POV Peeta.

Fecho um dos olhos afim de ter uma mira melhor, puxo o gatilho do revolver com a certeza do acerto. Sim, mais um tiro em cheio.

Abaixo a arma por um segundo e olho em minha volta. Não havia ninguém. Era muito cedo, ou talvez fosse muito tarde. Não sei bem.

O salão de treinamento ficava aberto 24 por dia, afinal, por que limitar o tempo que um soldado treina? O fato é que eu estava completamente sozinho se ignorasse a presença de um ou dois funcionários que limpavam a área.

Mas o que eu poderia fazer, se a inquietação me dominava sempre?

Minha rotina nos último três dias desde que Katniss foi resgatada foi a mesma. Acordo pela manhã antes de Simila, e vou direto para o hospital, falo com o médico e visito Katniss.

Ela sempre está dormindo, os médicos dizem que o cansaço acumulado nos meses de tortura junto com a perda de sangue e do baço não poderia ter dado um resultado diferente.

Mas eu entro da mesma forma, mesmo com ela dormindo, apenas de ver seu peito subir e descer com a força leve de sua respiração continua já me deixa mais calmo. Apesar de eu ainda não ter falado com ela desde a última vez, quando disse a ela que era seu marido.

Não quero força-la a nada, mas ao mesmo tempo me pergunto como serão as coisas daqui para frente, se ela nem ao menos se lembra direito de mim.

Bem, geralmente, depois de sair do hospital, eu fico treinando, sozinho em um canto meio isolado do salão.

Simila, Delly e Finnick geralmente me procuram, no salão ou em meu quarto. Mas a verdade é que estou tentando evita-los o máximo possível. Porque? Simplesmente por que não suporto o olhar de pena que me dirigem sempre que estou com eles.

Evitar Simila é um pouco mais difícil sendo que moro com ele, as procuro sempre sair bem cedo que ele e voltar mais cedo também, assim, geralmente estou dormindo quando ele chaga, ou pelo menos finjo dormir.

Chegar mais tarde não dá muito certo, pois ele geralmente espera por mim.

Continuo dando meus tiros, acerto um após o outro. Tenho melhorado bastante, afinal, tenho muito tempo de sobra. Quando não estou com Katniss adormecida estou aqui, isso se também não estou vagando distraidamente pelo distrito sem qualquer rumo.

Ouço passos atrás de mim, e pelo som, que aumenta a cada segundo, veem em minha direção.

Arrisco um olhar por cima do ombro. Era o que temia, era Simila. Não havia mais tempo de tentar escapar, ele já me avistara bem antes que eu a ele. E dessa vez, não havia nenhuma multidão para que eu possa de misturar.

–Peeta. –ele me chama ao chagar mais próximo.

–Ah oi Simila. -digo distraidamente. –o que faz por aqui uma hora dessas?

–Eu ia lhe perguntar o mesmo. -ele fala.

–Só acordei e não consegui voltar a dormir. -mentira, eu mal tinha chegado a dormir.

–Mas não são nem 4 da manhã. -ele retruca.

–Cheguei a pouco, faz uns 10 minutos, acho. -mentira de novo, quando cheguei não eram nem 3 da madrugada.

Nós ficamos em silencio por mas um tempo, até que Simila volta a falar.

–Você está bem? -ele pergunto, então, eu forço minha melhor cara de indiferença.

–Claro, por que? –digo, e Simila me avalia dos pés à cabeça, apara então dizer:

–Por que você costumava mentir menos, e mentir melhor.

–Não estou mentindo. –eu falo, tentando soar convincente.

–Acordei com você saindo do quarto a quase uma hora atrás, e não estava muito convencido que estava dormindo quando cheguei no quarto essa noite.

Eu suspiro derrotado.

–Tudo bem então, eu não consegui dormir à noite toda. Qual o problema nisso?

–O problema e que você praticamente não dorme e evita a todos a dias! Qual foi última vez que eu falei com você por mais de 5 minutos? –ele fala. –Você anda muito estranho Peeta.

Eu não respondo, apenas mecho a arma em minha mão.

–É por causa da Katniss. -ele mais afirma do que pergunta. –tem visto ela?

