Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 35
Queimados


Notas iniciais do capítulo

"No sol que vai dourar
Na noite mais escura iluminar
No branco da espuma do verde do mar
Meus dedos vão tocar
Seus lábios vermelhos a minha boca beijar
De olhos fechados só pra apimentar
Desse outro mundo o segredo vou revelar"
—Presença, Skank



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Ponto de vista de Renesmee

Em todo esse tempo, em tudo o que eu fiz, Jacob havia sido, apesar do óbvio, a maior presença. Ele se fez assim, era assim... Arraigado em mim, no entanto, levara minhas raízes quando se fora.

Minha ânsia suja por ele era meu único fio de esperança, o que me ligava a ele. A centelha que restava, e ainda assim o bastante para alimentar sonhos. Porém, meus sonhos morriam ao nascer, afogados na desesperança de viver tudo aquilo, porque eu sabia que não viria. Que nunca seria.

Como derrotar seu inimigo se ele conhece você tão bem quanto você mesmo? Quando ele tem seu rosto e sua pele, quando ele é você? Sentia como se houvessem duas de mim lutando para irromper por minha pele. Às vezes uma tinha o controle e, às vezes, não havia controle algum.

Os dias passavam e eu me dividia em minhas tarefas: provas finais, trabalhos, a cafeteria, caças mais freqüentes, e repulsivas, na tentativa de não haver mais mortes no cômputo de meus pecados. E, claro, Christopher, não lhe dando mais que permissão para que estivesse ao meu lado.

Caçava mais vezes e bebia até ser desconfortável, porém alguns dias eram complicados, eu só queria jogar tudo para o alto.

Agora eu contava o tempo. O ser humano (ou no meu caso, não exatamente) precisa profundamente de impressão de que controla algo, nesse caso era acompanhar a passagem do tempo.

Era a primeira semana de junho. Uma semana antes havia tido uma discussão fervorosa com meus pais sobre eu voltar definitivamente para eles. Não estava pronta ainda para tê-los perto, para contar que Chris sabia a verdade sobre nós nem para admitir que era um monstro e decepcioná-los. Muito menos para esconder meus pensamentos em relação a Jacob. Em todo caso, preparava-me para embarcar dentro de alguns dias e passar as férias de verão com eles.

_E você volta depois do verão?_ perguntou Chris uma tarde de domingo, enquanto víamos um filme em seu apartamento.

_Ou talvez antes_ respondi, sabendo que ele se preocupava que eu não voltasse.

_Vou sentir sua falta_ murmurou. Sem saber o que dizer, sorri debilmente. Ele ainda me fitava, decidindo dizer algo, enquanto comprimia os lábios: _ Casaria com você se dissesse que sim.

_Que coragem! Pedir uma vampira em casamento_ brinquei, escondendo o choque_ Acho que não permitem a união entre espécies diferentes.

_Voltaria para a Califórnia e para a faculdade de direito, se me aceitasse_ falou muito sério.

_Christopher!_ eu estava ficando nervosa.

_Você não liga mesmo, não é?_ ele se levantou e parou junto à janela, as mãos espalmadas no vidro, enquanto olhava para fora_ Eu amo você. É o que venho tentando dizer e você evita sempre que percebe... _ silêncio_ Amo você e faria qualquer coisa por isso.

Congelada no sofá, eu o fitava perplexa.

_Pensei que...

_Eu pensei que com o tempo você poderia gostar de mim, um pouco que fosse_ me interrompeu_ Nunca quis tanto alguém. Eu sinceramente nem lembro como é querer alguém de outro jeito que não seja esse.

Ele se virou para mim, a mão direita inconscientemente sobre o coração.

_Sei que é minha culpa. Mas as coisas são assim. Gosto de você, mas...

_Mas não como eu gostaria que fosse_ disse ele.

_Sinto muito_ murmurei, pegando minha bolsa e saindo sobrenaturalmente rápido.

