Ponto de vista de Jacob

Eu devia ter imaginado que os poderosos não ficariam para uma boa briga... Os vampiros que ficaram para nos enfrentar não passavam de meros peões nesse jogo. Mas eles ainda tinham Renesmee presa em seu lado na sala. Bella oscilava com o impacto dos golpes dos vampiros ao tentar furar seu bloqueio.

_Não!_ ouvi Edward sussurrar urgente, e pensei que fosse para mim por pensar em sair da proteção de Bella e ir até Nessie, mas era na direção de Rosalie que ele falava.

Uivei quando em minha mente, Leah passou muito perto de ser mordida já que sabe-se lá porque ela estava fora da proteção de Bella, ao mesmo tempo outro som irrompeu o ar. Renesmee. Antes que eu pensasse corri na direção onde Nessie estava se debatendo no chão, sem me importar se Bella podia estender seu escudo sobre mim.

O líderes Volturi haviam desaparecidos por algum tipo de porta secreta na parede de pedra, ninguém se incomodou em ir atrás, o que queríamos era sair dali vivos e com Nessie... Nessie, ela sangrava numa ferida acima do olho direito... Posicionei-me sobre ela vasculhando a sala em busca de perigo, quando então uma sensação muito familiar me tomou, a sensação de ter meu ser arrancado de mim e preenchido com outra existência... Todas as mentes conectadas a minha pararam naquele momento interminável. Seth tinha em mente um pequeno bebê nos braços de uma mulher claramente humana encolhida num canto escuro. Mas que linda hora!, Pensei, sendo trazido à realidade pelo choramingar doloroso de Renesmee abaixo de mim. Rapidamente percebi seu pulso enxágüe em sangue numa ferida em duas meias luas. Ela se debatia, meus olhos esquadrinharam seu corpo encontrando outras duas mordidas, e gritei por Edward em pensamento, nesse momento vi pelos olhos de Quil Edward decapitar alguém.

Havia vampiros ainda vivos se é que se pode usar esta palavra para seres decapitados e mutilados se arrastando e andando... Pareciam mais zumbis. De repente Edward estava ao meu lado, cuidadoso e rapidamente ele ergueu Nessie e foi em direção a saída. Alguns dos nossos já haviam partido. Eu segui em seu encalço, apavorado por ver Nessie fechar os olhos e seu rosto estar tão agoniado, enquanto murmurava coisas ininteligíveis, parecia estar delirando.

_Temos de nos separar_ dizia Jasper, todos pararam na metade do beco, já fora do esgoto que fedia a vampiros.

_Temos tempo, eles não virão atrás de nós, mas vamos pela floresta_ disse Alice.

_Não temos tempo_ disse Edward, o rosto muito concentrado e ao mesmo tempo descontrolado, enquanto se agachava com Nessie no chão_ Podem ir todos. Carlisle, ela foi mordida.

Nesse momento o doutor avançou em meio à multidão no beco escuro e se agachou ao lado de onde Edward e Bella tinham a filha, comigo avultando sobre eles.

_Não é normal, ela está perdendo a consciência_ a voz de Edward era urgente. Sem dizer uma palavra sequer, Bella pegou a mão de Nessie levando até seu rosto e abocanhou a ferida no pulso da filha, sugando. Eu olhei ansioso para o rosto de Nessie como se o gesto de Bella fosse imediatamente surtir efeito.

Edward e Carlisle fizeram o mesmo, no joelho a tornozelo. A sessão sanguessuga levou alguns longos segundos, o bastante para que Renesmee ficasse tão pálida quanto qualquer vampiro ali.

_Parem, já tiramos mais do que devíamos. O veneno se espalhou demais_ a voz de Carlisle era preocupada, ele a examinava. Seu coração não parecia na freqüência certa, parecia pesado... O meu parecia uma pedra em meu peito angustiado.

