Segunda-feira na faculdade a primeira coisa que Raquel pergunta ao ver a amiga foi sobre o restante de sábado com Renato.

– E aí, me conta tudo!

– Ah, não tenho muito o que contar. Ficamos conversando a maior parte do tempo, ele me apresentou o primo dele que tem a banda, depois me levou em casa, só isso.

– Só isso?

– Você queria mais o que Raquel? Acabei de conhecer o cara!

– Por isso mesmo. Nem os telefones trocaram?

– Ah sim, isso sim. Ele disse que vai querer sair comigo outras vezes.

– Agora sim a coisa melhorou! Mas não teve nadinha?

– Você diz ficar?

– É. Não rolou nadinha? Nem um beijinho?

– Só no rosto a hora que ele me deixou em casa. Prefiro assim, não gosto de ir dando muita ousadia. Estamos nos conhecendo ainda.

– Disse bem, ainda... Quem sabe no que isso vai dar não é mesmo? – diz com uma risadinha travessa.

Barbara apenas a olha e sorri balançando a cabeça. Já estava acostumada ao jeito molecona de Raquel.

Durante a aula, entre as atividades por fazer, Raquel continua conversando.

– Estava pensando em fazer alguma coisa pra me ocupar, além da faculdade e do trabalho.

– E quer se ocupar com o que?

– Estou pensando em fazer academia, o que você acha?

– É. Academia é uma boa, porque você pode ir quando quiser, fica fácil de conciliar com a faculdade e o serviço também.

– Foi nisso que pensei.

– Já escolheu onde vai fazer?

– Tem uma perto da minha casa,não muito longe do meu serviço também.Vou dar uma passada lá e ver como faço a matricula. Quer ir comigo?

– Eu?Fazer academia? Nem ferrando!

– Por quê?

– Raquel, olha bem pra mim. Tenho cara de quem curte academia? – Diz olhando a amiga por cima dos óculos de armação relativamente grossa.

– Porque não? Seria uma ocupação pra você também, pra não ficar pensando em besteiras, como eu fico às vezes ...

Raquel estava certa. Por várias vezes Barbara se pegava pensando no passado e isso a desanimava, a entristecia.

– Agradeço a preocupação da sua parte Raquel, mas eu já tenho meu jeito de não pensar no que não devo.

– Ah é? O que é?

– Um dia te conto. – diz com um sorriso enquanto sinaliza para a amiga que a professora estava de olho nelas.

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Raquel aproveita que está em horário de almoço e resolve dar uma passada rápida na academia para fazer sua matricula.

Ao entrar se depara com um rapaz na recepção. Ele aparentava ter por volta dos 25 anos, loiro e malhado. Ele estava olhando algo no computador quando ela o chama.

– Boa tarde, gostaria de informações sobre a academia, como faço minha matricula, essas coisas.

O jovem então pega uma pasta e pacientemente mostra todos os pacotes disponíveis para ela. Raquel olha por um tempo até enfim se decidir por um.

– Gostei desse aqui. Como faço a matricula?

O rapaz diz todos os procedimentos a Raquel e dá uma ficha para que ela preencha. Ao terminar devolve pra ele e percebe que ele a olhava de uma maneira estranha, parecendo avoado.

– Pronto. – diz ao entregar a ficha para o rapaz, fazendo com que ele voltasse à realidade.

Ele olha a ficha e maneia a cabeça positivamente.

– Certo Raquel, pode começar quando quiser. – diz deixando um sorriso com dentes perfeitos.

Ela agradece e sai. Quase que em seguida outro rapaz chega a academia, batendo a mão no balcão da recepção.

– Acorda Mané!

O rapaz se assusta, mas ao ver quem fez aquilo se sente aliviado.

– Quer me matar Everton?

– Você estava no mundo da lua, só quis te trazer de volta. Porque estava viajando tão cedo?

– Acabei de fazer a matricula de uma gata... Nossa cara! Muito linda!

– Toda mina que entra aqui você acha linda. – diz Everton rindo.

– Não cara, essa era demais. Você quase trombou com ela, não viu?

– Eu não.

– Ela saiu você chegou. Se tivesse visto tenho certeza que estava babando que nem eu.

– Acho que não cara. Desde que terminei com a Mariana não tenho cabeça pra nada.

– Você é muito trouxa cara, na boa. A Mariana não está nem aí pra você, está até com outro cara já. Faz que nem ela segue a sua vida.

– Estou seguindo e estou bem assim.

O rapaz o olha fazendo uma careta descrente do que o colega havia dito.

– Bom, a vida é sua, mas acho que você anda perdendo oportunidades de conhecer garotas firmeza por aí.

Everton sorri dando um tapinha no ombro do colega.

– Vou puxar ferro agora, aproveitar a tarde, porque semana que vem volto a trabalhar e vou ter que vir a noite.

– Vai lá.

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A noite durante o intervalo da aula, na praça de alimentação da faculdade, Raquel diz a amiga que já fez a matricula na academia.

– Você se decidiu mesmo hein? Gostei de ver! – diz Barbara – Quando começa?

– Bom, o carinha me disse que podia começar quando quisesse, então vou deixar pro começo da semana mesmo. Vou fazer antes da facul.

– Antes?

– É. Saio do serviço, vou pra academia e venho pra ca. Gostei desse pacote pelo horário, não vai ficar apertado pra mim.

– Quanto ao horário você pode até ter razão, mas você vai chegar quebrada aqui.

– Acho que não, vou ficar mais na esteira e na bicicleta. Coisa ligth. – diz rindo.

– Mesmo assim. Vai com calma no começo, não tenta abraçar o mundo com os dois braços porque você vai se enrolar.

– Não se preocupa, pensei nisso tudo antes.

– Então tudo bem.