Sempre soube que aconteceria, havia chegado o dia.

Entrei no primeiro táxi que parou, afogada demais nos pensamentos turvos para querer correr ou evitar pensar. Não que eu estivesse chegando a alguma conclusão, eu não estava. Aquilo não era pensar, era remoer. Remoer, todas as dores, todas as culpas, todos os erros. Antes de mais eu estava arrumando as malas, guardava os desenhos... O apartamento ficara como eu encontrara em questão de poucos minutos. No caminho para o aeroporto liguei para senhor Pierre, que já tinha tudo pronto para quando eu saísse de férias, eu só adiantei os planos.

Hesitei com o telefone nas mãos e decidi não avisar ninguém, uma vez que não sabia para onde iria, e agora, graças a minha impetuosidade, eu teria de esperar duas horas até o vôo para Houston. Havia caçado há poucos dias, mas me enchi de bolo de chocolate antes de embarcar. Suspirei, cansada, sentando numa das poltronas confortáveis da primeira classe. Sim, primeira classe, não por conforto, mas por isolamento.

Era tão injusto. Eu queria gostar de Chris como ele merecia, ou como eu gostava das imagens inaceitáveis de Jake... Entretanto não se enche um copo já cheio, muito menos um com uma miríade de rachaduras...

Despertei com a guinada no meu coração por estar sonhando com Jacob, embora eu não tivesse certeza do que se tratava. Dois filmes depois de meu sono, desembarquei e peguei o vôo para Seattle, acabava de amanhecer. Já em Seattle decidi que não queria encarar todos eles. Eu iria para a ilha.

_Mãe_ ela atendera no segundo toque_ estou indo para o México, chego em duas horas. Preciso que papai me busque no porto_ Depois de garantir que nada de grave acontecera ela desligou.

O vôo foi longo e agitado, perguntei-me ao acaso se eu sobreviveria a uma queda de avião...

Ainda vestindo os mesmos jeans e casaco com que saíra da casa de Chris, eu esperei no porto, sozinha após pagar o táxi, o vôo chegara em bem menos de uma hora, eu só queria tempo para me preparar, não encontrá-los de surpresa no saguão do aeroporto. Era fim de tarde quando ele chegou, já não havia raios de sol que pudessem denunciar sua linda estranheza.

_Pai_ o abracei sendo inundada por amor e alívio inesperados.

_Bom ter você de volta_ Edward me deu seu sorriso mais lindo. Ele me fez pilotar a lancha, foi uma boa distração momentânea.

Minha mãe estava linda como sempre e mais radiante que nunca ao me ver e abraçar.

_Mas porque decidiu vir tão de repente?_ perguntou ela. Suspirei, projetando em sua mente minha última conversa com Chris, envergonhada.

_Não realmente pensei ou decidi nada até estar em Seattle_ admiti.

Bella parecia distante perdida em pensamentos...

_Situação delicada_ disse Edward_ Ele é sincero quando diz que é apaixonado por você.

_Pai_ gemi. Sabia que subestimara Chris, mas preferia a certeza vã, que a confirmação latente de Edward.

_Não podemos te dizer o que fazer_ disse-me Bella_ Essa é uma questão que só cabe a você.

_Estamos aqui de qualquer maneira_ completou Edward.

Ao amanhecer toda minha família estava na ilha, a casa parecendo muito pequena. Depois dos beijos e abraços o assunto era o desenvolvimento de meus dons.

_Foi só isso!_ eu reafirmava_ Meu escudo funciona exatamente como antes.

_Tudo bem_ Carlisle estava desistindo apenas momentaneamente.

_Então, Nessie, arrasando corações, hein?_ zombou Emmett, que na certa já estava bem inteirado de minha vida.

_É, mais ou menos_ disse eu. Emm deu um sorriso malicioso e explodiu em gargalhadas, enquanto todos o encaravam sem entender.

