For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 11
X - Adorável irmã


Notas iniciais do capítulo

Beta reader: Keli-chan
Música: Return to Innocence (Enigma)



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Love-Devotion

Amor – devoção

Feeling-Emotion

Sentimento – emoção

 

_ Mel, pare de roer as unhas. Quer parecer desleixada? - ralhou minha mãe no café da manhã.

_ O que eu devo vestir? - de repente me dei conta que não tinha roupas decentes – E o meu cabelo, mãe?

_ Melzita Cris... Calma. Agora que estou o lado de cá, posso garantir que não é esse desastre todo que parece... Quer ir a um salão comigo hoje?

_ Não! Seria muita pretensão... Não quero parecer preocupada...

_ Então o que você quer da vida?

Ah, como eu ia saber?

_ Eu só quero que me ajude a escolher uma roupa, tá?

_ Se pudesse, te ajudaria a escolher outro gênio, mas já que não dá...

Nem fiz questão da careta, estava tão nervosa que podia sentir meu estômago dar cambalhotas.

Não cheguei a conhecer a família do Thiago, ou seja, eu nunca havia sido apresentada a sogros antes.

 

* * *    

 

Na calça jeans nós combinamos, mas minha mãe queria que eu vestisse uma regata, enquanto eu queria vestir uma blusa de gola alta.

_ Filha, eles vão achar que saiu de um convento.

_ E assim – disse apontando para a blusa que ela escolhera – vão achar que acabei de subir a serra.

_ Oh Deus... Ok, vamos lá.

Ela foi até meu guarda roupa e o abriu.

_ Pronto, resolvido?

De onde ela havia tirado aquele bolero?

_ Eu não lembro desse casaco, mãe...

_ Foi você mesma quem comprou. Há muitos meses atrás. Olha que beleza, tem até etiqueta!

_ Ahn, bom... Até que não está ruim.

_ E pra completar, aquele seu tênis branquinho... Como é o nome...?

_ All star, mãe. Não pode ser tão difícil gravar....

_ Enfim, o que achou?

O que eu poderia achar? Nem eu mesma confiava no meu senso de moda, então era melhor deixar minha mãe cuidar disso. Por ora.

A hora começou a se aproximar. Numa velocidade furiosamente dobrada, não sei porquê.

Estava no banheiro, dando a última volta no meu rabo de cavalo, quando ela apareceu.

_ Estou esquecendo meu estojo de maquiagem aqui. - disse enquanto o colocava sobre a pia.

Fiquei observando a pequena bolsinha.

_ Estou tão nervosa, que acabaria borrando a boca toda.

_ Então deixa eu te ajudar.

Ela abriu um saquinho que continha vários pincéis, de vários tamanhos, e tirou o menor deles. Abriu um batom, e passou o pincel sobre a sua superfície. Depois aplicou-o nos meus lábios.

_ Fica tranquila, é pêssego, quase imperceptível. Pode olhar.

Observei a pintura. Realmente, era bem leve, porém, havia até mesmo me dado um ar mais saudável.

_ Obrigada mãe. Acho que fiquei bem melhor.

_ Mel...

_ Sim? - perguntei, encarando-a finalmente.

_ Filha, eu queria que você soubesse que... Você não está indo lá para que eles te aprovem. Mas sim para que você os aprove. Consegue entender isso?

Não. E como se lesse meus pensamentos, continuou:

_ Quem tem que te aceitar é o Aquiles, e ele já fez isso. Então, pode acreditar, você é a melhor nora que eles poderiam arrumar.

 

Don't be afraid to be weak

Não tenha medo por ser fraco

Don't be too proud to be strong

Não tenha tanto orgulho por ser forte

Just look into your heart my friend

Apenas olhe dentro de seu coração, meu amigo

That will be the return to yourself

Esse será o retorno a você mesmo

The return to innocence.

O retorno à inocência

 

_ Ah... Obrigada mãe. Mas... Você é suspeita pra falar. - depois disso eu ri. Mais de nervoso que qualquer outra coisa.

_ Tá certo.

Ela me abraçou e beijou o topo da minha cabeça.

_ Quer carona?

_ Não, obrigada. E... Acho que tá na hora.

_ É verdade. Então é isso aí. Qualquer coisa, já sabe né? Só bater um fio... - disse, fazendo o gesto de um telefone com a mão.

_ Hum-hum. - Consenti.

Peguei uma bolsa pequena onde coloquei algumas coisas indispensáveis e saí.

Era difícil me dar conta do que estava fazendo. Eu não conseguia me livrar da sensação que estava indo para um matadouro... Seria um pressentimento?