–Vou vê-la todas as manhas. -eu digo. -sempre.

–E como ela está?

–Nunca esta acordada.

–Mas? –ele fala, esperando que eu continue.

–Mas eu sempre falo com os médicos. -eu digo. -Fisicamente, ela tem melhorado bastante, mas o resto... continua o mesmo.

–Eu imaginei. –ele fala. -vi ela esses dias.

Viro-me para ele, surpreso com a notícia.

–Viu? Como?

–Resolvi visita-la, saber como ela está.

–E o que você disse?- pergunto curioso.

–Algo do tipo: e ai Katniss, como vai? –ele fala.

–E ela...?

–Perguntou quem eu era. -ele disse. -pareceu bem surpresa quando disse que era seu irmão. Inclinou a cabeça para o lado e franziu as sobrancelhas, claramente confusa.

–Eu imaginei...- movo novamente a arma em minhas mãos, tento um tiro e acerto em cheio, mesmo com elas tremendo.

–Você melhorou. -Simila comenta.

–Acho que sim. -troco o peso de um pé para o outro. -Veja, desculpe por estar evitando você, Delly e os outros, é só que... Eu não sei como reagir a tudo isso.

–Está tudo bem, Peeta, apenas só ficamos preocupados como você. –ele fala. -com você e com a Kat.

–Eu sei. –eu digo. -mas a cada vez que vou até o hospital e falo com os médicos... É só difícil de ouvir.

–O que eles dizem?

–As torturas eram muito pores do que imaginavam, os choques era tão fortes que conseguiram literalmente deteriorar os neurônios dela. Dizem que foram se deteriorando aos poucos, primeiro lembranças mais próximas como semana uma semana anterior ou um dia anterior, mas passam desapercebidas durante o tempo que ela passou lá, já que não tinha muita noção do tempo. Em seguida, lembranças mais antigas como você e a mim. Talvez, se tivesse permanecido lá por muito mais tempo ela mal se lembrasse do próprio nome.

Eu digo, suspirando.

–Todos os que foram resgatados estão nesse mesmo estado? -ele pergunta

–Não. Bem, eles tem dificuldade para se concentrar e um fraca perda de memória, como lembranças manchadas, mas nenhum deles se compara ao estado de Katniss. -eu digo. -cheguei a falar com Johanna e um cara que foi resgatado, pelo visto Katniss foi bem mais torturada do que todos.

Nenhum de nós fala nada por um tempo, ninguém troca olhares ou diz nada, apenas encaramos o chão.

–Venha, larga essa arma e vamos pro quarto. -ele diz, tomando a arma de mim. -você precisa dormir pelo menos um pouco as vezes.

–Você sabe muito bem que eu não irei dormir. –eu digo.

–Então me deixe dar uma de bom irmão mais velho te obrigando a ir dormir. Apesar de você sempre parecer o mais velho por aqui. -ele fala, jogando o revolver em uma mezinha. -Vamos.

Ele me leva novamente para o quarto, onde eu simplesmente sento-me na cama, sem esperança alguma de dormir.

–Tudo bem, pelo menos eu tentei! -Simila fala, erguendo as mão em sinal de rendição em uma tentativa fraca de brincar, com um humor triste, mas uma tentativa. -fique ai acordado então.

Simila deita em sua cama, e ao contrário de mim, estava morto de sono, dormiu quando mesmo momento em que a cabeça tocou o travesseiro. O que me fez sentir culpado por faze-lo acordar no meio da noite para se preocupar comigo.

Quanto tempo passou? Uma, talvez duas horas, quando ouvi a porta bater fracamente. Vou atender, e acabo encontrando Haymitch a porta.

–Sabia que estaria acordado. -ele fala.

–Algum problema? -eu pergunto, esperando por uma má noticia, por que sinceramente, é tudo que tenho recebido por um bom tempo.

–Katniss pediu para falar com você. -ele fala de uma vez só.

–Espera, o que? -eu pergunto.

–Ela disse que estava confusa, queria ajuda, pediu para que eu falasse com você.

–Serio? -eu pergunto, em uma certa expectativa.

–É, mas só tome cuidado, garoto, você sabe, ela inda não está muito bem.