_Emmett!_ rosnou meu pai furioso.

_Desculpe, irmão_ o grandão tentou se controlar. Jazz já ria, sendo influenciado pelo humor de Emmett. Uma cena hilária.

_Garotos_ advertiu Esme, me fazendo perceber como eu senti falta disso.


_Estamos indo caçar_ Avisou Rose, minha mãe ao seu lado, vestindo jeans resistente. No fim todos resolveram ir. Preferi ficar, seria improvável não pensar numa caça mais saborosa... Isso me fez decidir que contaria logo ao meu pai. Contaria hoje. E ele decidiria por contar ou não ao resto da família. Isso me fez ver que eu não queria encará-los quando ficassem sabendo... Covarde, eu sei.

Pedi silenciosamente que Edward ficasse e assim foi.

_Precisa de algo?_ indagou sentando ao meu lado na areia quente ainda, do dia de sol. Meus pensamentos guardados só para mim, no momento.

_Quero contar uma coisa. E que decida o que fazer...

_Sou todo ouvidos_ disse ele a meia voz. Era mais fácil para mim apenas pensar na caminhada que Chris e eu fazíamos... Repeti em minha mente todas as vezes em que o humano prometeu guardar segredo e como eu acreditava nisso.

_Ele sabe_ murmurou meu pai, a voz inflexível_ Isto... Está quebrando todas as regras, Nessie.

_Devia tê-lo deixado morrer ou matado eu mesma?_ lhe ofereci as opções que tive_ Não achei que pudesse resistir, não o amo, não seria o bastante_ falei pensando que o amor de Edward livrara minha mãe de virar o jantar vez após vez.

_Nesse caso você fez o melhor que pôde_ murmurou. Eu não queria isso!

_Não! Não amenize as coisas. Minhas razões foram consistentes, mas não deixa de ser um erro. Sabe, é difícil, pertencer a dois mundos e a nenhum ao mesmo tempo_ senti, enfim meus ombros arriaram com um cansaço há muito acumulado e percebendo que ao contrário do que achei, eu havia sido forte... Talvez pudesse ser mais, porém eu havia sido.

Edward me puxou para seus braços frios que eram perfeitos para o calor que fazia.

_Você pertence exatamente ao lugar onde está. _ e ele estreitou os braços a minha volta

_ Não posso caminhar com os pés em dois lugares. Não me encaixo bem em lugar algum... _ eu estava cedendo ao desespero.

_Não pensava assim antes.

_O antes foi há muito, muito tempo_ resmunguei, lembrando que eu, quando bebê, queria muito brilhar como Bella. Era uma boa analogia, mas ainda não era como me sentia naquele momento. Estava deslocada, fora do eixo... Se ao menos eu pudesse mudar isso... Encontrar meu lugar. Então me ocorrera uma idéia que nunca fora de fato cogitada seriamente, entretanto, que gerava curiosidade...

_Não, Renesmee_ disse meu pai tenso.

_Porque não?_ me afastei para olhá-lo_ Eu seria completa. Seria mais como vocês, não traria problemas com humanos... _ E, cansada, eu chorava, desesperada por uma saída.

_Exatamente, e essa não é a saída_ seus olhos âmbar estavam torturados enquanto enxugava meu rosto_ Você é perfeita assim como é. Além disso, acha que sua mãe ou qualquer um permitiria isso facilmente?

_Carlisle ficaria anim...

_Carlisle não faria nada que eu ou Bella não permitíssemos.

_Não é o único vampiro que conheço_ falei imaginando se Aileen...

_Qualquer um que ousar vai perder esta vida também. Isso vai passar, Nessie, tem de passar.

Em um século?, pensei e Edward riu frustrado.

_Renesmee_ sua voz de repente era cautelosa_ Sobre o rapaz... Chris, é... Falo sobre relações físicas, vocês...

_Edward_ gemi, sem acreditar que ele estivesse falando daquilo_ Sem relações físicas para mim, ok?!