Coloquei meus fones de ouvido enquanto esperava o trólebus. Não queria alimentar minhas fantasias maníacas auto-destrutivas.

 

* * *  

 

_ Ah... Oi. - consegui cumprimentar, surpresa.

_ Oi.

Ele aproximou-se e me deu um beijo.

Eu estava quinze minutos adiantada.

_ Eu achei que tivéssemos marcado um pouco mais tarde.

_ Sim, mas eu não queria que você esperasse, e vim antes. Ainda bem, não?

Nem tanto... Queria fazer alguns exercícios de respiração na posição de lótus. Ou só me acalmar um pouco e pensar no que dizer.

_ Ah, obrigada então.

_ Tenho uma notícia não tão legal... Pra variar, meu pai está trabalhando hoje. Então vocês vão acabar não se conhecendo...

Era melhor mesmo ir com um de cada vez....

_ Não faz mal. Me contento com a sua mãe.

Depois percebi que fora uma frase infeliz.

_ Ah, me desculpe... Que oração mais mal formulada!

Ele apenas riu.

_ Desencana Mel. Você está muito tensa.

_ Um pouco. - Modéstia. - Falando nisso, como se chamam os seus pais?

_ A consumista da minha mãe se chama Lívia e o workaholic do meu pai, Fernando.

Que tratamento carinhoso... Mas preferi não me ater a esses detalhes.

Ele me estendeu a mão, e o segui para a casa dele.

 

If you want, then start to laugh

Se você quer, então comece a rir

If you must, then start to cry

Se você deve, então comece a chorar

Be yourself don't hide

Seja você mesmo, não se esconda

Just believe in destiny.

Apenas acredite no destino

 

Passamos em frente ao shopping e subimos uma rua. Passamos por uma avenida movimentada e entramos em mais algumas ruazinhas, até chegarmos a uma rua estreita e silenciosa.

Paramos em frente a um portão que ele abriu e atravessamos um hall, passando por uma guarita. Ele acenou para o guarda que estava lá dentro, e preferi não me manifestar.

Estávamos num conjunto residencial de nome “Domo”. Caminhamos por um caminho entre o gramado até chegar à uma recepção. Ele pressionou o botão que chamava o elevador, e ele logo apitou e abriu as portas.

Observei-me no espelho antes de embarcar, procurando algum ponto que pudesse me difamar, mas não perdi muito tempo com isso.

Ele apertou o último andar, vigésimo quarto, e fiquei impressionada com a velocidade do elevador.

_ Parece que estamos um tanto... Elevados. - comentei na falta de assunto.

Abraçando minha cintura, ele disse:

_ Se tiver medo de altura, me abraça bem forte.

Numa situação normal, eu teria ficado descontraída com a declaração, mas diante das circunstâncias, ele não conseguiu nada além de um sorriso forçado.

O elevador finalmente parou e abriu as portas. Ele saiu e eu o acompanhei. Só por estar segurando sua mão fortemente. Caso contrário, tenho certeza que voltaria para o térreo, e de lá para o ponto de trólebus.

_ Suas mãos estão suando ou é impressão minha? - me perguntou.

_ Impressão sua.

Alcançamos uma porta de número 2405 e ele a destrancou.

_ Mãe? - chamou entrando na sala.

Enquanto aguardava resposta, observei o local.

Era um ambiente totalmente decorado em branco. As paredes, cortinas, o couro do sofá... Uma mesa de centro apoiava alguns controles remotos e uma revista. Logo a frente uma TV de plasma na parede. A sala parecia bem luxuosa.

_ Cadê a mãe, monstrinho?

Voltei meu olhar para o corredor, de onde surgia a pessoa a quem ele se referia.

Estava longe de ser um “monstrinho”. Parecia mais uma mistura de Aquiles com Daphne. Poderia ser a filha deles, não fosse essa ideia impossível.

Tinha os olhos tão verdes quanto os do irmão, e o corte de cabelo da ex-cunhada. Era mais baixa que o irmão e magérrima.

_ Aqui na cozinha, já estou terminando! - ouvi uma voz delicada vir de trás da irmã dele.

Só então eu notei. Parecia zangada. Cruzou os braços em frente ao corpo e apoiou-se no batente.

_ Mel, essa é a Íris. Minha irmã insuportável. Você podia ao menos desmanchar essa cara de bunda.

_ Ahn, oi Íris. Sou a Amélia Cristina... Mas isso você já deve saber. - acrescentei envergonhada.

_ Oi. - respondeu sem emoção.

