Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 32
Capítulo XXXII


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo em especial é em homenagem aos meus leitores. Vocês enchem meu coração de amor. Boa leitura!



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Andrea estava na recepção com a agenda lotada de post it, alguém deveria estar solicitando algo ao telefone e ainda notou quando Elena encostou na mesa e sorriu:

– Eu espero. – Sussurrou para não atrapalhar a ligação.

Não estava no melhor dos ânimos para ler a revista para qual trabalhava. O final de semana e a curta viagem deixou um cansaço não totalmente recuperado. Talvez até tiraria um cochilo depois da reunião.

Pensou por um instante na reunião marcada sem o menor motivo aparente. A próxima avaliação médica seria dentro de dois meses, não teria motivo para editora chefe chamá-la.

– Pode entrar, Elena. – Andrea deu um sorrisinho e piscou. – Boa sorte.

A revista poderia ser feminina, mas a decoração da sala era sóbria e similar a Liz. Os tons pastéis cobriam as duas paredes que não ostentava uma biblioteca dos mais variados títulos.

O cabelo loiro de Liz estava um pouco abaixo da orelha, disfarçando o fone de ouvido que ninguém notaria se não olhasse bem ou a conhecesse por tempo o suficiente. Corria o boato de que ela havia feito um pedido de fabricação especial para que fosse a prova d’água. Elena sempre riu das teorias da conspiração entre os amigos de trabalho.

– É bom ver você, Elena. Sente-se, por favor. – Fez um aceno em direção a cadeira de couro. – Deve estar se perguntando o motivo dessa reunião. – A loira olhou no relógio de pulso. – Tenho outra em vinte minutos.

– Me passou pela cabeça.

– Esse tempo em casa tem sido bom pra você? Conseguiu produzir algo?

– Sabe que nós nunca ficamos realmente sem escrever algo. É uma doença, mas não tenho escrito nada semelhante com as nossas matérias. – Suspirou imaginando a chefe pedindo para olhar seus rascunhos.

– Estivemos pensando... – O celular começou a piscar em cima da mesa. – Estou em reunião agora, querida. Depois eu ligo de volta. – Continuou ela como se não tivesse sido interrompida. – Pensamos em promover você para que nos escreva como colunista contratada, deixar de ser funcionária.

Elena encarou as mãos, estava pensando no que realmente aquilo significava.

– Sei que gostaria de escrever matérias mais ousadas. Na reunião da diretoria conversamos sobre uma nova coluna sempre com mulheres poderosas e bem sucedidas. Acredito que seja a pessoa ideal para o trabalho e não teria o compromisso de estar aqui todos os dias.

– Por que eu? – Estava acostumada com a rotina de trabalho e não reclamava de ter que cumpri-la.

– Já li alguns de seus antigos trabalhos e os novos quando me mostrou alguns meses atrás. Sei que acreditou na minha falta de interesse ou que a revista nunca aceitaria esse estilo de trabalho, mas você tem o faro e é isso que queremos.

– E abrir mão de todo o resto?

– Se vinte anos atrás alguém me oferecesse esse tipo de trabalho teria agarrado com unhas e dentes. Hoje não poderia abandonar tudo nem se quisesse. – Deu um meio sorriso e olhou pela janela. Ela pareceu muito infeliz e solitária.

– Quem em sã consciência na sua posição abriria mão?

– Exato. Aonde eu cheguei é como não ter mais o caminho de volta. Sabe o quanto sacrifiquei meus filhos por isso? – Fez um gesto insinuando o escritório. – Quantos casamentos? Sei que tem um filho e essa é a sua grande chance de seguir outro rumo

– Não sei se conseguiria me manter só escrevendo essa coluna mensal.

– A diretoria tem boas expectativas com a matéria, mas por enquanto como ainda está de licença não será um problema financeiro. Escreva esse mês e de acordo com a resposta do público, farei a proposta. Devo avisar que pode chegar aos cinco dígitos. – Uma batida soou na porta de madeira imponente.