_Alice, providencie uma ambulância-avião_ disse o doutor enquanto estancava o corte na testa, Edward enfaixando o pulso com um pedaço de sua camisa e Bella fazendo o mesmo no alto do joelho. Eu em minha forma grande e peluda tentava não atrapalhar o trabalho deles, ronronando próximo ao seu ouvido, quando então ela engasgou, um ruído gutural e sua respiração passou a ser muito curta e superficial.

_Os aviões esperam por nós_ ouvi Alice dizer, me tornando apenas vagamente consciente dos murmúrios preocupados na entrada do beco.

_Vamos levá-la_ disse Carlisle_ Edward, leva-a rapidamente, você sabe como agir.

Esme se aproximou do filho e colocou um sobretudo aberto sobre a neta, que parecia assumir uma coloração azulada na pele antes rosada.

Os outros já haviam ido, e logo perdemos Edward de vista quando ele partiu pelos telhados. Tive de voltar à forma humana, e ir pela cidade com Bella e Carlisle comigo.

A saída da cidade foi mais rápida que a entrada. Chegamos ao local onde deixamos os carros na estrada e não havia ninguém mais, só um carro ainda jazia lá. Alice ligou dando instruções de onde ficava o aeroporto, que era de uns mafiosos que tinham negócios com vampiros, pelo que entendi.

Carlisle nos levou ao avião menor que provavelmente era o que possuía todos os aparatos médicos necessários. Apenas Emmett e Jasper, Carlisle, Bella, Edward, Nessie e eu iríamos neste.

Renesmee estava conectada a fios e monitores, deitada numa cama muito bem fixada a parede e ao chão. Carlisle passou a verificá-la e introduziu um tubo de oxigênio em suas narinas. Tirou da maleta que havia guardado no carro uma pequena caixa cheia de agulhar reluzentes, e entendi que eram as agulhas especiais necessárias para perfurar a pele de Renesmee. Num movimento muito rápido ele a colocou na dobra de seu cotovelo.

Eu não conseguia tirar os olhos ansiosos de Nessie, completamente imóvel, sua cor nada natural era assustadora.

Emmett anunciou a partida e tivemos que nos sentar, mesmo Carlisle que ministrava medicamentos sentou-se na poltrona ao lado da maca, junto de Bella.

_ O que ela tem, afinal? Ela está se transformando?_ demandei sentindo a aeronave subir, minha voz soando fraca.

_ Não posso afirmar com certeza, é tudo muito vago_ falou Carlisle.

_Não é algo que já tenhamos visto_ disse Edward sentado na poltrona a minha frente.

_Ela está intoxicada_ completou Carlisle. Olhei para trás há tempo de ver a preocupação envelhecendo o rosto imutável do doutor, o que fez meu estômago afundar desconfortavelmente.

Uma vez que o avião estabilizou-se no ar Carlisle e Edward passaram a estudar os sinais vitais de Nessie. Bella estava inconsolável, desesperada pela filha. Eu tinha a sensação de que se eu desmoronasse, perdesse o controle e cedesse à dor de ver Renesmee naquele estado tudo ficaria pior, então me mantinha o mais firme que podia, sentindo que era só questão de tempo até não suportar mais.

Eu estava debruçado sobre a extremidade da maca onde jazia a cabeça de Renesmee, ela estava tão gelada quanto um vampiro e sua pele era azul gelo. Ela parecia tão doente, tão debilitada, que me custava acreditar mesmo vendo diante de mim. Sua respiração e coração estavam muito instáveis. Mas ninguém esperava quando seu coração acelerou tanto que o monitor emitia um único e ininterrupto bip.

_Isquemia_ sibilou o doutor, de súbito fazendo compressões no peito de Nessie, ele e Edward movendo-se vertiginosamente sobre o corpo dela. Bella imóvel olhando tudo com os olhos dourados enormes e eu lutando para não me tornar um animal ali dentro e fazer tudo ficar pior.

