Uma Criança Com Seu Olhar escrita por Miss Desaster


Capítulo 10
Capítulo X


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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David não respondeu sua declaração ou se mostrou interessado depois disso. Bonnie deveria ter algum tipo de sensor que a fez aparecer no quarto e pegá-lo no colo pra irem embora.

Ela deixou o quarto sabendo que Elena e Damon deveriam ter alguma coisa para acertar.

— Não o pressione. – Disse Elena. – Ele parece exatamente com uma pessoa que conheço quando é pressionada, foge.

— Você pensou no assunto ou só fez pelo que aconteceu mais cedo?

O moreno ainda não tinha se movido da poltrona.

— Os dois. – Elena levantou da cama e parou ao lado da poltrona. – Você me disse para não te culpar pelos meus erros e escolhas. Nunca te dei uma chance de provar que poderia ser diferente com o David e essa escolha foi baseada em outro tipo de relacionamento.

— Isso é tão difícil.

— Eu sei. Não magoa meu filho. – Damon lhe lançou um olhar de repreensão. – Não magoe nosso filho. Ele é apenas uma criança.

— Ainda não sei ser pai, mas vou fazer o melhor que puder.

Elena apenas lhe deu um sorriso. O primeiro sorriso sincero direcionado apenas para ele.

— A Bonnie fala tão bem de você, que me pergunto se ela ainda é minha melhor amiga ou simplesmente trocou de lado.

— Acho que nós somos amigos também, mas ela é uma das pessoas que mais te ama no mundo. – Damon se levantou. – Vou levá-los para casa.

Antes de ir embora, ele se virou para Elena:

— Eu, o David e a Bonnie estaremos te esperando no final da cirurgia. – Damon segurou o rosto de Elena e deu um beijo na testa da morena.

Ao contrário da ida, a volta foi silenciosa.

Damon resolveu que voltaria para casa essa noite, por tudo que ocorrera no hospital e ainda precisaria ver Stefan.

Bonnie entrou no apartamento e foi direto para cozinha, dando a desculpa que faria o jantar antes de sair para o trabalho. Deixando Damon sozinho com David.

O menino não parecia muito interessado no programa que passava na tv.

— David, eu vou pra casa. Vou ligar pra April vir ficar com você hoje, tudo bem?

— Você vai embora? – O filho perguntou olhando pela primeira vez para Damon desde o hospital.

— Tenho que resolver uma coisa do meu trabalho, mas eu volto logo.

David não deu resposta e começou a agir estranho até mesmo para uma criança. Pegou o controle da TV em cima de uma almofada e zapeava pelos canais.

— Ei campeão. Quer que eu fique e durma com você hoje?

O menino fez que sim com a cabeça e esse foi o melhor plano que poderia fazer com David.

— Amanhã eu te levo na escola.

Damon estava de péssimo humor quando acordou na própria cama de sua casa em LA. Stefan já tinha marcado uma reunião no dia anterior para resolver alguns detalhes dos eventos de divulgação do “Dangerous Race” e cobrar que aparecesse mais vezes em eventos.

Fazia bem pra imagem dele, mas nos últimos dias tinha muito mais problemas para lidar do que sorrir nas pós festas ou em um tapete vermelho qualquer.

Elena não sabia das fotos que saíram dele com David no zoológico e como o encontraram levando o filho para escola. No dia seguinte viajou cedo para LA e não havia conversado com Bonnie. O único ato covarde que consegui foi ligar pedindo para falar com David e depois mandar uma sms dizendo que estaria um tanto ocupado durante esses dois dias.

O cantor estava acostumado com apenas uma coisa importante em sua vida e era sua carreira. Era como olhar para um espaçoso lago raso, não havia muito que procurar ou se aprofundar.

A melodia de seu celular começou a tocar pela terceira vez antes mesmo das dez da manhã. Ele jurou que se Vicki estivesse ligando mais uma vez para lembrá-lo de alguma coisa, tacaria o celular pela janela.

— Oi querido! – A última das vozes que esperava escutar, soou ao telefone.

Sua própria voz pareceu sumir em um buraco negro.

— Mãe? – Lily ligava tão pouco para ele, que estranho seria se ele não estranhasse.

