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Damon precisou de alguns minutos de conversa para desvendar quem era Bonnie. Poderia ser alguém com quem já tinha trabalhado junto, uma das novas secretárias do seu agente, a garota da semana passada ou algo parecido.

Ele não era muito bom com nomes, mas quando ela falou sobre Elena ele lembrou. Lembrou, pois não havia existido nenhuma outra Elena nessa bagunça que chamava de vida.

Sobrenome, endereço, hobbies, cor dos olhos ou filmes favoritos da garota nunca lhe chamaram a atenção. Apenas os nomes. Sua única obsessão com as garotas era o nome. Nunca existiu uma segunda Elena. A primeira já causara estragos demais para um segundo round.

Bonnie parecia querer falar algo importante, mas não poderia ser por telefone. Estranho. Anos sem nenhum contato com Elena ou pessoas que eram do mesmo círculo social e de repente Bonnie encontra seu celular sabe-se lá Deus onde e pede para conversarem. Não parecia muito promissor.

Ela não mencionou Elena e Damon também não perguntou.

Talvez Bonnie fosse daquelas pessoas que só procuram quando descobria algum meio de se dar bem na vida através das influências de Damon. Na opinião dele ela nunca pareceu esse tipo de pessoa, mas ser surpreendido pelo ser humano é algo comum. Ainda mais depois que sua carreira estava dando certo.

Damon era cantor. Os seus últimos cinco anos foram de muito suor, trabalho duro e viagens. Rezava a lenda de que cantores são pessoas que não gostavam de trabalho pesado, acordar cedo, enfrentar meios de transporte lotados, patrões ignorantes e por aí vai.

Mentira.

Damon poderia até não acordar às cinco da manhã para enfrentar a condução lotada e aturar o patrão estressado descontando as frustações nos funcionários. Ainda sim costumava ir dormir depois das cinco da manhã, viajar de um país para o outro num espaço de três dias, não ter tempo de conhecer ou aproveitar nada daquilo, o fuso horário, a agenda lotada de shows, divulgação de seus trabalhos, escrever e gravar músicas. Ter um patrão não parecia tão terrível agora que tinha várias pessoas envolvidas em cada aspecto de sua vida.

Sua gravadora e Relações Públicas se preocupavam com sua imagem que não era uma das mais limpas. Esperar algo melhor do que ele fazia, era pedir demais para um rockeiro com uma pitada de inconsequência.

Foi pego dirigindo bêbado, porte de maconha, brigas em boates e a lista só aumentava. Sem contar de seus namoros rápidos com modelos, atrizes, cantoras e entre outras.

Bonnie ligou uma semana depois perguntando se poderia lhe encontrar. A cidade em que estava era apenas umas quatro horas de carro.

Ela prometeu ser uma visita rápida. Isso fazia Damon se perguntar o porquê dela se deslocar de carro de uma cidade para a outra e só ficar para uma visita curta.

Durante a semana ele não pensou muito sobre isso e bloqueava que essa ligação levava diretamente para Elena. Era um detalhe.

Bonnie chegou ao hotel em que havia se hospedado no horário do almoço. Assim poderiam conversar e desfrutar de uma refeição, que Damon esperava ser agradável.

O moreno foi pego de surpreso por ficar feliz ao ver Bonnie. Esquecera que foram ótimos amigos, mas isso passou rápido depois que deram um abraço e se sentaram de frente para piscina na parte reservada do restaurante.

Damon se surpreendeu em como a conversa fluía durante o almoço. O tempo parecia não ter passado até para a amizade de ambos.

Ele falou de coisas normais que aconteceram ao longo dos cinco anos, contou dos planos para o futuro e aproveitou a conversa mais honesta e sem máscaras de um longo tempo.

No fim da sobremesa resolveu perguntar:

— Bonnie, é ótimo ver você, mas não acredito que tenha viajado por quatros horas apenas para jogar conversa fora.

Damon percebeu que ela parecia agitada.

— Quero te mostrar uma coisa.