_Não, não!_ as palavras de Edward eram um rugido_ Reaja, Nessie, volte criança!

E então o único som de vida ali era o de meu coração batendo pesado e dolorosamente, enquanto Edward agora preparava um desfibrilador, então houve o som do choque e do corpo de Nessie trepidando na maca. Outro choque e nada. Carlisle injetou algo em sua veia, mais um choque e silêncio.

Eu não vi muito daí adiante... Percebi que atirei Carlisle para longe de Renesmee e senti o baque desestabilizar a aeronave... Isso não poderia estar acontecendo, a dor daquela consciência era indescritível, insuportável. Lágrimas turvavam minha visão.

_Renesmee!_ ouvi minha voz rouca e falha irromper por meu descontrole. Mas antes que eu pudesse tocá-la, fui puxado e senti algo frio chocar-se contra meu rosto, fazendo-o esquentar, meu pescoço estalou, e senti uma dor aguda no alto de meu braço, girei para ver, mas só o que enxerguei foi o vampiro loiro que devia estar pilotando o avião me olhar fixamente. Senti-me ser içado e colocado rapidamente no que imaginei ser uma poltrona.

_É melhor assim, desculpe, Jake!_ eu a amava muito, mas isso não me impediu de odiar Bella naquele instante. Debilmente consegui girar minha cabeça e ver a seringa ainda presa ao meu braço. Eu choraminguei: não podia me mover e duvidava que fosse ficar acordado por muito tempo, mas nada disso impedia que doesse.

Eu poderia lidar com minha obsessão e amor por uma criatura pálida, gélida e de olhos vermelhos, no entanto como lidaria com a morte de Renesmee? Era como minha própria morte. Era ainda pior que morrer! Pois eu morreria satisfeito se fosse para mantê-la viva e segura.

Senti meus membros formigarem e tudo ficou escuro, implorei que fosse a morte.

**

_Vamos, lá, cara, não quero ter que carregar você_ e alguém me deu batidinhas ríspidas, porém, leves em meu rosto. Eu sabia que não era a primeira vez.

_Ness... _ murmurei, querendo voltar para escuridão de onde estava saindo.

_Ela está... Bem_ Era Leah quem falava comigo_ A reanimaram. Não graças a você, se quer saber minha opinião. Sabe, quase derrubar o avião não ajudou muito.

Aquela altura as palavras dela não me interessavam muito, Nessie estava bem e isso era só o que me fazia tentar expulsar a letargia que me limitava.

_Ele acordou?_ a voz de Carlisle flutuou de longe até mim.

_Sim, como ela está?_minha língua parecia maior do que o normal em minha boca enquanto eu falava e percebia ao redor, meus sentidos mais lentos do que eu gostaria para o momento. Estávamos num lugar grande a céu aberto e estava escuro, exceto pela ambulância e sua luz vermelha e alguns faróis de carro, que iluminavam baçamente os aviões a certa distância de onde estávamos. Eu estava sentado no chão, escorado em um deles. Apoiei-me na lataria, dispensando a ajuda de Leah e do doutor, o fluxo de sangue em minha cabeça fazendo as coisas oscilaram um pouco.

_Você já vai ficar melhor, desculpe. Agimos rápido, Bella injetou muita anestesia em você, era o que tínhamos ao alcance_ disse o médico bondosamente, mas seus olhos eram urgentes.

_Nessie_ repeti e o nome pesou em minha boca e em meu peito.

_Temos que ir, desculpe Jake, não há espaço na ambulância e você terá que ir de carro. Não podemos ficar muito mais tempo... O estado dela é... Delicado. É o que posso dizer. Preciso estudar mais.

*

Durante o caminho percebi que estávamos em algum lugar perto de Port Angeles. Era Jasper quem dirigia, silencioso, ao lado de Alice que não parecia muito presente, além de nós estavam no carro Esme e Embry.