– Fique com uma cópia do contrato e me responda até o início da próxima semana. Espero que faça a melhor escolha. – Lançou um olhar na direção da porta. – Pode entrar.

–-

Resolveu passar no escritório de Klaus e perguntar se gostaria de um almoço. Nos últimos meses não tinham passado tanto tempo juntos e a situação no fim do ano passado deixou tudo um pouco mais complicado do que deveria ser. A maioria das pessoas em algum ponto se apaixona pelos melhores amigos, não significava que ambos não pudessem seguir em frente quando o outro não se sentia da mesma forma.

A porta escura estava entreaberta e percebeu pela fresta que enfrentava problemas com alguém ou algum trabalho, a expressão séria e fez uma careta de desgosto. Tão rápido quanto a carranca, veio um sorriso genuíno e a risada espontânea. Era bom vê-lo tranquilo e feliz independente de quem estaria proporcionando tanta diversão.

– Estou interrompendo algo? – Disse dando duas batidas na porta e entrando na sala. – É bom ver você feliz desse jeito, pode me informar o motivo?

– Nunca me incomodo de ver você. – Ele ajeitou a papelada e as mãos pareciam muito agitadas para a tarefa.

– Se me dão licença. – Uma terceira pessoa estava encostada na janela em frente à mesa de Klaus, mas entrando na sala e evitando olhar para trás era difícil notar.

Elena sentiu o sangue esquentar e resolveu sentar no sofá escuro.

– O que ele está fazendo aqui? – Quase sibilou de ódio e frustração. O próprio amigo lidando com o inimigo. – Parece que estou sendo perseguida. Todo lugar que vou, lá está ele.

– Era trabalho, Elena. Não se preocupe. – Disse levantando da cadeira e sentou ao lado da amiga.

– Desde quando? Que eu saiba você despreza o pessoal do entretenimento. Será que faz tanto tempo que estou afastada e entro em uma realidade alternativa?

– Ele só veio me perguntar sobre alguns procedimentos médicos porque vai fazer uma matéria sobre as celebridades que o usaram. – Segurou a mão dela e a beijou. – Podemos esquecer isso e me contar o motivo dessa visita ilustre.

Elena sabia que trabalho era trabalho e era impossível se negar a colaborar com alguém por motivos pessoais. Sem contar que os motivos eram dela e não de Klaus, mas estava acostumada a ter a briga comprada por ele sem hesitar e agora o via sorrindo e dando risadas para o canalha.

– Tive uma conversa com a Liz. – Tentou abafar a parte do cérebro que mandava sair dali e passar mais uns bons meses sem conversar com ele. – Estou recebendo uma proposta para ser promovida, mas deixarei de ser empregada e vou ser contratada. Querem uma coluna nova finalmente vou poder escrever o que sempre quis.

– Isso é ótimo, certo? Você não teria obrigação de estar aqui todos os dias, não precisará lidar com muitas pessoas e viagens a trabalho. A proposta me parece muito boa.

– Vim te convidar para almoçar comigo. Tem um tempo que não fazemos isso. – Deu um sorriso de leve com a preocupação se dissipando.

– Me sinto lisonjeado. – Disse dramaticamente.

– Ainda posso te dar um chute até o térreo. – Levantou e esticou a mão na direção de Klaus. – Preciso comer e ter do que me arrepender depois.

–-

Durante o almoço não tocaram no assunto de Elijah, sobre promoção ou Klaus deu sinal de que falaria de Damon. Já era uma vitória ter um almoço como nos velhos tempos, quando nada era complicado, agitado ou estressante.

A regra de não beber era no mínimo irritante, pois sair com um amigo e não poder tomar uma taça de vinho estragava uma parte do clima.

Saíram para dar uma volta no parque algumas quadras atrás do restaurante em que almoçaram.

– Não poder ficar bêbada com certeza está te tirando do sério. – Klaus segurou o cotovelo dela para que não tropeçasse nas pedras em volta da árvore que escolheram sentar.