_Não sabe como estava fazendo seu pai feliz_ ele tocou a ponta de meu nariz_ Bom, em todo o caso, foi o que imaginei, mas Emmett... _ seus punhos se fecharam.

_Foi no que ele pensou... _ adivinhei.

_No que Chris teve participação no blackout em Paris_ explicou meu pai.

_Emmett... Urgh!_ falei e Edward suspirou aliviado.

***

Três dias de casa cheia e então, éramos meus pais e eu novamente. Descobri que havia golfinhos na enseada da extremidade leste da ilha, passava parte do tempo lá, foi incrivelmente rápido como eles perderam o medo de mim. Aquele dia eu havia ficado em casa, meu pai havia ido caçar. Era fim de tarde, Bella e eu estávamos deitadas na rede de minha varanda, olhando o mar tranqüilo.

Na verdade, eu tinha os olhos fechados, deitada no peito vítreo de minha mãe enquanto ela acariciava meus cabelos, agora enrolados. Talvez ela pensasse que eu dormira, estávamos assim há muito, minha respiração muito profunda e regular... Minha mente vagava.

Christopher sabia de meu segredo e fora muito mais confiável do que eu tinha direito de querer. Ele suportou minha frieza e indiferença... No entanto, era humano, claro que aquilo não seria para sempre. E eu jogara seu tempo fora.

Esses dias na ilha me deram trabalho. Tinha de vigiar meus pensamentos e meu escudo pouco vime. Odiava a idéia de meu pai ouvindo algo nada apropriado para pensar sobre Jake, em minha mente... Sentia-me ridícula. Se algum dia voltasse a vê-lo nunca diria nada.

Suspirei pesadamente, decidindo. Bella passou os dedos frios em minha testa, afastando a franja já crescida... Chris gostava de mim, me conhecia, eu tinha que gostar dele. Todas as minhas opções pareciam tão tortuosas, erradas e perigosas.

_Mãe_ sussurrei abrindo os olhos.

_Sim, querida?_ disse ela atenta.

Não sabia como perguntar, eu meio que temia a resposta, então tentei firmar a voz e demandei:

_Já imaginou como seria sua vida se houvesse optado por Jake?_fechei os olhos esperando pelo longo segundo que seguiu.

_Sim_ disse ela, e meu estômago afundou_ De alguma forma, acredite, eu acho que sei como teria sido. E, sinceramente, teríamos sido felizes, mas jamais conheceríamos outras alegrias, uma felicidade infinitamente maior. E coisas importantes se perderiam, você é a maior delas_ beijou o alto de minha cabeça.

Fora um tanto óbvio, para uma mãe o que seria mais importante que sua prole?

_Escolhas são tão difíceis... Renuncias e conseqüências acompanham todas elas. Como soube que era Edward? Que tinha de ser ele?

_Já havia estado sem ele. Sabia o que me mataria perder tanto quanto sabia do futuro feliz do qual estava abrindo mão. Isso não tornou nada mais fácil, mas eu sabia que era certo, não havia dúvida quanto a isso, eu o amava e o queria não importava quantas opções eu tivesse, e eu sabia que daria certo e me senti ainda melhor com todas as minhas decisões quando soube de você. Foi tudo ainda melhor do que jamais esperei.

Sorri um pouco desejando ser tão determinada e forte quanto ela sempre fora. Mas minhas dúvidas permaneciam.

_Não sei o que fazer. Como vai dar certo para mim. Com todas as diferenças...

_Explique melhor.

_Tinham razão sobre Will. Mas Christopher... Se me apaixonar... Nunca vai dar certo?

_Está apaixonada por ele, Renesmee?

_Eu gosto dele. E não terei_ chance com quem acho que amo_ outra chance. Ele me conhece, acho que isso ajuda, não?

_O que ele sabe de você não quer dizer que a conheça.

_Eu mesma não me conheço_ admiti.

