Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 8
Capítulo VIII


Notas iniciais do capítulo

Olá vocês. Bem vindos ao primeiro flashback. Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/340870/chapter/8

Damon chegou sozinho ao hospital depois de deixar David com April no apartamento. Suas mãos ainda suavam um pouco e alguma coisa dizia que a conversa não seria tão pacífica quanto da primeira vez.

Os olhos de Elena faiscaram assim que passou pela porta:

— O que você quer com o meu filho?

— Se você estiver muito aborrecida eu volto outra hora pra conversarmos. – Damon não queria brigar com a mãe de seu filho e sabia que se começasse não terminaria tão cedo.

— Você chega aqui no seu cavalo preto, leva o David sem me consultar e acha que eu não posso estar aborrecida? Por favor, Damon! Não aja como se eu fosse a descontrolada por aqui. – Elena estava fazendo um esforço grande para não gritar e tacar qualquer que estivesse ao seu alcance.

— Eu não tive chance de dizer nada ainda. Você escondeu um filho de mim por cinco anos, eu descubro da noite pro dia, venho pra cá lidar com o assunto e você parece sempre aborrecida desde que cheguei. Sei que deve ter sido uma surpresa me ver, contando com o fato de que você não queria que David soubesse da minha existência.

Elena ainda estava com a expressão impassível.

— Sei que o passado não é o melhor jeito de lembrar de mim, então seria melhor você focar no presente e no futuro que podemos construir. Eu vim aqui te pedir uma coisa.

— Como se você estivesse em condições de me pedir qualquer coisa.

— Eu não te abandonei sabendo que teria uma criança. Fiz outras coisas e a situação que estamos agora, foi escolha sua. Conviva com elas! Me culpar por tudo isso é falta de maturidade da sua parte. – Claro que Damon estava longe de ser maduro coisa e tal, mas ele sempre conviveu perfeitamente com as decisões que tomava, então não admitia que alguém fizesse o contrário com ele.

— Só tomei a melhor decisão pra alguém que não me queria na própria vida. Vou conviver com isso, ok? – Elena arregalou os olhos ao fim da sentença, se dando conta do deslize.

— Sinto muito pelo o que aconteceu antes.

— Não sinta.

Cinco anos antes.

Elena entrou no bar – que ainda não estava aberto ao público -, procurando Damon que a essa hora deveria estar ensaiando para tocar mais tarde.

Acabou tropeçando nos cadarços do tênis e quase caiu em cima de uma mesa. Sempre desajeitada nos próprios pés.

Olhou em volta com a luminosidade duvidosa e lembrando que esse era um dos locais que ela menos gostava que Damon tocasse, mas ele não se importava. E como uma boa namorada ela não fazia nada além de assistir as apresentações e apoiá-lo.

Na parte mais alta do bar as luzes faziam um serviço melhor e parecia ter algumas pessoas conversando. Deveria ser Damon e Alaric tomando um bom uísque e jogando conversa fora.

Damon estava sorrindo e gesticulando do jeito que se expressava quando tinha motivos pra estar feliz. O que era estranho. Na o fato de Damon ser feliz, mas ele estar feliz nos últimos dias. Ele esteve evitando passar um tempo com Elena e sendo vagos nas ligações.

Essa parte Elena entendia. Quando ele simplesmente precisava de espaço pra lidar com seus problemas que se arrastavam desde a infância não tão boa.

Elena sorriu ao ver Damon sorrindo.

Aproximou-se e deu-lhe um beijo na cabeça:

— Boa tarde! – Ela acenou a cabeça para o homem sentado à frente de Damon. – Olá meu cantor favorito.

Só aí Elena percebeu o clima desconfortável, como se a chegada dela interrompesse algum assunto importante.

O estranho teve a mesma sensação:

— E então Damon, não vai me apresentar sua amiga? – Damon deu um sorriso que não parecia nada com o de segundos atrás. – Bem, eu sou Stefan Forbes. E você deve ser Elena.

— Muito prazer, Stefan. – Elena esticou a mão e cumprimentou o homem. – Estou atrapalhando vocês?

— Ela vai conosco para Los Angeles? – Stefan perguntou olhando para Damon e fez um gesto para que Elena se sentasse.

A morena negou com um movimento de cabeça.

— Como assim Los Angeles?