Muito rapidamente os vampiros montaram um centro hospitalar no quarto antigo de Edward, onde Renesmee foi instalada antes mesmo que eu chegasse. Não me deixaram subir, Alice e Bella foram limpar Nessie e trocar sua roupa ensangüentada.

_Vão descansar_ murmurei para meus irmãos enquanto me deixava cair no último degrau da escada ignorando os vampiros presentes, as Amazonas e os Denali_ Obrigado por tudo_ eu não poderia agradecê-los a altura do que eles haviam feito: invadir a terra dos vampiros, deixando suas famílias, suas imprinteds...

_É nosso dever irmão_ falou Embry.

_Um por todos e blá-blá-blá_ completou Quil.

_Você também devia descansar_ disse Leah, escorada na parede perto da porta.

_Eu vou_ falei automaticamente.

Assim, eles saíram. Seth ficou, hesitante, pairando por sobre o sofá onde Esme tinha um bebê nos braços.

_Tome_ disse ela ao garoto_ Dê-lhe boa noite, ou bom dia, e vá descansar, você terá todo o tempo do mundo_ Esme entregou o pequeno embrulho de gente ao garoto encantado.

_É que eu não sei como será... _ disse Seth, dúbio. Feliz por tê-la no colo e angustiado com as expectativas.

_O ajudaremos com isso_ Esme piscou para ele.

Perguntei-me onde estaria Rosalie e Emmett, não que eu quisesse realmente saber, mas é que tudo estava em movimento, na garagem, no andar de cima, no quintal onde eu ouvia aqueles três discutirem veladamente sobre quem ficaria agora para me ajudar com qualquer coisa... E eu estava ali, parado, como um nada suspenso no ar, um navio sem âncora.

_Qual será o nome dela?_ murmurou Seth fitando o rosto da criança adormecida.

_Ela não tem um nome_ disse Edward vindo dos fundos, provavelmente da garagem, seu tom sem emoção, distante.

_É perigoso ficarem com ela_ disse Eleazar juntando-se a Edward próximo ao piano.

_Eles raptaram a menina_ disse o vampiro novato, o tal Nicolas, que tinha Tanya junto de si ao lado da janela.

_ Olho por olho?_ conjeturou Kate, sentando-se.

_Ela não era uma peça preciosa para Aro. Embora ele deva ter uma boa desculpa agora_ falou Edward.

O silêncio pairou, pesado, cheio de conjecturas e suposições mudas. Eu sabia que termos invadido Volterra e ter matado alguns vampiros (não os importantes, com dons e tudo, só os transitórios, como Edward havia dito algum tempo atrás) não ficaria assim, e imaginava que levar Nessie tinha um motivo, e que muito estava por vir, no entanto, tudo parecia muito pouco diante da inquietude de não saber de Renesmee, de não vê-la ainda. Carlisle disse que seu estado era delicado, e nós quase a perdemos... Minha garganta se apertou desconfortavelmente com a lembrança do silêncio de seu coração, o que me fez me concentrar no som que vinha do terceiro andar, era diferente do ritmo normal, mas ainda era seu coração.

Rosalie e Emmett entraram e isso não teria me chamado atenção se não fosse pela mudança no clima quando ela viu Seth com a criança que estava “adotando”. Não acho que Emmett tenha realmente olhado para a criança antes, pois ele pareceu encantado, parecia outra criança, curioso.

_A cegonha caprichou, hein!_ disse ele, observando Rosalie tirar o bebê delicadamente dos braços de Seth. Nunca imaginei que veria a Psicopata sendo tão... Doce. Era algo como ela tratava Renesmee, porém havia mais emoção e seus olhos ardiam em devoção.

_Eu sei_ murmurou ela, afagando o rosto da criança com o próprio.

_Edward disse que ela não tem um nome, qual será?_ perguntou Seth hesitante.

_Vou pensar_ disse a loura sem sequer olhá-lo, mas fazendo careta.

_Tenho algumas idéias e...

