—

Era apenas mais um dia em que Elena acordava grogue pelo efeito dos remédios e se sentindo deprimida com aquele quarto pálido que lhe servia de companhia. Sentia tanto a falta de David, de poder trabalhar, ver seus poucos amigos, conversar com Bonnie e comer uma comida saborosa.

Ela se perguntava quando Deus iria deixá-la livre dessa tortura e viver sua vida normal. Ou ajeitar sua vida pacata com agora uma nova/antiga pessoa incluída nela.

Elena sentia correr por suas veias que Damon e David estavam se entendendo melhor do que Bonnie contava para ela em suas visitas diárias. Era de estranhar que sua melhor amiga tinha tanto tempo livre pra passar no hospital e não estar com David.

Mesmo que April existisse, a garota tinha seu trabalho no café da faculdade e ainda precisava estudar para as provas e fazer trabalhos. Elena sabia o quanto a faculdade poderia arrancar seu coro sem a menor piedade.

Sempre que questionava Bonnie sobre a situação, ela falava que Damon estava legal.

Que legal? Nada disso poderia estar sendo legal, por que sabemos que quando algum usa só o legal e termina a frase. Nada está realmente legal.

A enfermeira tinha liberado seu banho de sol – como uma boa presidiária -, e agora podia passear um pouco pelo jardim.

Elena também estava preocupada com seu estado de saúde. O tempo poderia até passar de um jeito diferente no hospital, mas ela sabia perfeitamente que já estava há um mês por lá e o médico não dizia nada de concreto. Só exames e mais exames.

Ele havia marcado para conversar no dia seguinte, então deveria ter algo para contar. De muito bom ou ruim.

Bonnie apareceu na hora do café da tarde com a rosquinha que mais gostava e o médico havia liberado.

Elas conversaram sobre as novidades na redação. Bonnie estava prestes a virar colunista semanal e ter um lugar de destaque no jornal. Era um momento de muita felicidade para ambas. Afinal que amiga não ficaria feliz com o sucesso da outra?

— Onde está o David? Estou com saudades do meu pestinha.

— Ele saiu um pouquinho hoje, acho que vai fazer bem. – Mas alguma coisa não combinava com a sentença. Bonnie olhava para todos os lugares do quarto, menos para os olhos de Elena.

— Onde ele foi? E com quem? April saiu com ele?

A amiga apertou com os lábios nervosamente e depois declarou:

— Ele está em Los Angeles com o Damon.

—-

David acordou uma hora depois que Damon já estava de pé, olhando seus recados na caixa postal e agora lia seus e-mails. Ele não pensou que fazia apenas uns três dias que não olhava sua caixa de entrada. Ela parecia lotada para um mês supostamente calmo que deveriam ser suas férias.

Isso sem contar que Vicki tinha acesso direto para ler e limpar tudo que ela pudesse resolver sem ter que passar diretamente para Damon. Ele detestava toda essa burocracia.

Quando sonhava em ser um cantor reconhecido, imaginava apenas fazer suas músicas, seus shows, lidar com fãs, entrevistas e coisas do tipo. Claro que ele nunca acreditou que essas coisas aconteceriam de fato na vida, mas lá estava ele de férias e tendo que trabalhar.

Verificou a temperatura do menino e parecia estar tudo bem.

— Você deve estar com fome. Quer tomar seu café da manhã? – Damon perguntou depois de ligar a TV para David escolher um de seus desenhos favoritos para assistir.

— Eu quero panquecas.

A sorte de Damon é que panquecas era um de seus únicos pratos bem elaborados e gostosos.

Enquanto fazia a massa, Damon cantarolava algumas músicas de seu novo cd e David apareceu um tempo depois.

— Quero fazer com você também. Posso? – O menino perguntou encostado nas pernas do cantor. Que por sinal, nem o havia visto chegar.

