POV Katniss.

Eu não saberia dizer quanto tempo passou, poderia ter se passado algumas horas, talvez até um dia inteiro. O fato é que eu não me importava em saber, apenas torcia para não ser a hora de mais um novo show de terror.

Fiquei um bom tempo com os pensamentos voltados para Peeta no distrito 13, como ele poderia ajudar a mim e Johanna, tentava me concentrar em algum ponto de esperança daquela situação, mas apos um tempo eu desisti.

Pacificadores também nos traziam comida as vezes, se é que posso chamar aquilo de comida.

Mas devo dizer que a comida daqui não poderia estar classificada como “comestivel”,  mas os pacificadores também não aparecem para nos dar comida com freqüência.

Não voltei a falar com Johanna, estou sentada em um canto da cela com as costas apoiadas na parede, abraçando minhas pernas e com a cabeça encostada nos joelhos.

Ouço o barulho de minha cela sendo aberta. Ergo os olhos e vejo um pacificador, ele me pega pelo braço com violência e me arrasta para fora da cela.

Eu já nem tento me debater, apenas luto para não ser arrastada pelo corredor, tento ao maximo manter meu corpo em pé e acompanhar os passos rápidos e violentos do pacificador.

Então ele abre a porta da sala de tortura e novamente vejo Snow a minha espera.

-Pronta para mais uma sessão de perguntas Mockingjay?- ele diz. - espero que dessa vez me forneça as respostas.

-Eu já lhe disse que não sei de nada. - eu falo. - eu não sei nada da revolução, não sei sobre o distrito 13 e não tenho idéia do que se passa por lá.

-Mentirosa. - ele fala – eu sei que você e o Mellark sabiam do resgate.

-E o que te faz pensar isso?

-Peeta pintou um quadro sobre a revolução durante a sessão com os patrocinadores durante os jogos. Ele de fato sabia sobre a revolução.

-Ele não sabia! Nenhum de nos sabia!

-Hoje mesmo ele e os demais vitoriosos fizeram um vídeo rebelde, incentivando rebelião. - ele diz. - Ele sabia sim! E no vídeo rebelde, você nem se quer foi citada, não e mais útil para eles.

-Eu já disse que não sabia de nada. - digo, tentando ignorar o que Snow disse, mais e como sua voz ainda ecoasse sob meus ouvidos.

-Então como você explica tudo isso?- ele pergunta com raiva. - a coloquem na cadeira.

O pacificador me arrasta para a mesma cadeira de choque da ultima vez, começo a entrar em pânico e me debato, mas o pacificador é mais forte e me prende da cadeira como da ultima vez.

-O que você sabe sobre a revolução?- Snow pergunta.

- Nada!- eu digo desesperada.

-Vamos tentar algo diferente dessa fez.quem sabe isso te faça abrir a boca.- ele diz.- traga o balde d’água. - ele diz ao pacificador.

O pacificar concorda e sai rapidamente para outro canto da sala, logo ele volta com um balde enorme d’água. Ele a coloca de frente para mim.

-o que você sabe sobre a revolução?- ele pergunta novamente.

-Eu já disse que não se nada. - eu falo.

-Que pena.- ele fala- pode afundar.

O pacificador me segura pelo pescoço e afunda com força minha cabeça na água.

Não consigo voltar a superfície, o pacificador continua a abaixar minha cabeça com força. Tento gritar, é inútil, apenas faz com que eu perca mais oxigênio. Sinto que vou começar a desmaiar quando finalmente ele puxa minha cabeça a superfície.

-Gostou da experiência?- Snow pergunta.

Eu não consigo dizer nada, apenas luto para fazer com que o ar volte aos meus pulmões novamente.

-Não precisa ser desse jeito. - ele diz.- e só você me contar o que sabe.

-Eu não sei de nada. - eu tento repetir, minha voz sai fraca e tremula.

-Sua lealdade é de fato admirável.- ele diz.- pena que será inútil.

Eu não tenho forças para responder.

-Ninguém se importa com você por lá, no vídeo que o Mellark gravou ele nem ao menos citou você. - Ele fala. - ele não se importa com você, se alguém lá se importasse acha que ainda estaria aqui, junto com a Manson? Porque ninguém veio ao seu resgate, Mockingjay?

-Eu... Eu não... - digo tentando recuperar o fôlego que ainda foge de meus pulmões.

-Você apenas precisa me dizer, e todo o sofrimento termina aqui.

-Mas eu... Eu não sei... Eu juro que... - Snow me olha com uma falsa decepção.