_Seja a quem você amar e escolher para si, terá nosso apoio, pois a queremos feliz. Mas_ ela se moveu para me olhar nos olhos_ seja honesta contigo antes de tudo, aí dentro você sabe o que fazer, você ficará bem_ ela beijou meu rosto. Segurei sua mão deixando que irradiasse para ela minha gratidão por sua sinceridade.

No dia seguinte Alice nos visitara acompanhada de Tanya, que deixara sua casa por algum tempo, viajando. Meus pais ficaram contentes por recebê-la.

_Chamei Tanya para passar algum tempo conosco, seus primos_ falou, tive a impressão de que isso tinha a ver com o casamento de Kate, e que Alice estava sendo solidária, ao deixar Jazz e acompanhá-la.

Era bom ter gente com quem conversar, Tanya era divertida junto de Alice.

Aquele dia as garotas haviam ido caçar. Eu caminhava a beira-mar, desviando das conchas, estrelas e cavalos marinhos que uma tempestade havia trazido na noite anterior, vez e outra devolvendo alguns ao mar, que agora estava calmo, embora Edward estivesse, agora, limpando a entrada do píer, pois as ondas enormes fizeram um belíssimo estrago.

Ergui os olhos para o horizonte, e apesar de minha visão ser mais precisa que a de uma águia, duvidei dos meus olhos. Ao longe, nas pedras, alguém jazia sob o sol. Sem pensar lancei-me na água nadando a toda velocidade até chegar ao homem, parando de respirar quando vi o corte grande e aberto em seu braço direito. Gritei por Edward em pensamento, embora ele já devesse estar a caminho, peguei o homem recomeçando a nadar. Ele era jovem, aparentemente não passava dos 25, sua pele cor de ébano era muito bonita não fosse a aparência doentia em que se encontrava. Era um homem forte, afinal, estava vivo, porém tinha maior porte que Edward, porém não maior que Emmett. Meus pés tocavam o fundo do mar quando Edward me alcançou pegando o homem.

Eu não conseguia imaginar como aquele ferimento devia arder em contato com a água salgada. Edward o deitou na areia, os olhos do rapaz pareciam buscar algo, revirando nas órbitas. Meu pai soprou ar em suas vias e vi seu peito se expandir.

_Ele vai ficar bem?

_Não sei_ disse ele levantando-o e correndo. Não o acompanharia, mas segui para casa. Troquei de roupa rapidamente. O homem estava em um dos quarto, meu pai havia limpado e enfaixado o braço ferido. Discava no celular quando entrei no quarto. Com um pouco mais de calma pude notar o rosto de feições bonitas, apesar da expressão de dor. Os olhos castanhos mel, um tom mais escuro que os de minha família, realmente muito bonitos, ganhavam destaque em contraste com a pele escura. O cabelo quase totalmente raspado parecia ser crespo.

_Antibióticos, curativos... Ainda não_ dizia Edward ao telefone ao voltar para o quarto_ Até logo.

Meu pai cobriu o rapaz com uma colcha e lhe tirou as roupas molhadas.

_Ele está consciente?

_Mais do que se dá crédito_ disse-me Edward.

_Você vai ficar bem_ peguei sua mão, ele tremia, estava sofrendo.

_Sente muita dor_ disse meu pai, o cenho franzido, ouvindo em sua mente.

_O que você ouve?_ perguntei_ Quem é ele?

_Acho que estava trabalhando. Talvez... Ia buscar pessoas em algum lugar... Turismo, eu acho. Mas a tempestade o pegou antes_ explicou incerto_ Qual seu nome? Pode falar?_ Edward sentiu a temperatura_ Me compreendes?

_Nicolas_ disse Edward_ O nome dele é Nicolas_ os olhos do homem buscaram por quem o chamou.

Nicolas agonizou por trinta minutos até que Bella chegasse com material médico e morfina.