— O presidente da Sony gostou do Damon e estamos acertando os detalhes para ele se mudar pra lá provisoriamente e depois pode ser definitivo. Não podemos perder tempo fazendo ponte aérea toda vez, certo?

Elena piscou tentando processar toda informação que acabara de receber e não deixar seu cérebro virar geleia. Sony era uma das maiores gravadoras do mundo musical e isso era tudo pelo que Damon trabalhava, se esforçava e sua maior paixão.

— Então você é um agente?

— Agente, caça talentos e essas coisas. Num ramo como esse você não pode se prender apenas com um rótulo. Ele é um cantor incrível, concorda? – Stefan estava sendo simpático e Elena não tinha sequer uma reação. – Quando esbarrei nesse bar pra ver um velho amigo não esperava encontrar ninguém assim.

Ela sentiu o gosto amargo subir na boca. Eles namoravam há um ano e nunca pareceu que fosse algo sem importância, era um relacionamento sério, com planos para o futuro e coisas que os casais normais fazem.

Ela terminaria a faculdade no ano seguinte, procuraria um emprego em algo que pudesse escrever. Damon tinha terminado a escola de música no ano em que se conheceram e estava determinado a conseguir sucesso no que fazia. Elena sabia que a ideia de trabalhar nos bastidores musicais dava pesadelos em Damon.

Falavam em morarem juntos um dia e agora ele estava indo morar em Los Angeles sem sequer comentar: Ah esqueci de dizer que um dos agentes que trabalha na Sony veio me procurar. Estou indo pra Los Angeles. Tchau!

Ele pelo visto não tinha ao menos lembrado da existência dela durante a conversa de negócios. Elena agora se sentia o temporário da vida de Damon. Como se Los Angeles já fosse permanente.

E ela não.

Elena não saberia dizer se era sua garganta ou olhos que ardiam mais e olhou para Damon. Ele pareceu ler todos os seus pensamentos e um segundo e apenas negou com os olhos, mas ela não tinha tanta certeza.

Antes que perdesse a compostura:

— É verdade, ele é incrível. Não o deixe escapar. – Ela deu um sorriso forçado para Stefan.

— Não vou.

— Agora preciso deixar vocês fazerem negócio. Tchau. – Damon fez menção de levantar da mesa. – Fique.

A garota saiu do bar e entrou na caminhonete que estacionou na rua de trás. Ela encostou a cabeça no volante e chorou por alguns minutos até se sentir vazia e oca. Só assim conseguiu dar partida no carro e ir para apartamento.

—-

Elena conseguiu fazer todo trabalho para o dia seguinte e se sentia boa o bastante por conseguir manter a cabeça focada no que deveria fazer.

Emoções nunca levaram ninguém muito longe ou enriqueciam alguém. Não que suas chances no jornalismo a deixariam rica, mas o qe importava era manter o sonho vivo.

A campainha tocou e ela suspirou.

Era Damon.

— Você deveria estar tocando essa hora, não acha? – Elena ainda segurava a porta, como se quisesse bloqueá-lo ou impedir que entrasse. Ou os dois.

— Vim pra conversarmos.

— Não deve ser importante ou você pode estar um pouquinho atrasado.

— Posso entrar? Depois pode decidir se me põe pra fora ou não.

Elena saiu do batente da porta e liberou a entrada.

— Não queria que você descobrisse daquele jeito. Me desculpe por isso.

Damon se sentou no sofá e estendeu a mão para que Elena o acompanhasse:

— Por favor!

Elena e Damon continuaram de mãos dadas, cada um com seus motivos internos. Motivos não ditos.

— Stefan me ouviu tocando algumas semanas atrás e veio me elogiar. No começo eu não acreditei muito, mas liguei pra alguns amigos em Los Angeles e ele tem uma boa reputação. – O garoto de cabelos bagunçados e escuros a olhava esperando uma resposta.

Elena demorou a responder. Ela não sabia o que responder.

— Esse sempre foi o seu sonho, não é? É pra isso que estudou e se esforça tanto. Não tem nada de errado com isso. É a Sony! Quem não quer uma chance como essas?

— Porque está sendo tão fria e distante? Eu quero que me fale o que e como está se sentindo.