-Que pena. - ele fala. - o choque.

Então cinto novamente a corrente elétrica correr pelo meu corpo, eu grito com todas as minhas forças, que no momento são poucas. Então o choque para, mas meu corpo ainda treme.

- Todos eles sabiam da rebelião. - Snow fala. - Finnick, Beetee, Johanna, Wiress, Maggs e até mesmo Peeta. Todos eles sabiam, e você também, todos aramaram para a Capital. - ele continua. - mas você continua a tentar proteger aqueles que lhe abandonaram sozinha na arena, ao meu alcance. Pensa que eles não sabem o que acontece com você aqui? É claro que eles sabem, mas mesmo assim ninguém veio lhe resgatar. Nem mesmo o seu próprio namoradinho.

Ele continua a falar.

- Agora me responda, o que você sabe sobre a revolução?- ele diz.

-Eu não sei...

- Pode afundar. - ele fala

O pacificador novamente afunda minha cabeça na água, dessa vez por mais tempo, novamente eu me debato, mas o pacificador não cede. Gritar é inútil, e sua mão continua em minha nuca.

-Tem certeza que ainda não sabe?- Snow fala quando levanto a cabeça.

-Eu... Eu não...- tento dizer.

-Choque.

E mais uma vez sinto a carga elétrica em meu corpo, grito mais isso nada me ajuda.

-O que você sabe sobre a rebelião?- ele fala com raiva.

Não consigo lhe responder, nesse momento sinto o ar me faltar e tudo ficar preto. Então perco a consciência.

***   

Quando finalmente recupero a consciência, estou novamente caída em minha cela. Meu corpo inteiro ainda doi e treme, minha visão esta embaçada, vejo pontos pretos em todas as direções.

-Katniss?- ouço Johanna chamar na outra cela. - graças a Deus você acordou.

A voz de Johanna realmente soa preocupada.

-Quanto tempo eu estive desmaiada?- pergunto com a voz tremula e Johanna parece pensar.

-Não sei ao certo, é difícil contar as horas aqui. – ela fala- mas faz tempo que eles lhe trouxeram, devem ter pegado pesado com você.

Não respondo, continuo em silencio, sem encará-la.

-Uns pacificadores trouxeram comida a algumas horas.- ela diz apontando para o que parece ser uma pouco me mingau velho e um copo d’água.

Eu os olho com nojo e viro a cara, me recusando a comer.

-E melhor comer se quiser continuar viva. - ela fala e logo se vira para sua própria cela, me deixando sozinha com meu mingau velho.

A questão, é que ainda se passa pela minha cabeça o que foi dito por Snow, mesmo que eu não goste de admitir, ele tem razão em vários aspectos.

Por que Peeta faria uma pintura da rebelião se não soubesse de nada sobre ela? Eu não havia dado importância a isso antes, mas agora...

Porque todos os outros vitoriosos sabiam menos eu? Peeta realmente sabia sobre o distrito 13 e o resgate?

No vídeo que Peeta gravou, Snow disse que falou claramente que apoiava a revolução, não acho que Snow esteja mentindo.

Tudo que ele disse infelizmente faziam muito sentido. Então Peeta realmente sabia sobre a revolução e o resgate, ele realmente esta no 13 e me abandonou a própria sorte aqui?

Eu realmente sou tão facilmente descartável dessa maneira?

Haymitch mentiu, Finnick, Beetee.... Todos eles haviam mentido, e principalmente, Peeta havia mentindo para mim.

 “Viu o que da confiar demais nas pessoas Katniss? Agora está sozinha.”

Volto a abraçar as pernas e a colocar minha cabeça apoiada nos joelhos. Olho novamente para o prato de mingau.

“Melhor comer se quiser continuar viva”

E agora já não tenho certeza se conseguirei de fato sair daqui viva, parece um tipo de sonho muito fora da realidade.

E em pensar que a pouco mais de um mês atrás o único problema que assombrava minha mente era o fato de que talvez a mãe de Peeta não aceitasse nosso casamento.

Lembranças felizes como o pedido de noivado de Peeta, nossas tardes na floresta comigo lhe ensinando arco e flecha e ele errando todas as miras, ou ele tentando me ajudar a decorar um bolo de dois andares com chantilly...

Tudo agora parece tão distante, como se não passasse de um velho sonho, os quais você consegue se lembrar de cada detalhe, mas mesmo assim não chega a parecer real. 

Como se a realidade da felicidade fosse algo impossível de alcançar, e que fosse tão inacreditável que um dia eu consegui de fato alcança-la.u