Damon o pegou no colo e o deixou sentado em cima do balcão:

— Agora você como meu ajudante, é só mexer a massa com cuidado para não cair do pote. E não tente descer daqui, certo? - David fez que sim com a cabeça e pegou a colher para começar a mexer os ingredientes. – A panqueca vai ser de que sabor?

— Morango e chocolate. – O menino deu aquele sorriso infantil com poucos dentes na boca.

— E você vai conseguir comer tudo?

— Eu vou comer duas.

— Bem grande?

— É. Tenho que comer pra ficar forte. A mamãe sempre diz isso. – David estava distraído com o preparo das panquecas que nem ficou triste ou com saudades ao falar de Elena.

— Daqui a pouco você não vai caber mais nesse pijama e sua mãe vai me matar.

Ele deu aquela risada gostosa.

Depois de muita bagunça e massa espalhada pelo balcão, os dois conseguiram terminar as panquecas. E tinham um cheiro maravilhoso.

— Vou ser legal e deixar você lamber a colher, mas não conta pra ninguém. – E seu filho olhou para os olhos lados certificando que nenhuma pessoa estaria olhando e deu uma bela lambida na colher.

E passou o resto no nariz de Damon.

— Vem aqui seu danadinho! – E o moreno pegou o filho para um ataque de cócegas.

David realmente conseguira comer as duas panquecas e voltou para o sofá.

O celular de Damon tocou alguns minutos depois enquanto ele lavava a louça do café.

Vicki ligou para lembrar da reunião – que obviamente ele havia esquecido -, e que não poderia se atrasar. Era uma reunião com a gravadora para decidir alguns detalhes finais do cd.

Mais cedo quando Bonnie ligou, Damon disse que ela poderia ir pra casa dormir e depois passar no hospital para ver como Elena estava. April essa hora estaria trabalhando e ele não queria ter que mudar a rotina de todos por culpa de suas reuniões de negócios.

Bem no fundo Damon sabia que ele estava adorando estar com David por tanto tempo. Não teria problema nenhum se o levasse para um passeio mais longo:

— David! Vamos procurar uma roupa, nós vamos sair de casa.

O menino bocejou:

— Pra onde?

— Vou te levar pra conhecer a minha casa.

—-

Josh o esperava para a reunião com a sua postura séria de empresário bem-sucedido do mundo musical. Damon agora não o analisava tanto assim como no início, e toda sua desconfiança de um cara que economizava nas expressões.

A reunião era apenas aquela burocracia sem fim, que deixavam o cantor morrendo de sono e ainda sim era obrigado a prestar atenção.

Stefan – seu agente -, havia lhe ensinado como parecer interessado e como essa parte de suas produções musicais era tão importante como compor.

Vicki ficou encarregada de ficar com David em outra sala e depois o levaria para conhecer a casa que morava. Talvez ela o levasse comer algo até que Damon se livrasse da reunião e pudesse passar o resto do dia com o filho e levá-lo para os lugares especiais que tinha em Los Angeles.

De repente a porta se abriu e uma criaturinha entrou disparada pela sala, não fazendo o menor esforço para parecer silencioso ou discreto. Claro que era David.

Sua assistente entrou na sala sem fôlego e tentando carregar o garoto para fora da sala antes que alguém começasse a berrar por interromper uma reunião. Vez ou outra tinha acontecido e ela não deveria querer uma nova experiência como aquela.

— Desculpem! – Ela pediu enquanto pegava David pela mão. – Vamos sair daqui que eu compro alguma coisa pra você comer, que tal? – Vicki sorriu tentando fazer a proposta soar tentadora.

Se Damon bem conhecia:

— Não. Eu quero ficar com o Damon.

Exatamente como ele previu.

— Quando nós vamos pra sua casa? – David perguntou encostando-se à cadeira ao lado de Damon, ignorando a cara de espanto de Stefan e Josh.

Damon sussurrou alguma coisa no ouvido de David que o fez pegar a mão de Vicki e sair da sala como se nada tivesse acontecido. Ele realmente acreditou que estava ficando bom com essas coisas.