— Quem mais te chamaria assim? – Ela pareceu dar uma risada ao telefone, mas não soube identificar ao certo. – Como está?

A relação de mãe e filho um dia fora ruim, hoje Damon classificaria como razoavelmente boa. Ele foi uma criança agitada, descontrolada e um adolescente pior ainda. Ou talvez fosse apenas um adolescente agindo de modo “normal”. Resultado da infância perturbada e de eternos conflitos com aquele que ele deveria chamar de pai.

Sem outros irmãos, não pôde ser chamado de ovelha negra da família por ser a única ovelha. Não teve outras pessoas que pudessem ser descontados as frustrações e amarguras.

Seu pai deveria ser a figura que nenhuma criança deveria ter. Ele só se importou com trabalho durante toda infância de Damon, todas suas decisões eram baseadas no que fosse melhor para si e nunca pensava nele e na mãe como parte da família que poderia dar uma opinião honesta.

Um homem que nunca se satisfazia com os feitos de Damon, grosseiro e o expulsou de casa quando passou para Julliard[¹].

Grande homem, não?

Damon chegou a odiar a mãe por permitir que aquele tipo de pessoa fosse seu pai. Não poderia ter escolhido um homem bom, carinhoso e que fosse a algumas das apresentações do filho na escola? Sem contar toda a submissão ao pai, afastou Ruth de Damon por anos.

Por mais absurdo que pudesse parecer, Lily se aproximou do filho depois que foi expulso de casa. Deu todo apoio e entrou na primeira briga com Howard desde que Damon se conhecia como individuo, lutando pela poupança para que pudesse pagar a faculdade sem maiores dificuldades.

O dinheiro era a última coisa que o preocupava, mas ele não tinha a menor condição de bancar uma faculdade daquele porte. Mesmo com sua bolsa parcial que conseguira depois de se matar os dois últimos anos do colégio para impressionar o professor de música e conseguir uma boa média em todas outras matérias.

O professor se impressionou com seu talento e lhe indicou.

Foi um sucesso que melhorou as coisas com sua mãe. E piorou uma relação falida e cheia de feridas com o pai.

— Tudo bem e você?

— Indo. Como estão suas férias? Aproveitando bastante? – Ela perguntou em sua voz baixa e suave.

Damon riu:

— Agitadas, mas estou aproveitando de um jeito diferente.

— Alguma coisa que queira ou possa me contar agora?

— Por enquanto não, mas você vai saber em breve.

Eles conversaram mais algumas amenidades, Lily até comentou que gostou do novo single “Dangerous Race” que intitulava o cd. Damon riu disso. Sua mãe gostando de rock?

— Filho, eu sei que você tem uma vida ocupada e não gosta que eu te peça isso. Mas você poderia vir me visitar qualquer dia desses antes da sua turnê começar.

Damon não ia pra casa onde morou até os dezessete há uns três anos. A última visita só lhe serviu para reforçar que a situação com seu pai nunca seria boa. Como Deus permitia que um homem feito aquele pudesse ser pai? O moreno sentia pagar uma punição só por ter sido gerado por aquele homem.

Esse tipo de comportamento só o incentivou a tomar as piores atitudes como artista e que dessem repercussão o bastante para sair nos tablóides. Obviamente ele se divertira bastante nos últimos cinco anos, mas também gostava de deixar um lembrete ao pai.

Eu posso ser pior do que imagina! Controlo minha vida e ser cada dia um desgosto melhor para você saborear o que criou.

Damon tomou várias decisões baseadas no que amava fazer, mas alguma parte bem no fundo gostava de provar ao pai que poderia ser desprezível. Se ele nunca se orgulhou o bastante de todas as coisas que conquistava fazendo o que amava, torcia internamente para que os amigos do círculo social do pai ainda o reconhecessem. Que toda essa baboseira o deixasse constrangido na frente de pessoas que ele considerava mais importante do que o filho e a própria esposa.

Quando seu primeiro álbum fez o sucesso que Stefan e Christopher esperavam que fizesse, ele devolveu todo dinheiro que estava naquela bendita poupança que salvou seu sonho de viver da música. Foi dinheiro mais bem gasto em toda sua vida. Nenhum carro superpotente ou luxuoso, sua mansão, as viagens e tudo que o dinheiro pôde lhe comprar foi melhor do que a sensação que não devia mais nada para o pai. Ele teve o prazer de jogar o recibo da transferência bancária em cima da mesa lustrosa do escritório de Howard.