_Guarde-as para você_ disse ela. Eu teria rido da expressão de Seth em outra ocasião.

_Vocês estão seguros do que estão fazendo?_ demandou Tanya referindo-se a Rosalie, que instintivamente estreitou os braços em volta da criança.

_Aro não tem respaldo para questionar qualquer coisa. Somos testemunhas suficientes e trataremos de contar a outros o que houve aqui_ disse Carmen.

_Os Volturi não são mais invencíveis_ disse a selvagem, Zafrina.

Divaguei das conversas que se espalharam na sala, eu queria subir e ver Nessie.

_Dê um tempo a Bella_ disse Edward, subitamente ao meu lado, a expressão familiar de uma forma que eu não gostava, sofrida. _ Parece que sim, Seth_ disse então.

_Sério?_ disse o garoto empolgado.

_Ele se perguntava se a menina também teria um dom como Nessie_ explicou ele a todos.

_Tem?_ interpelou Rosalie.

_Ela parece ter uma grande percepção do perigo, ou de segurança. E eu realmente acho que ela teria vindo de bom grado ainda que não fosse por afeição a Seth.

Ouvi os dentes da loira trincarem, todos ouviram.

_Vou colocá-la na cama_ murmurou ela e eu saí de seu caminho na escada, Emmett a seguindo. Mas então ela parou na metade do lance de escada e olhando o teto, suspirou e fitou Seth.

_Obrigada, garoto. Foi muito importante para mim e eu sei que não teria conseguido sozinha_ ela falava baixo o bastante para não chamar a atenção dos vampiros que conversavam na sala, mas era incontestavelmente sincera_ Agora vá dormir, lobo, odeio tropeçar em vocês quando dormem em qualquer lugar_ agora parecia a loura que eu conhecia.

Seth assentiu, animação irradiando dele.

_Ainda não entendo porque exatamente levaram Nessie_ comentou Esme.

_Johan está com os Volturi_ disse Edward surpreendendo a todos_ Aro pensa em criar vampiros poderosos combinando os dons dos pais. Renesmee poderia ser mãe doando material genético já que não se sabe sobre esse potencial em híbridas.

Arquejos enojados varreram a sala. Senti meu rosto esquentar.

_Mas ela não aceitaria... No entanto_ Edward olhou para mim_ Ela aceitou ser uma vampira completa. Aro tinha grandes expectativas sobre quão poderosa ela seria, assim.

_Porque ela aceitou?_ pensei em voz alta.

_Por você, em parte_ disse-me ele_ Para se livrar da mágoa que sentia com tudo o que aconteceu, para se sentir completa. Aro a envolveu com palavras, e ela estava sobre influência de Corin e Chelsea.

Eu fui um idiota!, pensei. Edward deu um tapinha amistoso nas minhas costas.

_ O que tem esse Corin?_ perguntei.

_Seu dom é capaz de influenciar alguém, deixá-la, feliz, contente com a situação em que se encontra, sentindo-se bem. Funciona como uma droga.

_E há Chelsea_ lembrou Eleazar. Todos sabiam o que essa vampira fazia.

_Sim, ela estava fazendo com que Nessie ficasse ligada a Alec e Aro quando encontrava brechas no escudo de Nessie.

_Alec?_ perguntou Tanya. Um rosnado se formou no peito de Edward e seus dentes trincaram antes que ele respondesse:

_Ele seria o doador. O pai das crias de Aro. No entanto, Alec... Parece muito mais leal a Nessie que a Aro.

_Nessie?_ demandei, percebendo que Jasper pareceu concordar com Edward.

_Ele esteve encantado com Nessie desde que a viu quando chegou a Volterra.

_Ele que não se atreva! Se chegar próximo a Olympic, o mato_ rosnei.

_Aro está ficando louco. Macabra a idéia dessas experiências. Mesmo para seres como nós_ disse Kate enojada.

_Nahuel ficará desapontado com o pai_ Falou Zafrina.

