Overdose de informação! Devo estar tendo uma hemorragia interna no cérebro!

Ficamos quase meia hora em silencio depois que meus pais terminaram de contar a historia toda. Grande parte da narração quem fez foi Reinald, Lucius só fazia um comentário ou outro. Mas quando chegou perto do final Lucius desembestou a falar, contando tudo nos mínimos detalhes e pedindo desculpa varias vezes ao longo da historia.

Eu não sei se fiquei mais decepcionada por descobrir que minha mãe é totalmente pirada (pelo menos de acordo com meus pais) ou se foi por meu pai ter me apostado e minha mãe ter aceitado. Talvez tenha sido porque meu pai biológico mora comigo e nunca falou nada. MEU PAI DE VERDADE É O REINALD!

COMO ASSIM?! EU NÃO CONSIGO ACREDITAR, VOCÊS CONSEGUEM?! Aliás, cadê meu cabelo loiro e olhos azuis, EIN?! Acho que ainda não digeri essa informação...

Eu sempre tive uma família. Ok, eu não conhecia parte dela (lê-se: mãe.), mas eu tinha!

Refletindo agora, o passado deles não é obscuro como eu pensava. Tirando o fato de que minha mãe é louca e Lucius um total idiota, até que é bem fofinho!

Ta ta, eu sei que é estranho eu estar falando isso, mas... Cá entre nós,o amor deles desde sempre foi verdadeiro. Não foi desejo nem mesmo paixão, foi amor! Lucius ama Reinald de um jeito que nunca vi antes na vida real, só em filmes. E Reinald nunca foi exatamente gay, ele só ama Lucius pelo que ele é internamente... Aposto que se um deles fosse mulher, eles seriam um casal.

Mas... Mas... AHHH! Reinald é meu pai! Eu tenho um pai! Na verdade tenho dois, mas um neles não fez parte da minha concepção...

- Por que nunca falou que era meu pai? – perguntei quebrando o silêncio.

- Porque achei melhor assim. – Respondeu, mas foi interrompido por Lucius logo em seguida:

- Porque eu achei melhor. A culpa é minha...

- Mas... Por quê?!

- Fiquei com medo que você me detestasse. – Ele respondeu cabisbaixo. – Pensa bem, seu pai e sua mãe estão vivos, já foram noivos e poderiam estar juntos hoje. Você poderia ter uma família normal, mas não tem. Por minha causa. Eu sou o que impediu os dois de voltarem, eu sou a única coisa que não se encaixa aqui.

Eu deveria detestá-lo? Tudo que eu conseguia sentir era pena. Afinal, eu sei como é se sentir deslocada ou excluída... E pelo que vi de Elizabeth, ela deve provocar essa sensação em Lucius.

- Eu não te detesto. – Bom, não por ele ter “atrapalhado” Elizabeth e Reinald, mas tenho que admitir que estava realmente muito brava por ele ter me apostado.

- Você diz isso agora, mas imagina se soubesse disso antes. Você seria madura o suficiente para aceitar? – Lucius disse inseguro.  E quer saber? Ele tinha razão, de certo modo,  recebi a notícia na hora certa.

Eu tinha milhares de perguntas na ponta da língua, mas a que mais me intrigava era:

- E onde Rose entra nessa historia? – Claro que eu tinha percebido que o sobrenome dela era o mesmo da minha mãe, mas isso não esclarecia quase nada.

Lucius deu um longo suspirou e olhou para Reinald, que estava quieto há um bom tempo; viu que ele não ia ajudar em nada. Naquele momento parecia até estar contra Lucius. Então meu pai começou a se explicar:

- Sua mãe perdeu a aposta, claro. E teve que sumir como prometido, mas disse que iria voltar.

- E voltou. – Reinald completou tentando parecer calmo, mas acabou saindo como um lamento.

- Pois é, ela voltou. – Lucius meio que concluiu. – Com o cabelo tingido de preto e alisado, lentes de contato verdes e atendendo pelo nome Rose.

- Rose e Elizabeth são a mesma pessoa. – Disse Reinald afundando o rosto entre as mãos querendo se esconder de alguma forma. Lucius não parecia estar tão envergonhado pelo que tinha feito, mas não me importava, eu estava em completo choque! Fiquei sem reação, acho que nem conseguia respirar direito.