O velho fez o que sabia fazer de melhor: esbravejou. Sem contar que humilhou o trabalho de Damon, mas na época ele não era o mesmo garotinho indefeso e sem coragem de mostrar sua arte ao mundo.

Damon confiava no seu trabalho, confiava no único talento que lhe fora dado e sabia o quanto havia suado sangue para tudo aquilo se tornar realidade. Abrindo mão de pessoas, pisando nos próprios sentimentos e rasgando o peito para conquistar. Seu pai não poderia lhe tirar o que havia conquistado com aquelas palavras duras.

Hoje ele se envergonhava de ter abandonado a vida em San Diego para seguir o que tanto almejava. Ele encarava o próprio reflexo no espelho e viu os olhos ficarem vermelhos. Havia agido exatamente como seu pai naquela época.

Esperava não ser tarde demais para se tornar um homem melhor. Não que se considerasse alguém que merecesse coisas tão boas, mas agora que tinha um filho não gostaria que David visse a sombra de um homem frio e sem escrúpulos.

As sombras negras dentro de sua alma, que era o traço parecido com as atitudes de seu pai deveriam ser sufocadas. Ele precisava e talvez até acreditasse que poderia ser digno de ter um filho como David. Alguém que pudesse ser pai.

— Nós sabemos que isso não vai dar certo, mãe. Não quero te magoar de novo com todo esse drama. – Ver a mãe sofrendo ano após ano com as inúmeras brigas agora o faziam evitar o assunto e até mesmo as visitas.

— Você não vai. As coisas estão diferentes agora.

Damon não se preocupava com o bem-estar de Howard, mas a mãe parecia ter algo a contar:

— Ele nunca vai mudar. Já se passaram 25 anos e isso é tempo suficiente para alguém mudar, não acredito em milagres.

— Filho, seu pai perdeu um valor muito alto com alguns investimentos. Ele está diferente.

O único motivo que o deixara diferente era o dinheiro.

— Claro, a única coisa com que ele consegue se importar. Com certeza ele me culparia pela desgraça e aposto que o dinheiro investido foi aquele que eu fiz questão de devolver. Ele nunca quis aquele dinheiro, o que sujou a honra da família. Não é disso que se trata?

A mãe suspirou em resposta.

— Ele só está chateado por perder uma quantia tão alta em nome do orgulho. Eu não me importo com ele, mas se você estiver precisando de qualquer coisa, eu vou fazer de tudo pra ajudar. – Damon sentiu o corpo esquentar de raiva só tocar no assunto e ser obrigado a falar de seu pai.

— Você não tem ideia de quanto dói para uma mãe ouvir pai e filho falando que não se importam um com o outro. Damon, seu pai está diferente do normal, ele não quer trabalhar, se recusa a falar com as pessoas e eu já esgotei todas as minhas tentativas. Preciso de você pra despertar algo nele. Bem no fundo ele ama você, eu acredito nisso.

No exato momento que Damon estava pronto para debochar de mais uma tentativa inútil de sua mãe e da sentença mais estúpida que havia escutado em tempos, seu celular vibrou com uma ligação em espera.

Era Stefan.

— Tenho que sair agora, mãe. Te ligo depois e se precisar de algo antes, ligue para o meu escritório que a Vicki fará o possível.

A ligação de Stefan poderia esperar mais alguns minutos, mas seu estômago revirava só de tocar no assunto e não queria magoar sua mãe mais do que o necessário.

— Te amo querido. Se cuide!


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Notas finais do capítulo

[¹] A Julliard, a escola de música e artes cênicas fica em NY. Aqui vamos fingir que é em San Diego,ok?
Estou oficialmente de volta ao normal. Já temos internet de volta no paraíso e voltarei com os capítulos regularmente. Podem ficar felizes *wee - ou não. Acho que a novidade é essa. E o outro capítulo já está sendo finalizado, ou seja, promessa garantida. Já posso ser abraçada enfim. Obrigada por tudo, de verdade.



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