijo foi intenso, demorado, nenhum dos dois queriam se afastar, por mais que seus pulmões gritassem pelo ar que já lhes faltavam eles continuaram, o máximo que puderam, e quando seus lábios se separam ambos sentiram como se estivessem lhe arrancado um pedaço do corpo, Carlos Daniel abraçou Paulina, ficou assim por algum tempo, e depois se levantou, Paulina ainda estava se recuperando da queda, apesar de não ter sido grave não podia se esforçar, então não estava indo a fabrica. Carlos Daniel tomou banho se vestiu e a olhou ainda deitada na cama enrolada nos lençóis, sua vontade era de beijá-la e abraçá-la e nunca mais a soltar, ele foi ate ela se inclinou e colou seus lábios suavemente em sua testa.

— Eu te amo Paulina, nunca se esqueça disso, você é minha vida.

Paulina queria o abraçar, beijar dizer que também o amava muito, mas seu corpo parecia entorpecido, apenas o olhou sair do quarto e fechar a porta como se nunca mais fosse a abrir.