– Isso quer dizer que com frequência eu estava bêbada. – Sorriu ao lembrar as inúmeras festas que terminava com mais álcool no sangue do que seria recomendado para a manhã seguinte.

– E quem ia de táxi até a sua casa? Segurava seu cabelo até terminar de vomitar?

– Bons tempos. – De certa forma sentia saudades do que aquilo representava antes de se envolver com Damon, viajar a hora que sentisse vontade, ganhar presentes caros, ter tanto dinheiro na conta e não saber o que fazer com aquilo.

– Podemos ter tudo de volta. – Sussurrou em resposta.

– Não se eu aceitar a oferta.

– A vida é mais complicada do que você gostaria?

– Em termos é mais simples, mas tem a parte ruim. Sabe o que é sair e ter fotógrafos te escoltando por uma foto? Ter dinheiro e não saber o que fazer? – Bufou quando se deu conta de com quem estava falando. – Às vezes esqueço que você nasceu rico. Enfim, tudo está mudando e tenho medo de tomar a direção errada.

Ambos ficaram calados por um tempo e Elena acreditou que Klaus não daria nenhuma opinião.

– As coisas podem mudar para o caminho que você não viu chegando. – Os dedos do amigo percorreram sua mandíbula.

– Eu amo você, sabe disso. Só não é desse jeito. – Segurou a mão dele antes que tivesse uma ideia precipitada.

– E você ama o Damon? – A pergunta soava claramente como algo ofensivo.

Olhou para os prédios em frente ao parque, todos correndo em suas responsabilidades, alguns almoçando no parque, outros correndo e ela ali sabendo a resposta.

–-

Pegou a caneca fumegante de café que o assistente de alguém havia trago para aliviar um pouco o cansaço de passar as últimas doze horas no estúdio. Sentou no banco e dedilhou as notas da introdução.

– E se fosse um lá maior? Começar a música com a sua influência e depois vamos mais devagar. – Justin estava de frente com um papel com as notas rabiscadas.

O celular de Justin começou a tocar.

– Oi, Jess. – Deu uma olhada para o relógio no pulso. – Estou saindo daqui e você pode me encontrar no restaurante.

– Toque de recolher? – Damon sorriu e deixou o violão outra vez.

– Tenho que levar a Jessica pro jantar. Não gosto de deixá-la sozinha quando viajo a trabalho.

– Podemos apresentar Elena para Jessica não ficar sozinha esses dias. Talvez elas possam ser amigas. – Sugeriu. Elena era agradável e simpática quando tinha vontade.

– Amanhã você pode trazer ela para o estúdio. Depois elas decidem se querem sair e fazer algo.

Se despediram e Damon resolveu ir para casa de uma vez e talvez fazer um jantar para Elena. Suas habilidades culinárias não eram tão ruins, tendo aprendido quando morou sozinho e teve de se virar ou morreria de fome. Não era uma opção.

Elena deveria estar no segundo andar, então fez questão de começar a fazer o jantar e torcer para não ter perdido ao longo dos anos sem passar perto da cozinha a não ser para pegar algo pronto.

Ela e David desceram uma hora depois e deram um gritinho de surpresa.

– Estão colocando fogo na minha casa. Socorro! – Disse Elena se aproximando e o beijou. Parou para ver o que estava cozinhando.

– Oi pai. – David parou ao lado das pernas de Damon.

– Oi, Davs. – Deu a colher na mão de Elena. – Como foi na escola?

– Bem. A vovó ligou.

– E o que ela falou com você? – Perguntou por que ele não falava com a mãe há algumas semanas.

– ‘Tava com saudades e que vem logo brincar comigo.

O jantar não foi um completo desastre, deveria ganhar alguns pontos só pela tentativa e Elena pareceu de fato feliz com a surpresa, só estava pensativa. Eles conversaram sobre o dia, David contou que Jasmin estava mostrando a foto deles para todos os amiguinhos da escola, falou da gravação no estúdio e de apresentá-la a Jessica.

@DamonSalvatore Se souberem o que tenho preparado...Acho que vão gostar.