— Você quer a verdade, Damon? Essa é a verdade. Mas eu estou me sentindo vazia e não tenho muito mais do que isso pra dizer. Se estava tão interessado assim na minha opinião sobre a oferta talvez eu não devesse ser a última pessoa a saber. – Ela queria chorar e gritar com ele, mas não era assim tão simples.

— Eu preciso ficar lá por alguns dias ou semanas e por enquanto nós não podemos fazer muito, mas se o Christopher gostar de mim pode ser definitivo. Nós podemos ir morar em Los Angles. Eu não contei pra você antes por que não quero criar esperanças e não dar certo. Sou especialista nessas coisas. – Damon ainda segurava a mão de Elena e circulava o anel que ele mesmo havia dado alguns meses antes.

— Não posso ir pra Los Angeles com você. Tenho que terminar a faculdade aqui, os alunos daqui não podem trocar de faculdade por que nós entramos com o vestibular. Ainda tenho esses dois semestres pra me formar. – Disse Elena demonstrando tristeza pela primeira vez desde que a conversa começara.

Ambos ficaram em silêncio, pensando no que aquilo deveria significar.

— Podemos resolver isso com ponte aérea. Nos vemos sempre que der, até ajeitarmos nossa situação e se tudo der certo pra mim, nós poderemos morar juntos e...

Elena pousou um dedo sobre os lábios de Damon, para calá-lo:

— Não precisa fazer planos desse jeito, sabemos que isso não vai acontecer. – Ela permitiu que os olhos se enchessem de lágrimas: - Olhe dentro dos meus olhos e me diz a razão de não ter me contado nada sobre a proposta.

Damon e Elena tinham aquela cumplicidade tão intensa que era impossível mentir um para o outro.

— Eu.... Quando recebi a proposta, nossa! Fiquei tão animado que não pensei em mais nada. Sei que deveria ter contado, sinto muito ter ficado calado. Mas isso não muda nossos planos para o futuro e o que sinto por você.

— Isso muda tudo. – Disse Elena com tristeza e lágrimas já vencendo a batalha.

— Eu amo você.

— Eu sempre achei que teríamos uma vida juntos. – Elena comentou de olhos fechados, como se fosse apenas um flashback de sua mente. – Que nossa história seria longa, mas depois de hoje sei que estive errada todo esse tempo.

— Você não pode me julgar por um momento e esquecer tudo que vivemos antes de chegar aqui.

A morena levantou do sofá e se aproximou da janela. Passou alguns instantes até que uma expressão além de tristeza ocupasse seu rosto. Tristeza mesclada com uma frieza e isso deixavam a expressão destruída, sem falar de apavorante.

— Lembra quando me disse que a última coisa que queria era ser egoísta como seu pai fora? Na hora que você decidiu esconder, você se tornou essa pessoa egoísta que tanto desprezou. Tomar uma decisão sem lembrar que eu existia, foi a mesma forma de egoísmo.

Damon pareceu ter levado um soco no estômago e teve de piscar algumas vezes até conseguir reação ao ataque.

— Sei que está com raiva agora e eu espero que esteja errada sobre o que pensa. Não quero que ninguém veja meu pai em mim. – Ele foi até a morena e a abraçou com força, mesmo que não fosse recíproco. Segurou o rosto de Elena entre as mãos: - Ainda tenho duas semanas antes de ir para LA, me procure. Eu não quero te perder.

O moreno a beijou e deixou o apartamento.

Elena se sentou no sofá e apenas chorou. Chorou com toda alma. E por que sabia que não o procuraria.

Nenhum dos dois sabia que seria o último abraço e o último beijo.

—-

Damon piscou e olhou para Elena que agora estava sentada na cama. Ele não sabia no que ela estava pensando para estar tão imersa, mas parecia acabavam de dividir uma experiência compartilhada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

TA-DA! Estou um pouco nervosa com o primeiro flashback, não sei se ficou bom e céus, me deixem saber. Já sei que a Elena foi um pouco má (tá sem humanidade HAHA, ok chega!), mas vamos pensar nela também né? Tive que criar uma playslist triste pra entrar no clima e conseguir escrever. Não sei se esse será o único flashback, mas preciso ver a reação de vocês e depois decido. Espero que tenham gostado. Muito obrigada mesmo e espero não ficar melosa dizendo isso sempre. Vejo vocês na semana que vem? Vou tentar fazer um presente de dia das mães. Beijos imensos e nada de mordida no pescoço.