_ Aquiles, filho... Poderia me fazer um favor rapidinho? - pediu a mãe dele de onde quer que estivesse.

Supliquei com o olhar para que não me deixasse, mas ele não entendeu.

_ Comporte-se. - ordenou à irmã antes de passar por ela.

Balancei sobre os calcanhares, sentindo a garota estudar cada centímetro meu.

_ Hum... Que nome bonito o seu. Íris. - o que mais eu poderia falar, por Deus?!

_ Obrigada.

_ São nomes históricos, não? Aquiles e Íris. Mitologia...

_ Grega.

_ Exato. - acho que o papo acabou.

_ Dafne também é um nome da mitologia grega, você sabia?

Oh-oh...

_ Ahn, sim. Mitologia grega...

_ Sim, todos eles são.

_ Esse eu... Não sabia. - respondi constrangida.

Ela começou a andar em direção ao sofá:

_ Pois é... Íris era uma das oceânides, a personificação do arco-íris e mensageira dos deuses... Dafne era uma linda ninfa. Já Amélia Cristina... Parece que não foi ninguém. - e sorriu gentil.

Acho que a irmã dele não gosta de mim.

 

Don't care what people say

Não se importe com o que os outros dizem

Just follow your own way

Apenas siga seu próprio caminho

Don't give up and loose the chance

Não desista e use a chance

To return to innocence

Para retornar à inocência

 

_ Ou, me corrija se estiver errada! - disse sorrindo tão lindamente que quase parecia sincero.

_ Errada de quê? - perguntou o Aquiles voltando à sala.

_ Que “Amélia Cristina” não é um nome históricos como íris, Aquiles ou Daphne.

_ Vai começar a azedar, pirralha? - ele perguntou irritado.

Tentando evitar a desavença, comecei:

_ Na verdade, Amélia Cristina foi uma heroína na guerra dos cem anos. Em francês, seu nome era “Amelie Cristine” e foi canonizada quase cinco séculos depois de sua morte. Shakespeare escreveu sobre ela, relatando-a como uma bruxa e Voltaire a satirizou. Em 1870, quando a França foi derrotada pela Alemanha, que ocupou a Alsácia e a Lorena, Amelie, acabou se tornando a heroína do sentimento nacional e os republicanos e nacionalistas acabaram exaltando-na como aquela que deu sua vida pela pátria.

Ambos silenciaram.

_ Pelo jeito a história dela é bem mais legal que a sua. - finalizou o Aquiles. - Vem Mel. Minha mãe está terminando um bolo, ou pudim, sei lá...

Ele me guiou por um outro corredor, na outra extremidade da sala.

_ Nossa, que história maneira, por que você nunca me contou?

_ Porque aquela era Joana D'Arc, Aquiles... - expliquei já acostumada à falta de cultura dele.

_ Sério mesmo? Foi tão convincente!

Ele abriu uma porta, e me convidou para entrar em seu quarto. Fiquei parada na porta, ainda indecisa.

_ Ah, não precisa se preocupar, a porta pode ficar bem aberta. É só enquanto minha mãe termina... Assim não precisamos aturar o entojo da minha irmã...

Como eu estava sendo infantil. Ele não faria nenhuma bobagem na presença da mãe e da irmã...

_ Eu sei, mas talvez sua mãe não ache legal...

_ Quanto a isso não precisa esquentar.

Adentrei o quarto e senti o carpete fofo. Olhei disfarçadamente ao redor. Apesar do ambiente ser claro e bem iluminado, os móveis eram todos de madeira escura, um mogno.

O guarda-roupa ocupava toda a parede e circundava o quarto, terminando na mesa do computador.

_ Olha isso, que legal.

Ele abriu uma das portas do guarda-roupa, e para a minha surpresa, revelou um banheiro.

_ Hum... Quase me enganou. - comentei achando engraçado.

Mas algo acabou roubando minha atenção.

Estava numa das prateleiras do móvel dele. Aproximei-me sem querer e acabei pegando um porta retrato na mão.

Um casal lindo, na praia. Ao redor, várias outras montagens do mesmo casal. Aos beijos, aos abraços, nos braços um do outro...

Era o Aquiles e a Daphne, em fotos muito felizes.

Virei-me automaticamente para ele com a lembrança nas mãos.

_ O que... - ele começou.

_ São fotos lindas. - e estavam praticamente na cabeceira dele.

 

That's not the beginning of the end

Esse não é o começo do fim

That's the return to yourself

Esse é o retorno a você mesmo

The return to innocence

O retorno à inocência

 

Continua


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