Elena disse que demoraria no banho e não pareceu interessada em companhia, achou melhor se distrair e esperar pelo que estava por vir.

@DamonSalvatore Um mês para começar a tour. Postem fotos de seus ingressos :)

@DamonSalvatore Estou ansioso para a tour, mas as férias estão ótimas.

@Lyla17 O que tem feito de tão especial nessas férias?

@DamonSalvatore Dormindo, muito. E é bom ter um tempo com a família. Você deveria fazer isso também.

A morena saiu do banheiro em seus moletons de flanela para se proteger do frio que fevereiro proporcionava. Ela subiu na cama e o beijou por alguns instantes.

– Acho que se arrependeu de não querer companhia na banheira. – Disse enquanto a puxava debaixo das cobertas.

– Ainda estaríamos lá. – Elena enroscou as pernas nas de Damon e passava a ponta dos dedos pelo braço. – Recebi uma proposta de trabalho hoje.

– E qual foi? – Depositou um beijo na cabeça dela.

– Para ser colunista contratada.

Damon não entendia muito bem do que isso implicava, mas o último sentimento que Elena aparentava era felicidade. No geral as pessoas tendiam a ficar felizes com promoções, mas esse não pareceu ser o caso.

– E não é um bom negócio? Não está feliz?

– Se de tudo der certo é uma honra, mas o contrato significa que não sou mais uma empregada e muito menos que precisarei ir na redação todos os dias. O que faço com o resto do meu tempo?

Tudo estava correndo perfeitamente bem e incluir o que estava pensando nesse exato momento poderia estragar a recente estabilidade em todos os sentidos da vida deles. Elena tinha terror a se apressar com qualquer assunto que envolvessem os três. Que reação ela teria se fizesse a proposta que esteve imaginando nos últimos dias.

– Então você só precisa enviar seus trabalhos, mas não precisa aparecer? – Questionou, tentando sentir até aonde poderia ir com a proposta.

– Isso mesmo.

– E a vida que tem agora? Não te deixa satisfeita? Você tem todo tempo com o David, tempo que antes você sacrificava e agora tem a chance de participar de tudo. Talvez você pudesse escrever seu livro.

– Em abril você vai entrar em turnê também. Com todo esse tempo sobrando eu escreveria até dois livros.

– Está preocupada com a turnê? – Esse era um dos assuntos menos abordados por não saberem o que fazer.

– São oito meses. O que pode acontecer nesse tempo?

– Esses dias eu estiver conversando com o Justin e perguntei como ele a Jessica fazem. Ela é atriz e alguns filmes são produzidos em quatro meses, então é complicado. Eles conciliam as duas agendas para trabalharem na mesma época e quando ela não trabalha, vai com o Justin nas turnês. – Depositou um beijo na cabeça dela, esperando que compreendesse.

Ela passou um tempo em silêncio, depois começou lentamente a frase em processo:

– Está querendo que eu vá na turnê? O David ainda vai está estudando e não sei se o médico vai me liberar para viajar. Eu não sei.

– Os dois primeiros meses eu vou estar em turnê aqui e no Canadá, é o tempo do Davs entrar de férias. Não precisa responder agora, só é algo que estive pensando.

– Porque quer que eu vá? – Perguntou Elena logo depois que desligou o abajur.

– Não quero passar tanto tempo sem vocês ou tentando encontrar um jeito de vir alguns dias. Se eu estiver na Austrália e o David ou você precisarem de mim? Não consigo chegar rápido o bastante. Sem contar que estar em turnê é muito cansativo e solitário, preciso de vocês para me manter sóbrio.

Sentiu a morena balançar a cabeça em seu peito e murmurar:

– Talvez seja realmente bom.


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Notas finais do capítulo

Todos os meus leitores são pessoas importantes e eu provavelmente não escreveria se não tivesse quem me apoiar, vocês fazem isso. Em especial hoje queria dizer para Evelyn Talita o quanto sua review me emocionou, do fundo do meu coração.Minhas palavras não são suficiente.
Obrigada por lerem e nos vemos em breve. Amo vocês.