O assunto estava me deixando irritado, Bella e Alice ainda estavam no andar de cima com Carlisle.

“Sinceramente, Nessie vai ficar bem? O que ela tem?”, pensei, ninguém tinha me dito nada ainda. Edward suspirou, escorando-se na grade da escada.

_ A reação do veneno nela... A intoxicou. Carlisle está fazendo exames, tirando amostras. Ela não está muito bem. Respira com dificuldade, a freqüência cardíaca é instável_ e eu entendi seu olhar perdido, sua expressão torturada. Aquilo era só a ponta do iceberg.

_Edward?_ Eleazar se aproximou_ Eles tinham ordens para mordê-la? Não me pareceu acidente.

_Sim, Aro tinha idéia do que poderia acontecer. Por um momento o próprio Alec pensou em intervir, mas imaginou que se fosse mordida ela voltaria para Volterra e... ele.

_Há muitas coisas envolvidas_ pensou Eleazar.

_Sim, como imaginávamos Aro também almejava os lobos, achei que ele conseguiria quando percebi a convicção de Renesmee_ Então Edward sorriu. _ Mas algo aconteceu. Como magia a influência de Corin e Chelsea se desfez quando Nessie viu Jake. Acho que o imprinting nos salvou, afinal, teria sido muito difícil se ela se negasse a voltar para casa. Não teríamos nada a fazer.

O ciúme por saber que esse vampiro a queria se atenuou ao perceber que talvez agora, Nessie entendesse. Eu não precisaria olhar em seus olhos quando ela duvidasse do meu amor, uma vez que eu a deixei, pois ela também me amava.

_Foi por isso que pela primeira vez vi Marcus esboçar alguma reação_ disse Eleazar.

_Sim _ falou Edward deixando o vampiro pensativo.

Bella por fim surgiu no alto da escada, as mãos na de Alice, ela, no entanto, caminhou para fora, parecendo arrasada, enquanto Alice ia até Jasper.

Subi as escadas de cinco em cinco degraus, ansioso por ver Renesmee.

Ela estava completamente imóvel, num leito com grades ao lado da cama enorme que ocupava aquele quarto. Agora além de tubos intravenosos e fios colados em seu peito, havia também em suas têmporas, com mais de um monitor conectado a ela. Seus lábios estavam muito pálidos e ressecados, e sua pele de porcelana agora tinha um tom doentio.

A única cor eram os hematomas, marcas desenhadas de dedos em seus pulsos e ombros. Minha garganta parecia estar envolvida por uma mão de ferro, senti meus olhos umedecerem. Eu daria qualquer coisa, minha vida, para não vê-la assim.

Seu cheiro estava errado por causa da bolsa de sangue presa ao seu braço.

Sentei na cama, a distância me permitia tocar Renesmee, no leito. Não sei quanto tempo passou enquanto eu a olhava, esperando alguma mínima reação, um piscar de olhos, um suspiro... Nada. O dia já havia amanhecido e o zumbir de conversas no andar de baixo diminuiu.

_O que são esses fios?_ perguntei a Carlisle quando ele reapareceu no quarto, apontando para a cabeça de Nessie.

_Registram a atividade cerebral_ respondeu ele apontando uma pequena lanterna e forçando os olhos de Renesmee a abrir, não pude deixar de notar que não houve reação com a luz em suas pupilas. O doutor pareceu muito preocupado.

_Carlisle?_ ouvi-me exigir querendo respostas. Edward surgindo na porta neste instante.

_ Temos de esperar... Preciso dos resultados das amostras de pele que tirei das mordidas.

Eu sabia, estava nos olhos dele que ele não estava falando a verdade. Não porque ele não pudesse mentir, só porque era ruim demais para não afetá-lo. Atrás de mim a porta rangeu com os dedos de Edward pressionados na madeira.