Até minha mãe mentiu para mim! Fui enganada por todo mundo! Acho que é castigo divino por ter escondido meus pais de todos que conheço... Mas Eu sabia! Sabia que Rose era minha mãe! Ah, sabia sim...

Apesar de que a Rose foi só um personagem inventado por Elizabeth para se aproximar de mim.

- Você chegou a ver Elizabeth antes da “transformação”. – Lucius comentou parecendo um pouco mais arrependido do que antes. – Há muito tempo... Eu acho que você tinha uns oito anos.

- Eu tinha uma foto. – Reinald o interrompeu em seguida. – Minha e dela, que tiramos um pouco antes de nos separar. Um dia você foi fazer um trabalho para o colégio com fotos antigas e aí a achou...

- E foi nesse dia que eu rasguei essa foto ao meio.

Ah, eu me lembrava desse dia. Foi o dia que uma raiva irracional passou a fazer parte da minha vida.

~FlashBack on: - Pai, me ajuda! – Reclamei ajoelhada entre álbuns e caixas de fotos.

- To ajudando, Allinton! Para de reclamar! – Brigou Lucius. Ele também estava jogado no chão remexendo nas fotos, mas francamente, ele estava mais interessado em lembrar-se de sua época de faculdade do que em me ajudar. – Não é culpa minha se você quase não tem foto de quando era pequena. – Na verdade, era sim, mas isso não vem ao caso…

- Por que quase não tenho fotos de quando eu era pequena?

- Porque não tínhamos câmera antes. – Ele mexeu em mais uma página do álbum e puxou habilmente uma foto. – Olha, achei mais uma do seu aniversário de um ano!

Peguei a foto, olhei por alguns segundos e depois a joguei ao meu lado. No momento eu tinha algo mais interessante em mãos.

- É você? – Perguntei  mostrando uma foto onde aparecia Lucius mais novo, com o cabelo mais comprido e óculos fundo de garrafa, que provavelmente não eram dele, já que na foto ele espremia os olhos para enxergar através daquela lente pesada. E, bom, Lucius tem uma visão perfeita.

Ele pegou a foto da minha mão e a analisou com uma cara de nojo.

- Eca, odeio essa foto!

- Mesmo? Eu gostei. Achei engraçada e estranha…

- E desde quando estranha é elogio, filha? – Ele perguntou devolvendo a foto para caixa. – Por mim essa foto já teria sido queimada, mas Reinald não deixou. Na verdade esta caixa no seu colo só tem fotos horrendas que eu quis jogar na privada e dar descarga, mas seu pai insistiu em guardar. Não vai achar nenhuma foto sua aí, nem adianta procurar.

Bom, eu sabia que iria ser uma perda de tempo, mas estava realmente curiosa para saber que tipo de foto tinha ali. Então comecei a fuçar. Tinha várias fotos do dois, algumas de Lucius e umas poucas de Reinald, mas nenhuma minha. Me senti aliviada por eles nunca terem pensado em me descartar... Estava pensando em comentar algo do gênero, mas uma das fotos chamou minha atenção.

Uma foto onde Reinald aparecia sorrindo alegremente e uma linda mulher de olhos e cabelos castanhos, com um sorriso tão contagiante quanto o de Lucius e Lauren, estava o abraçando. Era uma foto bem bonita, por sinal.

- O que isso está fazendo nessa caixa? – Perguntei intrigada. – Não é feia, nem estranha...

- Não, não é. – Ele concordou analisando-a ferozmente. – O problema dessa foto é a pessoa que aparece nela. Ao lado do seu pai.

- Quem é ela?

- Elizabeth. – Ele respondeu não muito seguro se devia estar falando sobre isso. – Uma antiga amiga do seu pai.

- Amiga, é? Nunca ouvi falar dela... Eles não são mais amigos? – Indaguei numa inocência infantil.

- Não.

- Por que?

- Eles brigaram e não se falam mais.

- Que pena! Ela parecia legal...

- Mas não é. – Lucius respondeu friamente. – Ela não é legal nem boazinha como parece. Ela é má! Muito má! Eu não gosto dela.