Ela pegou o celular e mexeu por um tempo, até encontrar o que estava procurando. Era uma foto de um menino com seus cinco anos, seus olhos verdes, um cabelo alaranjado e com um risinho enquanto Bonnie o segurava para serem fotografados.

Damon não entendeu muito bem o porquê daquela foto.

— E quem é o moleque. - A verdade é que Damon nunca teve o menor jeito com as crianças e não sentia menor interesse por elas. Talvez a falta de irmãos ou crianças próximas causasse essa insensibilidade.

— O nome dele é David, ele tem quatros anos e é o filho da Elena... Ahn, filho dela com você.

Naquele momento o mundo provavelmente girou mais lentamente, seus reflexos ficaram tão lentos que sentia dificuldade de piscar ou respirar do jeito correto. Digerir aquilo era um trabalho e tanto.

— O que? – Damon balbuciou e sua língua parecia ter virado geleia.

— David é seu filho. A Elena descobriu que estava grávida depois que vocês terminaram e você resolveu sair pelo mundo.

Damon bufou, com o coração acelerado pela raiva, pela surpresa e por mais toda mistura de sentimentos em um corpo só.

— E agora sua amiga ficou interessada e pediu para você vir aqui intermediar as partes? Se isso for verdade, ela teve cinco anos para me procurar. Por que agora? Se ela acha que vai conseguir arrancar alguma coisa de mim com facilidade.... Mande-a desistir, Bonnie. – O coração de Damon martelava dentro do peito tão alto que zumbia em seus ouvidos. Ele nunca achou que pudesse ficar tão transtornado com uma notícia.

Bonnie estava segurando o copo de chá gelado com tanta força entre os dedos que ele pensou se ela jogaria o conteúdo na sua cara. Não importava.

— Você é uma das últimas pessoas que ela quer ver no mundo. E quando a Elena descobrir que te contei tudo, sou uma garota morta.

— Então por que veio?

— Elena está muito doente, internada no hospital e eu já estava pensando sobre isso antes do incidente. Só foi um empurrão. Pode fingir que nunca estive aqui e perder a chance de conhecer o David.

Damon negaria até a morte, mas sentiu um peso quando Bonnie contou que ela estava doente. Ele ainda pensava se estava aborrecido ou muito aborrecido.

— Não estou esperando uma resposta definitiva agora. Sei que você tem muita coisa para digerir e lidar com a situação sozinho. – Ela tocou a mão de Damon por cima da mesa e completou: - David tem uma personalidade forte, gosta de cantar e me lembra muito uma pessoa. Agora preciso ir!

Damon não respondeu algo audível, apenas acenou para a segurança que acompanhasse Bonnie até o estacionamento.

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Desde a visita de Bonnie, Damon não se manteve sóbrio e isso já havia uma semana.

Ele esperava com todas as forças que aquele almoço pudesse ser deletado de sua mente. Aceitou todos os convites que chegavam nas mãos de sua assistente. O que era uma maratona com uns prováveis 100 km.

Ainda assim era impossível manter a mente longe desses assuntos por 24 horas.

Uma noite os sonhos se encarregavam de perturbá-lo tanto que viu um garotinho de cabelos avermelhados e olhos verdes o encarando.

Damon acordou num tremendo mau humor por se permitir tomar aquela decisão, mas se tivesse um filho mesmo era melhor descobrir antes que seus empresários ou a mídia descobrisse.

Aquilo era complicado e uma bomba que precisava ser muito bem manejada. Pelo bem de sua carreira.

Era nisso que Damon se esforçava para acreditar, mas no fundo estava curioso com o garoto. Pelas descrições ele parecia muito com alguém que Damon conhecia e estava acostumado. Era a pessoa do seu reflexo no espelho.

Sua assistente estava ao telefone passando todos os compromissos dos próximos dias.

— Vicki, eu quero que descubra onde Bonnie Bennett mora, trabalha e vou te dar o telefone dela para facilitar a busca.

— É um pedido de urgência?

— O mais rápido possível. Obrigado, Vicki! – Damon terminou a ligação e já jogou o celular em cima da cama e saiu para o próximo evento.

Sem pensar na decisão que acabara de tomar.