_Os sinais... _ murmurou Edward, a voz não mais que um suspiro fraco_ Renesmee está evoluindo para um coma. A estamos perdendo.

_Meus séculos como médico, perdidos! Inúteis!_ disse Carlisle beirando o desespero_ Ela não absorve o veneno indiferentemente, e o veneno não completa seus genes, é incompatível. O que pude perceber é que o veneno tem agido em suas células quase como um ácido, destruindo, por isso ela não respira, o corpo está lutando, mas...

Eu deixei de ouvir as palavras, preso num torpor indistinto. De repente ficar ali, olhando-a me pareceu indigno de mim, eu não tinha nada a fazer por ela e ainda assim minha mente não deixava de procurar. Porque eu não estava lutando contra ninguém, além dela mesma. Contra e a favor da vida dela, da minha em conseqüência. O que eu poderia fazer para trazê-la de volta? Eu não podia aceitar não ter nada a fazer!

_Não é profundo a ponto de ser irreversível, mas eu não tenho nada que haja contra o veneno. Nunca vi uma mordida resultar em algo assim_ eu quase podia ouvir as engrenagens na cabeça de Carlisle enquanto ele pensava, reexaminando o corpo imóvel da neta.

_ Ela vai ficar, bem, Nessie é forte! Ela não vai me deixar_ eu disse pra mim mesmo.

**

Já passava do meio dia, quando Bella e Alice retornaram a fim de higienizar Renesmee e eu saí do quarto, voltando ao andar de baixo, onde novamente me deixei cair no meio do lance de escadas.

No meio da sala estavam Emmett e Seth sentados no chão de frente para a loira que amamentava a criança com uma mamadeira muito familiar, o cheiro de sangue pairava no ar, eles pareciam estar numa pequena discussão.

_Jake, coma um pouco, vai fazer bem_ ofereceu Esme trazendo uma bandeja com sanduíches grandes de frango e suco. Nem me lembrava ao certo a última refeição que havia feito, porém não sentia fome. Mas os olhos dourados e tristes de Esme imploravam para que eu a atendesse. Eu não tinha forças o bastante para magoá-la ao continuar me flagelando, então agradeci e comecei a comer ali mesmo, distraindo-me um pouco com a discussão velada dos três na sala.

_Tire seu rabinho da chuva, cachorro, eu vou escolher o nome da minha filha_ disse a loura_ Já até sei de um_ ela sorriu para a criança.

_E qual é?_ Seth e o grandão perguntaram.

_Sophie Adryelle_ disse ela solenemente_ É algo como: divindade sábia, ou deusa da sabedoria.

_Lindo nome!_ Esme sorriu, ainda ao pé da escada.

_ Eu gosto, mas não é muito comprido? A-dry- e-lle?_ Seth ficou pensativo.

_Não se meta, apenas desfrute. _ disse a loura metida, Emmett riu.

_Posso segurar?_ pediu o garoto, ansioso. Olhei para ver a reação de Rosalie. Ela hesitou, mas ofereceu o bebê agitado de animação para Seth.

_Tome cuidado, se deixá-la cair... Eu janto você, apesar de seu cheiro horrível_ anunciou ela. A criança por sua vez gemeu o início de um choro, deixando Seth, Emmett e Rosalie atordoados.

_Foi você, Rose_ disse Edward surgindo debaixo da escada, vindo do escritório que Carlisle estava usando como laboratório_ Ela reconhece a ameaça e não gosta, é o Seth dela afinal.

Rosalie fez careta. Com o ego dela, nunca admitiria que alguém pudesse amar e cuidar de sua recente aquisição melhor que ela mesma. Eu não duvidava realmente da capacidade de Rosalie amar aquela criança, no entanto era estranho imaginar algum sentimento a mais dentro dela, algo como a paixão de Bella por Renesmee.

_Acredite, ela sempre amou assim, só não havia a quem_ disse-me Edward, ao pé da escada, me dando mais em que pensar além de toda a angústia.