Eu olhei novamente para a foto, Naquela época a palavra do meu pai era lei. Me senti obrigada a não gostar dela também. Passei a sentir raiva daquele sorriso radiante. Aquele tipo de felicidade começou a me incomodar profundamente, pena que isso não me afetou somente em relação a Elizabeth e sim a todos que compartilham daquele sorriso contagiante...

- Por que o papai guarda essa foto?

- Não sei. Isso já ficou no passado mesmo... – Ele pegou a foto da minha mão e a olhou uma última vez, com desgosto. – Ta aí uma foto que vale a pena rasgar mesmo que Reinald brigue comigo depois. – Dito isso, ele a rasgou lentamente ao meio separando Reinald de Elizabeth. E depois fez picadinho dela e daquele sorriso tão... Nauseante.

FlashBack off. ~

- Ah, aquela era a Elizabeth original. – Refleti. Eu estava meio fula da vida com aquela situação toda e minha ingenuidade! Porque a mulher da foto realmente se parecia comigo e eu nunca notei.

- Filha, tem acontecido muitas coisas no momento. – Reinald disse. – Eu gostaria de te explicar tudo, mas te envolver nisso só vai tornar o problema maior.

- Me envolver? Quer dizer que não estou envolvida? É o meu pai, minha mãe, meu pai adotivo, minha vida, minha origem! Como posso não estar envolvida? Pela primeira vez na vida de vocês, esqueçam a preocupação e me contem a verdade.

Os dois pararam e se entreolharam chocados. Acho que ninguém esperava essa reação minha, nem mesmo eu.

- Você que anda batendo papo com a Rose me particular. Esse assunto é seu. – Disse Lucius. Quis lembrá-lo de que ele também fazia isso no começo, mas achei que uma explicação vinda do Reinald seria mais clara e coerente. Ele assentiu sem mais delongas.

- Rose, digo, Elizabeth voltou para ser sua mãe novamente. E está procurando todos os meios de conseguir isso.

- Como assim?

- Ela quer sua guarda. Por algum motivo, é tudo que ela quer agora.

- Mentira. – Lucius falou com desprezo. – Ela veio para tornar nossa vida um inferno e me fazer ir pro Canadá.

- Eu acho que o que Reinald disse é mais possível. Afinal, o mundo não gira ao seu redor.

- O mundo, não. – Ele concordou, mas egocêntrico como sempre, voltou a falar: - Mas Elizabeth, sim. Acredite em mim, tudo que ela tem feito, tem relação comigo e com seu pai.

Eu duvidava um pouco daquilo, mas ao meu ver, Elizabeth já tinha provado ser maluca a esse ponto...

Nossa, como eu queria ver Rose novamente. Só para jogar na cara dela que eu sabia de tudo!

Mas ao mesmo tempo eu não queria me encontrar com ela sabendo que ela mentiu para mim e pra mentiu para mim e provavelmente continuaria a fazer isso...

Sabem quando dizem que o universo conspira de acordo com o que você pensa e deseja? E que quanto mais você pensa sobre uma coisa mais chances tem de acontecer?

Acho que isso pode ser verdade, pois a campainha tocou de repente e eu tinha certeza de quem era. E pelo jeito, Lucius também sabia, pois disse:

- Ah, quem mandou falar no diabo? Ele apareceu! – Com um tom sarcástico e cansado.

- Eu abro! – Apressei-me em dizer, dando um salto do sofá e me dirigindo até a porta.

Parada, com a mão na maçaneta, respirei fundo tomando coragem de seguir adiante. Quando a abri, lá estava ela. Rose. Elizabeth.

Minha mãe...

- Oi Alli! – Ela disse animada. – Seus pais estão em casa, não é?

- Ola, Elizabeth.

Ela me encarou perplexa por míseros segundos e depois esbanjou um sorriso, como posso dizer... Hum, diabólico. É, essa é a palavra certa.

- Ora ora. – Ela falou, obviamente se segurando para não rir. Com a mão direita tirou cuidadosamente a lente de contato verde revelando um olho definitivamente castanho. – Então eles finalmente te contaram? Foi em boa hora para mim. Muito conveniente.

Pois é, conveniente até demais.