Faz duas semanas que David não aparece na faculdade. Júlia já vem recebendo certos olhares vergonhosos dos amigos e conhecidos que estavam na festa, mas não tanto quanto Apolo. Desde o ocorrido as pessoas parecem temê-lo como um animal infectado.

– Eu sinto muito por essa situação. – disse Júlia a Apolo que estava estudando na praça próxima a faculdade.

– Tudo bem Júlia. – ele fechou os livros. – podemos conversar sobre outra coisa além daquela festa? – perguntou ele.

– Podemos conversar, por exemplo, sobre seu surto aquele dia em relação ao Lucas. – ela o encarou.

– Ele te pediu em namoro...

– Eu sei.

– E você aceitou? – perguntou curioso.

– Isso importa pra você? Apolo você deixou claro que não vou ter nada de você, além disso... Uma amizade. – respondeu.

– Você é demais pra mim Júlia.

Ela sorriu. E ele continuou a falar.

– Eu sei que quer muito ficar comigo, mas... Eu realmente acho que você merece algo melhor.

– Eu também acho Apolo.

Os dois sorriram reciprocamente e abraçaram-se.

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

*Alguns dias depois*

– Nossa! Esse filme foi incrível! – comentou Lucas enquanto Júlia e ele saiam da sala de cinema.

– Foi mesmo. Obrigado pelo convite! – disse ela timidamente.

Ele a olhou, parecia esperar por algo.

– E então, você falou com seus pais a respeito do que aconteceu na festa?

– Sim, meus tios não querem fazer a denúncia por medo de tornar isso público demais. e meus pais querem que eu volte pra São Paulo.

– O que? Mas você não vai voltar ou vai? – perguntou eufórico.

– Eu não sei. Ouvi dizer que o David vai voltar pra faculdade em alguns dias. Como posso encará-lo como se nada tivesse acontecido? E além do mais eu venho recebido ligações anônimas. Eu estou apavorada Lucas.

– Ligações anônimas?

– Sim, começou há três dias. Geralmente me ligam de madrugada. Não falam nada.

– Você tem que tomar mais cuidado ainda.

– Eu sei.

Os dois seguiram para a praça de alimentação do shopping. Conversaram ainda sobre a festa e o boato de que outra menina havia sido vítima também. Ambos tentaram evitar mencionar Apolo na conversa, porém foi em vão.

– Conversei com Apolo esses dias. – disse Júlia.

– É engraçado você falar assim, parece até que não moram juntos.

– As vezes não parece. – assentiu ela.

– Sobre o que conversaram? – perguntou.

– Sobre mim, sobre ele, sobre você. – respondeu.

Lucas a encarou como se sentisse medo do que estaria por vir.

– O que conversaram sobre mim?

– Eu e Apolo não temos mais jeito. Não temos mesmo. E eu quero dar uma chance a mim mesma de tentar algo novo, algo bom e talvez... – ela hesitou a continuar falando.

– E talvez...? – influenciou ele.

– Talvez eu esteja pronta para um novo passo. Seguir em frente como as pessoas falam.

– Não pode conseguir isso sozinha.

– Eu sei, é por isso que estou dizendo agora que preciso de você Lucas.

Ele sorriu. Um sorriso tão bonito, como se acreditasse que jamais existiria felicidade maior que aquela que sentia agora. Ele a puxou para um abraço e a beijou, sendo que dessa vez ela o permitiu.

– Vou tentar, com todas as minhas forças fazer você ficar bem. – sussurrou ele.

Ela continuava a abraça-lo. Mas seu sorriso não era o mesmo. Estava nos braços de outro, mas o pensamento continuava fixo em uma única pessoa. E lembrou-se que precisava esquecê-lo. Engraçado isso, lembrar que se precisa esquecer alguém... Mas Júlia sabe e admite para si mesma, no fundo no fundo, isso é impossível.