_É melhor chamar Carlisle_ disse ela. Meu pai assentiu, a expressão pesarosa, porém resoluta.

Ele vai morrer, não é?”, pensei.

_Hemorragia interna, acredito_ respondeu ele em voz baixa.

_Mas vovô está vindo, Jazz ou Emmett o está trazendo_ demandei.

_Não acho que ele possa suportar por muito tempo, e ainda assim, Carlisle talvez não possa fazer muito por ele.

Era de se pensar que, tendo eu matado com minhas próprias mãos, não me importasse de ver alguém morrer, afinal era natural. Mas eu me importava perturbadoramente. Notei que a respiração superficial de meu pai cessara: ele não sabia das demais mortes. Não o olhei, fitando o rosto delirante de Nicolas.

Ouvi Alice e Tanya voltarem e Bella contar a elas o ocorrido.

***

_Eu não quero morrer_ era o murmúrio que seria ininteligível a um humano.

_A ajuda está chegando_ disse-lhe Edward.

_ Estamos fazendo todo o possível_ assegurei-lhe.

_Os anjos devem ser como você_ disse Edward.

_Como?_ eu estava duvidando muito dos meus sentidos nas últimas horas.

_É o que ele está pensando.

Fui um pouco até a sala, a mesma posição na beira da cama por tanto tempo era desconfortável.

_Pobre rapaz_ dizia Alice.

_ É muito jovem?_ indagou Tanya.

_Sim_ respondi rapidamente, projetando em sua mente imagens dele_ Alice, pode ver algo?

_Não tive mais que vislumbres. Estamos fazendo o possível, mas não dependente de decisões... Bom, ele não tem muito tempo, é a natureza.

_Acalme-se, filha_ pediu Bella. Eu não fazia idéia de como meu rosto parecia.

**

Em fim, meu avô chegou, Jazz pilotara o helicóptero.

Voltei para o lado de Nicolas e segurei sua mão enquanto Carlisle o examinava.

_Tentar uma cirurgia apenas o mataria mais rápido, e não temos o material nem o tempo necessário para movê-lo daqui, seja por ar ou por terra_ ouvi vovô dizer na sala, para todos.

_Você tem família? Alguém que possamos avisar?_ falei tentando fazê-lo pensar em outras coisas, que não fosse a dor.

_Um irmão. Não o vejo há anos... _ murmurou, sua voz soando dolorosamente sufocada.

_Durma, se sentirá melhor_ falei enxugando a camada pegajosa de suor que encobria sua pele.

_Se dormir, não vou mais acordar_ Sussurrou cansado, seu sotaque espanhol carregado com o esforço de falar.

Tanya surgiu, ao meu lado, de pé. O rosto franzido de dó.

_É um belíssimo rapaz_ disse ela em voz baixa, caminhando em volta da cama e sentando na cama do outro lado, o colchão sequer se moveu com seu peso. Ela me surpreendeu quando começou a murmurar uma canção em russo, Nicolas olhou para ela, lutando contra as pálpebras e murmurando: “Não me deixem morrer”.

Recusava-me a aceitar que nada pudesse ser feito...

_É a natureza Nessie. Acontece o tempo todo_ disse Edward tocando meu ombro. Estávamos de pé, na porta externa do meu quarto, o sol começava a se por.

Claro, eu mesma mato, não é?”, pensei rispidamente.

_É por isso?_ rebateu ele. Dei de ombros como se não me importasse.

Ele então enrijeceu e Alice surgiu a nossa frente, vinda de fora da casa.

_Está certa disso?_ indagou ele, por um momento achei que estivesse falando comigo, mas Alice o olhou especulativamente e seu olhar se perdeu por um segundo.

_Eu também não, não, no momento_ falou ele enigmaticamente. Alice se foi como surgiu. E eu sabia que não adiantaria perguntar. Uni-me aos outros na sala.