– E você e o Renato? Novidades?

– Não.

– Não ligou pra ele?

– Não.

– Ah Barbara, por quê?

– Sei lá Raquel, ia ligar pra ele e falar o que?

– Um oi já era um começo.

– Isso falamos por sms.

– Então pelo menos mensagem por celular vocês trocam?!

– Sim, desde o dia do boliche. Nos falamos pelo skype também.

– Isso é bom, mas pessoalmente seria melhor.

– Eu sei, mas é muito difícil encontrar ele aqui no meio dessa gente toda, nem sei onde é a turma dele e ele muito menos onde é a minha.

– Tem certeza? – pergunta Raquel com uma risadinha que Barbara não entendeu.

– Boa noite meninas.

Barbara olha para trás e vê que era Renato que acabara de chegar.

– Boa noite, tudo bem? Estávamos falando de você! – diz Raquel com um sorriso de orelha a orelha, o que deixa Barbara constrangida.

– Bem ou mal? – pergunta ele olhando para Barbara.

– Bem. – diz ela dando um sorriso sem jeito.

– Bom, já que agora você não vai ficar sozinha vou falar com as outras meninas sobre a prova da ultima aula. Cuida bem dela hein Renato. – diz Raquel saindo do lado do banco em que estava sentada com a amiga, deixando o lugar vago para que ele sente.

– Pode deixar, cuido sim. – diz dando um sorriso para Raquel e olhando Barbara em seguida.

Para não parecer desconcertada, resolveu puxar assunto.

– Como você me achou?

– Aqui na praça de alimentação?

– Também... – diz sorrindo.

– Tenho amigos no mesmo andar que o seu. Perguntei pra eles onde ficava a turma de administração. Fui até sua sala e perguntei de você pra um grupinho de meninas, que me disseram que você tinha vindo pra cá, então vim atrás de você.

– Maratona pra me encontrar hein!?

– Valeu a pena. E aí, como está sendo seu dia hoje?

– Normal, sem fortes emoções – diz sorrindo – E o seu?

– Foi um pouco corrido no trabalho, mas agora está calmo.

– Imaginei que foi corrido pra você, nem ficou on line durante o dia.

– Percebeu é? – diz com um ar de felicidade.

– Percebi sim. Já me acostumei a falar com você.

– E gosta?

– Lógico. Pensei em te ligar, mas tive medo de te atrapalhar.

Na verdade essa idéia sequer havia passado pela cabeça de Barbara, mas resolveu arriscar e ver a reação do rapaz.

– Foi um dia corrido, mas com certeza atenderia você. Da próxima vez não pensa, liga. – diz rindo e fazendo Barbara rir também.

– Pode deixar.

Eles conversam por mais algum tempo, até que Renato lhe faz uma pergunta.

– Amanhã depois da facul você vai fazer alguma coisa?

– Não, aliás eu não faço nada depois da aula já tem um tempo. A última vez que tentei quase apanhei lembra? - diz com um sorriso.

Ela se referia a briga que teve com Natã, o ex namorado de Raquel.

– Foi no dia que conheci você?

– Foi.

– Viu como eu lembro? – diz rindo, mostrando um sorriso que afetava a Barbara mais do que ela mesma se permitia.

– E você, vai fazer alguma coisa? – pergunta a ele.

– Eu quero, mas não vai depender só de mim.

Barbara sentiu que as chances daquela resposta ser uma indireta bem direta pra ela era grande, então resolveu dar continuidade.

– Não? Depende de quem mais? – diz estreitando os olhos que pareciam ainda menores por causa dos óculos.

– De você.

– De mim?

– É Barbara de você mesma. Quero te levar ao cinema amanhã depois da aula, se você estiver a fim de ir.

Ela tinha razão. Foi uma indireta bem direta pra ela. No fundo gostou de estar certa.

– Pode ser depois do intervalo? Pra não ficar muito tarde...

Renato a olha surpreso, ele não tinha tanta certeza de que ela aceitaria, mas ficou satisfeito em ver que o convite fora aceito.

– Pode sim, claro que pode. – diz com um sorriso animado

– Mas tem uma coisa...

– Acho que sei o que é. Seu carro acertei?

– É.

– Você vem direto do serviço pra cá?

– Depende, algumas vezes da tempo de passar em casa antes.

Renato fica alguns minutos pensativo.

– Bom, você pode ir do serviço pra sua casa e eu te pego lá. Te trago pra faculdade e depois vamos ao cinema.

– Não vai atrapalhar você fazendo desse jeito?

– Nem um pouco. Podemos deixar combinado assim então?

– Podemos.

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De volta à sala de aula, Raquel percebe um sorriso bobo no rosto da amiga.

– Porque você me deixou sozinha lá com ele? – pergunta Barbara indo na direção de sua cadeira, logo atrás de Raquel.

– Não te deixei sozinha, tinha várias pessoas em volta.

– Engraçadinha.

– Nem deve ter sido tão ruim assim, caso contrário você não estaria com esse sorrisinho bobo.

Barbara abre ainda mais o sorriso e olha em volta, tomando cuidado pra que outros não ouçam a conversa delas.

– Ele me chamou pra ir ao cinema com ele amanhã.

– Sério? Que ótimo! Você aceitou né?

– Aceitei. Seja o que Deus quiser. Só tem uma coisa... Ele vai me trazer pra facul amanhã. Você vai ficar chateada comigo?

– Claro que não. Diz isso pela carona?

– É.

– Nem esquenta, afinal é por uma ótima causa, e amanhã também não virei, vou a um aniversario de uma prima. Mas depois você vai ter que me contar todos os detalhes.

– Se tiver o que contar pode deixar que conto sim.

– Vai ter sim, sinto que vai e torço muito por isso também.