Meus pensamentos eram apenas um zumbido incoerente em minha cabeça, quando um deles de repente chamou minha atenção, havia algo que pudesse ser feito. Mas e se eu o estivesse condenando e não o salvando? Ele queria viver... Nicolas poderia escolher.

_Nessie_ disse meu pai, quando levantei do sofá indo até o quarto onde Carlisle estava com Nicolas.

_Vovô_ chamei, ignorando-o, encontrando Carlisle no corredor, vindo até a sala_ E se você mordê-lo? Ele não quer morrer.

_Nessie_ ele fez um muxoxo pesaroso_ Esta é uma grande responsabilidade, anjinho. Sou médico, não posso transformar todos os meus pacientes terminais em vampiros_ ele tocou meu rosto.

_Além disso, uma adição em um clã é sempre muito complicada, ainda mais se tratando de um recém criado_ disse Jasper tenso atrás de mim.

_ Podemos explicar a ele enquanto há tempo, se ele não acreditar ou não quiser, bem... _ insisti.

_Nessie, já somos um clã potencialmente grande_ argumentou Carlisle com um olhar para meu pai, que fitava o chão, muito concentrado em algo, passando por mim e se aproximando dos outros que estavam espalhados na sala. Jasper deu um passo à frente pronto para argumentar comigo, mas Alice o conteve com uma mão em seu braço.

_Somos uma família grande_ me impus insistindo.

_Renesmee_ disse-me Bella, eu não sabia dizer se era uma advertência ou um arrulho orgulhoso.

_Carlisle_ disse Tanya timidamente. Não pude deixar de notar o sorrisinho de Alice ou a surpresa de Edward_ Por favor... Faria eu mesma, mas não tenho certeza se conseguiria parar_ todos a encaravam estarrecidos, ela continuou:

_Entendo que ele seria seu filho, carregando seu veneno, e ele ainda teria a opção de seguir sozinho... Ou de morrer se não quiser_ fiquei satisfeita que ela tenha aderido a minha idéia_ Poderia, por favor, Carlisle?

O rosto de meu avô se franziu levemente, perturbado, com algum conflito interno.


_Carlisle_ chamou Bella reservadamente, saindo os dois. Alguns segundos depois a voz de meu pai vinha do mesmo lugar, ele parecia angustiado e enfurecido.

_Não é o momento, Edward_ disse-lhe Bella como quem coloca uma criança birrenta em seu lugar, fazendo-o se acalmar. Logo depois Alice me explicou que Bella havia confessado a Carlisle que sentira toda a dor da transformação, que morfina não serviria de nada para Nicolas, a não ser quem sabe mantê-lo preso em si mesmo.

Eu ficara surpresa, todos na verdade, e papai com raiva. Saíram os dois para a praia, mas não demoraram e estavam de volta, as mãos dadas, e parecia tudo bem, não que houvesse com o que se preocupar, eram Edward e Bella, afinal.

Ouvimos da sala Tanya explicando tudo a Nicolas.

_Ele está ouvindo, mas já não tem tanta compreensão_ informou-nos Edward.

_O vejo como um de nós, mas não sei que caminho seguirá_ acrescentou Alice.

Tanya juntou-se a nós na sala e logo depois pudemos ouvir o som luxuriante da pele sendo dilacerada... Minha boca se enchendo de saliva automaticamente. Uma, duas, três mordidas, Nicolas gemeu. Carlisle não viera preparado para uma transformação, então teve de fazer do método tradicional, embora tivesse gostado de poder contar com uma seringa forte o bastante para injetar veneno, seria menos doloroso e menos angustiante.

De solavanco o coração de Nicolas disparou e ele arfou alto, estremeci. Carlisle saiu do quarto e Tanya entrou em seguida, ele gemeu novamente, estava queimando.

Olhei para cada rosto angustiado na sala e senti-me honrada em tê-los, sabendo que todos foram “queimados” para estarem ali.



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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Estamos caminhando para a reta final!!